Afinal, o que acontece com os bustos expostos em Blumenau?
O último a "sumir" nesta cidade foi o do poeta Olavo de Bilac. Em épocas de tecnologia nas imagens e na segurança, houve imagens dos bustos alardeadas para todos e para todas as plataformas de redes sociais e veículos de comunicação; porém, alguns não conviveram com esta realidade e seus desaparecimentos são um mistério.
O último a "sumir" nesta cidade foi o do poeta Olavo de Bilac. Em épocas de tecnologia nas imagens e na segurança, houve imagens dos bustos alardeadas para todos e para todas as plataformas de redes sociais e veículos de comunicação; porém, alguns não conviveram com esta realidade e seus desaparecimentos são um mistério.
Busto de Olavo Bilac - Um pouco de sua história, bem como a do homenageado
De acordo com o jornal "A Nação", em sua publicação sua de 1° de outubro de 1946, aconteceu uma reunião no Clube Náutico América em 29 de setembro de 1946, liderada por membros da imprensa e do rádio de Blumenau, visando à a organização de uma campanha para a instalação de um monumento do poeta Olavo Bilac na cidade de Blumenau. Talvez isto explique o lugar original escolhido.
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Local original do busto do poeta Olavo Bilac. |
Em 7 de setembro de 1947 foi fixado, na entrada da Palmenalle, Rua das Palmeiras, antigo Boulevard Hermann Wendeburg (nome que poderia ser resgatado) - o busto do poeta Olavo Bilac em bronze sobre pedestal de granito claro. Junto a outros poetas, formava o destacado grupo dos “novos”, a chamada Geração de 45.
Olavo Bilac foi amplamente homenageado em todo o Brasil, neste período, e na erudita Blumenau, não poderia ser diferente.
Na década de 1940, segundo Sachet (1985, p.91), surgem três gerações de intelectuais em Santa Catarina: os “antigos”, os quais defendiam o fim do romance com Eça de Queirós e da poesia com Olavo Bilac: os “atuais", voltados para o magistério e para as atividades profissionais e os “novos”, a chamada Geração de 45. SILVEIRA, 2011. Pag. 166.
No finalzinho da administração do ex-prefeito de Blumenau, Alfredo Campos, foi inaugurado o busto do poeta, no primeiro boulevard de Blumenau, na entrada da atual alameda Duque de Caxias. Foi uma homenagem dos estudantes de Blumenau, de acordo com a matéria da Revista Blumenau em Cadernos, ao "grande poeta e patriota, patrono dos Tiros de Guerra". Alguém sabe disto nos dias atuais? Época na qual se cantava o hino nacional e hasteava a bandeira, antes de iniciar as atividades de aprendizado em sala de aula. E o local, ainda um dos marcos centrais da cidade de Blumenau.
Muitos foram os professores e jornalistas locais e regionais que traduziram a obra de Olavo Bilac para o alemão, para que estivesse nas escolas da região, como por exemplo o professor, músico, jornalista, compositor entre outras atividades, Paul August Rudolf Damm. Também traduziu Bilac, Amélia de Resende Martins. Um dos seus trabalhos de tradução foi o soneto de Olavo Bilac: "A Língua portuguesa" com o título em alemão “Die Portugiesische Sprache”. Olavo Bilac também traduzia do alemão para o português, como comprova este registro da Revista Blumenau em Cadernos.
"Era homem instruído, dotado de boa veia humorística e, segundo se sabe, mantivera correspondência com o grande humorista alemão Guilherme Busch, cujo livro, "Max und Moritz", traduzido para o português pelo nosso Olavo Bilac, também fêz aqui no Brasil grande sucesso. Espírito honesto, bem orientado, não pactuava com as injustiças. " Blumenau em Cadernos, 1969.
O busto ocupou outro lugar antes de ser colocada às margens da avenida Presidente Castelo Branco, mais conhecida como "a Beira Rio". O busto do poeta Olavo Bilac foi retirado da ponta da Palmenallee, Rua das Palmeiras e foi colocado no início da Rua João Pessoa, voltada para o interior da rua. Um dia um automóvel colidiu com o busto que caiu por conta do acidente involuntário. Chamaram um homem para inseri-lo novamente no lugar, o qual o colocou voltado para a rua 7 de Setembro. Ficou no local por um tempo até ser transferido para o "jardim" da Polícia Civil de Blumenau, atualmente sede do Procon.
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O segundo e o terceiro e último local do busto de Olavo Bilac. |
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Localização onde o busto foi retirada, nas sombras, de seu pedestal de granito claro. |
Olavo Bilac
O poeta Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu em 16 de dezembro de 1865, no Rio de Janeiro e faleceu na mesma cidade, em 28 de dezembro de 1918. Foi filho do Dr. Brás Martins dos Guimarães Bilac (1833-1891), e de Delfina Belmira Gomes de Paula (1838-1909).
Foi um dos nomes da literatura que impulsionaram o nacionalismo no país, uma das questões que fomentaram a arte moderna no Brasil. Contribuiu muito para a educação formal brasileira e foi amplamente reconhecido em todas as regiões.
Foi republicano e nacionalista ativo.
A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo. Olavo Bilac
Defensor do serviço militar obrigatório, foi o responsável pela criação da letra do Hino à Bandeira, foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº15, cujo patrono é Gonçalves Dias.
Além de poemas, produziu muitos textos publicitários, crônicas, livros escolares e poesias satíricas. Tinha o objetivo, muito além do romântico, mostrar a realidade presente em sua época, em seus textos. Colaborou com publicações periódicas, como: A Imprensa(1885-1891), A Leitura (1894-1896), Branco e Negro (1896-1898), Brasil-Portugal (1899-1914), Azulejos (1907-1909) e Atlântida (1915-1920). Sua estreia como poeta, nos jornais cariocas aconteceu no periódico A Gazeta de Notícias, com a publicação do soneto "A Sesta de Nero", em agosto de 1884. Escreveu diversos livros escolares e participou e interferiu nos programas escolares.
Em 23 de setembro de 1916, Olavo Bilac fundou a Liga de Defesa Nacional, ocasião em que seu discurso nacionalista fortaleceu. A finalidade da instituição era fazer com a opinião pública a opinião pública nacional cultivasse um grande sentimento de patriotismo.
A sua participação [da Liga Nacional] na vida nacional está bem expressa pela proposta feita ao Governo, que resultou na obrigatoriedade do ensino do português nas colônias de imigrantes, que até então ensinavam apenas o idioma do país de origem. Também a inclusão do ensino formal de assuntos ligados ao civismo e ao patriotismo, nas escolas, com ênfase para o canto do Hino Nacional, o culto à Bandeira e o conhecimento da história pátria, teve origem em sugestão desta Entidade. (LIGA DA DEFESA NACIONAL, S/d). pg 437.
Curiosamente foi uma opositor ao governo de Marechal Floriano Peixoto, uma das lideranças do golpe militar, conhecido como "Proclamação da República".
Bilac foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros pela revista Fon-Fon, em 1907. Foi uma das expressões do Parnasianismo no país, ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia. Em 1917, recebeu o título de professor honorário da Universidade de São Paulo.
Em Blumenau, o professor Rudolf Damm, professor da Neueschule - Escola Nova, traduziu diversas obras de escritores brasileiros para o alemão, de autores como Casimiro de Abreu, Castro Alves, Fagundes Varela, Guerra Junqueira e do poeta do busto, Olavo Bilac.
O primeiro poema de Olavo Bilac que se tornou conhecido foi publicado na década de 1880 e a obra Inocência foi publicada em 1872, o que aponta que Damm teve acesso a obras literárias publicadas em língua portuguesa que lhe eram contemporâneas. Portanto, essas obras chegavam à região de Blumenau, ainda que, talvez, não circulassem na região em suas versões originais em português.
Olavo Bilac faleceu no Rio de Janeiro, solteiro, em 28 de dezembro de 1918. Nunca se casou.
O destino do Busto de Olavo Bilac - Blumenau
Algumas décadas após a inauguração do busto na Palmenallee, Rua das Palmeiras, mais precisamente 78 anos depois, seu pedestal foi atacado, nas sombras, e busto de Olavo Bilac foi roubado para se tornar sucata de metal, ser comercializado na clandestinidade e depois derretido. Quem o comprar também será cumplice.
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Momentos, em períodos distintos, do busto de Olavo Bilac, no último local que estava instalado. |
Em 26 de março de 2025, conforme registrado em imagens, dois homens levaram o busto de bronze do poeta, o qual descansava sobre o pedestal de granito claro havia quase 80 anos. Por conta destas mesmas imagens, os dois homens foram surpreendidos e encontrados, após investigação policial, em 2 de abril, mas afirmaram que já haviam comercializado a peça histórica.
Não foi a primeira contravenção contra o patrimônio praticada pela dupla e se encontra recolhida no Presídio Regional de Blumenau.
A prefeitura de Blumenau emitiu uma nota oficial, alertando para que as pessoas não adquiram o busto, caso fique à venda.
“A Prefeitura de Blumenau lamenta mais um ato de vandalismo a um patrimônio público. A ação aconteceu nesta madrugada de terça para quarta-feira, dia 26. Foi registrado um Boletim de Ocorrência para apurar o caso. As imagens das câmeras de segurança da região foram enviadas à Polícia Civil para ajudar na investigação.A Prefeitura também pede para que a população não compre, já que se trata de um objeto roubado que faz parte do nosso patrimônio. Quem tiver alguma informação sobre o paradeiro, procure a Polícia Civil no disque denúncia, telefone 181.”. Prefeitura Municipal.
Em 8 de abril de 2025 visitamos o local onde estava o busto do poeta até o incidente e constatamos que o pedestal de granito claro ainda permanece caído no local. Seria uma boa e respeitosa iniciativa, se a colocassem no local, em pé novamente, com flores, como existia no seu entorno, até um tempo atrás. Observem a diferença de como vinha recebendo atenção nesse lugar quase sem visibilidade. Os dois homens que o derrubaram poderiam colocá-lo no local novamente.
Imagens de 8 de abril de 2025Falando em bustos...
Onde está o busto do Coronel Feddersen?
"O Busto foi inaugurado a 4 de setembro de 1950, às 16 h. Obra do escultor Erwin Teichmann. O monumento foi erigido no então chamado “Largo Coronel Feddersen”, no fim da rua São Paulo, entroncamentos com as ruas Bahia e rua Cel. Feddersen.Denominação instituída através do Projeto de Lei de autoria do vereador Hercílio Deeke, datado de 21 de julho de 1948. Art. 1º Fica mudado para 'Coronel Feddersen' o nome da atual 'Rua Acre' e denominada 'Largo Coronel Feddersen' a praça formada pelo entroncamento da pré-citada rua com as ruas São Paulo, Bahia e Marcílio Dias. No centro do 'Largo' a se refere o artigo anterior, fica destinada uma área necessária à ereção de um monumento ou busto do falecido Coronel Peter Christian Feddersen, justa homenagem do povo de Blumenau e municípios vizinhos à memória daquele que foi um dos maiores fautores do progresso material do Vale do Itajaí – Sala das Sessões, 21 de julho de 1948 - Hercílio Deeke – vereador. (Vide Jornal de Santa Catarina de 31 de agosto de 1988- Caderno Econômico pág.3 in entrevista de Ernesto Stodieck jr. –'Feddersen anteviu o Futuro' – trata-se de um muito interessante relato das atividades de Feddersen). O busto esculpido e fundido em bronze foi custeado por Ernesto Stodieck jr. através da Empresa Industrial Garcia SA. Grande parte dos livros da biblioteca de Peter Christian Feddersen, mormente os relativos a 1a. Grande Guerra, foram resgatados por Niels Deeke, após um de seus familiares se desfazer dos bens para mudar-se ao Rio de Janeiro, e atualmente integram suas coleções. Foi 'Coronel' da 'Guarda Nacional'. Verbete: coronel.: Chefe político, em geral proprietário de terra, do interior do País. O Busto do Coronel Pedro Christian Feddersen foi inaugurado a 4 de setembro de 1950, às 16h, durante as comemorações do Centenário de Blumenau. O monumento foi erigido no então chamado 'Largo Coronel Feddersen', no fim da rua São Paulo, entroncamentos com as ruas Bahia e rua Cel. Feddersen, próximo as casas de Hertel, Paul, Pastor Andersen, - enfim defronte à fábrica de Gaitas Alfredo Hering. A lista inicial para angariar numerário destinado ao custeio da Herma e do Busto de Feddersen, constando indicados os contribuintes e valores integra o TABULARIUM NIELS DEEKE. O dinheiro, entretanto, foi devolvido aos subscritores, pois Ernesto Stodieck Jr. arcou, individualmente, com todos os encargos decorrentes e merece, por isto, o reconhecimento público.Consta dos arquivos particulares de Hercílio Deeke, documento que atesta terem sido desenvolvidos os trabalhos de execução do Busto, como molde em gesso, modelo em cera, forma em gelatina e modelo em cera, novo modelo de Feddersen, 2º modelo cera e retoque, trabalho no bronze de Feddersen, retoque no busto de Feddersen e Busto Hering, Retoque cera busto Hering, e patinar os dois bustos de bronze, nas oficinas de modelagem e fundição da Empresa Industrial Garcia, com início dos trabalhos em 11 de outubro de 1949 e término em 16 de maio de 1950, cujos preços somados ao busto de Feddersen perfizeram Cr$ 13.000,00. Os subscritos da Lista de Contribuição para execução da “Herma e Busto” foram diversos e suas consignações, algumas significativas, outras denotando indiferença, encontram-se documentadas – in TABULARIUM NIELS DEEKE. Niels Deeke
E onde está o busto do pioneiro que chegou à região antes de Hermann Blumenau, Pedro Wagner?
Johann Peter Wagner - Pedro Wagner - na década de 1970 - recebeu homenagem com a colocação de seu busto na frente de uma Sociedade Caça e Tiro - Atual Clube Blumenauense de Caça e Tiro, localizado na Rua Itajaí, no bairro Vorstadt, Blumenau. Neste mesmo bairro localizava-se a propriedade de sua família.
Somos guardiões do patrimônio da cidade. Recebemos este legado de uma geração e (podemos) cabe-nos repassá-lo para as próximas gerações, em melhores condições.
Um Registro para a História.
Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (X)
Referências
- Revista Blumenau em Cadernos. Blumenau e a sua Imprensa. O Imigrante II. Tomo X, junho de 1969, Nº 6. Página 103.
- SILVEIRA, Ana Paula Kuczmynda da. A Configuração da Disciplina de Língua Portuguesa em regiões de Imigração: O caso da cidade de Blumenau. Universidade federal de Santa Catarina, Programa de pós-graduação em Linguística. Florianópolis, 2013.
- SILVEIRA, Cláudia Regina. Dicionário de escritoras catarinenses. Universidade federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Literatura. Florianópolis, 2011.