Próximo à estação de Salto Weissbach - Blumenau Fonte: Arquivo Histórico |
Pesquisamos sobre a ferrovia no Vale do Itajaí, implantada no ano de 1909 mediante a inauguração de seu primeiro trecho (Blumenau a Warnow)e erradicada em 1971, pesquisamos durante um recorte de tempo de 10 anos, para resultar neste trabalho - continuação de um primeiro trabalho sobre o mesmo tema.
Esta parte, nos agrada muito, porque nele, nos permitimos interferir na redação, ao contrário do resto da obra, onde nos limitamos a apresentar os fatos, alguns, quase incomentáveis, mediante as consequências negativas na história da região.
Esta parte, nos agrada muito, porque nele, nos permitimos interferir na redação, ao contrário do resto da obra, onde nos limitamos a apresentar os fatos, alguns, quase incomentáveis, mediante as consequências negativas na história da região.
Parte do livro:
WITTMANN, Angelina C. R., 1962 - A Ferrovia no Vale do Itajaí – Estrada de Ferro Santa Catarina. / Angelina Wittmann. Blumenau: Edifurb, 2010. 256 f. : il.
Texto presente na página 255 do livro
As ilustrações - especiais parte somente da postagem.
As ilustrações - especiais parte somente da postagem.
...A questão do transporte ferroviário é atual, e vem sendo apontada como uma das alternativas para a crise do transporte rodoviário no País. Portanto, o tema, de um patamar de compilação histórica, passa a ser importante base para a pesquisa e prévia avaliação das condições estruturadoras de futuras pesquisas e propostas de transporte que atendam à logística da região.
Sob um ponto de vista particular, a pesquisa foi envolvente e apaixonante, e poderá ter continuidade por meio do desenvolvimento de outros temas relacionados ao assunto. Alguns foram destacados no corpo do livro, em tom de desafio.
2009 - Viaduto Subida
Foto: Ivan Schultze
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Para a obtenção de maior número de dados para a pesquisa e maior legitimação de sua fundamentação, grande parte do antigo leito ferroviário da EFSC foi percorrida em três tempos distintos: outubro de 2007; janeiro de 2008 e março de 2009, no trecho entre Blumenau e Agrolândia; e em janeiro de 2010, de Blumenau a Itajaí. Este contato ampliou a compreensão do espaço e do processo histórico de implantação da ferrovia no sítio, facilitando a elaboração de algumas conclusões e a captação de imagens atualizadas do antigo trajeto.
Em ordem cronológica da pesquisa, surgiram questionamentos naturais que a compuseram. O primeiro: O que levou as lideranças do Vale do Itajaí, no início do século XX, a adotarem a ferrovia como meio de transporte, ícone da Revolução Industrial Europeia? Por que foi adotada a tecnologia ferroviária alemã, visto que todas as ferrovias nacionais eram construídas com tecnologia inglesa?
Foto do livro Capitulos da História de Rio de Sul Autores Rolf e Renate Odebrecht |
Pode-se afirmar que o plano de implantar a ferrovia na região do Vale do Itajaí chegou com os pioneiros europeus na metade do século XIX, os quais, então, haviam tido contato, em suas cidades de origem, com a revolução industrial e com o processo econômico capitalista que propiciou o início da era moderna. Foi adotada a tecnologia ferroviária alemã porque estes primeiros imigrantes, durante as primeiras décadas no Vale do Itajaí, mantinham estreitas ligações comerciais e laços afetivos e culturais com seu país de origem, independentemente da hegemonia da tecnologia ferroviária inglesa presente no mundo e em especial no Brasil, nessa época, conforme citado no corpo desta pesquisa. Este fato foi evidenciado quando da escolha do local de assentamento da sede da Colônia Blumenau, à chegada dos primeiros 17 imigrantes em 1850, indicado em um plano (mapa) marcando lotes coloniais nas proximidades da foz do ribeirão Garcia.
Mapa com lotes Coloniais da Colônia Blumenau em 1864
Foto (Modificada autora):
Original: Arquivo Histórico José Ferrei da Silva
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Mapa retirado do livro A Ferrovia no Vale do Itajaí |
Localização da parte navegável do Rio Itajaí Açu, dentro do Mapa da Bacia. Mapa retirado do livro A Ferrovia no Vale do Itajaí |
Caminhos das tropas - Mapa de Emil Odebrecht - 1870 Mapa retirado do livro A Ferrovia no Vale do Itajaí |
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Ponte Lauro Müller
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O segundo questionamento: O que, realmente, motivou o investimento de capital alemão e a adoção de tecnologia alemã em um meio de transporte no Vale do Itajaí, já idealizado anteriormente pelo fundador (Clica sobre) Hermann Blumenau, no século XIX, quando todas as ferrovias nacionais utilizavam equipamento ferroviário inglês?
É importante destacar que os imigrantes europeus nos primeiros tempos de povoação tinham mais ligações comerciais e sociais com o seu país de origem do que com qualquer outra região do Brasil. Não porque quisessem, mas porque a povoação e o assentamento de seus membros significavam uma concentração de problemas a serem resolvidos relacionados ao uso e ocupação do solo virgem, como, por exemplo, a construção de infraeestruturas compondo os espaços públicos de responsabilidade da administração pública estadual e nacional. Geralmente, estas primeiras nucleações urbanas eram assentadas de maneira isolada na mata virgem. Existia, ainda, a barreira da língua na comunicação.
Quanto ao investimento na construção da EFSC, além da razão cultural e comercial citada, outros fatores contribuíram para que ocorresse o investimento do capital alemão e a adoção da tecnologia alemã na construção de EFSC na região.
Na virada do século XIX para o século XX, o fortalecimento do partido republicano na região e no Brasil resultou em mudanças sociais e econômicas não somente no País como também, especificamente, na região do Vale do Itajaí. Entre elas, o aumento das transações comerciais de terras destinadas a imigrantes, por meio do incremento da concessão de terras na bacia do Itajaí-Açu a empresas colonizadoras, como a Colonizadora Hanseática (com sede em Hamburgo).
Colônia HAmmônia
Foto: Arquivo Histórico de Ibirama
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Leitura complementar - Clicar sobre: Colonizadora Hanseática
As colonizadoras, na época, faziam o papel do Estado no que tange a obras de infraestrutura primária, como a construção de pontes e estradas. As áreas comercializadas quase sempre eram grandes glebas praticamente desabitadas. Quando as empresas colonizadoras tomaram para si estas tarefas, isto não significava que estivessem interessadas em construir e promover a construção e organização espacial destes primeiros núcleos urbanos, mas sim, que vislumbravam o aumento de sua rentabilidade e negócios por meio do aumento das vendas de terras. Com a construção da infraestrutura básica as terras eram valorizadas, diante da possibilidade de ligações e comércio com outras regiões.
Em 1897, estando a negociação das terras da zona da bacia do Itajaí banhada pelo rio Hercílio a cargo da Colonizadora Hanseática, essa empresa foi abordada por lideranças políticas e econômicas locais e por investidores alemães ligados ao transporte fluvial e a bancos, para que investisse na construção de uma linha férrea ligando a região do Vale do Hercílio à sede da Colônia Blumenau. Esta obra representava, para a Colonizadora, um aumento de sua rentabilidade com base nas vendas, pois a região, apesar de se encontrar muito bem localizada em um vale com boas terras para a plantação, se encontrava isolada. Para os investidores de empresas de navegação alemãs, representava a perspectiva de explorar a navegação fluvial no rio Itajaí-Açu. Para os banqueiros alemães, a possibilidade de lucros certos, advindos dos juros sobre o capital aplicado, pois, aparentemente, o empreendimento apresentava vários pontos de negócio seguro. Para a região do Vale do Itajaí, por sua vez, representava a chance concreta do desenvolvimento econômico promovido pelo escoamento da produção regional para o porto marítimo. Diante dessa chance de materializar a construção da ferrovia, as lideranças já vislumbravam a possibilidade concreta de criar uma malha ferroviária na região, construindo a ferrovia até o extremo oeste do Estado.
Idealizadores da EFSC
Foto: Arquivo José Ferreira da Siva |
Estação Ferroviária de Hammônia
Fonte: Arquivo Histórico de Rio do Sul
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Travessia da Tropa em Nova Aliança - Atual Rio do Sul
Foto do livro
Original: Arquivo Histórico de Rio do Sul
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Outro questionamento: Quais foram os agentes e ações responsáveis pela desativação da ferrovia no Vale do Itajaí?
Pode-se afirmar que a desativação da EFSC foi resultado final de um processo criado por uma série de acontecimentos e iniciativas de ações do poder político e econômico nacional.
O Brasil, na ânsia de desenvolver a indústria no território nacional, na década de 1930, buscou solidificar e construir malhas ferroviárias criando caminhos de escoamentos interligados, e terminando, assim, com as ilhas de produção isoladas, como era o caso da região do Vale do Itajaí. A EFSC era um ramal pequeno, isolado. Durante o “Período Getulista” houve inúmeras iniciativas para promover o crescimento da indústria, com seu desenvolvimento voltado para o mercado interno, substituindo as importações. Com o nacionalismo latejante, o governo, nessa época, observava com cautela as regiões povoadas por imigrantes europeus, dificultando mais as ações de iniciativa local, e a região passava a receber produtos industrializados de outras regiões, como São Paulo, competindo diretamente com a indústria local. Daí em diante, a região deixou de ser uma ilha isolada, e passou igualmente a comercializar sua produção para esses mercados mais afastados, atendendo, desta forma, à vontade das novas lideranças nacionais, cuja meta era que a produção nacional chegasse a todas as regiões do território nacional, plano esse dificultado pela dimensão do território nacional.
Como a ferrovia apresentava limitações e não tinha penetração em todas as regiões, houve ações para a construção de rodovias e de ramais ferroviários regionais.
A abertura do País para o capital das multinacionais aconteceu no governo de Juscelino Kubitscheck, quando a desvantagem do modal ferroviário para o modal rodoviário aumentou. Os investidores internacionais e as lideranças locais vislumbravam, no automóvel, rapidez e mobilidade, e o escolheram como o meio de transporte adequado ao perfil dos novos tempos, sem qualquer reflexão sobre os conflitos de tráfego viário que surgiriam em longo prazo nos espaços das cidades. Também não houve uma reflexão quanto ao material e capital investidos nas ferrovias existentes. Muitos dos investidores eram representantes dos produtores de petróleo internacionais e indústrias automobilísticas que buscavam ampliar seu mercado de consumo no território brasileiro.
Diante desse contexto, a ideologia vigente no período propagava, com o aval do Estado, “inúmeras vantagens” do transporte feito por automóveis, quer seja no transporte público ou privado, em âmbito nacional.
Presidente do país era garoto propaganda da novo modal oficial |
O agente responsável pela decadência ferroviária na região e no Brasil foi a implantação, pelo Estado, de novas políticas econômicas que, sob o comando do capital internacional, adotaram o modal rodoviário como o meio de transporte dos novos tempos, não somente no Brasil, mas globalmente.
Revenda da caminhonetes na Frente da Estação Ferroviária de Blumenau - Negócio do Presidente da ACIB - na época
Foto Do livro
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Foto: Blog Estações Ferroviárias do Brasil |
Foto: Arquivo Histórico de Blumenau |
Navegabilidade do Rio Itajaí Açu nas proximidades da Ponte Ferroviária Aldo Pereira de Andrade.
Foto: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva
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