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Jörg Noriss, Marius Kleisch e a Paul Schwebe. |
Avisaram-nos que Pomerode estava recebendo novamente os Wandergesellen - viajantes, caminhantes aprendizes de um, dos muitos ofícios praticados nas guildas, ou não (se for atual) em algumas, cidades alemãs, desde o período medieval - até os dias atuais.
Ao longo dessa postagem, apresentaremos as mudanças ocorridas nessa tradição, ao longo de sua existência histórica, consequência das mudanças sociais, econômicas e políticas na sociedade européia ao longo da história.
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Wandergesellen no seu trabalho - 1912 |
Escrevemos sobre os Wandergesellen no ano de 2016, quando a cidade de Pomerode, também recebeu dois Wandergesellen.
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Wenzel e Valentin - em Pomerode - 2016. |
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Wandergesellen. |
No início de fevereiro de 2019, quando escrevemos sobre a internacional Sociedade Kolping e lermos sobre a vida de de seu idealizador, o Padre Adolph Kolping, ficamos sabendo que o mesmo, foi um Wandergesellen.
Concluímos isso "cruzando informações". Não tínhamos lido a definição, mas foi uma conclusão natural ao ler sobre suas atividades - ao longo de sua história.
Quando soubemos sobre a visita de três Wandergesellen - viajante - aprendiz - na cidade de Pomerode - telefonamos para a Prefeitura Municipal de Pomerode e pedimos informações sobre o grupo visitante. Tínhamos pretensão de escrever mais detalhes sobre esta tradição entre os jovens solteiros - na Alemanha e cujos trajes são denominados Kluft (do hebraico qellippa: traje da guilda).
Como mencionado, telefonamos para a Prefeitura Municipal de Pomerode e informaram-nos que os Wandergesellen já haviam partido da cidade. Nesta sequencia, em Blumenau, recebemos visitantes da cidade de Itapiranga - extremo oeste do estado catarinense e no dia 12 de fevereiro, os levamos para conhecer o exemplo de algumas iniciativas da administração publica de Pomerode, principalmente no que tange à sua memória, ocupação do solo e também, o patrimônio histórico arquitetônico.
No final de nossa excursão pela cidade, no complexo Weege - área cultural de Pomerode, percebemos no espaço do Pub da cervejaria artesanal local, os três Wandergesellen vestidos com seu Kluft (mesmo com as altas temperaturas locais) - Jörg Noriss, 25 anos, Marius Kleisch, 25 anos e Paul Schwebe, 24 anos - todos solteiros e com menos de 30 anos - uma das regras para usar um Kluft e ser um Wandergesellen. Disseram-nos que um dos companheiros de viagem é da cidade de Köhl, outro de Brehmem e o último de Heinzberg. Quando ouvimos o nome da cidade de Köhl, foi impossível não mencionar a Sociedade de Kolping e o seu idealizador - um Wandergesellen - o Padre Adolph Kolping.
Isso foi possível, porque fomos ao encontro dos aprendizes e também os apresentamos a equipe de Itapiranga. Ao falarmos sobre Adolph Kolping - um dos três jovens disse: "Ele foi um de nós!".
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Dia 12 de fevereiro no PUB de uma cervejaria artesanal de Pomerode - com os Wandergesellen Jörg Noriss, Marius Kleisch e a Paul Schwebe, a Arquiteta de Itapiranga Simone Eidt, seu noivo Renato Bottega e Roberto Wittmann após um dia de caminhada em um encontro inesperado - pois imaginávamos, como foi nos informado que o grupo já havia partido.
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Os Wandergesellen que estavam na cidade de Pomerode, não só, não haviam partido, como permaneceriam mais uma semana na região, completando um mês de estadia.
O assunto é interessante e importante, que mesmo não os tendo entrevistado, resolvemos escrever um pouco mais sobre esta tradição na Alemanha, com contatos na região - até os tempos atuais.
Vale a pena conhecer.
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Os Wandergesellen Jörg Noriss, Marius Kleisch e a Paul Schwebe em Pomerode SC. |
Além das vestimentas, o ofício herdado pelos três é cheio de significados e considerado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio Cultural Mundial Imaterial pela seu significado histórico. Eles seguem à risca o costume de antigos artesãos, que após aprenderem um ofício por três anos, com aulas práticas e teóricas, saem pelo mundo por mais três anos, visitando muitas cidades, sempre em busca de trabalhos relacionados à área. "A viagem é para adquirir experiência e ver como a atividade é desenvolvida em locais diferentes. Nesses três anos não podemos visitar nossas famílias e devemos ficar em um raio de 50 quilômetros longe de nossa terra natal", explica Marius, com a tradução de Klaus Ahrendt, pomerodense que decidiu hospedar o trio em sua casa.
Nos primeiros meses de viagem um professor acompanha o aprendiz, para que ele se acostume com a nova rotina. Depois, ele sai pelo mundo, geralmente sozinho, em busca do conhecimento. No caso dos três alemães que estão em Pomerode, eles viajaram por muitos países antes de se encontrarem por acaso no Brasil. Além da Alemanha, carregam em seus currículos passagens pela Áustria, Suíça, Espanha, Romênia, Dinamarca, Indonésia, Nova Zelândia e China. "Atualmente, a viagem não é obrigatória, mas todos consideram uma questão de honra fazê-la e se não a tivéssemos feito, não seríamos completos", afirma Marius. Testo Notícias - 08 Fevereiro 2019 10:57h.
Os Wandergesellen e Wanderjahre
Aprendiz viajante - após sua formação (Tipo de estágio com determinas regras)
A prática e a descrição da viagem do aprendiz errante - Wandergesellen na Alemanha, é conhecida por Wanderjahre (ou ainda por Wanderschaft, Walz, Tippelei, jornada da viagem). Esta viagem acontece após o término do aprendizado do seu ofício. O Wanderjahre e os Wandergesellen, tiveram sua origem na Idade Média dentro das guildas e corporações de ofícios. No período final da Idade Média até o Século XVIII - inicio da industrialização - ser um Wandergesellen era um dos pré-requisito obrigatório para a admissão de exame para ser mestre artesão em determinadas guildas, prática introduzida no tempo românico e em uso, principalmente, no período gótico, quando eram oportunamente usados como mão de obra nas construções de igrejas. Era imprescindível comprovar esse tipo de iniciação e estágio através destas viagens, cujo período variaram ao longo dos séculos e dependia do tipo da guilda e do comercio local onde eram praticadas. Nos seus estatutos, independentemente da guilda, as regras eram rígidas, precisas e deveriam ser cumpridas. Os artífices deveriam conhecer novas práticas e técnicas de trabalho, lugares estrangeiros, regiões e países, bem como, ganhar experiência de vida.
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Wandergesellen em viagem - 1780. |
O artesão, ou artífice, dentro da sua tradicional viagem de estágio era chamado de Wandergesellen - e era aquele que praticava o Wanderjahre - a viagem. Somente após a viagem para locais e lugares diferentes, praticando as atividades de uma determinada guilda, muitas vezes por anos, era que o artesão ou artífice - Wandergesellen - estava apto para ser um mestre. Para formalizar o estágio, viagem, ou o Wanderjahre, a mesma deveria suas passagens registradas no livro, em cada uma das cidades que passava e também no livro público da cidade. Viajavam até a cidade sede do reinado, ou para o exterior, onde sempre existia a prática artesanal luxuosa, como por exemplo a arte da escultura e ourivesaria.
Quando o Wandergesellen chegava em uma nova cidade, analisava as possibilidades, com a ajuda de uma pessoa local, quase sempre ligado a sua guilda, e visitava as oficinas pedindo trabalho. Caso não encontrasse, recebia uma pequena quantia de determinadas guildas e novamente pegava a estrada, não podendo permanecer no local. A ingressão de um jovem no ambiente dos artífices das guildas, em muitos lugares, estavam associado a grupos frequentadores de tabernas, com rodas de bebidas alcoólica e consumo em excesso, algazarras e piadas, isto foi aconteceu, de pelo menos, até o Século XVIII.
A inscrição do Wandergesellen, após sua chegada à cidade dependia da disponibilidade de uma licença de viajante na guilda local. Quase sempre a liberação dependia de certos mestres, pois havia limitações no número de mestres a serem empregados posteriormente dentro das guildas, ou seja havia um controle na formação a partir da presença dos Wandergesellen. A rescisão do compromisso/contrato firmado entre Wandergesellen e o local de trabalho, poderia ser efetuado por qualquer uma das partes, sem perda.
Entre os anos de 1730 e 1820, após um longo período de trabalho, mais longo em lugares maiores, o Wandergesellen recebia um registro da cidade em seu livro - Wanderbuch, comprovando sua estadia a atuação, comprovando as horas de trabalho e seu bom comportamento e assiduidade.
Sem esse registro no sei Wanderbuch, dificilmente o Wandergesellen poderia encontrar trabalho na próxima cidade. Durante sua estadia, em uma oficina local, era acompanhado atentamente pela corporação local até a sua partida. Se ocorresse a fuga de um Wandergesellen de uma cidade era, apesar do controle, uma falta, muitas vezes lamentada pelos mestres. Em um local ligada à guilda da cidade existia uma "lousa" onde eram anotados todos os nomes dos Wandergesellen que passaram na cidade e na guilda - com devidas anotações sobre episódios mais importantes relacionados a este Wandergesellen, inclusive, o nome daqueles que haviam deixado a cidade - partindo sem as devidas formalidades. O Livro da Guilda, geralmente registravam também, as condições das viagens e da estadia dos Wandergesellen que partiam, como também, registrava as relações de emprego entre os artífices (Wandergesellen) e os mestres.
Além do salário que recebiam, eram destinadas contribuições para a Gesellenlade - Caixa da Guilda, o sistema hospitalar e para burocracia e determinadas atividades, também de lazer, dos Wandergesellen. As bebidas consumidas durante as reuniões dos Wandergesellen somente eram permitidas com a provação do mestre mais velho da guilda e seus assessores e suas deliberações tinham que ser registradas junto ao mestre anfitrião.
Século XIX
As atividades dos Wandergesellen, no Século XIX, dentro das novas corporações formadas nesse tempo, não seguiam mais a tradição anterior com detalhes. O Wandergesellen não viajava mais sozinho e possuía mais um ou dois companheiros mais experientes.
Isso comprova que a prática do Wanderjahre teve mudanças, estas registradas na poesia e na produção musical de Schubert. Atualmente, pouca coisa da tradição original é seguida e conhecida. Principalmente parte daquelas praticadas no período de tempo entre o final do Séculos XVIII e XX.
As práticas e atividades dos Wandergesellen nas muitas cidades que viajavam, nos diversos recortes de tempo histórico, são materiais para estudos valiosos, que estão registradas não somente no livro pessoal de cada um, mas também nos livros das cidades e nos restaurantes que registravam a passagem dos Wandergesellen.
Nestas pesquisas feitas nestes Wanderbuch - livros, vem sendo observados as barreiras linguísticas, de religião e redes de viagens existentes. Também foram e são observados nestes registros, as contribuições que cada lugar recebia ou, cedia, influenciando, através das trocas de informações, técnicas levadas e trazidas pelos Wandergesellen. Registros estes, que foram somente recentemente, cientificamente estudados. Os grandes centros eram o destino preferido das viagens. Restrições legais sobre a prática dos Wandergesellen não entraram em vigor, até o século XIX.
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Carlos VI Por Johann Gottfried Auerbach Fonte Wikipédia |
Houve perdas significativas da prática formais e originais dos Wandergesellen, durante os Séculos XIX e XX. Parcialmente, as mudanças iniciaram, já no Século XVIII através das reformas comerciais no Sacro Império Romano, como por exemplo, a Portaria Imperial de Ofícios ratificada pelo Imperador Carlos VI, no ano de 1731, que pretendia transformar as propriedades da sociedade em uma sociedade pré-industrial e que não teve muito êxito.
Algumas das reformas somente aconteceram, após o fim da Guerra dos Sete Anos - que foi um conjunto de conflitos internacionais que aconteceram entre os anos de 1756 e 1763, durante o reinado de Luís XV,
entre a França, a Monarquia de Habsburgo e seus aliados (Saxônia, Império
Russo, Império Sueco e Espanha), de um lado, e de outro lado, a Inglaterra, Portugal, o Reino
da Prússia e Reino de Hanôver.
Em muitos estados alemães adotaram a liberalização da economia. Com o aumento das novas manufaturas, os conflitos surgiram cada vez mais, com a prática das guildas e o artesanato antigo.
O estado adotou e promoveu, de maneira cada vez mais aberta e acessível, o comércio e o surgimento da fabricação e pequenas industrias. A reforma das transações e práticas do mercado, no Século XIX, interferiu de maneira direta, na forma da produção e no seu desenvolvimento. Estas práticas interferiram, de maneira direta, no poder e nas práticas das guildas. Não era mais tão necessário, o Wanderjahre, viajar para completar a formação - deixou de existir parcialmente a relação direta entre mestre e aprendiz, como na estrutura anterior. Ocorreu o aumento da especialização e o inicio da mecanização, criando novas forças de trabalho dentro de um ambiente industrial. Surgiram novas demandas de força de trabalho e nesse novo cenário o papel do Wandergesellen não tinha espaço. Mas não deixou de existir suas práticas, mas com outro cenário de produção - surgido nos tempos modernos.
Para desenvolver o treinamento de um grupo e operar uma fábrica, necessitava somente de alguns mestres (termo existente até os dias atuais nas firmas do Vale do Itajaí - o mestre da linha de produção) e alguns aprendizes.
Surgiram novas regras que permitiam a contratação formal de mestres sem a antiga formação e exigências. Para todos, eram considerados "não competentes" e a proporção de trabalhadores não qualificados cresceu nas fábricas, que nesse momento só conheciam e executavam o trabalho de meio período das práticas existentes anteriormente. O treinamento interno de alguns poucos aprendizes foi integrado a um determinado departamento da Firma. Somente estes. com o treinamento local, tinham a chance de serem promovidos a mestre ou capataz.
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Fabrica - Alemanha - Século XIX. |
A forma de transferência de conhecimento e aprendizado através de prescrições perdeu importância no final do Século XVIII . A maior especialização de muitos ofícios foi monitorado através da fundação de instituições comerciais, de engenharia e de ensino superior, que substituíram amplamente o pedestrianismo (viagens dos Wandergesellen a pé) como uma qualificação. Predominou, em apenas em alguns negócios principais e auxiliares do comércio da construção - foi que houve prosseguimento do Wanderjahre - com a presença dos Wandergesellen.
O número de Wandergesellens estava sujeito a flutuações permanentes.
No início do Século XX - até o final da década de 1920, o número Wandergesellen estava na faixa de quatro dígitos. Era consideravelmente alto. Durante as Guerras Mundiais, o número de Wandergesellen caiu consideravelmente, pois muitos jovens foram convocados para o serviço militar e o espírito de liberdade dos Wandergesellen, o amor pela liberdade entrou em conflito com as políticas do nacional-socialismo. Foi um período difícil, pois não eram bem vistos pelos nazistas.
Após a Segunda Guerra Mundial, o interesse pelas práticas da tradição do Wanderjahre cresceu rapidamente no início dos anos 50, mas nunca atingiu os números da década de 1920.
Na Alemanha Oriental, a Wanderjahre foi proibido. Algumas pessoas tentaram resgatar dentro das fronteiras, mas as condições e horários de trabalho das empresas da estatais do governo (VEB) tornaram quase impossível trabalhar em diferentes atividades.
Com a crescente prosperidade do milagre econômico da Alemanha, o Wanderjahre e a vontade de pegar a estrada por três anos perdeu espaço. Na década de 1970, os Wandergesellen com chapéu preto eram uma raridade. Não tinha sentido as privações que necessitavam passar durante a viagem. Algumas pessoas consciente sobre a importância de manter a tradição e a história temiam que as antigas práticas se acabassem.
Por volta de 1980, a consciência sobre a importância do resgate desta tradição cresceu, juntamente com conquistas e emancipação das mulheres e estilo de vida alternativo.
Surgiram também os Wanderjahre com a presença das mulheres, com praticas e hábitos totalmente diferentes que os antigos. Se chamaram Freireisende para para destacar suas diferenças das antigas associações de artífices.
Depois da reunificação alemã, muitos Wandergesellen da Alemanha Oriental aproveitaram a oportunidade para ir ao Walz - tornar-se um Wandergesellen. O crescente desemprego, que também afetou a indústria da construção, também estimulou o novo surgimento da prática. Assim, muitos, que por necessidade saíram de casa e foram para a estrada trabalhar, por vários anos - tornando-se um Wandergesellen no tempo presente.
Ainda permanecem algumas regras do tempo passado. Devem viajar a trabalho de no mínimo três anos e um dia de caminhada. Não há limite máximo de tempo para terminar a caminhada. Atualmente, apenas os carpinteiros e pedreiros permitem a presença das mulheres.
Em 2005, existiam entre 600 e 800 Wandergesellen. Em 2010, havia somente 450 Wandergesellen na Alemanha. São estimativas a partir de estudos, pois não existe uma forma confiável de contagem, especialmente entre Wandergesellen.
No mês de dezembro de 2014, durante a Conferência de Ministros da Educação da Alemanha, foi determinado que o Wanderjahre seria incluído como uma das 27 práticas culturais na lista de patrimônio imaterial da Nationwide Directory of Intangible Cultural Heritage - UNESCO, o que foi efetivado no dia 16 de março de 2015.
Atualmente, uma minoria dos formandos mantém esta prática - estima-se que haja no mundo, menos de 500 Wandergesellen cumprindo a jornada de aprendizado prático.
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Os caminhantes só têm permissão para carregar o que vestem em seus corpos, então sua bagagem é muito manejável: algumas roupas, um livro de viajante, ferramentas, um mapa e pedaços e peças pessoais . Telefone celular e laptop não é permitido. Fotografia de Ines
Kaffka - Fonte: Karriere SPIEGEL
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Regras atuais dos Wandergesellen
Para poder viajar o mundo, de maneira tradicional como
Wandergesellen, é preciso que alguns requisitos sejam seguidos. O interessado a se tornar um Wandergesellen deve fazer e ser aprovado em um exame do Wandergesellen, ser solteiro, não possuir filhos, não possuir dívidas e deve ter uma idade inferior a 30 anos. O objetivo da prática de Wanderjahre não deve ser uma fuga da responsabilidade - como sair pelo mundo e "não olhar para trás". Não é descartado a necessidade de apresentar um certificado que não possui envolvimento com a polícia. Em algumas situações é preciso ser sócio de um sindicato. A nacionalidade e a religião não são empecilhos para se tornar um Wandergesellen atual. Muitos dos Wandergesellen atuais são suíços, liechtensteiner, austríacos, franceses, dinamarqueses ou americanos - dentro da Alemanha.
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Wandergesellen - Sapateiro em viagem - fotografia feita na Inglaterra por Neil Keery - Fotografia 2019. |
Os Wandergesellens não podem estar dentro de um raio de 50 km de sua
cidade natal, durante seu tempo de viagem, mesmo no inverno ou feriados. Não pode
possuir seu próprio automóvel e só pode viajar a pé, ou pedindo carona . O transporte
público não é geralmente proibido, mas não é muito aprovado. É permitido
viajar para outros continentes de avião, que é o caso dos Wandergesellen que visitaram Pomerode.
O Wandergesellen em trânsito deve estar sempre visivelmente público. Pode precisar de auxilio e do apoio da população na busca de trabalho ou em ter um lugar para dormir. Deve se comportar, ser ético com boa conduta, com respeito, para que o próximo Wandergesellen seja bem-vindo - razão por existir muitas das restrições durante sua viagem.
Todos os seus pertences de viagem, como ferramentas, mapa, roupa de baixo, saco de dormir, ele precisar carregar durante sua viagem. Geralmente leva um tipo de mochila feita especialmente para os Wandergesellen - para a distribuição da carga entre os dois ombros, mas a mais tradicional - é a mochila é usada apenas no ombro esquerdo.
Os tradicionais brincos usados pelo viajantes são acessórios atuais. Não eram usados na época das guildas. Eram usados, no tempo passado por apenas soldados e marinheiros antes da Revolução Francesa, que tornou-se moda na região da atual Alemanha entre os anos de 1810 e 1850, por todas as "tribos". e que ganhou mais visibilidade dentro dos grupos de Wandergesellen. Muitas vezes mediante uma emergência, como o não encontrar trabalho na estrada, podem vendê-los.
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Wandergesellen com brincos - Sapateiro em viagem - fotografia feita na Inglaterra por Neil Keery Fotografia 2019. |
Um dos assessórios mais importantes do viajantes é o Stenz - um tipo de cajado.
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Alguns Wendergesellen e seus Stenz e mochilas. |
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Wandergesellen - carpinteiro e colega de viagem do sapateiro - fotografia feita na Inglaterra por Neil Keery Fotografia 2019. |
O conjunto fica bem caracterizado quando o viajante está com seu Stenz (cajado) - que auxilia na caminhada - e trajado especialmente com o Kluft - e um chapéu preto de aba larga, cilindro, chapéu
flexível, coco ou similar. As calças geralmente são com a conhecida "boca de sino" - largas e de veludo grosso ou de couro. O conjunto é completado com um colete com seis botões grandes e camisa branca sem gola. Os botões usados são tradicionalmente feitos
de madrepérola ou pelo menos um material natural ou metal.
Um brasão artesanal ou uma representação simbólica de uma insignia pessoal pode ser usado na fivela do cinto, às vezes possuindo "cabide de brinco" ou bordado na parte de trás do colete. Não é recomendado o uso de jóias que não sejam artesanais. Muitos
Wandergesellen usam um relógio de bolso cuja corrente está presa ao
colete.
Como há uma grande porcentagem de carpinteiros entre os Wandergesellen, a tradição entre este grupo é a mais original e preservada.
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Relógio de bolso |
Há Wandergesellen dentro das seguintes práticas artesanais: carpinteiros, pedreiros, marceneiros, ceramistas,
ferreiros, canalizadores, escultores de madeira, encadernadores, alfaiates, estofadores, ourives, fabricantes de instrumentos, pintores de
igrejas, fabricantes de cordas, padeiros, confeiteiros, cozinheiros, moleiros, queijeiros, jardineiros, fazendeiros entre outros, somando de maneira estimativas, entre 30 e 35 práticas artesanais.
Até mesmo práticas relativamente modernas, como mecânicos de bicicletas ou eletricistas, estão, em alguns casos, em movimento, enquanto alguns de praticas artesanais mais antigas, como fazedor de barris, sapateiros, tanoeiros ou açougueiros,
praticamente não possuem Wandergesellen, por falta de interesse ou estão completamente
extintos.
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A maioria dos Wandergesellen trabalham nas profissões em que foram treinados. Mas eles também assumem outros trabalhos seja para expandir suas habilidades ou porque precisam de comida ou abrigo - como esses padeiros que ajudam em um distrito de Brandenburgo na construção de estradas. Fotografia de Ines Kaffka - Fonte: Karriere SPIEGEL . |
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Sebastian Gorus, 27 anos, está na estrada há dois meses e atualmente está consertando o telhado da Igreja da Abadia de Michaelsberg em Bamberg. Em muitas áreas rurais, os caminhantes ajudam a aliviar a escassez de trabalhadores qualificados, pelo menos temporariamente. Fotografia de Ines Kaffka - Fonte: Karriere SPIEGEL . |
O equívoco de que apenas os carpinteiros estão no rolo, é reforçado
pelo fato de que muitos artífices de outros ofícios também usam o Kluft preto - traje - usados pelos carpinteiros com a c
amisa branca, sem colarinho, muitas vezes produzido em
grande escala - sem qualquer tradição e disponibilizado para comprar nas lojas por qualquer um. Muitos usam o Kluft dos carpinteiros mesmo fora da viagem, como trajes habituais do trabalho, como é o caso de alguns carpinteiros na cidade de Blumenau, que não são exatamente um Wandergesellen, mas usam o tradicional Kluft.
A viagem de um Wandergesellen só poder ser interrompida mediante justificativas convincentes como por exemplo, uma doença grave. Se interromper a viagem sem justificativa plausível - uma pausa conhecida como "unehrbar", o livro
de caminhada do Wandergesellen é retirado e termina então sua viagem de maneira "desonrosa" - passa a ser chamado de "Harzgänger".
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Zuftkleidung - Roupa das Guildas |
Livro de caminhadas - Wanderbuch
O item mais importante que todo Wandergesellen é seu livro de caminhadas - o
Wanderbuch - que leva consigo. É um documento i
nsubstituível da própria
errância e durante toda a história desta prática - desde a idade média. Após a sua experiencia como um Wandergesellen, o livro é sua mais importante lembrança com todas as "marcas" da viagem.
É quase sagrado. A forma e o conteúdo devem ser preservados contra o uso indevido, e por isso devem ser manuseados somente em um ambiente reservado ou como uma
necessidade oficial, de maneira particular. Não podem ser publicados.
Os Wandergesellen que viajam - membros do CCEG
carregam um livro padronizado de caminhadas emitido pela associação de
Wandergesellen. Neste único trabalho, os certificados, bem como, o selo das cidades por onde passam e estão os
lugares que trabalharam, são registrados, muitas vezes, pelos prefeitos com os ofícios
oficiais.
Muitas vezes, os membros do CCEG têm um segundo livro privado sobre caminhadas - diário,
no qual ocorrem outros registros. Geralmente os Wandergesellen têm apenas um livro de caminhada e segue um padrão,
no qual não é oficial, e pode receber todos os outros conteúdos. Cabe a cada Wandergesellen determinar quem pode fazer a inscrição no seu livro. Geralmente, os Wandergesellen fazem seus próprios registros no livro de caminhadas, e isso se tornará oficialmente de sua propriedade até o
final de suas viagens e depois de não mais fazê-las.
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Wanderbuch - livro de viagem - de um dos três Wandergesellen que estavam em Pomerode - e sua anotação. |
Vocabulário próprio dos Wandergesellen
Os Wandergesellen usam partes de um vocabulário próprio para se comunicar uns com os outros ou para citar algumas
coisas. É uma linguagem oral com grande diversidade, que só pode ser escrita de
forma muito limitada e rudimentar e deve também manter seu caráter como uma linguagem puramente
oral por parte do viajante itinerante. O vocabulário de expressões do Wandergesellen deve ser tratado com respeito.
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Os Wandergesellen vestem calças largas, camisas sem colarinho e jaquetas da cor da guilda. |
Atualmente - algumas das expressões usadas:
Aspirant, Aspi - Wandergesellen novo em julgamento em machado e colher de pedreiro.
bunt- oder wildreisend - Wandergesellen não tradicionais que viajam.
Einheimischer - Ex-Wandergesellen, que se estabeleceu após as andanças
Exportgeselle, Export, Alt - Para viajar e treinar um novo Wandergesellen.
erwandert werden - Apresentando o novo Wandergesellen aos costumes e à vida do
viajante itinerante.
Interessent - Aprendiz que está interessado em ir em uma caminhada.
Jungreisender, Jungscher
Kamérad, Kamerud (com um longo e) - Bom amigo. Forma de saudação entre os
artífices.
Schacht - Artesão, empregador.
fuste - Associação de Wandergesellen e ex-caminhantes.
schaniegeln, scheniegeln, scharniegeln, schniegeln - Trabalho.
Schallern - Canto de canções de um journeyman.
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Os Wandergesellen não devem gastar dinheiro em acomodação, eles também precisam da ajuda de outros ou têm que trabalhar para dormir - mas se precisarem, eles podem passar uma noite ao ar livre. |
Algumas personalidades que foram um Wandergesellen
Jakob Böhme (sapateiro) - místico, filósofo e teosofista
cristão
Robert Bosch (Mecânico) - Industrialista, fundador da Robert
Bosch GmbH
Friedrich Ebert (Sattler) - primeiro presidente do Reich
alemão republicano ("República
de Weimar")
Albrecht Dürer, o Jovem (pintor) - um artista significativo
na época do humanismo e
da Reforma
Peter Friedhofen (varredura de chaminés) - fundador dos
Irmãos da Misericórdia de
Maria Hilf
Max Gebbert (mecânico) - co-fundador da Gebbert e Schall
Wilhelm Hasenclever (Lohgerber) - último presidente do ADAV
e representante do
Reichstag no início da social-democracia alemã
Johann Klepper (alfaiate) - fundador da empresa Klepper
(barcos dobráveis e capas de
chuva)
Adolph Kolping (sapateiro) - fundador da Sociedade Kolping
Johann Most (encadernador) - anarquista e escritor
Adam Opel (mecânico) - fabricante de máquinas de costura e
bicicletas, fundador da
empresa Adam Opel com produção automóvel de última
geração
Wilhelm Pieck (carpinteiro) - político na RDA
Hans Sachs (sapateiro) - soletre poeta, mestres e
dramaturgos
Walter Ulbricht (carpinteiro) - político na RDA
Johann Friedrich Ludwig Wöhlert (carpinteiro) - industrial
(construção de
máquinas e locomotivas)
Desejamos um bom retorno a Jörg Noriss, Marius Kleisch e para Paul Schwebe, de volta para Alemanha. Parabéns por contribuírem para a manutenção dessa tradição centenária.
Leitura Complementares - Clicar sobre para ler: