St. Stephan's Cathedral - Catedral São Estevão - Passau - Alemanha - História da Arte - Alemanha 2025
Catedral Barroca de Passau, St. Stephan. Torres tipo Zwiebelturm.
Ainda passando pelo centro histórico de Passau, Alemanha, cidade dos três rios localizada entre os rios Danúbio e Inn, na companhia do padre Josef Apfelbeck, fomos atraídos pela arquitetura monumental da Catedral St. Stephan, ou Santo Estevão. Preferimos chama-la como é chamada originalmente em sua cidade, St Stephan. Vimo-la pela primeira vez, quando estávamos no mirante da Fortaleza Veste Oberhaus.
Sem qualquer dúvida, mesmo em obras de manutenção, foi uma das catedrais mais bonitas e rica sob o aspecto da arte que vimos neste Roteiro Alemanha 2025.
Não podíamos deixar de estudar sua arquitetura, história e os estilos de arte estampados em seus ambientes.
Ponto focal da primeira vista da Catedral de Passau, St. Stephan, em qualquer lugar da cidade, ela não passa despercebida, por sua monumentalidade, característica da antiga catedral gótico, cuja parte da estrutura foi usada nesta, que poderia ter outra escala se fosse realmente considerado o estilo gótico.
Fotografia da St. Stephan's Cathedral feita da Fortaleza Veste Oberhaus. Obsercar que a catedral possui três torres, sendo que uma delas, a torre do cruzamento, está no centro da planta "cruz" onde, internamente é um dos pontos mais lindos do conjunto que foi redesenhada e abobadada por Lurago, em 1678.
Conhecendo a história de Passau, detalhada resumidamente no artigo anterior, já sabemos que esta igreja é novíssima, a partir da história local, mas muito antiga, considerando a História do Brasil. Foi totalmente reconstruída, em barroco italiano, no século XVII, ocupando o lugar da igreja gótica que existia no lugar, como também toda a cidade de Passau foi reconstruída.
St. Stephan's Cathedral - Passau - Catedral São Estevão - Passau
Esta é a catedral situada em um terreno localizado entre dois rios, o que em um primeiro momento, torna-a "diferente" da Catedral de Salzburg. O rio do primeiro plano é o Danúbio e o do fundo, é o rio Inn.
No século XVIII, Passau possuía uma população de pouco menos de 7.000 habitantes. Isso incluía os moradores de Innstadt (cidade das Pousadas), do outro lado do rio Inn e de Ilzstadt (cidade de Ilz), na margem leste do rio Ilz, que deságua no Danúbio. A cidade maior na península havia se expandido para o oeste desde a Idade Média e agora alcançava as muralhas da atual Ludwigsplatz. O mapa da cidade de 1827 ainda mostra a cidade barroca.
Vamos conhecer esta história.
Mapa de Passau de 1827. Clicar sobre para aumentar.
Antiga Catedral - Gótica - antes de 1662
Pilgrim-Dom - Catedral Peregrino
Após 978, o Abade Pilgrim mandou construir uma nova catedral no lugar da basílica carolíngia destruída pelo grande incêndio que destruiu Passau. Não se conhecem imagens nem descrições antes das reformas que aconteceram na catedral nos séculos XIV e XV. Há comentários empíricos de que a Pilgrim-Dom, tipo basílica, não possuía transepto e que a nave central já possuía a largura atual. No entanto, nem a suposta fachada otoniana com torre dupla nem as supostas extremidades absidais do coro foram documentadas. A igreja foi consagrada em 985.
Spätgotische Dom - Catedral do Gótico tardio
Em meados do século XIII, ocorreu uma reconstrução fundamental ou mesmo uma nova construção na área do coro. A construção da nave gótica começou por volta de 1340. Em 1370, a obra progrediu a ponto de faltar apenas a área do clerestório da nave, mas os corredores laterais foram concluídos. A alteração da largura do corredor lateral por nichos de pilastra de 2,6 metros de profundidade provavelmente pertence a este período de construção. Para financiar um novo coro gótico tardio, foi necessário interromper a construção da nave, no final do século XIV. A construção do novo coro começou em 1407 e foi concluída por volta de 1450. A representação na Crônica Mundial de Schedel - Schedelschen Weltchronik (1497) refere-se a uma descrição de 1444. No final do século XV, o transepto foi reconstruído e, em 1520/30, a torre de travessia também foi concluída.
A catedral de Passau, com suas torres gêmeas, na crônica de Hartmann Schedel, Nuremberg 1493. Schedel retrata a nova construção da catedral gótica tardia, como se apresentava por volta de 1450. O transepto e vários vãos da nave ainda não foram construídos. Ao fundo, a Fortaleza Oberhaus e, em primeiro plano, o Palácio Residenz com o Portão de Innbruck. Fonte: Biblioteca Estatal da Baviera.
O Incêndio de 1662
Arquiduque Leopold Wilhelm da Áustria. Fonte: Wikipedia.
Em 27 de abril de 1662, como já mencionado, houve um grande um incêndio em Passau, que teve início em Rindermarkt. Devido a concentração da malha urbana e à construção predominantemente feita em madeira, a maioria da cidade foi literalmente destruída e a catedral, também. A estrutura do telhado, totalmente em madeira, e o mobiliário, incluindo todos os altares, foram destruídos. Um mês após o incêndio, as paredes, pilares e abóbadas da nave e do corredor norte, enfraquecidos pelo calor, também ruíram. O restante da nave que sobrou precisou ser demolida. A cúpula do cruzeiro e o coro receberam uma cobertura provisória.
Em 1663, os pilares do cruzeiro foram fixados e a uma nova estrutura de telhado foi construída sobre o coro. Como o príncipe-bispo, o arquiduque Leopold Wilhelm da Áustria, que estava no poder, também faleceu logo após o incêndio, o jovem príncipe-bispo sucessor, o arquiduque Karl Joseph da Áustria, assumiu os trabalhos iniciais da reconstrução da catedral. No ano seguinte, em 1664, um novo príncipe-bispo, o conde Wenzeslaus von Thun-Hohenstein foi eleito. Inicialmente, ele se concentrou na reconstrução da residência e na busca de fontes de financiamento.
Reconstrução da Catedral - Estilo Barroco
Príncipe-Bispo Wenceslaus von Thun-Hohenstein
Príncipe-Bispo Wenceslaus von Thun-Hohenstein. Fonte: Wikipedia
Em 1667, o Príncipe-Bispo Von Thun-Hohenstein continuou a reconstrução da catedral de acordo com um plano previamente construído e revisado. Em 1668, ele concluiu um contrato de construção por 25.500 florins com o mestre construtor de Praga, Carlo Lurago. Nessa época, Lurago trabalhava para o Príncipe-Bispo, Michael Oswald, em Klösterle, onde, além do palácio, também construía a Igreja da Santíssima Trindade. Não ficou claro no contrato, se Lurago era obrigado a construir as duas novas torres e a fachada oeste de acordo com os desenhos do Príncipe-Bispo, ou se o Príncipe-Bispo apenas assinou o projeto de Lurago. A formação, a educação e o conhecimento artístico do Príncipe-Bispo, conhecido de todos, sugerem a primeira opção. Isso também explicaria o início das escavações no lado oeste já em 1667. O contrato de empreitada também estipula a demolição completa de ambas as torres e que as fundações do edifício gótico das três naves devem ser consideradas na reconstrução da nova catedral.
O contrato de Lurago não contava com a inclusão da cantaria. O Príncipe-Bispo teve a intensão de manter todas as opções dos acabamentos em aberto para esta importante obra e depois celebrou o contrato separado com o pedreiro Francesco Torre, conterrâneo e funcionário de longa data de Lurago, na Boêmia. Em Passau, Lugaro trabalhou com uma grande equipe de construção.
Carlo Lurago e Carlo Antonio Carlone
Os responsáveis pela construção raramente são registrados nos autos. Mesmo em Passau, ao acaso se tomou conhecimento do envolvimento de Carlo Antonio Carlone como responsável da reconstrução da catedral. Carlo Antonio trabalhou como mestre-de-obras na Igreja Jesuíta em Passau, desde 1665, mas a construção seguiu lentamente. Seu meio-irmão, Giovanni Battista, também está com obras registradas em Passau, desde 1668. Seus principais contratos estavam em Kremsmünster, Garsten e Schlierbach. Embora Carlo Antonio, mais tarde conhecido como mestre-de-obras, tenha trabalhado na Catedral de Passau, o fez sob o subcontrato de Lurago. Mesmo assim sua marca na construção e a de Giovanni Battista é perceptível na estrutura da catedral. Isso é perceptível através da semelhança da basílica com uma pilastra ou salão de pilares livres. Todas os interiores das igrejas de Lurago são, sem exceção, basílicas de três naves com uma cornija robusta que valoriza e destaca a horizontalidade. Elas ainda apresentam o barroco romano inicial e não, o tardio.
Em 8 de janeiro de 1673, o Príncipe-Bispo Wenzeslaus von Thun-Hohenstein, que até então supervisionara com o planejamento e a construção da catedral, faleceu.
O Príncipe-Bispo sucessor continuou a construção da estrutura. Em 1674, o edifício foi coberto e as abóbadas puderam ser construídas.
Nos anos seguintes, Carlo Antonio Carlone trabalhou como mestre-de-obras independente junto com seu meio-irmão em outras construções em Passau.
Príncipe-Bispo Sebastian, Conde von Pötting, 1673–1689
O próximo Príncipe-Bispo eleito, reinou por 16 anos. Foi em 11 de março de 1673. Apesar das restrições financeiras, ele inicialmente continuou as obras na catedral até a conclusão de sua estrutura. As obras tiveram que parar e foram iniciadas somente em 1677. O Príncipe-Bispo firmou um novo contrato com Lurago. Este continha a substituição das abóbadas góticas do coro e do transepto por novas abóbadas. A obra foi concluída nesse mesmo ano. A abóbada do coro é uma obra-prima da engenharia estrutural. Carlo Antonio e Giovanni Battista Carlone provavelmente desempenharam um papel importante em seu projeto. A equipe de estuque de Carlone iniciou os trabalhos em 1677. Em 1678, Lurago construiu a cripta do bispo. Até 16 funcionários da oficina de Carlone trabalhavam ao mesmo tempo no estuque da área do coro e do transepto. O pintor de afrescos Carpoforo Tencalla também estava trabalhando no local por volta de 1679. A última obra de Lurago no interior da catedral, foi a nova cúpula da torre de cruzeiro. A equipe de construção de Lurago passou, então, a trabalhar nas fachadas externas.
O envolvimento do príncipe-bispo Sebastian von Pötting na oficina de estuque de Carlone tem relação com o trabalho anterior de Carlone, na igreja jesuíta em Passau., Ele era mais próximo dos jesuítas da província austríaca do que seu antecessor.
Vista de Passau do Wallfahrtskirche Maria Hilf (Kloster). Desenhado por Friedrich Bernhard Werner (1690-1778), gravura em cobre de Martin Engelbrecht (1684-1756). Augsburgo: Martin Engelbrecht, c. 1740. fonte: Biblioteca Estadual de Passau, 137
Giovanni Battista Carlone e Carpoforo Tencalla
Em 29 de julho de 1680, aconteceu novamente outro incêndio em Passau. E novamente grandes danos à catedral recém reconstruída e nos novíssimos edifícios residenciais. Novamente a estrutura do telhado foi comprometido. As abóbadas resistiram, mas o incêndio simultâneo dos andaimes internos danificou gravemente o estuque e os afrescos. Os primeiros contratos de empreitada com o "estuqueiro" Giovanni Battista Carlone e Carpoforo Tencalla datam de maio de 1680 e abrangiam as obras na nave. O estuque e os afrescos do coro e do transepto, bem como a cúpula da nave mais a leste, estavam concluídos nessa época. Carlone teve reivindicar de maneira mais incisiva, o pagamento desta primeira fase da construção, em 1681, enquanto os valores acordados foram pagos a Carpoforo Tencalla.
Obras decorativas em estuque com a pintura de afrescos.
Depois que a estrutura do telhado foi reconstruídas e o telhado refeito, as obras puderam continuar em 1682 com base em novos contratos de empreitada. O líder da equipe de Carlone era agora Paolo d'Allio. Giovanni Battista Carlone nomeou seu sobrinho como seu representante, pois ele estava simultaneamente preparando o trabalho de estuque em Garsten e, posteriormente, executando o estuque figurativo lá. Pagamentos em atraso e mudanças incomuns no contrato levaram criou clima entre as duas partes da obra. O trabalho foi suspenso em 1684 e retomado apenas em 1685, com execução do estuque da cúpula nos corredores laterais. A última obre de execução de estuque foi no estuque da abóbada acima da galeria, em 1686. A grande obra executada pela equipe de Carlone, em um período de 11 anos, entre 1677 a 1686, somou um total de 21.979 m2, dos quais apenas 6.302 m2 eram superfícies lisas.
Carpoforo Tencalla fez os afrescos da obra em várias etapas, de acordo com as especificações do mestre estuque. Em 1682/83, ele restaurou os afrescos danificados pelo fogo, principalmente por lavagem a seco. Em 1684, pintou os novos afrescos da abóbada da nave. Não conseguiu concluir os afrescos das abóbadas dos corredores laterais, previstos para 1685, pois faleceu em Bissone, na primavera daquele ano. No total, Tencalla criou 1.034m2 de afrescos na nova Catedral de Passau.
Em março de 1685, Carlone sugeriu o nome do pintor do Ticino Francesco Innocenzo Torriani ao Conselho Eclesiástico como sucessor de Tencalla. No entanto, o Conselho queria esperar para ver. Pouco depois, ele seguiu o oficial de Passau, baseado em Viena que propôs "um pintor vienense chamado Rauchmiller, cujo talento artístico era quase igual ao do pintor de afrescos Tencalla".
Mathias Rauchmiller foi contratado, no entanto, ele faleceu logo após o início das obras. Apenas duas das dez cúpulas dos corredores laterais, ou aproximadamente 94 metros quadrados, receberam a sua assinatura. Foi contratado o pintor Francesco Splendore de Lugano, que logo foi demitido, em 1687. Ele deixo claro que tinha pouco conhecimento do trabalho que deveria desenvolver na obra.
Carlone, sugeriu um nome que o conselho atendeu e contratou Carlo Antonio Bussi, genro e aluno de Tencalla. Bussi concordou com o valor que receberia e concluiu o ciclo de afrescos restante, totalizando 470m2, no verão de 1688.
Príncipe-Bispo Johann Philipp Graf von Lamberg 1689–1712
Em 1689, foi eleito o sucessor do falecido Príncipe-Bispo Sebastian von Pötting. O novo Príncipe-Bispo, Johann Philipp von Lamberg, deu continuidade ao mobiliário já iniciado. No ano de sua eleição, o interior foi completamente concluído; todos os portais, batentes de portas e janelas foram removidos, e o revestimento de mármore foi instalado e dois altares de estuque nos transeptos foram criados.
O altar-mor foi construído em 1684 e não se sabe o nome de quem o executou. Os dois altares do transepto também foram concluídos. As decorações de suas naves laterais ocorreu durante o reinado do Príncipe-Bispo Johann Philipp von Lamberg. Assim como seu contemporâneo em Salzburgo, ele parece ter tido aversão aos "Welschen" (franceses) e, inicialmente, não queria empregar a oficina de Carlone para outras firmas. Em 1689, concluiu seus dois primeiros contratos de altar para os altares laterais subsequentes com o artista de estuque local, Balthasar Hackhenmüller, que construiu os dois altares em 1690. Os altares de Haggenmiller aparentemente, não satisfizeram as exigências de quem o contratou, pois foram substituídos por altares de Giovanni Battista Carlone, já em 1695.
Observem, isto tudo, em torno de aproximadamente 150 antes de fundarem Blumenau, que quase não tem mais nada de história na paisagem. Nós fotografamos esta igreja em 2025.
Mobiliário
Príncipe-Bispo Joseph Dominikus, Conde von Lamberg, 1723–1761
Durante o longo reinado do Príncipe-Bispo Joseph Dominikus von Lamberg, sobrinho de seu antecessor, que reinou até 1712, o mobiliário da catedral, iniciado por seus antecessores, foi concluído. Isso incluiu a construção de um novo púlpito e a expansão do órgão principal, o que demonstrava o interesse do Príncipe-Bispo pela música, que, de outra forma, era completamente desnecessário. Este órgão ainda está no local. Erroneamente imaginávamos de que se tratava de mais de um órgão. São, em verdade como "caixas de som".
Púlpito
Foi providenciado pelo Príncipe-Bispo Raymund Ferdinand, Conde von Rabatta, cujo reinado aconteceu de 1713 a 1722, e contratado Antonio Beduzzi e Lorenzo Mattielli de Viena. Só foi instalado em 1726, sob a administração do Príncipe-Bispo Joseph Dominikus. Esta obra-prima dourada da arte da corte vienense foi anteriormente atribuída a falsos designers e escultores.
A tipologia da Catedral de Passau barroca. Em torno de 1730. Imagem: Reprodução de Dionys Asenkerschbaumer, Kellberg
A tipologia da Catedral de Passau barroca. Em torno de 1740. Imagem: Reprodução de Dionys Asenkerschbaumer, Kellberg.
Obras de Órgãos Barrocos
O Príncipe-Bispo Sebastian, Conde von Pötting, mandou construir um órgão principal pelo construtor de órgãos Leopold Freundt, de Passau. O órgão foi instalado em 1688. Em 1715, o Príncipe-Bispo subsequente, Raymund Ferdinand, Conde von Rabatta, encomendou dois órgãos "Ninho de Andorinha" ao construtor de órgãos Johann Ignaz Egedacher, os quais foram montados nos pilares transversais. Em 1731, o órgão principal de 1688 já não era suficiente. O Príncipe-Bispo Joseph Dominikus von Lamberg chegou a um acordo com Johann Ignaz Egedacher sobre a expansão. Após a remodelação em 1733, o órgão passou a ter 39 registos com sete registos secundários, distribuídos em três manuais com pedais. Este órgão de Egedach não possui um Rückpositiv, mas seu funcionamento é comparável ao de um órgão barroco maior, como o contemporâneo órgão Gabler em Ochsenhausen.
Catedral de Passau e a Arquitetura Barroca
Basílica Mural de Lurago e Influência de Carlone
A reconstrução fez uso não somente das dimensões externas, mas também, usou sistema axial do edifício gótico. Foi criado um sexto vão da nave no lugar das torres ocidentais góticas. A seção transversal é semelhante à de uma basílica, como todas as igrejas anteriores projetadas por Carlo Lurago, e certamente, também, para reaproveitar e adequar à estrutura da arquitetura gótica pré-existente no transepto. Foi construído novo, na proposta de Lurago, a interpretação da tectônica da nave. As pilastras, com seu poderoso entablamento parecem ter uma estrutura de suporte, enfatizada pela omissão da cornija contínua. Graças à conexão longitudinal das naves laterais, elas são independentes e, portanto, têm o efeito de pilares livres. Essa impressão é reforçada pelos nichos do altar localizados fora da estrutura de suporte. A semelhança à forma da basílica, está na presença de uma pilastra ou sala de pilares livres, explicada pela influência de vanguarda de Carlone. Embora o arquiteto Pietro Francesco Carlone, que trabalhava em Passau na mesma época, tenha construído todas as suas igrejas com salas de pilastras, isso era impensável no caso de Lurago. O proponente do conceito arquitetônico muito mais progressista que Lurago, foi, certamente, Carlo Antonio Carlone.
Cúpulas da Nave Central
A nave central da igreja, vista em direção ao coro. A sequência de cúpulas suspensas e as pilastras, projetadas como colunas independentes com suas esculturas figurativas.
A adição de cúpulas suspensas nos cinco antigos vãos da nave foi criativa, pois repousam sobre amplos arcos transversais. Como consequência, destaque para a cúpula interna oval a presença impactante de uma moldura de estuque que envolve os afrescos de Tencalla. O conjunto cria a ilusão de uma cúpula pendente. Esse tipo de abóbada é conhecido no norte da Itália. O arquiteto de Viena Giovanni Battista Carlone, talvez um tio do "estuquista" de Passau, a utilizou na colegiada de Klosterneuburg em 1637/45. Semelhante a Passau, o sistema axial de Klosterneuburg é medieval. Não é muito claro como Lurago chegou à solução de abóbada da catedral em 1674, mas pode ser explicado pela contribuição de Carlone na sua execução.
Abóbadas em cúpula - naves laterais
Os vãos conectados das naves laterais são separados por amplos arcos transversais. Em vez da abóbada de berço usual, os construtores colocaram uma cúpula oblongo-octogonal excepcionalmente rica sobre pendentes em cada vão. Essas cúpulas altas das naves laterais, estendendo-se até o vão do telhado, reforçam a impressão de uma igreja-salão.
O sistema arquitetônico fica claro ao observar os corredores laterais contínuos. Em vez da abóbada de berço usual, os arquitetos instalaram cúpulas que se estendem até o vão do telhado, reforçando assim a impressão de uma igreja-salão.
Abóbadas barrocas no transepto e coro
Abóbadas do corredor sul.
Lurago substituiu as abóbadas góticas já em 1677. As abóbadas barrocas formam uma abóbada de berço simples no transepto, enquanto a cúpula octogonal, anteriormente gótica, em forma de tambor, assenta sobre pendentes. Lurago construiu a nova abóbada do coro, que provavelmente substituiu uma abóbada gótica. Na fachada externa, pode-se ver como ele transformou as janelas góticas superiores em óculos, de modo a formar o suporte da abóbada de berço semicircular com o entablamento quinquilhado circundante. Os óculos são escavados na abóbada de berço com reentrâncias retangulares (lunetas), deixando apenas vestígios estreitos, que Carlone então transformou em pilastras herméticas. A seção superior restante da abóbada de berço é tratada como uma superfície pictórica livre.
Design de interiores de Giovanni Battista Carlone e Paolo d'Allio
Os irmãos Carlo Antonio e Giuseppe Battista Carlone tiveram um papel fundamental em todas as soluções projetuais de abóbadas da nave e do coro. Embora se possa concluir que o mestre-de-obras Carlo Antonio tenha contribuído muito com o resultado final, principalmente para a elaboração das abóbadas, foi o "estuquista" Giuseppe Battista que foi o principal projetista da resolução do interior da catedral de Passau.
Vista para o coro com a transformação barroca da estrutura gótica tardia, feita por Lurago e Carlone, em um alto e iluminado presbitério barroco. Na frente a torre de cruzamento.
No entanto, a classificação rígida, que atribui a um irmão o papel de mestre-de-obras e ao outro o de estuquista, contradiz o fato de que qualquer membro da família Carlone pudesse exercer ambas as atividades no século XVII. Giovanni Battista, de 35 anos, que trabalhava na empresa familiar há 20 anos e e seu sobrinho Paolo d'Allio, certamente esteve envolvido em muitos dos projetos de seu pai. Como único empreiteiro, ele sempre foi o responsável por todo o edifício. Pelo mesmo motivo, Carlo Lurago é o "arquiteto" da Catedral de Passau. Para explicar, na época não era oficializado o papel do arquiteto, mas sim o mestre-de-obras, que antes de iniciar os trabalhos do dia, reiscava em uma lousa, para todos da equipe, sobre as atividades diárias.
É fato que Carlone teve um papel muito importante, se considerarmos a escultura em estuque como um projeto arquitetônico importante para o decorativismo interior. O projeto das paredes e do teto do coro reforça essa percepção. Gurlitt observou isso em 1889 quando afirmou que Carlone dem ciência que deve executar o projeto de interiores sozinho, quando pode exigir com segurança, em seu contrato, que lhe seja concedida total liberdade na execução. Isso significa que Lurago não é o autor do projeto de interiores da catedral de Passau. O trabalho da firma de Carlone em Passau ainda é tratado hoje sob o termo "decoração", que diz muito sobre a linguagem do historiador da arte, mas não faz justiça à realidade da Gesamtkunstwerk (obra de arte total), que compreende arquitetura, estuque e afrescos.
Vista da torre de cruzamento, originalmente em estilo gótico tardio, que foi redesenhada e abobadada por Lurago em 1678.
Vista da torre de cruzamento, originalmente em estilo gótico tardio, que foi redesenhada e abobadada por Lurago em 1678.
Arquitetura dos Altares
Os altares de estuque e mármore da executados por Carlone são todos paralelos às paredes externas. Somente esse arranjo "italiano" permite a conexão das naves laterais e a aproximação do interior a um majestoso salão com pilares livres. Os retábulos ocupam quase completamente a largura e a altura dos nichos presentes nas naves laterais. Os retábulos dos altares do transepto, com 11 metros de largura e 20,8 metros de altura, também preenchem quase completamente as paredes externas. Todos os retábulos apresentam arquitetura de colunas de portal ou edícula do Alto Barroco, geralmente com sete eixos, coroados por extensões. Eles são valorizados por conta do contraste entre o mármore avermelhado do estuque e as ricas e dinâmicas esculturas figurativas de Carlone. Aparentemente são inspiradas nas criações de Bernini. Estas peças harmonizam perfeitamente com a decoração em estuque do interior, criada por Carlone. Assim como o estuque, os altares fazem parte da Gesamtkunstwerk (obra de arte total) do interior de Passau.
A Fachada
A fachada da catedral de Passau possui duas torres adjacentes à nave. Ela se projeta em degraus a partir das torres. Os andares são divididos por pilastras e o eixo central de dois andares é destacado por pilastras duplas. A fachada é lembra à da Catedral de Salzburgo. No final do século XIX, a catedral foi inspiração para os muitos frontões e torres octogonais na região. Outras semelhanças são os modelos ilustrados em tratados renascentistas italianos.
No entanto, há diferenças significativas entre a Catedral de Salzburgo e a Catedral de Passau. Em Salzburgo, as torres inscritas na nave formam as projeções de uma fachada rebaixada de três andares. Em Passau, a fachada de dois andares, que, no entanto, possui um sótão, projeta-se entre as torres e reflete a largura da nave. Lurago construiu suas fachadas de igrejas com torres duplas em Klatovy ou Königgrätz, semelhantes à Catedral de Salzburgo, com três andares, mas com uma fachada projetada. A fachada baixa de Passau e sua largura total da nave poderiam, portanto, ter sido uma especificação do habilidoso príncipe-bispo Venceslau, que trouxe sua experiência italiana à tona.
Mudanças na Catedral Período Pós-Barroco
Fim do Principado-Bispado em 1803
Em 1803, Passau se tornou uma cidade provincial da Baviera. O Principado-Bispado perdeu seu poder secular e deixou a cidade com sua corte e a história da catedral, sua obra mais importante até então. O antigo Príncipe-Bispo, se mudou para um Schloss próximo a Praga, com uma vultuosa pensão.
Em 1806, Napoleão concedeu a coroa real ao seu aliado, o Eleitor da Baviera. Em outubro de 1809, o Imperador francês fixou residência na no ex-Residenz. Passau era uma cidade na linha de frente na neste período. Somente com a morte do último Príncipe-Bispo, residente no Shloss perto de Praga, em 1826, a normalidade começou a retornar a Passau. A diocese passou a pertencer à nova Arquidiocese de Munique-Freising.
A primeira vítima desta transição, foi o altar-mor barroco da Catedral de Passau. Em 1826, ele consistia apenas em uma mesa feita de tijolos. Descrições pouco úteis apontam para a destruição de um altar de baldaquino barroco. Mesmo que seu projeto permaneça desconhecido, 150 anos depois, recebeu uma substituição moderna, talvez de igual qualidade artística.
Em 1812, o claustro da catedral e todas as capelas voltadas para o pátio interno foram demolidas devido à falta de fundos e à falta de disposição para mantê-las. As valiosas lápides foram vendidas pelo seu valor material. O bispo Heinrich Hofstetter conseguiu readquirir muitas delas em meados do século XIX. Hoje, elas são exibidas sob abrigos no ambiente do museu instalado no local do antigo claustro, misturadas com lápides cívicas de outras igrejas. Pois é....
Em 1857, foi a vez do corrimão do coro ser demolido. Esta obra extremamente valiosa foi erguida em 1684 a um custo de 3.883 florins. Naquela época, pagou-se mais pelo corrimão do que pela pintura da nave feita por Tencalla na mesma época, que custou 2.500 florins. A separação habitual da nave e dos corredores laterais do transepto, abolida logo no início, com a demolição, teria levado a discussões sobre, após o Concílio Vaticano II. O bispo Heinrich Hofstetter, ambicionou esse "desenvolvimento". Infelizmente, nada da treliça restou.
Alterações na Fachada da Catedral
Foi feito a elevação da fachada das torres gêmeas entre 1893 e 1898 e teve um impacto significativo na aparência da catedral. De acordo com os planos do arquiteto Heinrich von Schmidt, as duas torres receberam uma estrutura octogonal neobarroca com "cúpulas galesas", tipo - Zwiebelturm - cúpula "Cebola", uma das características da arquitetura religiosa na região. Isto substituiu o telhado piramidal plano anterior. O projeto de Schmidt foi inspirado nos octógonos das torres da Catedral de Salzburgo de 1655. Assim, ele alcançou a maior aproximação possível de uma solução barroca da época.
Fachada da Catedral de Passau antes de sua reforma pelo bispo Heinrich Hofstätter. O telhado piramidal foi substituído por Zwiebelturm. Imagem: Reprodução de Dionys Asenkerschbaumer, Kellberg.
Fachada da Catedral de Passau, atualmente após a reforma.
Construção do Novo Órgão
A fachada do atual órgão da catedral, com exceção do órgão superior, remonta ao órgão Egedacher de 1733. O órgão barroco de três manuais, com 39 registros sonoros e sete registros secundários, não existe mais. O órgão foi ampliado a proporções gigantescas no século XX por meio de ação elétrica. Fonte: Wikipédia.
Durante o século XIX, ocorreram mudanças no layout da catedral, que só foram concluídas em 1993. Em 1857 começaram a transferência dos dois órgãos Schwalbennest - "Ninho de Andorinha" dos pilares transversais para a galeria oeste. Em 1886 e 1924/1928, o grande órgão barroco foi substituído por novos órgãos ainda maiores. O mecanismo passou a ser eletropneumático. No entanto, outro novo órgão foi construído já em 1980. O sistema foi revisado novamente em 1993, atendendo então, a cinco seções de órgãos distribuídas pela igreja, agora com mecanismo totalmente elétrico, com um total de 233 registros (V/P/233). É composto pelo órgão principal (IV/P/126), o órgão do Evangelho, o órgão da Epístola (II/P/25), o órgão remoto na treliça do teto e o órgão do coro (III/P/38). Embora o órgão principal tenha "apenas" 126 registros, surge a questão sobre o significado dessa monumentalidade, que nada tem em comum com o barroco. Apenas a fachada do atual órgão principal, preservou parte da fachada barroca. Uma mudança grande foi o novo órgão superior (1928) no lugar da abertura central original para a janela oeste.
Atualmente o órgão da Catedral de Passau é considerado o maior órgão de catedral do mundo.
O maior órgão de catedral do mundo está a ser restaurado e será entregue em 2026. Quando visitamos em abril de 2025, não estava funcionando por este motivo.
Parte da tradução da placa acima:
Devido ao extenso trabalho de construção do mundialmente famoso órgão da catedral de Passau, pedimos a sua compreensão de que o sistema do órgão não pode ser tocado atualmente em toda a extensão de todas as partes do órgão até que esteja previsto para estar concluído em 2026. Desde setembro de 2023, até à instalação e conclusão da entoação dos três órgãos da galeria oeste (órgão da Epístola, órgão principal e órgão do Evangelho), o sistema de órgãos só pode ser tocado a partir do órgão do coro. As duas novas obras a solo podem então ser ouvidas no cruzamento da catedral (sob a cúpula), bem como no já renovado órgão coro e órgão femoral. Pedimos a sua compreensão e assumimos que ao adquirir um bilhete para um concerto na catedral concorda com estas restrições sonoras. Gostaríamos de agradecer muito pelo seu apoio e compreensão.
Informações sobre as obras do órgão da catedral de Passau e sobre os trabalhos atuais de construção do órgão podem ser consultadas em: www.passauer-domorgel.de
Restaurações
A extensa destruição da estrutura gótica no incêndio de 1662 impediu o destino habitual da maioria das catedrais alemãs, que tem no estilo, o estilo nacional de arte. Após as "restaurações" do século XIX, apresentaram-se com uma nudez românica ou gótica purificada, dotadas das características originais da arte considerada nacional alemã.
Uma restauração cuidadosa do interior da Catedral de Passau ocorreu em 1933/1934.Criou-se uma oficina para a catedral, em 1931 para a restauração dos delicados elementos góticos exteriores, que durou até 2017. Nenhum dano foi causado durante a Segunda Guerra Mundial. A primeira restauração completa do interior começou em 1972 e terminou em 1980. O exterior da catedral foi restaurado de 2007 a 2013, recebendo sua camada de tinta branca. A história da restauração demonstra que, com muita sorte e habilidade, uma importante catedral barroca em Passau sobreviveu quase inalterada. Na atual Alemanha, Passau compartilha esse privilégio apenas com Freising.
E nós testemunhamos isso, com a respiração trancada, diante de exuberante arte de um período histórico, cuidadosamente preservado. Observamos quando a visitamos em abril, que novamente estava em processo de restauro, pois havia indício no espaço e ambiente bloqueados ao acesso público.
As imagens comunicam...
Fotografias
Fotografia da St. Stephan's Cathedral feita da Fortaleza Veste Oberhaus.
Fotografia da St. Stephan's Cathedral feita da Fortaleza Veste Oberhaus.
Fotografia da St. Stephan's Cathedral feita da Fortaleza Veste Oberhaus.
Vídeo
Um registro para a História.
Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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Leituras Complementares - Clicar sobreo título escolhido:
Domkirche St. Stephan in Passau. Süddeutscher Barock. Disponível em: https://www.sueddeutscher-barock.ch/In-Werke/h-r/Passau_Dom.html. Acesso em: 11 de junho de 2025, 22h
Mader, Felix: Die Kunstdenkmäler von Niederbayern, III. Stadt Passau. München 1919.
Kühlenthal, Michael und Zunhamer, Martin in: Der Passauer Dom und die Deckengemälde Carpoforo Tenacallas. München und Zürich 1982.
Möseneder, Karl (Hrsg.): Der Dom in Passau, mit den Beiträgen von Ludger Dorst (Architektur), Karl Möseneder (Stuck und Malerei), Ursula Berndl (Seitenaltäre), Christian Hecht (Hochaltar), Holger Schulten (Domorgel). Passau 1995.
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