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Auto retrato, Teichmann. |
Estudamos e escrevemos sobre o professor, designer, pintor e escultor Erwin Teichmann, imigrante alemão que nasceu em Kiel, que residiu em São João Batista, Blumenau, Rio do Sul e Pomerode. Foi um dos responsáveis pelo sucesso da Porcelana Schmidt e fez amizade com os nomes das artes do Brasil, como por exemplo, com o artista Hans Steiner, que dividiu o espaço do Salão Angelim, na Biblioteca da FURB, com obras suas e de Steiner entre os dias 16 de julho a 10 de agosto.
Visitamos a exposição e registramos para a história.
A exposição "Erwin Teichmann e Hans Steiner - Contribuições de dois Amigos e Imigrantes para as Artes Visuais em Santa Catarina", esteve aberta à visitação no Salão Angelim, saguão da Biblioteca da FURB e fazia parte das celebrações dos 60 anos da FURB.
A exposição contou com comentários críticos dos pesquisadores Arian Grasmück e Paulo Vergolino sobre as obras e trajetórias dos dois artistas: Erwin Teichmann (1906 – 1992) e Hans Steiner (1910 – 1974).
Os dois tinham em comum a arte e também, eram dois imigrantes, que tiveram suas vocações artística florescer no Brasil.
Erwin Curt Teichmann e Hans Steiner tornaram-se amigos ao se conhecerem em amostras em São Paulo. Neste momento, descobriram o quanto tinham em comum, tornando-se amigos. Foram parceiros no tempo, com visitas e trocas de correspondência, e nos longos processos técnicos e criativos que levaram a termo.
Sobre artistas, arte e amizade: Erwin Curt Teichmann e Hans Steiner
Erwin Curt Teichmann (1906-1992) e Hans Steiner (1910-1974) foram seduzidos pela natureza, pelo ser humano e pela arte. Tornaram-se amigos ao se conhecerem e descobriram o quanto tinham em comum. Foram parceiros no tempo, e nos longos Imbricados processos técnicos e criativos que levaram a termo.
Dois estrangeiros em terras brasileiras a decodificar as muitas culturas que convivlam e se harmonizavam. Ambos tinham no olhar a percepção do quanto essas culturas, mesmo na dicotomia, podiam se alinhar e aproximar, dando conta da territorialidade e dos fatores comuns.
A troca de trabalhos acontecia como a reverberar o cerne do criar. Era uma extensão do prazer criativo partilhado e intimista. Uma deferência entre artistas consagrados que eram confidentes e conselheiros mútuos.
Eles se afinavam no uso comum de suportes: o papel dos estudos modelados, das
provas de imagens replicadas nas tiragens até atingir a satisfação; da madeira que virava escultura no desbaste sistematizado e reducionista, ou na xilogravura que era estampada no papel. A goiva ou o cinzel se tornavam instrumentos de desenho nas mãos hábeis destes mestres.
Construíam no plano ou na tridimensão a ilusão da vida, presente em todas as formas representadas, desde a postura do hábil peão até o cavalo que disparava em galope, da onça que se esgueirava diante de um eminente ataque, da nativa com seus longós cabelos a emoldurar seu rosto, das árvores sufocadas pelas parasitas que nelas se enroscavam, ou das frondosas mangueiras que abrigavam quem por elas procurava.
Os olhares eram investigativos e as obras eternizavam em si o poder do conceito, do sentido e da emoção.
A maestria estava presente nas duas linguagens artisticas e nos dais sujeitos. Eles traziam na alma uma quase obsessão na perfeição do fazer. A visão mais complexa a dar conta dos meandros, dos silencios, das pausas de cada um. Um exercício que visava muito mais o resultado artístico do que o resultado financeiro. A satisfação transcendia o ato do fazer e superava o gozo da entrega na finalização.
Distintos sujeitos, relações simplificadas, mas complexas interlocuções com os fruidores. Curt e Hans miniaturizaram o olhar e as suas obras. Eles submergiram nos suportes e suas materialidades para buscar a filigrana representacional das suas criações.
A ancestralidade dos suportes poderia tornar finalizada as suas obras, mas nunca no seu conceito, que ainda hoje, segue aberto na capacidade de ser múltiplo enquanto experimento, e no resultado do olhar reverenciado na simultaneidade
Arian Grasmück -
Artista, curador, pesquisador e membro do Conselho Consultivo do
Museu de Arte de Blumenau
Hans Steiner um artista entre o velho e o novo mundo
"Sempre disse que você nasceu para ser gráfico. Continue trabalhando e não se deixe influenciar pelas teorias alheias. Precisa apenas trabalhar e, um dia, ha de se falar de você. Carlos Oswald, 1959.
O austríaco Hans Steiner (Graz/Austria, 1910-Gorizia/Itália, 1974) chegado aqui por volta de 1930 e escolhendo o Rio de Janeiro como cidade predileta, encontrou na gravura e nos legou um conjunto de obras não só de desenhos, pinturas, aquarelas, mas sobretudo de gravuras consideradas da mais alta categoria, Steiner produziu incansavelmente, em seu livro de registro estão apontadas 517 gravuras diferentes, o que o coloca como um dos artistas-gravadores mais ativos e inquietos que por aqui estiveram, Steiner, assim como muitos, que para o Brasil vieram desde o século XVIII e se encantaram pela exuberância de nossas florestas tropicais, pelo impacto positivo causado por nossas paisagens, encontramos em sua obra um número relevante de trabalhos a evidenciar essa natureza exuberante. Um outro ponto que é necessário ressaltar, é a fabulosa técnica da gravura em metal desenvolvida ao longo dos anos água-forte, água-tinta e ponta seca ou na reunião de várias delas em uma mesma gravura.
Chamamos especial atenção para os mata-paus: vegetação predatória típica dos trópicos, que se agarra a um dado hospedeiro e suga sua seiva, até o completo esgotamento da segunda. Steiner dedica-se de forma desvelada a este tema e realiza um de seus mais interessantes conjuntos plásticos. Steiner não é um artista apenas, ele também se sente como parte da natureza representada e o seu trabalho é a prova maior do que evidenciamos. Em análises realizadas ao longo dos últimos anos, foram identificadas apenas quatro assinaturas, a primeira e a mais incomum era HS; em um segundo momento encontra-se HSTEINER; em uma terceira etapa, HST e posteriormente, vez por outra, STEINER-RIO, alusão direta à cidade de sua morada e incontavelmente reproduzida pelo artista. O mestre em um dado momento de sua carreira, incorpora em sua assinatura a palavra Rio.
No conjunto artístico realizado por Hans Steiner também há outras técnicas. Particularmente pinturas e aquarelas. Em suas aquarelas vemos um pincel extremamente leve e delicado, assim como exige a técnica em si. Por volta dos anos 1950 - o artista, nos parece esgotar o seu repertório e inspiração voltada as grandes cidades brasileiras e se aventura ao interior do Brasil. Seu objetivo era debruçar-se sobre as nações indigenas e trazer ao conhecimento de todos, a sua cativante realidade assim surge uma de suas séries mais especiais. Neste conjunto são vistas raríssimas xilogravuras de acentuado caráter moderno e de grande impacto. Em meio a este turbilhão de acontecimentos, Steiner deixa e volta ao Brasil por várias vezes, realiza exposições na Áustria e por toda a Europa. Se sente pronto a expor o seu trabalho no exterior e assim o faz.
Suas obras atualmente figuram em três grandes instituições naquele pais: Academia de Belas Artes, Museu Etnológico e o afamado Museu Albertina de Viena. Por aqui, contamos com os seguintes espaços de preservação Museu Nacional de Belas Artes, Biblioteca Nacional, Museus Castro Maya (Rio de Janeiro), Museu Metropolitano de Arte de Curitiba (Paraná), Fundação Universidade Regional de Blumenau (Santa Catarina) Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Museu Julio de Castilhos e Fundação Iberë Camargo (Porto Alegre), Instituto Martius Staden e Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo). A contribuição deste artista à história da gravura brasileira, se faz presente e está paulatinamente sendo redescoberta e revalorizada.
Toda e qualquer iniciativa no sentido de resgate deste brilhante artista, bem como toda a sua obra, deve ser reconhecida, saindo de coleções particulares e museus onde se encontra depositada e vindo ao conhecimento do grande público.
Prof. Dr Paulo Leonel Gomes Vergolino
Historiador de Arte, Especialista em Museologia, curador independente e Membro da APCA - Associação
Paulista de Críticos de Arte de São Paulo, Brasil
A Exposição
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Hans Steiner: "Ego" - ano 1955. Técnica: Gravura, água-tinta. Acervo: FURB. |
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Hans Steiner: "Eu civilizado e primitivo" - ano 1960. Técnica: Gravura em metal. Detalhe para dedicatória na obra. Acervo: FURB. |
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Hans Steiner: "Adolescente" - ano 1961. Técnica: Gravura, buril e água tinta. Acervo: Casa Museu Teichmann. |
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Hans Steiner: "Elementos em luta" - ano 1940. Técnica: Gravura em metal, água forte. Acervo: Casa Museu Teichmann. |
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Hans Steiner: "Mata pau" - ano 1945. Técnica: Gravura. Acervo: FURB. |
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Hans Steiner: "Cumeeira Waurá" - ano 1963. Técnica: Gravura, buril e água tinta. Acervo: Casa Museu Teichmann. |
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Hans Steiner: "Teresópolis" - ano 1960. Técnica: Aquarela. Acervo: Roberto Schoenau. |
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1 - Erwin Teichmann: "Busto de mulher" - ano -. Técnica: Entalhe em madeira. Acervo: Roberto Schoenau. 2 - Erwin Teichmann: "Busto Ubá" - década de 1940 -. Técnica: Entalhe em madeira. Acervo: Casa Teichmann. |
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Cavalos - 1979 - 1980. Técnico Entalhe em madeira. Acervo Robert Schoenau. |
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Cavalos - 1979 - 1980. Técnico Entalhe em madeira. Acervo Robert Schoenau. |
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Erwin Teichmann: Esmalte sobre Porcelana Schmidt. Pintura à mão por Ingeburg Teichmann, filha do artista - década de 1950 - Técnica: Entalhe em madeira. Acervo: Roberto Schoenau. |
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Mãos - Década de 1940. Técnica: entalhe em madeira. Acervo Casa Museu Teichmann. |
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Erwin Teichmann: "Amigas" - ano 1940 - Técnica: Entalhe em madeira. Acervo: Acervo Casa Museu Teichmann. Exposto na FURB em 1980. |
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Pescador Tarrafeando (Laguna). Técnica: entalhe em madeira. Acervo FURB.
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Erwin Teichmann: "Figura de cão" - ano 1977 -. Técnica: Entalhe em madeira. Acervo: Roberto Schoenau. |
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Erwin Teichmann: "Figura de cão" - ano 1977 -. Técnica: Entalhe em madeira. Acervo: Roberto Schoenau. |
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Erwin Teichmann: "Gaúcho" - ano 1985 -. Técnica: Entalhe em madeira. Acervo: Roberto Schoenau. |
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Erwin Teichmann: "Gaúcho" - ano 1977 -. Técnica: Entalhe em madeira. Acervo: Roberto Schoenau. |
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Erwin Teichmann: "Gaúcho" - ano 1977 -. Técnica: Entalhe em madeira. Acervo: Roberto Schoenau. |
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Hans Steiner: "Rio do Sul - Amanhecer" - ano 1955 -. Técnica: Aquarela. Acervo: Roberto Schoenau. |
Um registro para a História.
Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
@angewittmann (Instagram)
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