Deutsche Welle
Em entrevista a veículos alemão e inglês, presidente eleito dos EUA questionou aliança militar criada na Guerra Fria e criticou política de refugiados de Merkel: imigração teria sido responsável pelo Brexit.
Donald Trump dá entrevista para Kai Diekmann, do jornal alemão "Bild"
A cinco dias de tomar posse, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, provocou tensão nos meio diplomáticos internacionais ao criticar a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança de defesa ocidental criada durante a Guerra Fria. Em entrevista conjunta publicada neste domingo (15/01) pelo tabloide alemão Bild e o diário britânico The Times of London, o magnata também sugeriu uma reaproximação com a Rússia, além de traçar um prognóstico nada otimista para a União Europeia.
"Há tempos eu disse que a Otan tinha problemas. Em primeiro lugar, está obsoleta, porque foi criada anos atrás. Em segundo, os países não estão pagando o que deveriam pagar", afirmou o republicano, referindo-se às contribuições que cabem a cada membro. Ele alega que apenas cinco países têm contribuído, enquanto os EUA respondem por 70% dos gastos do bloco.
As declarações de Trump repercutiram em solo europeu. Segundo o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, seus comentários foram recebidos com preocupação na Otan. "Isso vai contra o que o secretário americano da Defesa disse recentemente em sua audiência em Washington, e teremos que analisar quais serão as consequências para a política americana."
Moscou, no entanto, demonstrou sintonia com o futuro presidente. Em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou que há tempos que a Rússia vem dizendo o mesmo.
Durante a entrevista, Trump também sugeriu uma reaproximação com o governo de Vladimir Putin, afetado por uma série de sanções durante a administração do democrata Barack Obama, em reação às intervenções russas na Crimeia e no leste da Ucrânia.
"Vamos ver se podemos fazer bons negócios com a Rússia", disse o republicano, sugerindo um acordo no qual os arsenais nucleares seriam reduzidos e as sanções contra Moscou, aliviadas, mas sem dar maiores detalhes. O Kremlin tampouco se pronunciou sobre um eventual acordo.
Política de refugiados
Trump também aproveitou a entrevista para condenar a política de refugiados da chanceler federal alemã, Angela Merkel. "Acho que ela cometeu um erro extremamente catastrófico em receber todos esses ilegais, você sabe, aceitando todas as pessoas de onde quer que elas venham. E ninguém sequer sabe de onde elas vêm. Então acho que ela cometeu um erro catastrófico, um erro muito ruim."
Em 2015, cerca de 1 milhão de migrantes, a maioria proveniente da Síria, entraram na Alemanha após Merkel abrir as fronteiras do país. Para o republicano, a Alemanha pôde obter uma "boa ideia" das consequências de tais medidas após o atentado terrorista que deixou 12 mortos num mercado de Natal em Berlim, na noite de 19 de dezembro.
Apesar das críticas a Merkel, Trump afirmou nutrir "um grande respeito" pela premiê alemã, e prometeu começar seu governo tendo como base a confiança na "líder fantástica" que ela é.
Brexit como "algo grande"
O chefe de Estado eleito também culpou a política de portas abertas da Alemanha pelo resultado do referendo que, em junho último, decidiu a saída do Reino Unido da União Europeia. Para Trump, a chegada de refugiados em 2015 foi "a última gota que fez o barril transbordar", e outros países ainda deverão abandonar o bloco por causa da imigração. "Se eles não tivessem sido forçados a receber todos esses refugiados, tantos assim, com todos os problemas que isso implica, acho que não teria havido o Brexit."
"Eu acho que é muito duro", prosseguiu. "Os povos e os países querem ter sua própria identidade, e o Reino Unido queria sua própria identidade. Se os refugiados continuarem jorrando em diferentes partes da Europa [...] acho que será difícil manter a unidade, porque as pessoas estão zangadas com isso".
O presidente eleito prometeu, contudo, transformar o Brexit em "algo grande". "Vamos trabalhar bastante para que seja feito de forma rápida e do jeito correto. Bom para os dois lados", anunciou, acrescentando que deverá se reunir com a premiê britânica, Theresa May, assim que tomar posse.
IP/afp,rtr,dpa
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