domingo, 17 de novembro de 2013

Josef Maximilian Deeke - José Deeke - Personalidade de Blumenau e região do Vale do Itajaí - Sobrinho de Heinrich Krohberger.

Josef Maximilian Deeke , personalidade histórica conhecida pelo nome de José Deeke, com sua família.

Carl Friedrich Ferdinand Georg August Deeke.
A família de José Deeke é natural da Alemanha Central. Seu pai, o pioneiro Carl Friedrich Ferdinand Georg August Deeke, nasceu em Bräunrode (Saxony-Anhalt), Alemanha. Sua mãe, Christiane Johanna (Kristl) Krohberger, nasceu em Bayreuth, a cidade do teatro de Wagner.
Christiane era irmã de Heinrich Krohberger, responsável pela iniciação profissional de Josef Maximilian Deeke, José Deeke, o caçula do casal.
Embora seus pais tenham viajado junto com o tio Krohberger, não foram residir no mesmo lugar: Friedrich Deeke foi morar em Brusque. Retornou a Blumenau dois anos depois para pedir a mão de Christiane Johanna Krohberger, e eles se casaram em 1860.
O casal residiu em Brusque até 1869, quando um incêndio — provocado por um tiro de pólvora usado para matar uma jacutinga que pousara na cobertura de palha de palmeira — destruiu completamente a atafona. Eles se mudaram para Blumenau, onde já moravam os irmãos de Kristl, incluindo Heinrich Krohberger.
Alguns filhos do casal nasceram em Brusque (Maria Giséla, Fides, Felix e Caetano), enquanto Friedrich (Fritz) e José (Josef Maximilian) Deeke nasceram em Blumenau. José Deeke nasceu na Colônia Blumenau em 1875, quando a colônia já existia há 15 anos. Ele foi criado e formado por seu tio Heinrich Krohberger.
Blumenau em 1869 - Meyer e Spierling.
O jovem Josef Maximilian Deeke aprendeu o ofício de agrimensor com seu tio, Heinrich Krohberger, na medição de terras dos lotes coloniais, no interior da Colônia. Em São Paulo, completou seus estudos com formação em cartografia, engenharia e matemática. Trabalhou como agrimensor independente no interior da província de Santa Catarina — em Curitibanos e Campos Novos — a partir da Capital, Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis).
Com 29 anos, viajou para a Europa em 1904. Neste mesmo ano, foi nomeado Engenheiro Chefe da Colonizadora Hanseática e, com 34 anos, foi nomeado Diretor, não somente desta colônia, mas também dos núcleos coloniais do Grupo Hammonia (pertencente ao atual município de Joinville), que são: Hansa Humboldt (atual Corupá), Itapocu e outro núcleo em São Bento do Sul.

O mapa acima alterado por nós é de sua autoria - ano de 1905. Josef Maximilian Deeke - Diretor das nucleações urbanas privadas pertencentes à firma Sociedade Colonizadora Hanseática, era nascido no Stadtplatz da Colônia Blumenau. Dirigia algumas das nucleações da Sociedade Colonizadora em território externo à grande Colônia Blumenau, bem como, também a colônia pertencente ao seu território - como, a Hammonia - atual Ibirama e que foi muito importante para a construção ferroviária na região - sendo a única construída com tecnologia e capital alemão em território brasileiro - as demais eram inglesas.


Família de imigrantes da Colônia Humbold - observar a edificação aos fundos, coberta com telhas de tabuinhas de madeira, construída em madeira, como também toda e edificação, com a característica varanda na parte frontal e com a presença do rancho aos fundos. Casa construída sobre pilaretes de pedra, como também eram construídas as edificações em enxaimel com fechamento feito de tijolos aparentes. Esta edificação, também pode ser uma edificação enxaimel, só que com fechamento feito com madeira. A pose dos membros da família, mesmo com aspectos e vestimentas muito simples apresentam uma certa postura - provavelmente trajando suas melhores vestimentas na época.

Colônia Hammonia.
A partir de 1909, Josef Maximilian Deeke iniciou seu trabalho como Diretor da nova Colônia Hammonia, bem como das outras três colônias mencionadas, permanecendo no cargo por 20 anos. Ele precisou deixar a função por motivos de saúde.
Assim, retornou para a sede da Colônia Blumenau aos 54 anos. Faleceu dois anos depois, aos 56 anos.
Em sua homenagem, uma conhecida via no bairro do Salto, que liga a Rua Bahia à Rua Benjamin Constant, recebeu seu nome: Rua José Deeke.
Colônia Hammonia.

Colônia Hammonia.

Companhia Colonizadora Hanseática

Para compreender a importância do trabalho de José Deeke nas colônias Blumenau, Dona Francisca, Itapocu, São Bento e Hammonia — e o impacto dessa atuação para o Vale do Itajaí e Vale do Itapocu —, é fundamental conhecer a história da Sociedade Colonizadora Hanseática, que muitos desconhecem.
A Sociedade Colonizadora Hanseática nomeou seu Engenheiro Chefe, José Deeke, como Diretor de quatro de suas colônias por mais de 20 anos. As colônias dirigidas por ele eram:
  1. Hansa Hammonia (atual Ibirama), cujo território pertencia à Colônia Blumenau;
  2. Colônia Hansa Humbold (atual Corupá);
  3. Hansa Itapocu (atual Jaraguá do Sul);
  4. Hansa São Bento (atual São Bento do Sul).
Muitos dos imigrantes que vieram para a região o fizeram por intermédio de sociedades ou companhias colonizadoras. Essas empresas se comprometiam, mediante contratos com o governo brasileiro, a assentar um determinado número de imigrantes em troca de uma gleba de terra e a dotar essas áreas dos serviços públicos necessários.
As companhias efetuavam investimentos em meios de transporte e nas obras iniciais de colonização, cedendo aos colonos terras e equipamentos gratuitamente ou pelo preço de custo. Além disso, empregavam agentes recrutadores, uma prática constante.
Gradativamente, a colônia em expansão se desenvolvia urbanisticamente, facilitando a atração de novos interessados, pois a terra se valorizava cada vez mais, gerando especulação. Por meio dessa valorização, o empreendedor recuperava o capital investido e obtinha lucro sobre as transações posteriores.
Por volta de 1895, uma das áreas mais valorizadas da bacia do Itajaí, banhada pelo Rio Hercílio, começou a ser colonizada por meio de concessão dada à Sociedade Colonizadora Hanseática. A companhia era sediada em Hamburgo, Alemanha (Norte da Alemanha, junto ao Mar Báltico).
Mapa no início do século - apresentando a Colônia Hansa Hammonia - Kolonie Hansa Hammonia, provavelmente um trabalho de José Deeke, pois ele faleceu em 1931.



A concessão era de 600 mil hectares e compreendia toda a área da bacia do
Rio Hercílio. Embora fosse munida de potencial geográfico, a área estava isolada da sede da Colônia Blumenau e, por conseguinte, do porto fluvial.
Em 1909, José Deeke assumiu a direção da colônia, conhecida como Colônia Hansa Hammonia. Ele mantinha ligações diretas com as lideranças do Stadtplatz (praça principal) da Colônia Blumenau e, simultaneamente, como mencionado, assumiu a direção de outras três colônias (conforme evidenciado no mapa desenhado por Deeke).
Família Deeke com o educador e pastor em Ibirama, Pastor Aldinger, em um evento.
Colônia Blumenau, 1864 – Desenho de Joseph Brüggmann. fonte: Fundação de Blumenau – Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.
Os primeiros caminhos eram carroçáveis.
Assim que começou a assentar os imigrantes em um dos pontos de convergência de grande número de imigrantes, bem como, a instalação da sede da colônia, percebeu-se a urgente necessidade de se construir uma ferrovia que ligasse a Colônia Hansa Hammonia à sede da Colônia Blumenau.
Na época em que os primeiros imigrantes se assentaram em Hansa Hammonia, os caminhos eram rudimentares e o acesso era limitado a Aquidaban (atual Apiúna).
Aproveitando essa dificuldade de acesso às terras da bacia do Rio Hercílio, a ACIB (Associação Comercial e Industrial de Blumenau) e a administração pública de Blumenau fizeram lobby junto à Sociedade Colonizadora Hanseática para que esta viabilizasse a implantação de uma linha férrea entre as duas colônias. E assim aconteceu.
Em 13 de abril de 1912, a nucleação urbana de Hansa Hammonia foi elevada a sede distrital, onde se localizava a administração da Colonizadora Hanseática. Isso ocorreu quatro anos após a inauguração do primeiro trecho ferroviário da EFSC, com a participação direta de seu Diretor, José Deeke.
Inauguração do Primeiro trecho da Ferrovia - Blumenau a Hammonia - Estação de Warnow - Indaial 3 de maio de 1909.
José Deeke foi casado com Emma Maria (Rischbieter)Deeke, com quem teve cinco filhos: Christiana Elisa, Raul Adolfo, Ilse Margarida, Hercílio Arthur Oscar (pai de Niels Deeke) e Victor Félix.
Sua contribuição para a História da região foi significativa, devido à sua vasta produção escrita. Uma de suas principais obras, e a mais conhecida, é o livro Die Kolonie Hammonia, que contém registros de dados históricos e estatísticos da Colônia Hammonia até 1922. Ele também é autor de Das Munizip Blumenau, publicado em 1917 pela editora Rotermund, de São Leopoldo (Rio Grande do Sul).
Artigo do Blumenau em Cadernos
Blumenau em Cadernos – Tomo XXII N° 7
"Julho de 1981
José Deeke - foi o diretor com residência na localidade que àquela época se chamava “ Hammonia” . (Este nome significa “ Hamburgo”, cidade e porto alemão, onde era situada a sede da “ Sociedade Colonizadora Hanseática”, fundadora e responsável pelas Colônias Hanseáticas – “ Hansa-Hammonia” (Ibirama), - “Hansa Humbolt” (Corupá), - “Itapocu” em Joinville e um núcleo colonial em São Bento do Sul. – “Hammonia” foi a denominação dada pelos invasores romanos no incio da era cristão, à mais importante das cidades hanseáticas da Alemanha)."  P 195 ... 
"Quando o pai de Hercílio demitiu-se, em 1928, de seu cargo de diretor das Colônias Hanseáticas” mudando-se , em 1929, para Blumenau, Hercílio passou a trabalhar, como auxiliar, no cartório de Registro de Imóveis da Comarca, a cargo de seu parente Roberto Baier.Após pouco tempo como cartorário, passou para o quadro de funcionários da antiga “Caixa agrícola” , abraçando, assim, o setor bancário, que ele não mais abandonaria. Transformando a “Caixa Agrícola” em “Banco de Indústria e Comércio de Blumenau”, ele chegou a ser gerente e posteriormente diretor do estabelecimento. Após a fusão deste empreendimento bancário com o “Banco Industria e Comércio de Santa Catarina e o posto de vice-presidente, em 1964." (P.196).
Grande Trabalho e José Deeke - Ano de 1900.
Complemento

Alguém nos perguntou sobre Aiga Deeke. Na verdade, o nome correto é Aiga (Deeke) Barreto.
Embora não seja nosso procedimento padrão, com o intuito de complementar as informações genealógicas da família desta importante personalidade histórica, apresentaremos a seguir a árvore de descendência de José Deeke.
José Deeke e Emma (Rischbieter) Deeke tiveram os seguintes cinco filhos:
  1. Christine Elise Deeke (1905–1985);
  2. Raul Adolfo Deeke (1907–1971);
  3. Ilse Margarida Deeke (1909– );
  4. Hercilio Arthur Oscar Deeke (1910–1977);
  5. Victor Félix Deeke (1911–1991).

1 - Christine Elise Deeke (1905–1985)
 
Christine casou-se com Edgar Barreto (1894–1967) em Blumenau, em 3 de maio de 1930. Eles foram pais de Aiga Deeke Barreto (nascida em 1º de março de 1931 e falecida em 14 de maio de 2016, em Blumenau).
Conhecemos Aiga Deeke Barreto. Ela foi uma das pessoas que nos disse, na época de nossa reunião sobre a Estrada de Ferro Santa Catarina: "A família Deeke é muito mais inteligente que a família Hering e dotada de muito mais cultura". Nossa impressão é de que Aiga foi uma mulher que viveu muito à frente de seu tempo e dotada de grande inteligência.
2 - Raul Adolfo Deeke (1907–1971)

Raul nasceu em 26 de maio de 1907, em Ibirama, onde seus pais trabalhavam. Faleceu em Blumenau em 18 de maio de 1971. De acordo com texto de Niels Deeke, seu primo, Raul estabeleceu-se em Blumenau com fábrica de máquinas, firma de representações, fábrica de tela de arame e oficina de tecelagem.
Raul Adolfo casou-se com Dorotéa Müller Leisner (1910–2007) em 12 de fevereiro de 1932 e tiveram uma filha, Marily Deeke, que nasceu em 30 de agosto de 1934. Foi comerciante em Blumenau, fundador do Kennel Clube de SC em 12 de abril de 1952, e também foi um dos fundadores do Rotary Clube de Blumenau.
Exerceu, pelo espaço de 27 anos, as funções de Gerente da Renner de Porto Alegre em Blumenau. Tendo ainda, após haver se aposentado por tempo de serviço, ocupado as funções de gerente de relações públicas da agência da Transportes Aéreos Cruzeiro do Sul em Blumenau. Exerceu ainda, durante alguns anos, enquanto seu estado de saúde permitiu, as funções de Inspetor das Centrais Elétricas de SC S/A – CELESC.
Raul Deeke foi o idealizador, o timoneiro e o grande responsável pela preservação do “Vapor Blumenau I” no seu tempo, impedindo que o mesmo fosse vendido como sucata pelo Ministério da Viação, fazendo com que o barco fosse doado à Prefeitura de Blumenau, a qual posteriormente o transferiu para o Kennel Clube de SC, do qual, na época, Raul era seu vice-presidente. Foi, enfim, o paladino dessa conquista, pois graças à sua perseverança, ao seu entusiasmo e trabalho incessante, o vapor foi preservado como um patrimônio. Faleceu em Blumenau aos 64 anos, em 18 de maio de 1971, e está sepultado no cemitério da Comunidade Evangélica Centro. Seu nome foi dado a uma das ruas de Blumenau.

3 - Ilse Margarida Deeke (1909– )

Ilse nasceu em Blumenau em 12 de junho de 1909. Casou-se com Werner Hans Beck em 12 de junho de 1934, na cidade de Blumenau, sendo que seu pai já era falecido. Ilse e Werner foram os pais de Joachim Beck (1942–2012).

 4 - Hercílio Arthur Oscar Deeke (1910–1977)

Hercílio nasceu em 15 de julho de 1910, em Ibirama, onde seus pais trabalhavam, e faleceu em 19 de setembro de 1977. Hercílio casou-se com Namy Grossenbacher em 18 de fevereiro de 1936, e o casal foi pai de Niels Deeke e de Vera Deeke.
Estudou a primeira parte de sua formação em sua cidade natal, Blumenau. Estudou o Secundário, na cidade de Blumenau, no Colégio Santo Antônio. A faculdade, no Rio de Janeiro — capital do Brasil —, onde se formou Contador.
Logo após a formatura, trabalhou na Caixa Agrícola de Blumenau (depois Banco Agrícola e Comercial de Blumenau, de 1930 a 1942), como Chefe de Seção, Sub-Contador, Contador e Diretor-Gerente.
Só para explicar um pouco sobre esta parte da História de Blumenau: o Banco Agrícola Comercial foi o embrião para a criação do primeiro Banco do Estado de Santa Catarina — a Caixa Econômica de Empréstimos. Surgiu em função da construção da ferrovia EFSC.
Em 1943, a Caixa Econômica de Empréstimos foi encampada pelo Banco Indústria e Comércio de Santa Catarina, e Hercílio Deeke continuou ocupando o cargo de Gerente da filial de Blumenau, depois como Diretor Adjunto (entre 1945 e 1963) e Diretor Presidente (a partir de 1963 até 1968), quando se aposentou.
Hercílio Deeke participou da Diretoria de A. Pátria Companhia Brasileira de Seguros Gerais. Foi Diretor-Presidente da Companhia Melhoramentos de Blumenau (De 1958 a 1965), no período em que esta empresa construiu o Grande Hotel, inaugurado em dezembro de 1962.
Hercílio Deeke foi militante e Presidente do Diretório Municipal de Blumenau da União Democrática Nacional (UDN) (1951/1952 e 1960/1961) e político atuante na cidade. Depois continuou filiado ao partido da Aliança Renovadora Nacional (ARENA).
Em 1947 foi eleito para uma vaga na Câmara de Vereadores de Blumenau (1947/1951) — seu primeiro cargo político. Depois foi eleito Prefeito Municipal, em 1951, com mandato até 1956. Antes de terminar o mandato, foi eleito para uma vaga na Câmara de Deputados (1955/1958). Licenciou-se do mandato em 1956, para ocupar o cargo de Secretário de Estado da Fazenda, de 1956 até 30 de junho de 1960. No ano seguinte, foi eleito para mais um mandato de Prefeito Municipal de Blumenau (1961/1966).
Suas atividades em grupos culturais e sociais foram igualmente intensas. Em 1956 foi Presidente da Comissão Central Executiva dos Festejos do Centenário de Blumenau. Durante muitos anos foi Presidente da Sociedade Amigos de Blumenau, a qual fundou no ano de 1951, para administrar o Patrimônio Histórico de Blumenau. Não compreendemos sua iniciativa em permitir a demolição do Hotel Holetz, mais ou menos neste período. Em 1972, esta sociedade foi "transformada" em "Fundação Casa Dr. Blumenau". Foi sócio-fundador do Rotary Clube Blumenau, no qual fez parte do quadro social de 1942 até 1955. Foi Membro do Conselho Deliberativo da TV Coligadas de Santa Catarina — a primeira Televisão do estado de Santa Catarina —, entre 1936 até 1954.
Durante sua administração, a cidade de Blumenau recebeu revitalizações no que tange aos espaços públicos a partir de obras urbanísticas de grande escala, como: a retificação e o calçamento da Rua 7 de Setembro, e a construção da Ponte Adolfo Konder. Como o pai, nutria grande amor pela cidade de Blumenau e por sua história, e era sempre acompanhado de muito perto por seu filho Niels Deeke, que sempre esteve ao seu lado, acompanhando-o desde garoto.
Muitos equipamentos urbanos e de infraestrutura em Blumenau e em outros municípios lhe renderam homenagens através do uso de seu nome, como, por exemplo: Ponte Hercílio Deeke (Gaspar) e E.E.B. Hercílio Deeke, Terminal Rodoviário de Passageiros Hercílio Deeke - Blumenau, entre outros.
Niels Deeke, seu filho, nutria grande carinho pela memória de seu pai e por toda a obra que deixou, bem como pela História de Blumenau.

5 - Victor Félix Deeke (1911–1991).
Victor nasceu em 8 de dezembro de 1911, em Ibirama, e faleceu em 7 de setembro de 1991, na cidade de Blumenau, sendo sepultado na cidade de Itajaí. Casou-se, em primeiras núpcias, com Maria Elsa Eberius (1913–1953) em 1º de fevereiro de 1936, na cidade de Blumenau. O casal foi pai de Günther Deeke. Em segundas núpcias, Victor casou-se com Ruth Yvonne Renaux (1927–2020), 16 anos mais jovem, em 29 de setembro de 1960, na cidade de Brusque. O casal teve duas filhas: Vania Deeke (nascida em São Paulo, 1961– ) e Ivana Vitória Deeke (nascida em Blumenau, 1966– ). Ivana casou-se com Fred Fuhrmann Filho em Blumenau, em 1986.
Victor exerceu atividades no comércio, em bancos e na indústria até 1941. Foi diretor de uma fábrica de papel em Itajaí de 1941 até 1958, e fundador de várias empresas. Desde 1951, foi vice-cônsul da Suécia em Itajaí.

Biografia feita por seu filho mais velho Günther Deeke
Por Günther Deeke

Victor Felix Deeke  nasceu no município de Ibirama no dia 08 de dezembro de 1911. Concluiu seus estudos no Colégio Santo Antônio – Blumenau, onde se formou em Técnica Contábil, um curso ao qual sempre atribuiu como sendo o sucesso de sua vida. Durante algum tempo prestou serviços no Banco Nacional do Comércio, mas logo sentiu que ali não prosperaria muito. Com 21 anos de idade, logo após o falecimento de seu pai, partiu sozinho para o então longínquo Estado do Rio de Janeiro, em busca de novos horizontes. Trabalhou durante seis (6) anos na Indústria ARP, inicialmente na cidade de Nova Friburgo onde se aprofundou com a produção de rendas e filó, e posteriormente no Rio, promovido a representante comercial da mesma. Lá, casou-se pela primeira vez (1936) com Elsa Deeke, filha de Walter e Luiza Ebérius.
Ainda estava na cidade maravilhosa, quando recebeu e um convite para retornar ao Estado de Santa Catarina, com o objetivo de assumir um posto elevado no (Banco) Caixa Agrícola de Blumenau, entidade financeira pertencente ao Grupo Hering. Quem lhe fez este convite, foi o industrial Curt Hering, líder da família Hering, num encontro havido entre ambos, em algum lugar qualquer da cidade carioca. Victor relutou em voltar, pois havia progredido muito profissional e financeiramente, vivia em excelentes condições de conforto em Copacabana, desfrutava de total confiança da família ARP, mas acabou cedendo às promessas de Curt, até porque, sentiu ser o momento certo para retornar ao estado natal.
Ao chegar a Santa Catarina, instalou-se provisoriamente em Blumenau, onde se familiarizou com as normas do Banco. Passados alguns meses, destinaram-lhe a responsabilidade da construção da sede da filial do Banco em Jaraguá do Sul – para, depois de concluída, assumir sua respectiva gerência. Residiu algum tempo em Jaraguá. Feito isso, a matriz de Blumenau confiou-lhe nova missão - na verdade, uma repetição da primeira, qual seja, a construção de outra filial do Banco em Mafra, a qual também foi erguida com rapidez e sucesso, e finalmente, foi transferido para a cidade de Joinville, para novamente construir a sede do Banco e posteriormente gerenciá-la. Nessa cidade, nasceu seu filho Günter.
Um ano depois, o Caixa Agrícola foi vendido ao então Banco INCO. Victor Deeke desligou-se do quadro de colaboradores, tendo como motivo principal de sua saída, o fato de seu irmão Hercílio também ser Gerente do Banco INCO, e as normas da época impediam a existência de parentesco em cargos de confiança, na mesma instituição financeira.
Em 1940, foi convidado novamente por Curt Hering, para assumir a direção da Cia. Fábrica de Papel Itajaí, localizada na Barra do Rio, a qual se encontrava em delicadíssima situação econômico-financeira. A família Hering (não sei como) detinha um grande lote de ações, mas, além de residirem em Blumenau, nenhum deles entendia das engrenagens do fabrico do papel. Eles sempre confiavam esta missão a terceiros, e o resultado foi horrível, sendo que no ano de 1940 aquela indústria estava à beira da falência, máquinas paradas, operários em greve.
Victor aceitou a missão. Viu-se diante de um enorme obstáculo! Foi nessa empreitada, à frente dessa indústria, que ele dedicou-se de corpo e alma, enfrentando os maiores desafios de sua vida. Mudou-se de Joinville para Itajaí, e nos anos seguintes, contando com o apoio de todos os colaboradores e acionistas da empresa, reergueu a indústria numa época difícil, devido ao racionamento de gasolina, o qual impossibilitava a busca de matéria prima em fabriquetas interioranas (celulose e pasta mecânica), por conseguinte, limitando deveras a produção do papel.
Diante de tal situação, e com o mundo em guerra, apostou no impossível e partiu em março de 1945 para os EUA, num voo que durou muitos dias, com o objetivo de encontrar, comprar, e finalmente, importar a tão importante celulose, matéria prima vital para a indústria papeleira. A viagem foi realizada com sucesso. Entretanto, ele não admitia de forma alguma a hipótese de importa-la e descarrega-la no porto de Santos, para depois trazê-la de caminhão até Itajaí, desde que, na década de 40, o nosso porto de Itajaí só recebia navios de médio porte, e com escalas esporádicas. Mas havia outro obstáculo: trazer apenas a celulose até Itajaí era quase inviável, porque tal frete não comportava a escala de um navio grande neste porto. Era preciso haver alguma carga de retorno para formar um volume compensador. Para tanto, antes dessa viagem, realizou uma reunião com os produtores de Fécula (Farinha de Mandioca), cujo produto poderia ser exportado aos EUA via porto de Itajaí, e já levou em mãos uma procuração dos feculeiros para garantir ao Armador, esta carga de retorno (Cia. Lorenz, Max Wirth, Cassava, e Geismar). Antes de partir, trocou ideias com os práticos Manoel Caetano Vieira e Manoel Isidoro, obtendo dados técnicos da entrada da barra e do canal de acesso. Desta forma, a viagem aos Estados Unidos foi coroada de pleno êxito, e no inicio de 1946, com a presença das autoridades de todo o estado, sob os aplausos de milhares de pessoas e ao som dos hinos da Banda Militar, adentrava no porto de Itajaí, o grande navio de longo curso M/V FENRIS, de bandeira sueca, com 120 metros de comprimento e capacidade para 4.000 tons, trazendo a tão esperada celulose. O porto de Itajaí estava aberto à navegação de longo curso!!
Ainda em Nova York, ao contratar com o representante do Armador sueco “Brodin Line” para trazer a matéria prima, Victor Deeke solicitou simultaneamente a permissão para agenciar os seus navios neste porto de Itajaí, tendo então fundado em 1º de outubro de 1945, a SAMARCO – Agência Marítima e Comercial Ltda., cuja empresa tornou-se uma das expoentes no ramo de agenciamento marítimo nos portos de Imbituba, Itajaí, São Francisco e Paranaguá.
A sucessiva importação da celulose através desses navios suecos, não prosseguiu por muito tempo, porque, com o final da guerra em maio de 1945, a preciosa gasolina voltou ao mercado e os caminhões da Papel Itajaí puderam trazer da serra catarinense, a celulose produzida por pequenas fabricas no planalto catarinense. Mas, paralelamente à testa da Cia. Fábrica de Papel Itajaí, Victor Deeke continuou impulsionando muito a Samarco, e esta, prosseguiu no desenvolvimento de agenciamento marítimo, conseguindo outras cargas, tanto na exportação como importação, e mais tarde sobressaiu-se na importação dos Jeep Willys, importados em caixas e montados numa linha de montagem improvisada, nas próprias instalações da Samarco, em Itajaí. Época áurea! (1951).
Com o fim da II Grande Guerra Mundial, Victor Deeke aumentou significativamente o patrimônio da Cia. Fábrica de Papel Itajaí, comprando sucessivamente as fábricas de Bacaina do Sul em 1946, Ituporanga em 1947, Perimbó em 1949, sendo que em 1951 iniciou a realização do seu grande sonho, que foi – na época, a construção da mais moderna fábrica de papel do mundo, denominada filial Canoas, hoje conhecida como Klabin – no município de Otacílio Costa.
A construção dessa fábrica que hoje lá está, desde a aquisição do maquinário na Alemanha em 1951, do transporte das máquinas ao Brasil, além do transporte rodoviário de Itajaí serra acima, até o seu funcionamento final que ocorreu em 1956, levou cinco anos de uma luta inglória, exigindo de todos aqueles que com ela colaboraram em sua construção, um esforço quase que sobre humano, tamanha as adversidades de toda sorte surgidas naqueles anos, e é uma história única, merecendo ser descrita em livro a parte. Na década de 1950, não existia no Estado de Santa Catarina, energia suficiente para gerar os enormes motores da fábrica nova. Então, além do maquinário importado da Voight na Alemanha, foi importada também, uma razoável usina hidroelétrica construída pela Siemens, a qual foi instalada embaixo do açude da filial de Perimbó (hoje Petrolândia), e essa energia gerada em Perimbó era transmitida a Canoas através de postes e fios pelo meio do mato, cruzando fazenda de jagunços, havendo 50 kms de distancia entre uma e outra, e somente este detalhe já pode dar uma ideia ao leitor, do tamanho da obra que foi a implantação desta unidade. (Estive em Otacílio Costa em julho do ano passado – 2013 – por ocasião dos 60 anos de atividade da Escola Elsa Deeke – nome dado pelo Governador Irineu Bornhausen em homenagem a minha mãe – ipso-facto- ao meu pai, por ter sido ele quem construiu a primeira escola, ainda de madeira e com 4 salas, afim de possibilitar os estudos básicos aos filhos dos operários. Os professores também eram mantidos pela fábrica, mas com licenciatura reconhecida pelo estado. Nessa visita, fui saber que ainda hoje, apesar da existência da portentosa Celesc, a Klabin ainda se utiliza em 50% da energia provinda da filial de Petrolândia).
1 Na foto da condecoração da Ordem da Vasa, isto foi precisamente em 1962, na nossa casa em Cabeçudas, então ele estaria com 51 anos. O Embaixador Jens Malling entregou a Ordem em nome do Rei da Suécia. Na foto aparecem meu pai, a esposa Ruth Deeke e o Embaixador. (Os embaixadores em geral, por si só, não podem condecorar um cônsul sem a anuência do Rei);
Com o incremento das escalas dos navios suecos, muitos problemas surgiram, e veio a necessidade urgente de se instalar um vice-consulado na região. Para tanto, Victor Deeke foi a pessoa escolhida para exercer o honroso cargo, cujo diploma foi assinado no ano de 1951 pelo Rei Gustavo Adolfo – da Suécia, em conjunto com o então Presidente Getúlio Vargas e o Governador Irineu Bornhausen. Durante 30 anos prestou relevantes serviços à coroa, sendo por três vezes condecorado pelo Rei da Suécia, sendo que duas delas, a Ordem de Vasa e da Estrela do Oriente, as mais importantes distinguidas a um Cônsul honorário.
Em 09 de setembro de 1952, numa das suas inúmeras viagens que empreendeu à Europa, com a finalidade de assistir aos estudos da construção das maquinas da fábrica Igáras, levou junto sua esposa – Elsa -, esta já bastante enferma, na esperança de encontrar soluções mais modernas para combater o câncer, mas ela não resistiu e faleceu no dia 07 de setembro de 1953, exatamente um ano depois, em Zurique (Suíça). Suas cinzas foram trazidas uma semana depois, e seu enterro ocorreu no Cemitério Municipal de Itajaí.
Como já dissemos a Cia. Fábrica de Papel Itajaí, compunha-se da Fábrica Matriz em Itajaí, e das filiais Bocaina, Perimbó, Ituporanga, e finalmente, a filial Canoas, situada hoje em Otacílio Costa, e que era a fábrica mais moderna do mundo após a guerra, pelo fato de ser “processo contínuo”, ou seja, entrava a tora de pinho por um lado e saía o papel pronto do outro, enquanto que as demais fábricas no resto do mundo, até aquele data, só produziam o papel à partir da celulose pronta.
Em outras palavras, as fábricas antigas precisavam de duas fábricas, uma para produzir a celulose e depois a outra, para produzir o papel.
Em 1958, uma dificuldade financeira ocorrida na época (devido a variação do dólar no custo da compra do maquinário), praticamente inviabilizou a manutenção da unidade Canoas. Seria muito difícil suportar a crise. Victor Deeke – àquela época, já era o segundo maior acionista individual da Cia. Fábrica de Papel Itajaí, e ocupava o cargo de Diretor Geral – com amplos poderes e assinatura isolada, mas o Grupo Hering insistiu na venda e Victor Deeke cedeu à pressão. Havia propostas de grupos nacionais nessa aquisição da unidade Canoas/Perimbó, porém, à preço de banana, mas o nosso personagem não se conformou com isso, e realizou mais duas viagens aos EUA e concluiu a venda ao grupo americano chamado Olin-Mathinsson, e que depois de realizada a transação, batizaram a nova filial brasileira de Olin-Kraft, e esta mesma fábrica mais tarde voltou as mãos de brasileiros, hoje pertencente ao grupo Klabin.
Algumas fotos de Canoas (ou Igaras) sob a neve, no ano de 1955. (Essa filial da Fábrica de Papel, tocada por ele em pessoa, inicialmente foi nominada de Canoas, devido ao Rio Canoas que a banhava. Posteriormente, meu pai rebatizou-a de Igaras, um nome indígena, talvez devido sua infância em Ibirama ao lado de Eduardo (o Katangara) e os índios Botocudos (Xoklens), porém, devido as chuvas e tempestades que atrasaram a conclusão da obra por quase um ano, um prejuízo monstruosos, meu pai ficou um tanto supersticioso e voltou a nominá-la de Canoas.)
Não obstante a venda das unidades Canoas e Perimbó (hoje Petrolandia) aos americanos, ainda continuavam “vivas” as fábricas de Itajaí, Bocainda e Ituporanga. Entretanto, já viúvo e um tanto desgostoso com a venda daquela que fora seu ideal, ele se desfez - no ano de 1958, de todas as suas ações da Cia. Fábrica de Papel Itajaí, e dela se desligou para sempre, entregando-a a seus sucessores, em excelentes condições econômico-financeiras, em virtude do produto da venda da filial da hoje Otacílio Costa, cuja negociação - na época, representou a maior soma de dólares até então estrada no Estado de Santa Catarina.
No mesmo ano de 1958, após o desligamento da Fabrica de Papel, Victor reassumiu pessoalmente o comando da SAMARCO – Agência Marítima e Comercial Ltda., empresa fundada por ele mesmo no dia 01º de outubro de 1945.
Na politica teve curta passagem e nem essa a sua praia. Admirador do Governador Nereu Ramos, com quem sempre manteve inúmeros diálogos em Palácio, em prol do desenvolvimento da indústria papeleira, fundou - à pedido deste, o primeiro Diretório Municipal do PSD em Itajaí, e foi o seu primeiro Presidente, mas desvencilhou-se dessa missão em curto espaço de tempo.
Em 1960, Victor casou-se pela 2ª vez, com a Dna. Ruth Yvonne Renaux Deeke, com a qual teve duas filhas, Vânia (1961) e Ivana Vitória (1968), esta última, gêmea, mas a outra faleceu alguns dias após o parto.
Esse Capitão de Indústria, empreendedor por excelência, ainda realizou outras obras de vulto, como por exemplo, importação de cimento em grande escala, importação de veículos Willys e Ford, serrarias e beneficiamento de madeira, armazéns e o primeiro porto privado em Itajaí, no entanto, impossível nos detalharmos sobre sua vida e obra, num resumo como este.
Victor Felix Deeke foi uma pessoa de personalidade forte e marcante. Muito decidido, esteve sempre atrelado a obras de vulto. De índole desenvolvimentista, era deveras arrojado, no entanto, jamais se deixou envolver pelo ímpeto da aventura. Seus projetos foram sempre sólidos e sérios. Seus feitos geraram riqueza, impostos e empregos; engrandeceu nossa cidade, nosso estado, quiçá, o Brasil. As adversidades surgidas ao longo da vida, foram vencidas com muito trabalho, muita coragem e muita firmeza. Nunca com retalhos ou sonegação. Sempre soube formar excelentes equipes de colaboradores, e deles se cercou ao longo dos anos e das etapas. Eram quase todos da cidade de Itajaí, deles nunca se esqueceu e à eles sempre lhes rendeu eterna gratidão.
Morreu na madrugada do dia 07 de setembro, na cidade de Blumenau, pouco antes de completar 80 anos, e foi sepultado na mesma tarde, no cemitério da Fazenda de Itajaí. (Faleceu na mesma data da morte da primeira esposa – 7 de setembro)


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Um registro para a História.
 
Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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10 comentários:

  1. Respostas
    1. A família Deeke, deixou um grande legado para o Estado de Santa Catarina.
      Abraços.

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  2. Não consigo encontrar o livro "Die Kolonie Hammonia", exisitiria uma versão em PDF para download?
    Estou traçando a árvore da minha família e parece que são citados no mesmo.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Eu vi internet para vender...É valioso igualmente no preço.

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  3. Olá Angelina, seguindo minha pesquisa sobre aquele morro no norte de Blumenau, me foi indicado procurar os mapas de Deeke e achei essa sua postagem. Esses mapas dele conseguisse acesso onde???

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    1. boa noite. tem um a venda no mercado livre,

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    2. Encontrei no arquivo histórico de Rio do Sul...

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    3. Realmente Francisco, fui procurar, esse mapa a venda inclusive aparece num dos posts da Angelina.

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    4. Eleonésio retirei cópia do arquivo histórico de Rio do Sul.

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