No século XIX, a região do Vale do Itajaí, território de Blumenau, tinha grande carinho pela família imperial brasileira, ao ponto de existir em uma programação anual, em agenda oficial, o "Baile de aniversário do Imperador". Na agenda oficial havia um dia, 2 de dezembro, para esse evento - Baile do Imperador, no qual os súditos de D. Pedro II, que falavam alemão como sua mãe Dona Leopoldina (austríaca de nascimento), festivamente emitiam um "Viva o Imperador!".

Imaginem, pois, Blumenau na década de 1880, recebendo o marido da princesa herdeira do trono brasileiro, e genro de D. Pedro II. Que providências, no seio dessa sociedade blumenauense, foram tomadas para receber um membro da família imperial brasileira?
A família, com a presença da filha de D. Pedro II, Isabel, e seu marido, encontrava-se em visita às províncias do sul do Brasil. Por motivos de saúde, a Princesa Isabel não se deslocou até Blumenau. Viajou de São Francisco de Sul, diretamente para Nossa Senhora do Desterro, para onde foi seu marido depois que deixou o Vale do Itajaí, para seguir a viagem.
O pesquisador Frederico Kilian descobriu, durante suas pesquisas no jornal blumenauense Blumenauer Zeitung, edição Nº 51 de 20 de dezembro de 1884, o interessante relato da visita do Joaquim Insley Pacheco, Gastão de Orleans, o Conde D'Eu, marido da Princesa Isabel, durante sua estada em Blumenau, após a data comemorativa do aniversário de D. Pedro II, mais especificamente nos dias 15 e 16 de dezembro de 1884.
Foi amplamente noticiado no jornal mencionado:
[...]o Conde d 'Eu resolvera fazer uma visita ao recém-criado município de Blumenau, tendo chegado no dia 15 de Dezembro entre 3 e 4 horas da tarde. Já desde cedo a vila engalanara-se para receber condignamente Sua Alteza e se preparava para proporcionar sua curta estada da mais aprazível forma possível. Tão logo que o vapor "Progresso" anunciava com longos apitos a sua aproximação à cidade, uma incalculável multidão se dirigiu ao porto local e às margens do Rio Itajaí-açu para assistir a chegada do ilustre visitante e dar-lhe as boas vindas, aportando Sua Alteza ao som do hino nacional executado pela banda musical local e sob os brados de "Vivas" da população aglomerada no porto de desembarque. "Blumenauer Zeitung", edição Nº 51 de 20 de Dezembro de 1884 - Traduzido por Frederico Kilian em 1977
![]() |
Igreja Matriz de Blumenau, onde houve solenidade solene em homenagem ao Conde D'Eu. |
![]() |
Banda de Hermann Rüdiger. |
A Família Imperial Brasileira era católica e isso explica por que Hermann Blumenau investisse seus esforços e fundos na construção da nova Matriz, projetada por Heinrich Krohberger. Ambicionava que o Império encampasse sua colônia particular. Naturalmente o Conde D'Eu foi conduzido, primeiramente para nova matriz católica, onde foi realizado um solene Te Deum. Trata-se de um ato em que é tradicionalmente cantado um hino cristão antigo, geralmente em momentos de gratidão e celebrações especiais. Do latim, significa "A Vós, ó Deus, louvamos". A letra final deste hino é do ano 387 d.C. por ocasião do batismo de Santo Agostinho por Santo Ambrósio, mas de origem anterior ainda, com autoria rastreada ao Papa Santo Aniceto, em 160 d.C. Portanto este hino, também foi cantado na Matriz de Blumenau, em homenagem ao Príncipe Conde D'Eu, em 1884.
Te Deum
Após o solenidade religiosa na Matriz de Blumenau, o Conde D'Eu foi conduzido ao Stadtplatz de Blumenau e visitou a Câmara Municipal, onde lhe foram apresentados também os
arquivos da colônia e da Câmara. Em seguida foram todos para o Hotel Schreep. O hotel possuía, entre outros ambientes - um salão de baile - o qual era alugado para eventos festivos privados e públicos. Em suas dependências hospedavam-se visitantes importantes como nesse caso, o marido da Princesa Isabel do Brasil e genro do Imperador do Brasil, e D. Pedro II - o Conde D'Eu.
O ilustre visitante ficou hospedado no Hotel Schreep, junto com sua comitiva. Foi oferecido a ele e à sua comitiva um
banquete.
A cidade de Blumenau, mais especificamente a Palmenallee (a rua das Palmeiras) ou, o Boulevard Hermann Wendeburg, foi festivamente iluminada com
lampiões multicolores e também o casario que compunha a paisagem do Stadtplatz.
![]() | |
|
O Conde D'Eu, acompanhado de algumas pessoas, deu um pequeno passeio em algumas ruas do Stadtplatz. À noite foi realizada uma reunião dançante no Schützengesellshaft Blumenau. - Sociedade de Atiradores de Blumenau. Esta sociedade foi fundada em 2 de dezembro de 1859, no aniversário do Imperador do Brasil - D. Pedro II, sogro do visitante. Lembramos que a homenagem feita pela sociedade blumenauense ao Imperador do Brasil é algo cultural e inerente aos imigrantes alemães, que vinham de um sistema, cuja origem aconteceu no Feudalismo e naturalmente, nutriam respeito ao líder máximo dentro do sistema, o Imperador.
Antes de se iniciar o baile, que contava com o genro do Imperador do Brasil, nessa noite de dezembro de 1884, houve apresentações das sociedades de cantores Germânia e Urania, que executaram várias peças de seus repertórios. O baile foi noite adentro.
![]() |
Residência de Clasen próxima a Casa Salinger - Altona. |
Na manhã do dia seguinte foi organizado um passeio de carro de mola, do Hotel Schreep até a residência da família Clasen, localizada próxima à Casa Salinger, no bairro Altona. Na entrada de Altona, o
príncipe foi recebido por uma delegação de jovens a cavalo, moças e moços e recebeu flores do grupo. Este encontro deve ter acontecido próximo à cervejaria de Karl Rischbieter, que tinha se casado com uma moça da família Clasen.
![]() |
Cervejaria e residência de Karl Rischbieter, bairro de Altona. Próximo ao local onde o cortejo foi abordado pelo grupo de jovens. |
Na residência dos Clasen foram oferecidos bebidas lanches à comitiva. De acordo com o artigo do jornal, traduzido por Frederico Kilian e publicado na Revista Blumenau em Cadernos Tomo XVIII, janeiro de 1977, Nº1, o marido da Princesa Isabel do Brasil partiu contente de Altona. Ele e sua comitiva pretendiam viajar ainda nessa mesma tarde. Antes de seguir, o grupo visitou propriedade do primeiro cervejeiro de Blumenau, Heinrich Hosang, que aparentemente muito encantou ao príncipe.
![]() |
Cervejaria e Residência Hosang, na Rua São Paulo - ou estrada dos pioneiros rumo ao oeste do território do município. |
![]() |
Igreja do Espírito Santo, Stadtplatz. |
Família Hering em 1893. |
![]() |
Residência e Fábrica dos Irmãos Hering. Em frente, Karoline (Töllner) Müller na boleia da charrete. Nas janelas, Minna e Hermann Hering. |
Primeira máquina adquirida pelos Hering. Atualmente acervo do Museu Hering. Provavelmente esta máquina foi observado pelo Conde D'Eu em 1884. |
![]() |
Hospital Santo Antônio. |
Após o almoço, Joaquim Insley Pacheco, Gastão de Orleans - o Conde D'Eu retornou para a cidade portuária de Itajaí a bordo do Vapor Progresso, descendo as águas do rio Itajaí Açu.
Sua Alteza deixou em todos que com ele tiveram contato durante a sua visita aqui uma ótima impressão, conquistando desde logo o afeto e o respeito de todos eles. O príncipe mostrou-se de uma forma tão cordial e amável conseguindo de imediato captar os corações e a simpatia dos blumenauenses, e o fato de ter usado, em suas palestras com os alemães a língua materna destes despertou nos mesmos imensa alegria. "Blumenauer Zeitung", edição Nº 51 de 20 de Dezembro de 1884 - Traduzido por Frederico Kilian em 1977
Alguns blumenauenses acompanharam a visita ilustre até Itajaí. Antes de partir, Conde D'Eu entregou ainda à Câmara
Municipal uma quantia de 100$000 Rs. para fins sociais.
Um acidente durante o trajeto da volta do conde à cidade de Itajaí.
As primeiras décadas de história entre Itajaí e Blumenau foram marcadas por grande intercâmbio e colaboração mutua. Famílias residiam em Itajaí e em Blumenau. Pessoas de Blumenau trabalhavam no comércio de Itajaí e pessoas de Itajaí consultavam-se com médicos de Blumenau. O rio Itajaí Açu encurtava caminhos por meio do transporte fluvial.
![]() |
Vapor Blumenau I no Porto de Itajaí. |
Também no jornal Blumenauer Zeitung, edição Nº 51 de 20 de Dezembro de 1884 , além da notícia da visita do Conde D'Eu, havia a notícia de uma morte, indiretamente causada pelo evento.
Os responsáveis pela organização do Conde D'Eu em Itajaí, contrataram a banda de Blumenau de Herr Schneider, para na recepção do nobre. Três músicos da banda embarcaram em uma canoa e também rumaram para Itajaí, com um atraso. Perderam a saída do vapor para chegar à cidade portuária. Quando a embarcação se aproximou da Barra, o Vapor
"Progresso" já vinha subindo com o príncipe a bordo e as ondas produzidas pelo vapor provocaram a virada da canoa onde estavam os três músicos. Um músico de 17 anos, filho do mestre pedreiro Gauche, de Blumenau faleceu afogado. O fato foi testemunhado pelo Conde D'Eu, que segundo testemunhas disse ter sido esse fato o único ponto
negro de toda sua viagem até então. Lamentou.
Um Registro para a História
Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (X)
Referências
- Brasiliana Fotográfica. Conde D'Eu. Acervo IMS. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?tag=conde-deu . Acesso em: 23 de junho de 2025, 17h35.
- GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil. Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José : Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.) : il., retrs.
- SANTIAGO, Nelson Marcelo; PETRY, Sueli Maria Vanzuita; FERREIRA, Cristina. ACIB: 100 anos construindo Blumenau. Florianópolis: Expressão, 2001. 205 p, il.
- SILVA, José. História de Blumenau. 2. ed. Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. 299 p.
Nenhum comentário:
Postar um comentário