sábado, 2 de março de 2019

Um "causo" - envolvendo Max Mayr - publicado por seu ex sócio José Ferreira da Silva em 1961

Local que Max Mayr aprendeu o ramo de Hotelaria. No local deste o hotel está o Grande Hotel - Blumenau.
Conhecemos esta personalidade histórica do Vale do Itajaí, antiga Colônia Blumenau -  Max Mayr, quando passávamos por Rio do Sul em 2013 - rumo à Serra Catarinense (antigo caminho aberto por Emil Odebrecht e sua equipe) e nos deparamos com sua ex residência em estado de abandono. Ficamos interessados em sua história, um imigrante bávaro, de família bem sucedida na Alemanha, que buscava novos rumos na América. 
Como diz o texto de Ferreira da Silva - teve várias funções na Colônia de Hermann Blumenau - Trabalhou no Hotel Holetz, no Stadtplatz de Blumenau, professor em Ilse, mascate e professor em Itajaítropeiro em Hamônia, dono de Hotel e advogado em Bella Aliança, antiga Südarm e atual Rio do Sul e também advogado e jornalista - em Blumenau, novamente, entre outros cargos ocupados.
No ano de 2019 - soubemos que a antiga residência de Max Mayr será restaurada, enfim.
Antiga residência de Max Mayr - localizada na Rua XV de Novembro - Rio do Sul.







José Ferreira da Silva.
Folheando Blumenau em Cadernos publicado em março de de 1961 - exatos 58 anos - encontramos esta valiosa narrativa sobre Max Mayr feita pelo ex prefeito de Blumenau, fundador e idealizador do periódico Blumenau em Cadernos e Historiador José Ferreira da Silva, que também, foi seu sócio no escritório de advocacia, em Blumenau - na década de 1920.
"A existência do advogado Max Mayr, no Vale do Itajaí, foi pontilhada de aventuras. O seu gênio alegre e folgazão, a sua maneira boêmia de encarar as contingências da vida, a sua simpática loquacidade, valeram-lhe a fama de exímio contador de anedotas e de "casos" .
Ele mesmo, entretanto, figurava como personagem central de muitas histórias engraçadas e de ditos jocosos, que andavam, e andam ainda, na boca do povo.
Como se sabe, ele tentara tudo na vida: foi ajudante de pedreiro, caixeiro, professor, comerciante, empregado público, advogado e sabe Deus! O que mais. Batera, até, certa vez, às portas do convento franciscano para fazer-se irmão leigo.
Este caso, ele mesmo m'o contou: Alguns anos depois da sua chegada ao Brasil, a Blumenau, fora ele contratado, pela comunidade escolar de uma linha colonial do interior, para reger a respectiva escola.Os membros da diretoria da comunidade, que viviam de olho no professor, para ver se ele, de fato, ensinava bem as crianças, eram três comerciantes do lugar, aliás, os únicos três que ali havia.Começaram eles a notar que os meninos, que frequentavam as aulas do professor Max aproveitavam, realmente, as lições recebidas. Sabiam muito bem ler e escrever; redigiam, até, pequenos trechos em alemão e português; conheciam um pouco da gramática das duas línguas; sabiam onde ficavam, no mapa - mundi, Berlim e Blumenau e, também, quem fora Bismark e Lauro Muller.Mas, de números, quase nada. Mal sabiam somar e diminuir e, assim mesmo, a pau e corda.Os ilustres diretores da comunidade, depois de terem passado uma boa parte da noite na mesa do "skat", bebendo cerveja e discutindo o assunto do mestre-escola, resolveram interpelá-lo.Max compareceu à reunião marcada para o dia seguinte.O mais desembaraçado dos três, um colono que usava óculos e uma pêra de fios ruivos, tomou a palavra: - Pois é, professor, nós o convocamos porque temos observado que as nossas crianças não aprendem a fazer contas. Estão cada dia mais atrasadas na ciência dos números. O senhor poderia dizer-nos porque é que, aprendendo tão bem tudo o mais, ler, escrever, história, gramática, geografia, os seus alunos não sabem nada de aritmética?
- Sei, sim, senhores ...
- E, porque, então?
- É porque eu zelo pelo bom nome do comércio deste lugar e pela reputação dos três ilustres negociantes que compõem a nobre classe, nestes ermos. Eu tenho visto, toda vez que me encontro em alguma das três vendas que aqui existem, que sempre que chega um colono para vender-lhes queijo ou manteiga, muss ou feijão, milho ou outros produtos da sua lavoura, os honrados donos dos negócios se enganam no resultado da multiplicação do preço pelo peso, de sorte que o colono sempre sai roubado nalgumas dezenas de mil réis. Imaginem os  senhores o que aconteceria se eu ensinasse bem aos meus alunos, que serão colonos amanhã, a fazer conta e a descobrir, assim, à ponta de lápis, as falcatruas dos vendeiros ...
Os respeitáveis senhores diretores encerraram a sessão com um voto de louvor, lavrado em ata sucinta, pelos esforços do professor Max  e pelo magnífico aproveitamento dos seus alunos." José Ferreira da Silva.
Através dessa simples narrativa, podemos extrair alguns envieses de como era organizada a sociedade das primeiras décadas - na região. A divisão do trabalho - logo se implantou e retirou a linearidade - da atividade somente do colono, como todos o eram, quando chegaram à região.

Histórias do Vale do Itajaí...
 A antiga grande Colônia Blumenau!
Hotel de Max Mayr em Bella Aliança - Atual Rio do Sul - construção com estrutura enxaimel.































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