Do livro...A Ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina.
Abrindo Caminhos...
As picadas foram as primeiras ligações da região com outras regiões. Mais tarde, com ferramentas rudimentares, os próprios colonos transformaram inúmeras dessas picadas em estradas carroçáveis.
O primeiro caminho por terra, ligando a sede da Colônia Blumenau a Itajaí, uma picada na margem direita do rio Itajaí-Açu, foi aberto em 1865. Esta picada foi o embrião da estrada que ligaria os dois municípios por terra mais tarde e, atualmente, ainda segue este primeiro traçado. Este caminho, por muitos anos, serviria somente para uso de pedestres, cavaleiros e para a passagem de tropas oriundas do litoral, que abasteciam a colônia de leite e gado de corte e de montaria.
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Carroção de transporte usado nas primeiras décadas na região.
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O caminho da sede da colônia para a vila e porto de Itajaí, com cerca de 10 léguas foi terminado. Era, entretanto, como bem se pode imaginar, pouco menos que uma picada aberta pela margem direita do Itajaí-Açu, com pontilhões muito primitivos, com estivados e desvios a cada passo.
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Stadtplatz da Colônia Blumenau e as vias fluviais no Vale do Itajaí. |
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Estrada no Alto Vale do Itajaí |
Em 1867, após voltar da Guerra do Paraguai, Odebrecht iniciou a abertura da picada de ligação da Colônia Blumenau ao Planalto Serrano. A ocupação da colônia aumentava com a vinda sucessiva de levas de imigrantes e o aumento de produtos disponíveis para comercialização com os tropeiros do trajeto Curitibanos-Blumenau.
A picada aberta foi usada para a passagem de tropas e concluída no ano de 1878. Por mais de 50 anos trilharam este caminho animais cargueiros e tropas de gado. Quando surgiram os primeiros veículos motorizados, surgiram igualmente os conflitos gerados entre as duas formas de transporte. Predominou o espaço urbano para ocupação dos automotores, em detrimento do transporte por tração animal.
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Pousada de tropas, no caminho a Lages |
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Automóvel Ford Modelo T rodando no Alto Vale do Itajaí, em frente a um ponto de pouso da estrada para o Planalto Serrano, início do século XX.
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Em abril de 1867, Sr. Emil Odebrecht foi até a capital da Província e de lá seguiu para Lages. Durante três meses, ele e sua equipe desceram em direção a Blumenau, demarcando terras e abrindo uma picada que mais tarde seria transformada em caminho de carroças e tropas. Estava iniciada a tão acalentada ligação com o Planalto.
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Mapa
das estradas de cargueiros e gado, década de 1870.
Fonte: ODEBRECHT, 2006.
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Ainda em 1867 foi aberto o caminho que ligava a Colônia Blumenau à Colônia de Brusque, esta fundada em 1860. O caminho acompanhava a margem direita do ribeirão Garcia (passando pela atual Rua Progresso, em Blumenau).
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Localização da picada com destino à Colônia de Brusque |
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Travessia do rio Itajaí do Sul, em Rio do Sul, atual
local da Ponte Curt Hering |
Como já foi narrado, o caminho para o Planalto Serrano foi traçado por Emil Odebrecht e se estendia até Trombudo Central e Taió, atravessando o ponto de pouso Braço do Sul (Rio do Sul atual), onde o Dr. Blumenau estabeleceu uma povoação, mais tarde conhecida como Humaitá. Nessa localidade, grande obstáculo natural para os passantes era a travessia do rio Itajaí do Sul. Os viajantes (1878 e 1892) utilizavam o raso de Rio do Sul, 8 quilômetros acima da confluência, para que os cargueiros e viajantes pudessem atravessar o rio quando as águas estavam baixas. Os rios, tornavam-se em alguns trechos, grandes obstáculos para o comércio regular entre o Planalto Serrano e o Vale do Itajaí.
No final da década de 60 do século XIX, a Colônia Blumenau tinha uma área ocupada explorada de 1.034 quilômetros quadrados, com 63 quilômetros de estradas “carroçáveis” e 220 quilômetros de estradas para cavaleiros e pedestres. Já existiam assentamentos de imigrantes nas localidades de Timbó, Rio dos Cedros, Indaial, Gaspar e Ilhota, com povoações nas duas margens do rio Itajaí-Açu. Em 1880 surgem assentamentos de colonos na região que desenvolveria, mais tarde, a nucleação de Warnow, em Indaial.
Emil Odebrecht - Engenheiro formado pela Universidade de Geifswald - Prússia. Imigrou para o Vale do Itajaí em 1856, com 21 anos de idade. Participou e coordenou expedições de demarcação de terras, de levantamentos topográficos e da construção de estradas na região do Vale do Itajaí e desta ligando a outras regiões.
Agora sabemos que Herr Odebrecht, era nativo de uma das cidades estados prussianas, que foram dominadas, culturalmente, pelos germânicos, que foram dominados pelos romanos. Vinte e cinco anos após a vinda de Herr Odebrecht para o Vale do Itajaí é que, de fato, aconteceria a unificação da Alemanha. Então, ele, Sr. Emil Odebrecht e seus compatriotas se diziam nativos prussianos.
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Sistemas de transportes na região, virada do
século XIX para século XX. |
Sra, ou menos formal, permita-me Angelina, que personagem fantástico o Sr Emil Odebrecht, que como muitos, perdem-se no desconhecimento alem da área em que viveram, trabalharam.E a obra desse Sr, foi de uma dos mais brilhantes trabalhos topográficos do Sul do Brasil. Tentei obter um exemplar, em meios eletrônicos, mas não encontrei. Há ainda em algum lugar, exemplares á venda?Muito obrigado, por nos colocar frente a histórias como essas. Quem divide conhecimento e alegria, sempre as terás de forma crescente.geraldo_barfknecht@yahoo.com.br
ResponderExcluirÉ um dos personagens apolíticos da região. Quando alguém assume este perfil no país de nome Brasil, geralmente não é colocado nas páginas da História com lastro, o que nos move a fazer de maneira mínima neste Blog, pois o "Google", ao ser consultado traz à tona. Tal como o fez com o senhor. Muito bom!! Estes Odebecht da Bahia, são seus descendentes, a partir de um de seus netos ou bisnetos que se mudou para lá, por que uma obra sua havia ruído na região do Vale do Itajaí, após uma enchente. O personagem histórico mencionado, por certo não estaria contente com os atuais acontecimentos, envolvendo o nome da família em investigações na esfera federal. Emil, também foi conhecido pela boa conduta e correção, exemplarmente seguida pelos homens que o acompanhavam nas expedições. Fazemos as pesquisas de maneira intuitiva e assim também as fontes vão surgindo e sumindo…como que para somente "plantar uma semente" de curiosidade, para o leitor perceber que há mais por ali...É só buscar. Não tenho apego às fontes...elas surgem e vão...por isso também não efetuamos as bases bibliográficas. Demandaria muito trabalho e tenho pouco tempo. Mas o importante, existem.
ExcluirAbraços
Excelente artigo, como outros de sua lavra neste blog.
ResponderExcluirBom Dia
ResponderExcluirVerificando a foto do Hotel, com o automóvel, vejo que no meu entender trata-se de um hoje raríssimo Protos, de origem alemã. Possivelmente deve ter sido o carro do Emil. Um modelo dessa marca, único no país, e tendo pertencido ao Barão do Rio Branco, foi restaurado a uns 15 anos atrás. Outro dessa marca, só no Deutsches Museum.
Bom dia, Enorio. Grata pela contribuição. O Ford "Bigode" era comum na região da Colônia Blumenau.O Tio do Herr Wittmann, Curt Lorenz tinha um desses. Sabemos que o primeiro automóvel do Estado de Santa Catarina foi importado pelo empresário de Blumenau e que também foi prefeito - Frederico Guilherme Busch. Ler texto publicado na Revista Blumenau em Cadernos - "Foi nas ruas de Blumenau que começou a rodar o primeiro automóvel que Santa Catarina viu. Isso foi em 24 de setembro de 1903. E quem importava o revolucionário veículo da América do Norte fora o senhor Frederico Guilherme Busch. A respeito, o “urwaldsbote” nº 13 daquele mês e ano publicava a seguinte nota: “os modernos meios de comunicação já estão invadindo o sertão. Na semana passada, podemos ver pela primeira vez, nas ruas de Blumenau, um veículo automotor. O proprietário desse meio de transporte é o Sr. Frederico Busch, que adquiriu na América do Norte. A nossa civilização está progredindo. Ainda há bem pouco tempo, o velocípede era, aqui, uma curiosidade e agora já temos inúmeros dêles. Até já nos acostumamos a ver senhoras montadas em velocípedes. Do velocípede passamos agora para o automóvel. Infelizmente ainda falta o mais necessário: a estrada de ferro. Quando será que ouviremos seu apito?”
ExcluirAbraços cordiais e mais uma vez, grata pelo retorno.
Prezada Angelina, O Herr Odebrecht é o patriarca de toda família Odebrecht que depois migrou ao Nordeste brasileiro? Se for, infelizmente, seus sucessores não honraram a ilibação e a dignidade dele.
ResponderExcluirBoa noite, Werner.
ExcluirSim, o patriarca da Família Odebrecht, também da família da Bahia, foi Emil Odebrecht, que chegou à Colônia Blumenau no ano de 1856, como já comentamos em outras postagens.
Ele e sua esposa – Bertha Bichels - tiveram 15 filhos. Esses filhos também tiveram famílias grandes. No início do Século XX, um de seus netos – Emílio Odebrecht - foi o responsável pela construção de uma ponte no interior da Colônia Blumenau. Uma enchente inesperada carregou a obra quase pronta. Os colonos da região que contribuíram para o mutirão exigiam do construtor, Emílio Odebrecht, o reembolso do capital aplicado.
Emílio e a família só viram uma saída nesse momento. Ir embora da região, ir embora para a Bahia. Na Bahia criaram a construtora Isaac Gondim e Odebrecht Ltda. No ano de 1923, Emílio Odebrecht fundou a empresa Odebrecht e Cia.
Com o início da Segunda Guerra Mundial, surgiram problemas, com o superfaturamento do material de construção que vinha da Europa. O bisneto de Emil Odebrecht – Norberto Odebrecht assumiu os negócios da família da Bahia no ano de 1941.
Quanto ao seu comentário, hoje conversávamos sobre os julgamentos que os Odebrecht vêm sofrendo por estarem contribuindo e contando sobre suas próprias práticas dentro de um sistema viciado. O pagamento de propinas em um país como o Brasil é “quase oficial”. O assunto já foi abordado em enredos de estórias televisivas – o mundo conhece isso.
Será que essa empresa é a única prestadora de serviços ao governo brasileiro e a políticos estaduais e municipais dentro desse país, a pagar propinas para que, seu trabalho seja aceito ou contratado?
Essa prática na e da política brasileira iniciou com a Odebrecht?
No momento presente, como faria o patriarca da família Odebrecht, sem medos do julgamento, da exposição, os Odebrecht estão apresentando os nomes daqueles que cobravam as propinas e tráfego de influencias.
Para fazer isso, é preciso ter a coragem de Emil Odebrecht.
E os demais? Onde estão?
Quanto ao nome da família, sua honra e a ilibação - pessoalmente, somos da opinião que uma coisa não tem nada a ver com a outra. A família de um contraventor – de maneira generalizada - não deve nada a justiça, pelos atos menos nobres e dignos desse.
Sem julgamentos.
Grata pelo questionamento, que nos possibilitou essa reflexão.
Abraços.