Europa - Revolução Industrial
Para melhor entendimento da produção social durante a formação dos núcleos urbanos no Vale do Itajaí até a implantação do transporte ferroviário - EFSC, sentimos a necessidade de efetuar uma investigação sobre as principais transformações tecnológicas, sociais e econômicas ocorridas a partir da revolução industrial, no contexto histórico europeu, no período que abrangia o século XVIII e início do século XIX.
Antes da chegada dos primeiro imigrantes no Vale do Itajaí, na metade do século XIX, praticamente inexistiam povoações, exceto propriedades isoladas de famílias oriundas do litoral da Província e de grupos indígenas nativos. Através da ocupação e a fundação dos primeiros núcleos urbanos pelos imigrantes alemães na região, houve uma prática da produção social semelhante àquela que vinha sendo feita em seus países de origem, na época, Prússia.
Relembrando que em pleno século XVIII, sob os questionamentos dos iluministas e o fortalecimento da pequena burguesia, a Europa entrou na era moderna.
Cidade Inglesa - Século XVIII |
Primeira Locomotiva a vapor - feita pelo inglês Richard Trevithick |
Quase no final do século XVIII, os industriais descobriram uma forma de fundir minério de ferro usando carvão mineral no lugar do carvão vegetal. Outros industriais utilizaram a energia a vapor para mover as máquinas que até então eram movidas manualmente, por tração animal ou por força dos ventos ou das águas. Estas novas tecnologias fizeram com que as pequenas oficinas inglesas dessem lugar a fábricas de produção em massa. A partir da segunda metade do século, através do aperfeiçoamento das máquinas, a utilização mais proveitosa da matéria prima e a adoção de novas tecnologias e processos industriais, iniciou um processo de rupturas e mudanças na produção social. Estas mudanças desencadearam a acumulação rápida de bens de capital, interferindo diretamente no espaço das cidades ocidentais, e nas suas relações sociais, bem como propiciaram a formação de novas cidades e o adensamento das cidades existentes.
Até este momento, não existia o Estado alemão (Para saber mais - Clicar sobre A Unificação da Alemanha ), mas um conjunto de estados e cidades.
Fisiocracia e Dr. Blumenau
François Quesnay |
Um dos precursores teóricos e responsáveis pelo ideário do capitalismo industrial no século XVIII, no que tange a economia, foi o francês François Quesnay, cuja teoria, teve grande influência no trabalho de Adam Smith sobre o liberalismo. Quesnay participava de um grupo que se auto-intitulava fisiocratas. Estes defendiam a teoria de que o processo de criação da riqueza era controlado por forças naturais e recomendavam que os produtos agrícolas e bens manufaturados tivessem permissão para circular livremente, sem a intervenção do Estado. Os fisiocratas afirmavam que a agricultura praticada dentro do regime feudal ou camponesa era ultrapassada, visto que os arrendatários capitalistas conseguiam maiores índices de produção. Para os fisiocratas, subentendia-se que o capitalismo buscava aumentar o excedente. Este excedente era uma característica típica do meio agrícola, ao contrário da cidade, que não havia excedentes. Visto que o excedente é parte da riqueza produzida que excede a cota consumida, ao longo do processo produtivo.
Blumenau - Acervo AHJFS |
Alto Vale - Interior da Colônia Blumenau - Fundação Cultural de Rio do Sul |
Esta nova maneira de perceber a produção teve grande influência no método de implantação das primeiras nucleações urbanas no Vale do Itajaí. Os primeiros imigrantes alemães que chegaram ao Vale do Itajaí tinham contato direto com a escola fisiocrática de François Quesnay cujo “processo de industrialização se desenvolvia aceleradamente e onde o capta industrial os havia expropriado, ou seja, eram as pessoas recentemente destituídas de seu meio de produção.”
Alguns historiadores locais e fontes empíricas comentam da proximidade do químico e doutor em filosofia, Sr. Hermann Bruno Otto Blumenau com as idéias fisiocratas.
Partindo-se do
princípio de que, do século XVIII em diante, as Doutrinas Econômicas começaram
a influir sobre o comportamento social dos grandes vultos históricos, teremos
que admitir que Hermann Blumenau, não podia ser uma exceção às regras.
Mas quais as
Doutrinas Econômicas que mais atraíram o Dr. Blumenau, na época, o Século XIX,
em que ele viveu?
Os precursores
das Doutrinas Econômicas foram os fisiocratas, em século antes, tendo como seu
grande animador, François Quesnay, médico e economista, aliás, ele um dos
médicos de Maria Antonieta, donde adveio o seu prestígio em toda a Europa.
Como economista,
o Dr. Quesnay, aplicou à circulação do sangue no organismo, a própria
circulação das riquezas dos povos, por isso que quando a circulação humana era
perfeita a saúde também o era.
Concluído que de
nada valeria produzir, se não se pudesse circular, perfeitamente, para os
centro consumidores as produções. Logo para os fisiocratas toda a saúde econômica
dos povos dependeria da perfeita circulação de suas riquezas econômicas.
O Dr. Quesnay
muito escreveu sobre os princípios fisiocráticos e acredito que Hermann
Blumenau, como filósofo, portanto homem culto, tenha lido e se influenciado
pelas doutrinas fisiocráticas, não só por seus conhecimentos filosóficos como
por seu espírito civilizador. (Nemézio
Heusi – Blumenau em Cadernos)
Blumenau - Virada do Século XIX para o XX |
A construção social do Vale do Itajaí, não teve “in loco”, nenhum processo econômico anterior ao capitalismo. Não houve, como sugerem alguns autores, o modo de produção feudal, anterior à revolução industrial. No projeto de ocupação do território, elaborado por Hermann Blumenau, estava explícito o modo de produção capitalista com influência da escola iluminista fisiocrática de Quesnay, através do desenvolvimento da agricultura cuja produção seria beneficiada industrialmente.
A colônia nasceu sob o empenho da
racionalização, sob a tutela do planejamento e com o requinte da capacidade
empresarial de muitos de seus administradores e componentes. Nasceu como
empresa agrícola com vistas ao desenvolvimento industrial. Nasceu impregnada
dos “novos tempos” que mal atingiam as áreas de onde proviam os colonos – a
revolução industrial. (LAGO, 1968) p 200.
Santa Catarina - Século XVIII
A dissertação histórica de Santa Catarina, durante o século XVIII, nos permite compreender o processo histórico da imigração no Vale do Itajaí, iniciado na metade do século XIX e todo o contexto existente no período, como também entender o processo de produção social, reflexo das mudanças que já vinham ocorrendo, há mais de um século nos países de origem destes imigrantes.
Os imigrantes trouxeram consigo, hábitos diferentes daqueles que já residiam nas povoações existentes no Estado de Santa Catarina, cuja origem predominante era açoriana - oriundo do arquipélago de Açores - Portugal.
Faz-se necessário a compreensão do processo de produção social, para entender a implantação ferroviária no Vale do Itajaí, que ocorreu somente 60 anos após a chegada dos primeiros imigrantes alemães no Vale e 160 anos após a chegada dos imigrantes açorianos no litoral.
Enquanto, em pleno século XVIII, ocorriam mudanças profundas na Europa, através de inúmeras revoluções dentro das áreas: econômica, social, política, cultural e principalmente tecnológica, Santa Catarina era um caminho que ligava as pastagens do Rio Grande do Sul ao planalto paulista e território das povoações de Laguna, de Nossa Senhora do Desterro, e São Francisco do Sul.
Sr. Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão |
A Província de Santa Catarina, na segunda metade do século XVIII tinha somente as três povoações litorâneas. D. Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão, morgado de Mateus, governador da Capitania de São Paulo, interessado na manutenção do domínio português sobre a região e o transporte das tropas de gado dos pampas para São Paulo encarregou Antônio Correa Pinto, um dos muitos tropeiros que passaram a usufruir o novo caminho, em 1766, de fundar uma povoação no sertão de Curitiba, num local de parada, chamada Lages. Ficou acertado que a futura vila se chamaria Vila Nova dos Prazeres. Foi o primeiro núcleo de povoação no interior do estado, sem comunicação com litoral, com precária ligação com Curitiba e São Paulo. Em seus campos, ocupados por uma população escassa, estabeleceu-se fazendas de gado.
A partir da fundação de Lages, mais tarde, a Câmara da Vila de Laguna determinou a abertura de uma estrada que ligava ao Planalto, que acompanhava o curso do rio Tubarão, hoje conhecida como Estrada do rio do Rastro.
Serra do Rio do Rastro |
Em 1726, o povoado de Nossa Senhora do Desterro foi elevado à vila. Em 1738 foi nomeado o governador Silva Paes, que chegou em N.S. do Desterro, em 1739, subordinado diretamente ao Império brasileiro. De 1748 até 1756, em torno de um século antes da vinda dos primeiros imigrantes alemães ao Vale do Itajaí, com o objetivo de fortalecer as povoações litorâneas, chegaram em Santa Catarina sucessivas levas de imigrantes do arquipélago de Açores. Em 1774, Laguna foi elevada a categoria de vila, passando a exercer o papel de posto avançado para a conquista das terras pertencentes ao Rio Grande do Sul atual.
Capital de Santa Catarina - Final do Século XVIII- Nossa Senhora do Desterro - Atual Florianópolis |
Em 1746, o rei de Portugal, D. João V, comunicou aos habitantes das ilhas dos Açores que a coroa oferecia uma série de vantagens aos casais ilhéus que resolvessem imigrar para o litoral do sul do Brasil. Foi distribuído um edital em todas as ilhas do arquipélago. O edital apresentava uma série de vantagens e esclarecia que o primeiro estabelecimento de casais açorianos seria feito na ilha de Santa Catarina e seus arredores.
Em menos de um ano, 7.817 pessoas declararam o desejo de se transferirem para o Brasil. No dia 9 de agosto de 1747, D. João V determinou ao brigadeiro José da Silva Paes, governador de Santa Catarina, que recebesse bem os novos colonos.
Santa Catarina recebeu 4.612 pessoas em 1748. 1.666 e, 1749, 860 e, 1750 e 679 e, 1753, como já mencionado, um século antes da chegada dos primeiro imigrantes alemães no Vale do Itajaí. Viviam da agricultura de subsistência a partir da fabricação da farinha de mandioca e da salga do peixe, também da pesca de baleias. Os açorianos instalaram no litoral catarinense, armações para pesca de baleia, monopólio da coroa concedido a comerciantes ligados ao reino português, privilégio extinto no inicio do século XIX, fazendo com que esta atividade entrasse em decadência.
Toda a capitania enfrentou na segunda metade do século XVIII, um período de estagnação em função do desempenho da agricultura e dos inúmeros conflitos e fornecimento de produtos às tropas. Através de relatos de viajantes que aportavam no litoral catarinense, constata-se que situação melhora um pouco no inicio do século XIX, meio século antes das fundações dos primeiros núcleos urbanos no Vale do Itajaí. Enquanto isto, na Europa, a revolução industrial chegava à Alemanha.
O Processo de Imigração e Povoação da Colônia Blumenau
Em Santa Catarina, a primeira presença dos imigrantes alemães é registrada a partir de 1829, na Colônia São Pedro de Alcântara, na região do Vale do Imaruí, em um grupo de 523 pessoas agrupadas em 146 famílias.
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Blumenau - do Stadtplatz ao Enxaimel
Hermann Bruno Otto Blumenau - De 1819 até 1846
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Na segunda metade do século XIX surgem várias colônias em Santa Catarina. No ano de 1847, 28 famílias imigrantes alemães se estabeleceram na região do Vale do Rio Cubatão, vindo a constituir a Colônia Santa Isabel (Atual Santo Amaro da Imperatriz). Mais tarde vieram outras famílias. Estrategicamente localizada no traçado da estrada Desterro-Lages, esta colônia fora criada para abastecer e atender os passantes que circulavam entre o Litoral e o Planalto.
No Vale do Itajaí, é registrada a presença do imigrante a partir do momento em que as leis provinciais estabelecem colônias nos rios Itajaí Grande e Mirim, bem como passam a permitir a colonização por empresa particular, companhia brasileira ou estrangeira.
Somente após a vigência da legislação provincial, famílias alemãs migraram da Colônia de São Pedro de Alcântara para o Vale do Itajaí e passaram a ocupar terras no Belchior, Poço Grande, Pocinho e adjacências do atual município de Gaspar.
O que motivou a imigração alemã para o Vale do Itajaí, além da industrialização dos países de origem, foi surgimento do capital industrial, a efetivação da Lei de terras de 1850, o ato da naturalização dos imigrantes alemães do povoamento de São Pedro de Alcântara em janeiro de 1850 e a abolição de escravatura no Brasil juntamente com a preocupação da manutenção de manter uma força de trabalho produtora.
A Lei de Terras foi regulamentada pelo Decreto 1.318 de 1854, acelerando o processo de povoamento na Província.
Casa provisória - Taipa |
O grande fluxo migratório que ocorreu no Brasil durante o período da década de cinqüenta e oitenta do século XIX, foi devido a fatores exógenos e endógenos. As principais causas foram: a nova ordem de divisão internacional do trabalho devido ao recuo do sistema escravagista imposto pelo governo inglês, que tinha seus interesses mercadológicos, e pela eclosão de vários acontecimentos, entre os quais, já analisada anteriormente, a expropriação do produtor rural dos países onde acontecia a Revolução industrial, no caso do Vale do Itajaí, na Alemanha.
Por volta de 1890 - Trabalhadores da indústria - Alemanha |
Mittefeld - 1860 |
Um dos principais motivos da imigração no Brasil, neste período, foi: a substituição da mão de obra escrava e o interesse do Estado em criar mecanismos para povoar o território e promover a exploração economicamente da terra, para movimentar a economia brasileira que se encontrava estagnada.
O governo brasileiro, para estimular a vinda dos imigrantes europeus, desenvolveu intensa campanha propagandista. Ao chegarem, a partir de 1824, encontraram um clima de incertezas e instabilidades. O Brasil vivenciava neste tempo, as dificuldades de um país recém-declarado independente, que buscava a sua consolidação política. O Imperador D. Pedro I precisava constituir um exército de soldados leais e disciplinados. A solução foi encontrada com a contratação de mercenários europeus, pois não podia confiar em uma guarda constituída por maioria de portugueses natos, no caso ilhéus da ilha de Açores.
Para saber mais - Clicar sobre: Por que o dia 25 de Julho é uma data importante
Sr. Johann Jacobs Sturz |
Era preciso colonizar áreas no Sul do Brasil, como também preencher os grandes vazios demográficos nas regiões de fronteiras, as quais assegurariam a manutenção da integridade geográfica do Império.
O Sr. Hermann Bruno Otto Blumenau conheceu a questão imigratória durante uma viagem que realizava a Londres, no final de 1843. Naquela oportunidade conheceu o cônsul-geral do Brasil na Prússia, Sr. Johann Jacobs Sturz, o qual lhe falara a respeito do Brasil.
O fundador da Colônia Blumenau esteve
pela primeira vez no Brasil em meados do século XIX (1846-1849). Veio para
conhecer e observar a realidade do Sul do país, levantou dados e diagnosticou
questões inerentes à colonização. Nesta ocasião, em nome da Sociedade de
Proteção aos Emigrados Alemães, visitou colônias no Rio Grande do Sul e Santa
Catarina. Nestas áreas de colonização germânica reconheceu o universo de
possibilidades apresentadas pelo Brasil bem como suas falhas.
Redigiu memorial ao Governo Imperial,
apresentou sugestões e aconselhamentos sobre a colonização. Das impressões da
viagem ao Brasil publicou um livreto intitulado "O Sul do Brasil em suas
referências à Emigração e Colonização Alemã". No prefácio da obra diz:
"... procurei apresentar as observações que pessoalmente realizei no Sul
do Brasil, elaborando meticulosas comparações, como também referências sobre a
legislação do país." (PETRY, 2004) Jornal Santa Catarina
Em 1848, comissionado pela Sociedade de Proteção aos Emigrantes, sediada em Berlim, então capital da Prússia, Sr. Hermann Otto Blumenau visitou o Brasil pela primeira vez, na cidade de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Neste mesmo ano, fundou uma empresa com Hackradt. Recebeu do Presidente da Província, de transação comercial, uma gleba de terra, primeira, de outras tantas adquiridas de terceiros, que veio somar ao território total da futura colônia.
Real Feitoria do Linho Cânhamo - Atual São Leopoldo Entre 1788 e 1824 - Local de Chegada dos primeiros imigrantes alemães - Berço da Colonização alemã no Brasil |
Os primeiro procedimentos da intenção da implantação do novo povoamento no Vale do Itajaí já estavam moldados dentro dos preceitos industriais. Os primeiros imigrantes 17 imigrantes eram, na maior parte dos casos, pessoas selecionadas nas cidades de Bremen e Hamburgo pela Sociedade de Proteção aos Emigrantes. Chegaram e instalarem-se às margens dos ribeirões da Velha e do Garcia. Entre os primeiros imigrantes estavam agrimensores, ferreiros, carpinteiros, marceneiros, pedreiros, um fabricante de cigarros e agricultores. Existia um cuidado para que o imigrante que viesse para a colônia tivesse o domínio sobre uma profissão. Em um primeiro momento, todos trabalhavam na agricultura.
Chegada dos primeiros 17 imigrante alemães, para fundar a Colônia Blumenau Fundação Cultural de Blumenau |
Sr. Blumenau propagava nos territórios germânicos, através de relatórios sobre os imigrantes, as vantagens da aquisição de um lote no Vale do Itajaí. Seu discurso de aliciamento de investidor destacava a “vida livre e próspera, liberdade de pensamento, aquisição de um lote.“ Situação em declínio na Europa industrial.
Como capitalista e investidor, Sr. Hermann Blumenau tomou empréstimos do Governo Imperial para reduzir débitos acumulados ao longo da implantação de seu projeto de colonização. Em troca do empréstimo cedido (contrato assinado em 1854) o governo brasileiro exigiu que 4.000 pessoas, em um espaço de 10 anos, fossem instaladas na Colônia Blumenau e fosse construída uma estrada, ligando Blumenau a Lages, e de Blumenau ao Porto de Itajaí. Esta ação mostra a intenção do Estado em promover a articulação das economias, do sul com o sudeste, pois se tratava do caminho das tropas, com clara intenção de ampliar o mercado local das colônias. Até então, não havia condições físico-geográficas de integrá-las no mercado nacional de exportação em função da precariedade das estradas e caminhos.
Sr. Hermann Blumenau não conseguiu cumprir o acordo, e no dia 13 de janeiro de 1860, o governo imperial, tomou, a seu encargo, a administração da Colônia Blumenau. Neste momento o fundador deixou de ser empresário e investidor e passou a exercer o papel de “funcionário público” remunerado pelo Estado.
O Governo Imperial brasileiro tinha interesse em promover o desenvolvimento na região sul, equiparado-a a desenvolvida região norte.
Pouco antes, desde 1860, a colônia Blumenau
(sobrenome de seu idealizador) fora comprada por 120 contos de réis e
apresentava um ritmo tão seguro de desenvolvimento, que, cerca de 92 fábricas
de diversas especificações; 27 mil cabeças de gado e uma exportação valorada em
130 contos constituíam elementos resultantes de sua dinâmica, segundo informes
de 1870. Nesta mesma data, no setor de transportes, a colônia Blumenau possuía
cerca de 30 quilômetros
de estrada de rodagem e a comunicabilidade pela artéria fluvial que culminava
no porto da sede se adicionava para assegurar a articulação dentro da colônia e
com outras áreas. (LAGO, 1968) p 104.
Mapa feito pelo Engenheiro Agrimensor Emil Odebrecht em 1870, responsável pela abertura de alguns caminhos que originaram algumas das mais importantes rodovias atuais no Estado de Santa Catarina |
O governo brasileiro continuou incentivando o programa da imigração com o intuito de aumentar a população local. O governo efetuou investimentos e apoiou o desenvolvimento dos meios de comunicações e melhorias das estradas da região, como também incentivou a expansão do mercado a nível local.
A chegada da nova década trouxe
diversas novidades para a colônia. A primeira foi e venda do empreendimento,
até então particular, para o Império, tornando-se Dr. Blumenau um Diretor
remunerado. (SANTIAGO, 2001) p. 18
Para gerar o desenvolvimento econômico da região foram adotados planos, entre estes, a efetivação de melhorias das redes viárias e meios de transportes, para viabilizar a circulação do excedente produzido para um mercado em franca expansão.
O Governo Imperial assistiu durante dez
anos as dificuldades pelas quais passava a formação de núcleo produtivo no Vale
do Itajaí. Findo este prazo e conhecendo, malgrado todas as dificuldades, a
tenacidade do imigrante e sua capacidade de produção, encampou o empreendimento
que, recebendo os recursos necessários, tornaria irreversível seus avanço.
Entretanto para, que o desenvolvimento não retrocedesse, duas variáveis aliadas
se impunham: aumentar a população seria a primeira, e esta induziria à divisão
social do trabalho, à diversificação dos bens e, por conseguinte, à expansão do
mercado. A segunda seria a extensão da rede viária, sobretudo a rede de
estradas ligando as aglomerações. O desenvolvimento destas variáveis acabaria
finalmente inserindo o sistema produtivo local ao contexto nacional, alguns
anos mais tarde. (VIDOR, 1995) p 30.
De acordo com LAGO, em 1870, chegaram à colônia de Blumenau mais de 6.000 imigrantes, naturais de Pomerânia. LAGO comenta ainda, que em 1860, o desenvolvimento da colônia é célere apresentando o seguinte quadro:
...a colônia de Blumenau
...apresentava um ritmo tão seguro de desenvolvimento, que cerca de 92 fábricas de diversas especificações; 27
mil cabeças de gado e uma exportação valorada em 130 contos constituíam
elementos resultantes de sua dinâmica, segundo informes de 1870. Nesta mesma
data, no setor de transportes, a colônia Blumenau possuía cerca de 30 quilômetros de
estrada de rodagem e a comunicabilidade pela artéria fluvial que culminava no
porto da sede se adicionava para assegurar a articulação dentro da colônia e
com outras áreas. (LAGO, 1968) p 105.
Relatos, redigidos pelo fundador, ilustram este momento do surgimento da Colônia Blumenau.
(...) Não sendo a colônia a meu cargo
sita nas imediações, nem na próxima vizinhança de um forte centro de população,
aonde os colonos, sempre e a bom preço possam vender algum repolho, hortaliça e
outro produto da pequena indústria rural, qualquer ovo e libra de manteiga,
queijo, etc e sendo aqui, por falta de boas comunicações, o preço do gado muito
alto, é bem difícil, o colono que chegou sem meios alguns por meio de laborioso
e econômico que seja, ganhar em salário, nas obras públicas e particulares, o
necessário para todos os arranjos de sua economia doméstica e rural de que
carece, como cavalos, vacas e porcos para criação, carros engenhos de farinha
de mandioca, açúcar ou araruta, com todos os pertences, ou ranchos espaçosos
para fumo, etc. e, ao mesmo tempo, alimentar e vestir numerosos filhos e
manda-los à escola.
Não era, porém conveniente o crédito
concedido a esmo entre alguns colonos mais favorecidos que o caso, nem sempre,
são os mais necessitados e merecedores, mas devia-se formar dele uma caixa de
crédito rural, como já identifiquei acima, e como tive a honra de apresentar à
consideração do Exmo. Sr. Ministro da Agricultura as bases de um regulamento
respectivo, que talvez mereça algum exame. Assim o crédito concedido se há de
conservar acaso de aumentar no decurso do tempo, entretanto que se pode
considerar como perdido e proporcionalmente pouco frutífero aquêle, de 16
contos, que foi concedido à colônia Dona Francisca.” Relatório do Dr. Blumenau – Colônia Blumenau
- Relatório do ano de 1862 - Blumenau em Cadernos – Tomo IX – Maio de 1968 –
No.5 Pg 97
Fundação Cultural de Blumenau |
Ao contrário das demais povoações em outras regiões da Província, na metade do século XIX, a divisão do trabalho fazia parte do processo local de povoamento no Vale do Itajaí depois de 1850. No Vale do Itajaí, a proletarização, era adotada aos moldes dos países de origem do imigrante.
Nos primeiros 50 anos da existência na colônia, pela insuficiência dos transportes que ligava ao resto do país, o mercado expandiu somente a nível local. Mas existia toda uma expectativa e movimentações para o desenvolvimento da economia deste mercado e ainda que precária, uma rede viária interna para estabelecer o comércio entre os povoados propiciando o desenvolvimento do mercado interno.
O processo capitalista no Vale do Itajaí teve início com a troca que os agricultores, muitas vezes chamados de maneira pejorativa de Colono, efetuavam de sua produção pelas mercadorias importantes, cujo monopólio era exercido pelos comerciantes, na maioria das vezes, de maneira desigual. O sistema de trocas vigentes, e que os agricultores se submetiam sob pena de não ter outra saída, os empobrecia, ao mesmo tempo, que burguesia acumulava vantagens mediante as transações. Este processo se estenderá a todas as regiões. As mais antigas adquirem um dinamismo interior que permitem a construção das primeiras indústrias, em torno de 1880.
Também lembrando, que aquele imigrante que não tivesse uma profissão que pudesse contribuir com o desenvolvimento da Colônia, recebia os lotes mais afastados da área central - Statdplatz.
Fundação Cultural de Rio do Sul |
A indústria rural doméstica foi a base da acumulação em um primeiro momento. Esta acumulação, obtida a partir da efetivação da força do trabalho e do sistema de troca simples baseada na produção agropecuária, fez surgir o capital local que será investido mais tarde na construção do parque fabril, iniciando então o processo de industrialização local e no estado, pois até então de acordo com LAGO, as limitadas disponibilidades de energia, carência técnica dos colonos descendentes dos açorianos, não disponibilizaram incrementos de atividades industriais importantes no estado, como as regiões colonizadas pelos imigrantes no Vale do Itajaí. Este florescer industrial foi responsável, como ocorreu na Europa industrial, no incremento e melhorias da estrutura dos meios de transportes na região.
As atividades econômicas nessas
“colônias” não se restringiram, mesmo nos primórdios, às operações estritamente
de uso da terra. Atividades de aproveitamento de produtos rurais, além de
outras, deram complexidade à dinâmica das “colônias” que foram se acrescentando
de diversificadas industrias rurais, ainda que muitos estabelecimentos não
tivessem ido além de uma economia de subsistência. (LAGO,1968) p 97.
Meios de Transportes
Fundação Cultural de Rio do Sul |
As melhorias nos meios de transportes, caminhos e estradas fazem parte de um processo do tipo de produção social que vinha ocorrendo na região do Vale do Itajaí, desde as fundações dos primeiros núcleos urbanos da Colônia Blumenau. Em um primeiro momento, foi necessária a abertura de caminhos, pela própria necessidade de penetração no território, depois as melhorias e ampliação da rede de caminhos e estradas, para o escoamento da produção excedente para outras regiões e até para outros países.
Na região, foi adotado, em menos de um século de história, os sistemas de transportes: fluvial, rodoviário e ferroviário.
Rio Itajaí Açu, no Alto Vale - Balsas Fundação Cultural de Rio do Sul |
Primeiro ônibus de Blumenau - Centro - Bairro (Itoupava Seca) Fundação Cultural de Rio do Sul |
Locomotiva Macuca, ajudando na construção da Ferrovia EFSC Fundação Cultural de Rio do Sul |
O rio Itajaí Açu foi importante para o deslocamento, como primeira via natural, na chegada dos primeiros imigrantes e após a chegada, para o escoamento complementando os vários tipos de transportes adotados, desde o rodoviário até o ferroviário.
Antes da fundação das colônias no Vale do Itajaí, praticamente inexistiam caminhos e estradas no interior da província de Santa Catarina, exceto o caminho das tropas que ligava Rio Grande do Sul a São Paulo.
A necessidade dos primeiros imigrantes de comunicação e circulação entre as colônias, de manter relações com o exterior, através da acessibilidade ao mar e o interesse do governo brasileiro em ampliar o mercado e desenvolver a economia no sul, viabilizando a ligação entre as colônias com outras regiões, fez com que se adotassem medidas para o desenvolvimento dos meios de transportes, ainda no século XIX, mesmo que fossem ações e intervenções de pequenas proporções.
Os rios que compõem a bacia do Itajaí
foram os principais meios de transporte, tanto para mercadorias como para a
população. Em 1878, vinte oito anos depois da Fundação de Blumenau, foi criada
a companhia de Navegação Fluvial Blumenau- Itajaí, cujo primeiro barco,
encomendado a estaleiros de Dresden, iniciou suas atividades no ano
seguinte.(VIDOR) p35.
A disseminação de “colônias” forçou a
rápida implantação de rodovias, a Expansão e a difusão das frentes de extração
vegetal” impuseram também a formação a formação de um rendilhado de estradas,
trilhas e caminhos. (LAGO, 1968) p 222.
Finalmente foi construída a estrada ligando Blumenau a Lages e Blumenau ao porto de Itajaí. Segundo relato de historiadores locais, a estrada que ligava Blumenau a Lages (Atual SC-470) foi terminada de forma precária 3 décadas após seu início.
Em 1895, começou a navegar no rio Itajaí Açu, utilizando a nova tecnologia à vapor, adotada nos países industrializados europeus, o vapor que fazia a linha Blumenau - Itajaí, sendo denominada Blumenau I. Outros vapores - o Jan (1889), o Catarina (1908) e o Richard Paul (1910), se juntaram à frota, à medida que o desenvolvimento da região exigia maior vazão no escoamento da produção. O vapor Progresso, que havia sido o primeiro a ser adquirido, foi desativado em 1912.
Em 1895, foi concluída a estrada que ligava Blumenau a Lontras e em 1900 a conclusão da estrada até Rio do Sul. A ligação da estrada até Joinville, na direção norte via Guaramirim foi concluída em 1897 e em 1912 a picada até Itajaí, que margeava o Rio Itajaí Açu foi adaptado ao uso de carroças.
O transporte ferroviário foi introduzido para complementar à navegação fluvial, através de uma tecnologia de contemporânea para a época, um ícone tecnológico do cenário industrial europeu. A Estrada de Ferro Santa Catarina, foi idealizada desde 1870 pelo Sr. Hermann Blumenau e pelo Eng. Emil Odebrecht, e foi iniciada em 1908 pela Sociedade Anônima Estrada de Ferro Santa Catarina, sob a denominação original de Santa Catarina Eisenbahn Gesellschaft S.A., com sede em Berlim, Alemanha. As duas primeiras locomotivas chegaram a Blumenau em 1907, pelo rio Itajaí Açu, no vapor Klobenz. A terceira locomotiva é a atual n°1 exposta em praça pública em Blumenau, conhecida como Macuca e a única que restou da EFSC.
Macuca |
No dia 3 de maio de 1909 foi inaugurado o trecho inicial de 30 km entre Blumenau a Warnow (Indaial). Em seguida, o leito se estendeu até Ascurra e em 1909 até Hansa (Atual Ibirama).
Inauguração do Primeiro Trecho Ferroviário da EFSC |
Em 1917, com a desculpa de adotar posições diferentes daquelas adotadas pelo estado alemão na primeira guerra mundial (Início 1914) e argumentar que o Vale do Itajaí tinha ligações políticas e econômicas com Alemanha, o Estado brasileiro caça a concessão e passa a administrar o patrimônio privado da ferrovia, através de uma junta militar brasileira. O Estado brasileiro passa a ter, então, o comando do rentável meio de transportes da produção do primeiro pólo industrial do Estado de Santa Catarina.
Em seus 20 anos iniciais de funcionamento, a Estrada de ferro Santa Catarina promoveu a ligação de Blumenau com outros núcleos coloniais, pertencentes ainda a Blumenau, mas isolados no grande território. Estes núcleos mais tarde deram origem aos muitos dos atuais municípios do Vale do Itajaí. Desde os primeiros tempos de funcionamento a Estrada de Ferro fez o transporte de pessoas e da produção, do alto, médio Vale do Itajaí, internamente e até o porto de Itajaí, através dos vapores que partiam de Blumenau. Além dos passageiros, eram transportados cimento, fécula, gado, madeira, areia, soda cáustica, correio e granito. Até a implantação ferroviária, o transporte e a comunicação entre os vários núcleos do grande município de Blumenau, eram feitos a pé, em lombo de mula, a cavalo, em carroças ou em carros de mola tracionados por animais e em embarcações diversas, fluviais e marítimas, movidas a ventos ou a força humana.
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Os cavalos foram muito usados e durante muito tempo, foi fundamental no transporte, fosse como montaria ou puxando um veículo. Os carros com tração animal viajavam em uma velocidade média de 12 km/h. A adoção do sistema ferroviário significava estabilidade no transporte, segurança e conforto. Durante as inundações da região do vale, a ferrovia era a única alternativa de ligação ao longo do vale, pois, foi construída, em toda sua extensão acima dos níveis de enchente.
O sistema ferroviário atendia de forma regular e a Estrada de Ferro Santa Catarina atendeu com eficiência a região do Vale do Itajaí, mas não permitiu a formação de uma rede ferroviária e rodoviária com outras linhas ferroviária e rodoviária no Estado, criando uma rede ferroviária e rodoviária estadual, com isto atendendo com mais eficiência e menos gastos o transporte de matéria prima, produção e passageiros, como ocorria em outras partes do Brasil e do mundo. Esta situação inquietava os produtores industriais capitalistas e governo brasileiro.
O Sr. Hermann Blumenau, em contato com estes procedimentos da produção industrial européia e mais a filosofia fisiocrática, desde o início, quando chegou a região, teve o plano de implantar uma ferrovia no Vale Itajaí. Vale lembrar que, muito antes da implantação ferroviária, o vapor já era usado nas embarcações fluviais, para o transporte no rio Itajaí Açu, escoando a produção até o porto de Itajaí.
A implantação da ferrovia tornou-se realidade através de uma sociedade com capital e tecnologia alemã: capital internacional. A Estrada de Ferro Santa Catarina (EFSC) foi, a única ferrovia brasileira construída (Blumenau - Hansa) com capital alemão. Sua construção teve início em 1908, através da Sociedade Anônima Estrada de Ferro Santa Catarina com sede em Berlim e seu Engenheiro-Chefe, Rudolf Krober era Tenente-Coronel da reserva do Batalhão Ferroviário da Baviera.
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Este sistema de transportes, contemporâneo à industrialização européia, foi muito importante para o fortalecimento do processo que se iniciara com o assentamento dos primeiros imigrantes no Vale do Itajaí. Processo que se solidificou com o apoio do governo brasileiro: o fortalecimento da produção do capital e a construção do espaço apropriado para o seu pleno desenvolvimento através do deslocamento do mesmo.
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Santa Catarina teve única ferrovia brasileira construída com capital alemão
Referências
CASCAES, Franklin (1981). Vida e Arte e a Colonização Açoriana. Entrevistas e Organização de Raimundo Caruso. Para Conhecer Santa Catarina. Ed UFSC. Florianópolis,.
INSTITUTO DE PESQUISAS E PLANEJAMENTO URBANO DE BLUMENAU – IPPUB/DEPTO DE PESQUISAS E INFORMAÇÕES (1995). Perfil do Município de Blumenau. Blumenau. Prefeitura Municipal de Blumenau
KIRLIAN, Frederico (1957). A Estrada de Ferro Santa Catarina. Blumenau em Cadernos, Tomo I, N_72. Blumenau.
SANTIAGO, Nelson Marcelo. Acib – 100 anos Construindo Blumenau. Blumenau Editora Expressão. Editora expressão.Blumenau 2001.
VIDOR, Vilmar (1995). Indústria e Urbanização no Nordeste de Santa Catarina. Blumenau. Editora da FURB
WITTMANN, Angelina (2001). A Estrada de Ferro no Vale do Itajaí – Resgate do Trecho Blumenau – Warnow. Blumenau. Edifurb.
Excelente documentário, muito bom conhecer a história de nossos antepassados, visualizei também a balsa que fazia o trajeto do rio Itajaí do oeste, onde quem fazia esta travessia era meu Pai.
ResponderExcluirQue bom que apreciou e pelo visto seu pai também fez parte do cenário desta história.
ExcluirAbraço grande e muito obrigada....