sábado, 15 de fevereiro de 2025

Compositor alemão Norbert Gälle e Alex Gälle - São Bento do Sul, na Sociedade de Tiro - Pomerode, na Fábrica de Chocolate - Rio dos Cedros, no Rio Ada - Parte III da Programação - 3ª visita à região

Seguindo a Programação da visita dos Gälles - em 26 de janeiro de 2025: Sociedade dos Atiradores, fábrica de chocolates Nugali e Rio Ada, onde houve um encontro de Norbert Gälle com outro compositor alemão: Christian Boller, que reside na região e toca na banda municipal da cidade de Pomerode,Die Originalen Rega Bläser.
O grupo saindo do Hotel Lefel, com o maestro Luis Francisco
Kamienski   da Banda Treml
.
Após uma noite de encontros e reencontros com pessoas de algumas regiões do Estado de Santa Catarina, recepcionados na Sociedade Ginástico e Desportivo São Bento, em São Bento do Sul, Norbert Gälle e Alex Gälle, como também nós, descansamos no Hotel Lefel, gentileza da Banda Treml, que esteve a frente da organização. 

Este registro é referente a programação do dia 26 de janeiro de 2025 da estada do compositor alemão Norbert Gälle e sua esposa Alex Gälle em Santa Catarina, região do Médio Vale do Itajaí e Norte do Estado. Por volta das 10h o casal Luis Francisco Kamienski  e  sua esposa Nádia  Kamienski vieram ao nosso encontro para visitarmos a tradicional e histórica sede da Sociedade dos Atiradores, os edifícios históricos e a atual sede, para depois seguirmos para o almoço, oferecido pela Banda Treml, onde também se fizeram presentes a presidente da banda,  a advogada Nayara Pereira Machado  e seu marido Lessandro Machado.

Schützenverein São Bento (inauguração) - Sociedade de Atiradores - Sociedade de Atiradores 23 de setembro (atual)

O sítio onde está localizada a tradicional, histórica e centenária sociedade de tiro da cidade São Bento do Sul é o mesmo dos principio dessa história, contando com o antigo edifício, nobre arquitetura que poderia estar em uso, com isso a cultura local, através da histórica arquitetura estaria muito mais valorizada do que comumente já o é. No local também existem outros edifícios, junto com a Sociedade Ginástico e Desportiva São Bento que compõe o grande complexo cultural da cidade. 
Pela sua beleza genuína e original destinaremos um pouco mais de espaço para a sede do "Schützenverein São Bento", presente nessa paisagem que fez parte da história de gerações de são-bentense que praticaram e praticam o tiro.
Local da Sociedade, do Hotel com relação ao ponto focal que representa a Igreja Matriz Puríssimo Coração de Maria.




A  História deste espaço - Sociedade dos Atiradores

 Quando o casal Luis Francisco Kamienski, maestro da Banda Treml  e  sua esposa Nádia  Kamienski escolheram este local para mostrar aos convidados, o compositor alemão e sua esposa, deduzimos que o local deveria ser muito importante para a história local, regional e de Santa Catarina e de fato, o é, merecendo um melhor cuidado, no que tange a manutenção da arquitetura histórica.
Roberto Wittmann, Alex Gälle, Norbert Gälle e o maestro da Banda Treml Luis Francisco Kamienski na frente da sede histórica do Schützenverein São Bento. 
É importante conhecer um pouco mais sobre sua história e arquitetura, cientes de que os Gälles, lerão sobre, em sua residência, acolhidos da neve,  que acontece neste momento na Alemanha. Também compartilhamos a todos os interessados em conhecer mais sobre o primeiro Schützenverein de São Bento do Sul, espaço de tradição, e uma prática muito atual na Alemanha atual, este que foi trazido pelos antepassados deste país que fundaram cidades em Santa Catarina e também, São Bento do Sul.
Fotografia de fotografia do acervo da sociedade, pendurada na parede da atual sede, que mantem um acervo da memória são-bentense.
A Schützenverein São Bento, a primeira sociedade de tiro da cidade, foi fundada pelos pioneiros que fundaram São Bento do Sul. Estes imigrantes quando chegavam em um local, no Brasil construíam a igreja, a escola e o local de lazer, práticas do tiro, da música e da dança. O espaço comum, onde as famílias se reuniam. Esta cultura prima por reuniões em espaço comum e nunca no interior do espaço privado.
Burilando algumas referências para efetuar um pequeno resumo encontramos um artigo que destoa um pouco daquilo daquilo que ocorria de fato, sobre a origem e história das sociedades na região de São Bento do Sul. Isso é muito sério, porque reporta a formação de material de pesquisa - que poderá se tornar referencia com informações não procedem.
 Achamos curioso o depoimento publicado pelos autores no artigo "Esporte e patrimônio cultural: o tiro e as sociedades de atiradores em São Bento do Sul no início do século 21",  assinado por Wilson de Oliveira Neto  e Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes transparecendo que conhecem pouco sobre a origem e a natureza das sociedades de tiro na região - oriundo da Alemanha, cuja origem reporta à idade média, estilo nacional daquele país. Lá, a prática foi resgatada como tradição e cultura, na metade do século XIX.
Já efetuamos um trabalho que disserta sobre o tema. Sugerimos a leitura (clicar sobre) A tradição da Schützenverein, sociedade de atiradores, no Brasil e na Alemanha
A fotografia analisada no artigo mencionado, é este abaixo, onde os autores demonstraram estranheza que todos os competidores da foto, estavam "trajados militarmente", e usaram a expressão "miliciana". Totalmente fora do contexto da origem destas práticas. Achamos uma pena, porque estas "verdades" são publicadas dentro da academia.
Foto de uma fotografia fixada na parede da sociedade de tiro de São Bento,1897. Da direita para esquerda em primeiro plano: Oswaldo Hoffmann, José Jantsch, Ernesto Brunquell, Paulo Zschoerper, Otto Jung, Augusto Kobs, Carlos Urban e Gustavo Kopp. No segundo plano: Amando Jürgensen, João Wordell, Ignácio Fischer, Germano Knop, Guilherme Wünsche, Julio Brüsky, Guilherme Biermann e Francisco Goll. No terceiro plano: João Herbst, João Malinowski, Francisco Linke, Francisco Jakusch, Antônio Schwarz, José Gürtler, Otto B. Krause e Julio Hoffmann. No quarto plano: Frederico Opitz, João Schick, Augusto Rose, Ambros Pfeiffer, Frederico Hoffmann, Augusto Schelin e Adolfo Weber Sênior. Identificação: Alexandre Pfeiffer em “São Bento Na Memória das Gerações”.
Segue a citação do autores do artigo citado e que não é verídico:

Outro aspecto que chama atenção nesse clube é o seu caráter miliciano, expresso na figura a seguir. Trata-se, de uma fotografia de 1897, em São Bento do Sul. Nela, estão retratados seus sócios-atiradores uniformizados e armados. Figura 1: sócios-atiradores da Schützen-Verein São Bento, em 1897. Acervo: Arquivo Histórico de São Bento do Sul. Em primeiro plano, no seu lado esquerdo, aparecem o rei do tiro e os seus príncipes atrás do alvo-trofeu (placa) sobre o qual foi realizada a prova de tiro de rei. São eles, da esquerda para a direita: José Jantsch (príncipe), Ernesto Brunnquell (rei) e Paulo Zschoerper (príncipe). Já no canto direito, ainda em primeiro plano, é possível ver o comandante da Schützenverein São Bento da época, Gustavo Kopp. NETO, GUEDES, 2011.

A origem - na Alemanha

Schützenverein, traduzindo, Sociedade de Atiradores, são associações voluntárias de tiro, tanto em nível olímpico, quanto de armas históricas. Historicamente, essas associações originaram-se nas cidades independentes medievais da Alemanha, como uma forma de organização de autodefesa local, em especial, contra abusos dos senhores feudais, do poder real, bem como, uma maneira de fornecer segurança à cidade contra saqueadores e invasores e à própria casa de cada família. Atualmente, as SchützenvereinSociedades de Atiradores – estão presentes com esse mesmo nome, na Alemanha, Áustria, Tirol Meridional (Itália) e Suíça. Os membros praticam tiro esportivo com regras específicas, a maioria de acordo com as regras olímpicas. A maior parte das armas utilizadas são rifles, pequenas pistolas e as tradicionais bestas que deram origem ao embrião dessas práticas.
Schützenverein na Alemanha medieval. Fonte: LÜKEN.
A organização dos “Schützenverein” na Alemanha é promovida pela “Deutscher Schützenbund”, originalmente fundada em 1861 em Gotha e resgatada após a Segunda Guerra Mundial, em 1951 na cidade de Frankfurt. Ela conta com cerca de 15.000 clubes e 1.500.000 membros (atiradores), sendo assim, a terceira maior organização de esportes no país.
Imperador Maximiliano de Habsburgo – Primo
 de D. Pedro II. Fonte Wikipédia.
A origem da palavra “Schützen” significa “protetor” e está ligada às companhias de capturas livres (“Schützenkompanien”) existentes na Áustria (Tirol, Vorarlberg, Salzburgo), Itália (Trentino-Südtirol) e Alemanha (Baviera). Sua origem é do ano de 1511 com a organização de grupos paramilitares no Tirol pelo Imperador Maximiliano de Habsburgo. Durante as invasões napoleônicas contra o antigo Sacro Império Romano-Germânico, uma população da região do Tirol pegou em armas através de uma rebelião popular conquistada pelos atiradores livres (“Protect”), cujo líder supremo foi Andreas Hofer.

O cidadão como defensor da sua cidade – Idade Média

Aqueles que gozavam de liberdade também tinham de estar preparados para defendê-la. Como não havia ordem governamental que pudesse pedir ajuda, era necessária autodefesa. Havia muita violência na Idade Média, e para combatê-la existia uma certa organização, embora, aparentemente, parecesse que havia somente o caos. Mesmo que o imperador ou o príncipe fosse o senhor feudal da cidade, ele ainda estava longe e também tinha seus próprios interesses. Assim, cada cidadão era obrigado a defender a sua cidade e sua casa. Os comerciantes ricos do conselho municipal podiam comprar cavalos para lutar na sela. Os canhões eram guardados no estaleiro municipal ou no arsenal. Os demais lutavam a pé com simples armas de haste. Uma pequena parcela dos cidadãos, não indigentes, fez uso de uma nova arma que vinha sendo usada desde o século XII para combater o inimigo à distância: a besta. Uma arma esquecida desde a época romana, que era mais confiável e, acima de tudo, mais poderosa que o arco e a flecha. No entanto, exigiu mais sutileza, tecnologia e conhecimento na produção e resultou em custos de produção mais elevados, de maneira geral. Embora não fosse tão cara quanto uma espada forjada em aço de Damasco, custava mais do que um simples arco de madeira devido à sua mecânica e peças resistentes.
Qualquer um poderia atirar com uma besta feita por um técnico. Com um pouco de prática, um artesão, um comerciante, um cidadão, tornava-se um bom atirador que poderia lutar contra os inimigos a partir da muralha de sua cidade. Desde o século XII, os besteiros não lutaram apenas nos exércitos reais e principescos durante as guerras, mas também nas tropas urbanas.
Besta: Os cavaleiros temiam esta arma como a uma praga. Fonte: WELT.
Os soldados urbanos medievais em associações de autodefesa, fraternidades de rifle como organizações de proteção das igrejas ou o costume popular de atirar em pássaros por ocasião dos festivais de primavera são os embriões das Sociedades de Tiros Clubes de Caça e Tiro atuais. Práticas na alegria, porque o inverno terminou e a primavera estava chegando novamente. O povo alemão tem muitas festas para receber a chegada da primavera e do sol, também na sua religião considerada pelo cristianismo de “pagã”. Muitas cidades celebravam um festival de primavera, principalmente no período de Pentecostes. O destaque desses eventos costumava ser o “Tiro ao Pássaro”, ainda hoje conhecido como Schützenfest. Um desses eventos de caça a pássaros, no Clube de Gummersbach, é mencionado em um documento de 1550. Sabe-se, empiricamente, que a prática já acontecia antes dessa data, nesse local e em outros tantos, em várias regiões da Alemanha.

O festival do tiro

Um único besteiro tem uma importância na segurança, mas vários besteiros, cobrindo uns aos outros, são eficazes. Com o apoio das câmaras municipais, os clubes de fuzileiros, embriões das Sociedades de Tiro, foram criados na Alta Idade Média, no início do século XII. Quase sempre estavam ligados à igreja e escolhiam um padroeiro, como São Sebastião, que teria sofrido o martírio nas mãos dos arqueiros. Ao contrário das Sociedades de Tiro atuais, estas mesmas sociedades da época, faziam parte da constituição da cidade e eram a parte visível da luta pela independência e pela ordem autodeterminada nela. Seus membros representavam a cidade onde residiam, trabalhavam e viviam.
O período que vai do século XV até a eclosão da Guerra dos Trinta Anos, em 1618, foi o apogeu dos Schützenverein (Sociedades de Atiradores – Clubes de Tiro) e de seus Schütznfest (festivais de tiro). Eventos historicamente marcantes, e com a Reforma, não mudaram isso. Só nas cidades do Sul e Centro da Alemanha, mais de mil festivais aconteceram durante este período. Após a Paz de Vestfália, em 1648, foram retomados numa escala menor; mesmo assim, atualmente é o terceiro esporte praticado na Alemanha, em mais de 15.000 Schützenverein – Sociedades de Tiro.
Os festivais de tiro não eram eventos anuais, mas aconteciam de vez em quando, por se tratarem, inicialmente, de festas locais.
Os primeiros festivais de tiro eram alardeados publicamente através de um tipo de comunicação pública, que apresentava as condições e regras de tiro, o campo de tiro e os prêmios oferecidos. A composição do tribunal e o papel do pessoal do campo de tiro também eram mencionados. Quase se poderia dizer que existiam regras justas nas competições desportivas e igualdade de oportunidades. Outras diversões como corridas e, sobretudo, loterias, também costumavam ser realizadas com o objetivo de promover – e financiar – a visita a um festival de tiro, em cujo local havia comida e música. Tudo se iniciava com o tradicional desfile até o local do festival, que havia sido preparado com a montagem de tendas, usadas até hoje nas festas predominantes da Alemanha. Os campeonatos de tiros duravam muito tempo. Durante esse campeonato as pessoas se divertiam, brigavam e também trocavam ideias sobre armas, arranjavam negócios e casamentos e “faziam política”. Após aproximadamente dez dias, tudo terminava. Existe vasto material documentado sobre o evento, para pesquisa e apontados recordes a serem batidos, heróis e perdedores. Um festival de atiradores era o ponto máximo da sociedade de uma cidade medieval de cultura germânica, que geralmente pertencia ao Sacro Império Romano. Evento anual.
Praça do Schützenfest – Dresden 1699. Fonte: BOCK.
Festival de Tiro Nacional de 1872, Suíça. Antes da construção da praça Badenerstrasse-Langstrasse-Hohlstrasse-Rotwandstrasse, o município de Aussersihl declarou sua disposição em assumir o Festival Federal de Tiro de 1872. Desde 1824, este grande evento nacional ocorria a cada dois ou três anos na Suíça. Os organizadores não queriam ser inferiores a outros locais de festivais e criaram uma cidade festiva à la Belle Epoque no estilo das exposições mundiais da época. Pela entrada da Badenerstrasse, réplica de um portão de grandes dimensões, o visitante chegava a uma área com cerca de 22 campos de futebol. Em linha reta, o enorme salão de festivais formava a perspectiva. Haviam lugares nas mesas para 5.300 pessoas. Os campos de tiro se estendiam ao longo de uma longa linha à esquerda. Os atiradores atiraram em um milharal. Fonte: WIKISOURCE.
São Bento do Sul - Atiradores da Schützenverein São Bento, no seu primeiro "desfile" em 1899 com bandeira e alvo para o próximo Rei do Tiro. 

A Schützenfest, com origem na Alemanha, nos Schützenverein e nas suas práticas. Sociedades de Tiro, lugar de lazer e cultura dos pioneiros alemães e de seus descendentes, até o momento presente em quase todas as cidades da região que teve em seus espaços, a presença da cultura alemã.
A migração de alemães para algumas regiões do estado de Santa Catarina teve início no mesmo século em que aconteceu o resgate desta prática, Schützenfest, como lazer, na Alemanha. No início da história local dentro das regiões, era a maneira de a população masculina manter suas habilidades com as armas e, consequentemente, a segurança das cidades e povoações, a exemplo de sua origem nas cidades medievais alemãs. Somente que com outros adversários, outra sociedade e outro cenário político. Muitos dos homens, pertencentes às famílias importantes da comunidade, também faziam parte do Batalhão de Caçadores (Jägers), que tinha o mesmo espírito de prover a segurança, como na época medieval, na Alemanha. A sociedade que se formava, construía sua casa provisória, a escola/igreja e a sede da Sociedade. Morar, trabalhar, orar, instruir-se e praticar o lazer, questões relevantes para a formação de um embrião urbano sob o aspecto de projeto de cidade. 
Atiradores com traje de caçador - São Bento do Sul.

O termo “caçador” não tem ligação com a prática da caça e nem tampouco com mercenários, como ouvimos de pessoas esclarecidas, como no caso do artigo citado. 
“Caçador” é um tipo de soldado de Cavalaria ou Infantaria rápida existente nas Forças Armadas não somente do Brasil, mas de alguns países, inclusive da Alemanha. Existiam vários tipos de Caçadores, como: caçadores a pé, a cavalo, de montanha e mais atual, paraquedistas. O termo “Caçador” foi usado nos exércitos de países como: Portugal, Brasil, Alemanha, Áustria, França, Bélgica, Espanha, Argentina, Suécia e Romênia. Antes de surgirem os “Caçadores”, existiam em seu lugar, os besteiros medievais, que tanto usavam as suas armas na caça de animais em tempo de paz, como as usavam no combate, em tempo de guerra, conforme mencionado. Aqueles mesmos besteiros que criaram o embrião do Schützenverein.
Nas colônias alemãs do Brasil, também formaram o grupo de Jägers e esses frequentavam, agora já solidificados Schützenverein, para se divertir e simultaneamente, praticando a pontaria de tiro. Eram muitas e, ainda são muitas sociedades, e não vivem assim, porque “o alemão é teimoso e difícil”, como já ouvimos inúmeras vezes, mas porque se organizam através de. Vimos isso nas cidades atuais da Alemanha atual. Basta existir uma atividade, praticada por duas pessoas, que existe um “estatuto”, para organizar, ou, uma sociedade.

A Schützenverein
Westfälisches Jäger-Bataillon N°7 – Batalhão Sennelager – Alemanha 14 de junho de 1916.

Batalhão de Caçadores (Jägers) – Rheinisches Jäger Bataillon – Reno.
Na segunda metade do século XIX, o Brasil vivenciava as dificuldades de um país recém-declarado independente que buscava a sua consolidação política. Era necessário colonizar áreas no Sul do país, como também, preencher os grandes vazios demográficos nas regiões de fronteiras, as quais assegurariam a manutenção da integridade geográfica do Império.
Nesse contexto iniciou-se a chegada dos imigrantes como também, ocorreu no início no Stadtplatz de Blumenau e de Joinville.
A ocupação e a transformação das regiões Norte e Nordeste do Estado de Santa Catarina, que adotaram a política de colônias foi trabalhosa e com muitos desafios a serem vencidos. Os primeiros imigrantes ocuparam um território desconhecido, sem muito apoio da administração da província, do governo brasileiro e desprovidos de infraestrutura básica, além da limitação do idioma, pois não falavam português ou guarani, com raras exceções. E também, a região já possuíam residentes, os nativos.
Por motivos históricos já mencionados referentes aos Grupos de “caçadores” e ex combatentes das Guerras Napoleônicas, tinham familiaridade com as armas e suas práticas – usadas na defesa do território. Eram filhos e contemporâneos dos conflitos armados que deram forma à nova configuração geográfica europeia da época. Tinham habilidade no manuseio de armas e muitas de suas atividades de lazer as envolviam, como o tiro ao alvo.
Os imigrantes trouxeram as práticas da Sociedade de Tiro – Schützenverein. No Brasil, como na Alemanha atual, a tradição continua e ainda praticam as atividades na Schützenverein com destaque para o Schützenfest. Não é algo exclusivo da região local do interior de Santa Catarina como alguns apontam.
A Schützenverein São Bento foi fundada, em sua primeira reunião, em 4 de Agosto de 1895 com a presença de  August Weber, Ambros Pfeifer, Hermann Knopp, Emil Schaade, Raimund Arndt, Wilhelm Wünsche, Anton König, Adolf Langer, Paul Zschörper, Gustav Kopp e Otto B. Krause. Os primeiros atiradores usavam como sede, o Salão Knop, até a construção sua sede própria, inaugurada em em outubro de 1929. O lançamento da pedra fundamental da sede própria da sociedade aconteceu com a presença dos atiradores e da Banda Treml em 7 de julho de 1929.  Da nova sede se tinha a vista da antiga Igreja Matriz. 
 
Lançamento de Pedra Fundamental da sede da Schützenverein São Bento, 1895 - 
A mesma vista da paisagem de 130 anos atrás.
Da  primeira e histórica sede - a vista da Igreja Matriz  projetada por Simon Gramlich

Foto de fotografia pendurada na parede da atual sociedade de tiro, construída aos fundos desta. Balaústras eram vazadas.
Um tempo depois a grande varanda recebeu um fechamento com aberturas e também as balaústras receberam um fechamento interno, percebido até o momento atual. Também a entrada recebeu um decorativismo com a presença de um muxarabi.
Balaústras fechadas com fechamento de abertura sobre si acompanhado da presença de um muxarabi na entrada principal, elementos que não se fazem mais presentes, contando somente com o fechamentos do guarda-corpo.









Original, somente com o guarda-corpo fechado internamente.
O nome Schützenverein São Bento mudou para Sociedade de Atiradores de São Bento em 12 de abril de 1938, reflexo do período do Nacionalismo implantado da ditadura de Getúlio Vargas e interventores do estado de Santa Catarina da família Ramos.
E após o final da 2° Guerra Mundial, em 9 de maio de 1948, a sociedade passou a se chamar Sociedade Desportiva e Recreativa 23 de Setembro.
Norbert e Alex Gälle em frente ao brasão da histórica sociedade, que poderia ser chamada novamente de Schützenverein São Bento.
A Primeira Sede - Arquitetura

Fotografia de foto, pendurada na parede da sociedade.
A arquitetura da primeira sede da sociedade de tiro 
Schützenverein São Bento segue a tipologia da arquitetura da região Sul da Alemanha, a qual teve contato com o Império Romano, com influência da arquitetura colonial brasileira. A edificação histórica foi alterada em algum momento, quando a varanda recebeu janelas e teve seu conjunto de balaústras fechados. 
Originalmente teve uma planta retangular, que recebeu anexos em intervenções posteriores, com piso de madeira e paredes autoportantes de tijolos maciços, coberta com dois planos de telhados com grande inclinação e telhas cerâmicas. Este corpo central é abraçado por uma grande varanda - a contribuição da arquitetura colonial brasileira. O ambiente aberto, a varanda, também possui assoalho de madeira. 
Uma das características da arquitetura pioneira é a simetria presente nas fachadas, quase milimetricamente e não foi diferente na arquitetura destes pioneiros do Sul da Alemanha e de poloneses que fundaram São Bento do Sul. Esclarecendo que não tinham o hábito de construir com a técnica construtiva enxaimel como muitos imaginam que foi todos os imigrantes alemães que construíram enxaimel. Não. Depende de sua origem geográfica na Alemanha.
Uma das tipologias da casa colonial brasileira.
Ainda da casa colonial  brasileira, há influência no guarda-corpo da grande varanda, que conta com a presença de grandes e robustos pilares de tijolos maciços e partes destes possuem o fechamento feito com balaústras. Os pilares de madeira foram destinados para o alpendre principal que protege a escadaria principal de acesso ao edifício, elemento que marca de maneira imponente a fachada principal da primeira sede sociedade.
As aberturas e a estrutura de telhados são de madeira. Janelas com folhas de abrir envidraçadas, como também, do tipo guilhotina, locadas no salão principal, distribuídas simetricamente nas fachadas.
A edificação é elevada do chão, para ventilar a madeira do assoalho e possui aberturas no fechamento do porão fechadas com elementos vazados cerâmicos para evitar a entrada de animais.
A edificação, como toda casa de imigrantes alemães, apresentam  o aproveitamento do sótão, fazendo surgir a mansarda, pois há aberturas no mesmo e faz surgir um novo ambiente para uso.

As imagens comunicam...




Primeira e histórica sede da primeira sociedade de tiro.

Alpendre protege a escada principal de acesso ao edifício. Pilares de madeira.




Guarda-corpo feito com balaústres.
Alpendre , escadaria principal e guarda-corpo com balaústres.

Grande pilares construídos com tijolos maciços, equidistantes, marcando a simetria das fachadas. Balaústres fechados
Janelas de madeira com folhas envidraçadas.

Edifício recebeu anexos posteriores.
Mansardas, sótãos com ambientes a mais a partir de janelas no local.


Vista interna do grande salão


Janela de madeira envidraçada - tipo guilhotina.



Ausência de manutenção. Espaço nobre sob vários aspectos.



Assoalho de madeira. Internamente o guarda-corpo foi fechado em intervenção posterior.





Seção do pilar de madeira é robusta e grande.







Roberto Wittmann, Norbert Gälle e Luis Francisco Kamienski.



Roberto Wittmann, Alex Gälle, Norbert Gälle e Luis Francisco Kamienski.




Roberto Wittmann, Alex Gälle, Norbert Gälle e Luis Francisco Kamienski.









Ventilação do assoalho.


Ausência de manutenção básica. Edifício histórico da cidade de São Bento do Sul.







Visitando a sede atual da sociedade - atual Sociedade Atiradores 23 de Setembro, localizado aos fundos da primeira e histórica sede.

A imagens comunicam

Interior da nova sede. Quase toda a centenária história da sociedade se encontra nas paredes. Rico, muito rico e artísticos, verdadeiras obras de arte, as pinturas, óleo sobre telas dos muitos reis , cavaleiros na parede, do passado até o tempo presente. O piso do grande salão é taco e a construção é feita com a técnica construtiva do concreto armado.


























































Ano de 2023, com a mesma arte usada pelos antepassados, para marcar a passagem de um rei na sociedade, e que depois é fixada na paredes desta para a sua história. Soubemos que em Blumenau, em determinadas sociedades, a diretoria está chamando  os antigos reis e rainhas para retirarem suas artes, pois estão sendo  tiradas das paredes. Se não buscarem, o destino é o lixo. 

















Fotografia de um dos presidentes da sociedade de tiro, fixada na parede: Hans Barg. Essa personalidade promoveu o encontro entre a Banda Treml de São Bento do Sul e o Coro Liederkranz de Blumenau em sua residência, dezembro de 2023. Ambos os grupos culturais são centenários e fazem parte da história de Santa Catarina, São Bento do Sul e Blumenau.

















Dentro do complexo da sociedade de tiro de São Bento do Sul foi reconstruída uma casa pioneira, um protótipo - com a técnica construtiva enxaimel, diferente daquela usual e construída no Vale do Itajaí.  Esta tipologia apresenta o fechamento feito com tábuas de madeira afixadas horizontalmente e também encaixadas, tal como se fazia no período neolítico na fachada das casa que ficavam orientadas para o lado norte, da chuva e do vento, diferentemente das demais que eram construídas com taipa. Essa técnica é muito mais antiga que muitos supõem.
Do livro Fachwerk - A Técnica Construtiva Enxaimel, WITTMANN, 2019.





















Almoço oferecido pela Banda Treml.











Aufwiedersehen!

Seguindo para Pomerode, para a visitação na fábrica de Chocolates Nugali e também uma visita à residência do músico e compositor alemão Christian Boller, em Rio dos Cedros. 
Boller foi ao encontro de nosso grupo, na Nugali. 

As imagens comunicam...
































Norbert Gälle foi com Christian Boller de Kombi até o Rio Ada, onde teve contato com uma paisagem natural de uma amostra da Mata Atlântica, e uma comunidade pequena, na qual acontecia uma festa na igreja. Alex Gälle foi conosco até lá. Foram 14,9 quilômetros de emoção. Estrada de campo sem pavimentação e com uma topografia acidentada. Christian é proprietário da Pousada Ada Verde, maneira que encontrou para viver no "pequeno paraíso", como denomina o local.
Trajeto percorrido (14,9km) entre a fábrica de chocolate e a residência/pousada de Christian Boller.
As imagens comunicam...









Cemitério Histórico.

Festa na comunidade.













































Google Maps.
Saímos do Rio Ada por volta das 19h30 rumo a Blumenau (55km), chegando no Hotel Plaza, onde os Gälle estavam hospedados, por volta 21h. No dia seguinte ficou marcado para que nos encontrássemos no hotel por volta das 10h, para, em seguida, rumar para Benedito Novo. Nessa cidade houve um encontro para almoçar com um grupo de técnicos e construtores enxaimel, contando com a presença de Wandergesellen alemães. Na sequencia, de volta a Blumenau, Norbert e Alex Gälle foram recebidos na Vila Germânica, onde estiveram na Oktoberfest Blumenau 2017 e à noite, aconteceu uma reunião privada com músicos alemães que vivem no Brasil e um pesquisador e professor de alemão do Paraná, em torno de uma mesa posta. Tudo sobre, em uma postagem futura.
Benedito Novo.

Um registro para a História!

Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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Leituras Complementares: Para acessar - Clicar sobre o título:

Referências

  • BOCK, Martin Bock (Bergheim). Das rheinische Schützenwesen. Ursprünge, Traditionen und Entwicklungslinien – Portal Rheinische Geschichte. Disponível em: https://www.rheinische-geschichte.lvr.de/Epochen-und-Themen/Themen/das-rheinische-schützenwesen.-urspruenge-traditionen-und-entwicklungslinien/DE-2086/lido/5ca49fdc63ad57.90122432. Acesso em 29 de agosto de 2923 – 15h38.
  • GUEDES, Sandra Paschoal Leite de Camargo, NETO, Wilson de Oliveira. Esporte e patrimônio cultural: o tiro e as sociedades de atiradores em São Bento do Sul no início do século 21. anais do Seminário Internacional História do Tempo Presente. Florianópolis: UDESC, ANPUH-SC, PPGH, 201. ISSN2237-407.
  • Gummersbacher Schützenverein von 1833 e.V. Über den Verein – Die Anfänge. Disponível em: https://www.gsv1833.de/gsv1833-e-v/ueber-den-verein-2/. Acesso em 29 de agosto de 2023. – 15h34.
  • LÜKEN, Sven. Von Siessbürgern und Vereinsmeier. Zur Geschichte des Schützenwesens, DEUTSCHES HISTORISCHES MUSEUM LEMO ZEUGHAUSKINO DE EM – 18. Februar 2020. Disponível em: https://www.dhm.de/blog/2020/02/18/von-spiessbuergern-und-vereinsmeiern-zur-geschichte-des-schützenwesens/ . Acesso em 29 de agosto de 2023.
  • Schützenverein Bispingen von 1910 e.V.. Startsite. Disponível em: https://www.schützenverein-bispingen.de/ Acesso em: 29 de agosto de 2023 – 10h27.
  • STÜCK, Tobias. Wanfrieder Vogelschießen: Im späten Mittelalter sollten die Schützen schützen. HNA. 07.07.2018, 09:31 Uhr. Disponível em: https://www.hna.de/lokales/witzenhausen/450-wanfrieder-vogelschiessen-im-mittelalter-sollten-schützen-schützen-10012951.html. Acesso em: 28 de agosto de 2023 – 15h26.
  • TRADITION. Mittelalter, Hohes Ansehen des Schützenwesens. Geschichte. Disponível em: https://www.dsb.de/tradition/geschichte/mittelalter . Acesso em: 30 de agosto de 2023 – 00h40.
  • WIKISOURCE. Das erste deutsche Schützenfest. Disponível em: https://de.wikisource.org/wiki/Das_erste_deutsche_Sch%C3%BCtzenfest . Acesso em: 30 de agosto de 2023 – 00h15.
  • WITTMANN, Angelina C.R. Fachwerk - A Técnica Construtiva Enxaimel. Blumenau: AmoLer, 2019. 408pp.:Il.:














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