quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Quando nossos Filhos voam – Por Rubem Alves

Navegamos e encontramos uma crônica que tenta explicar uma relação de amor dentro do recorte de tempo de uma jornada das pessoas envolvidas. Houve uma empatia tão grande com o texto de Rubem Alves que resolvemos compartilhar este.  
Esta crônica nos é muito familiar
Um pouco de literatura e filosofia neste espaço. 
Segue...

Quando  nossos Filhos voam


"Sei que é inevitável e bom que os filhos deixem de ser crianças e abandonem a proteção do ninho. Eu mesmo sempre os empurrei para fora. Sei que é inevitável que eles voem em todas as direções como andorinhas adoidadas. Sei que é inevitável que eles construam seus próprios ninhos e eu fique como o ninho abandonado no alto da palmeira…Mas, o que eu queria, mesmo, era poder fazê-los de novo dormir no meu colo…Existem muitos jeitos de voar. Até mesmo o vôo dos filhos ocorre por etapas. O desmame, os primeiros passos, o primeiro dia na escola, a primeira dormida fora de casa, a primeira viagem…Desde o nascimento de nossos filhos temos a oportunidade de aprender sobre esse estranho movimento de ir e vir, segurar e soltar, acolher e libertar. Nem sempre percebemos que esses momentos tão singelos são pequenos ensinamentos sobre o exercício da liberdade. Mas chega um momento em que a realidade bate à porta e escancara novas verdades difíceis de encarar. É o grito da independência, a força da vida em movimento, o poder do tempo que tudo transforma.É quando nos damos conta de que nossos filhos cresceram e apesar de insistirmos em ocupar o lugar de destaque, eles sentem urgência de conquistar o mundo longe de nós. É chegado então o tempo de recolher nossas asas. Aprender a abraçar à distância, comemorar vitórias das quais não participamos diretamente, apoiar decisões que caminham para longe. Isso é amorMuitas vezes, confundimos amor com dependência. Sentimos erroneamente que se nossos filhos voarem livres não nos amarão mais. Criamos situações desnecessárias para mostrar o quanto somos imprescindíveis. Fazemos questão de apontar alguma situação que demande um conselho ou uma orientação nossa, porque no fundo o que precisamos é sentir que ainda somos amados. Muitas vezes confundimos amor com segurança. Por excesso de zelo ou proteção cortamos as asas de nossos filhos. Impedimos que eles busquem respostas próprias e vivam seus sonhos em vez dos nossos. Temos tanta certeza de que sabemos mais do que eles, que o porto seguro vira uma âncora que impede-os de navegar nas ondas de seu próprio destino. Muitas vezes confundimos amor com apego. Ansiamos por congelar o tempo que tudo transforma. Ficamos grudados no medo de perder, evitando assim o fluxo natural da vida. Respiramos menos, pois não cabem em nosso corpo os ventos da mudança. Aprendo que o amor nada tem a ver com apego, segurança ou dependência, embora tantas vezes eu me confunda. Não adianta querer que seja diferente: o amor é alado.Aprendo que a vida é feita de constantes mortes cotidianas, lambuzadas de sabor doce e amargo. Cada fim venta um começo. Cada ponto final abre espaço para uma nova frase. Aprendo que tudo passa menos o movimento. É nele que podemos pousar nosso descanso e nossa fé, porque ele é eterno. Aprendo que existe uma criança em mim que ao ver meus filhos crescidos, se assustam por não saber o que fazer. Mas é muito melhor ser livre do que imprescindível. Aprendo que é preciso ter coragem para voar e deixar voar. E não há estrada mais bela do que essa."
O Autor...
Rubem Alves



Nasceu no dia 15 de setembro de 1933 na cidade de Dores da Boa Esperança em Minas Gerais, atual cidade de Boa Esperança. 
Com 12 anos mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Sofreu buling no colegio pelo seu sotaque mineiro. Buscou refúgio na religião. Tinh poucos amigos. Teve aulas de piano. Terminado o estudo de teologia e iniciou sua carreira dentro de sua igreja como pastor em uma cidade do interior de Minas Gerais. 
No período de 1953 a 1957 estudou teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas (SP), tendo se transferido para Lavras (MG), em 1958, onde exerce as funções de pastor naquela comunidade até 1963.
Em 1959 casou-se e teve três filhos: Sérgio (1959), Marcos (1962) e Raquel (1975). 
Em 1963 foi estudar em Nova York, retornando ao Brasil no mês de maio de 1964 com o título de Mestre em Teologia pelo Union Theological Seminary. Denunciado pelas autoridades da Igreja Presbiteriana como subversivo, em 1968, foi perseguido pelo regime militar. Abandonou a igreja presbiteriana e retornou com a família para os Estados Unidos, fugindo das ameaças que recebia, onde  concluiu seu doutorado em Filosofia (Ph.D.) pelo Princeton Theological Seminary.
Sua tese  - “A Theology of Human Hope” foi publicada em 1969 pela editora católica Corpus Books é, no seu entendimento, “um dos primeiros brotos daquilo que posteriormente recebeu o nome de Teoria da Libertação”.
De volta ao Brasil, por indicação do professor Paul Singer, conhecido economista, é contratado para dar aulas de Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (SP).
Em 1971, foi professor-visitante no Union Theological Seminary.
Em 1973, transferiu-se para a Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, como professor-adjunto na Faculdade de Educação.
No ano seguinte, 1974, ocupa o cargo de professor-titular de Filosofia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), na UNICAMP.
É nomeado professor-titular na Faculdade de Educação da UNICAMP e, em 1979, professor livre-docente no IFCH daquela universidade. Convidado pela "Nobel Fundation", profere conferência intitulada "The Quest for Peace".
Na Universidade Estadual de Campinas foi eleito representante dos professores titulares junto ao Conselho Universitário, no período de 1980 a 1985, Diretor da Assessoria de Relações Internacionais de 1985 a 1988 e Diretor da Assessoria Especial para Assuntos de Ensino de 1983 a 1985.
No início da década de 80 torna-se psicanalista pela Sociedade Paulista de Psicanálise.
Em 1988, foi professor-visitante na Universidade de Birmingham, Inglaterra. Posteriormente, a convite da "Rockefeller Fundation" fez "residência" no "Bellagio Study Center", Itália.
A literatura e a poesia lhe forneceu a alegria que o manteve vivo nas horas não muito boas por que passou. Seus autores eram: Adélia Prado, Guimarães Rosa, Manoel de Barros, Octávio Paz, Saramago, Nietzsche, T. S. Eliot, Camus, Santo Agostinho, Borges e Fernando Pessoa, entre outros. Publicou vários livros, é foi colaborador em diversos jornais e revistas com crônicas, em especial entre os vestibulandos. 

Quando se aposentou, tornou-se proprietário de um restaurante na cidade de Campinas, onde deu vazão a seu amor pela gastronomia. No local do restaurante também ministrados cursos sobre cinema, pintura e literatura, além de contar com um ótimo trio com música ao vivo, sempre contando com “canjas” de alunos da Faculdade de Música da UNICAMP.
Membro da Academia Campinense de Letras, professor-emérito da Unicamp e cidadão-honorário de Campinas, onde recebeu a medalha Carlos Gomes de contribuição à cultura.
Parte no dia 19 de julho de 2014 com 80 anos de idade na cidade de Campinas. Por sua vontade foi cremado. 



Bibliografia:

Crônicas
  • As contas de vidro e o fio de nylon, Editora Ars Poética (São Paulo)
  • Navegando, Editora Ars Poética (São Paulo)
  • Teologia do cotidiano, Editora Olho D'Água (São Paulo)
  • A festa de Maria, Editora Papirus (Campinas)
  • Cenas da vida, Editora Papirus (Campinas)
  • Concerto para corpo e alma, Editora Papirus (Campinas)
  • E aí? - Cartas aos adolescentes e a seus pais, Editora Papirus (Campinas)
  • O quarto do mistério, Editora Papirus (Campinas)
  • O retorno eterno, Editora Papirus (Campinas)
  • Sobre o tempo e a eterna idade, Editora Papirus (Campinas)
  • Tempus fugit, Editora Paulus (São Paulo)
Livros Infantis
  • A menina, a gaiola e a bicicleta, Editora Cia das Letrinhas (SP)
  • A boneca de pano, Edições Loyola (SP)
  • A loja de brinquedos, Edições Loyola (SP)
  • A menina e a pantera negra, Edições Loyola (SP)
  • A menina e o pássaro encantado, Edições Loyola (SP)
  • A pipa e a flor, Edições Loyola (SP)
  • A porquinha de rabo esticadinho, Edições Loyola (SP)
  • A toupeira que queria ver o cometa, Edições Loyola (SP)
  • Estórias de bichos, Edições Loyola (SP)
  • Lagartixas e dinossauros, Edições Loyola (SP)
  • O escorpião e a rã, Edições Loyola (SP)
  • O flautista mágico, Edições Loyola (SP)
  • O gambá que não sabia sorrir, Edições Loyola (SP)
  • O gato que gostava de cenouras, Edições Loyola (SP)
  • O país dos dedos gordos, Edições Loyola (SP)
  • A árvore e a aranha, Edições Paulus (SP)
  • A libélula e a tartaruga, Edições Paulus (SP)
  • A montanha encantada dos gansos selvagens, Edições Paulus (SP)
  • A operação de Lili, Edições Paulus (SP)
  • A planície e o abismo, Edições Paulus (SP)
  • A selva e o mar, Edições Paulus (SP)
  • A volta do pássaro encantado, Edições Paulus (SP)
  • Como nasceu a alegria, Edições Paulus (SP)
  • O medo da sementinha, Edições Paulus (SP)
  • Os Morangos, Edições Paulus (SP)
  • O passarinho engaiolado, Editora Papirus (Campinas)
  • Vuelve, Pájaro Encantado, Sansueta Ediciones SA (Madrid, España)
Filosofia da Ciência e da Educação
  • A alegria de ensinar, Editora Ars Poética (SP)
  • Conversas com quem gosta de ensinar, Editora Ars Poética (SP)
  • Estórias de quem gosta de ensinar, Editora Ars Poética (SP)
  • Filosofia da Ciência, Editora Ars Poética (SP)
  • Entre a ciência e a sapiência, Edições Loyola (SP)
Filosofia da Religião
  • O enigma da religião (Campinas, Papirus)
  • L' enigma della religione (Roma, Borla)
  • O que é religião? (S. Paulo, Brasiliense)
  • What is religion? (Maryknoll, Orbis)
  • Was ist religion? (Zurich, Pendo)
  • Protestantismo e Repressão (S. Paulo, Ática)
  • Protestantism and Repression (Maryknoll, Orbis)
  • Dogmatismo e Tolerância (S. Paulo, Paulinas)
  • O suspiro dos oprimidos (S. Paulo, Paulinas)
Biografias
  • Gandhi: A Magia dos gestos poéticos (S. Paulo/Campinas, Olho D'Água/Speculum)
Teologia
  • A Theology of Human Hope (Washington, Corpus Books)
  • Christianisme, opium ou liberation? (Paris, Éditions du Cerf)
  • Teologia della speranza umana (Brescia, Queriniana)
  • Da Esperança (Campinas, Papirus)
  • Tomorrow's child (New York, Harper & Row)
  • Hijos del manana (Salamanca, Siguime)
  • Il figlio dei Domani (Brescia, Queriniana)
  • Teologia como juego (Buenos Aires, Tierra Nueva)
  • Variações sobre a vida e a morte (São Paulo, Paulinas)
  • Creio na ressurreição do corpo (Rio de Janeiro, CEDI)
  • Ich glaube an die Auferstehung des Leibes (Dusseldorf, Patmos VERLAG)
  • I believe in the resurrection of the body (Philadelphia, Fortress Press)
  • Je crois en la résurrection du corps (Paris, Éditions du Cerf)
  • Poesia, Profecia, Magia (Rio de Janeiro, CEDI)
  • Der Wind blühet wo er will (Dusseldorf, Patmos)
  • Pai nosso (Rio de Janeiro, CEDI)
  • Vater Unser (Dusseldorf, Patmos)
  • The Poet, the Warrior, the Prophet (London, SCM Press)
  • Parole da Mangiari (The Poet, the Warrior, the Prophet), Edizioni Qiqajon Comunitá di Bose (Itália)

Muito bom lermos o que vai na alma...
 através de um conjunto de letrinhas bem organizadas...
 por uma criança ou por um filósofo.























6 comentários:

  1. Adoro este texto de Rubem Alves. Bjs querida.

    ResponderExcluir
  2. Em qual livro/jornal foi publicado o texto Quando os filhos voam. Gostaria de citar veículo/ano.

    ResponderExcluir
  3. Sua tese - “A Theology of Human Hope” foi publicada em 1969 pela editora católica Corpus Books é, no seu entendimento, “um dos primeiros brotos daquilo que posteriormente recebeu o nome de [Teologia] da Libertação”.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito bem...agradecemos a informações mais detalhada desse que viveu a frente de seu tempo. Vanguarda. Abraços...

      Excluir
  4. Esse belíssimo texto NÃO É do Rubem Alves. Sua autora é Deborah Dubner, psicóloga, diretora do www.itu.com.br e escritora. Autora dos livros "A Vida em Versão Original" , "Dançando a Vida" e "O Poder Terapêutico e Integrativo da Dança Circular". A confusão ocorreu porque ela o introduz com um pensamento do Rubem Alves. Seria legaç fazer a correção para não espalhar o erro. Que acham? Deixo o link para confirmação: http://www.itu.com.br/artigo/quando-os-filhos-voam-20100201

    ResponderExcluir