Em várias oportunidades estivemos no Vale do Itapocu, marcado pelo skyline das curvas das montanhas. Além de ministrarmos aulas, por durante dois anos, no curso de Arquitetura e Urbanismo - na região, nas quais observávamos os espaços públicos - construídos e naturais, a cidade chama a atenção por suas peculiaridades dentro da região e no Estado de Santa Catarina.
Turma de acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo - Muitos residentes na cidade de Jaraguá do Sul. |
Em agosto de 2016, mais uma vez, estivemos caminhando pelas ruas da cidade de Jaraguá do Sul. Observamos o acervo ferroviário existente na paisagem central - modal de outros tempos, não tão "longe" na escala histórica, como imaginamos.
Antes de comentarmos estes pontos focais da cidade, vamos conhecer, de maneira sintética, um pouco de sua história.
A sua origem tem ligação com com a história da cidade de Joinville. Em 1851, como parte do dote da Princesa Francisca de Bragança e do Príncipe de Joinville, ocorre o início da colonização das propriedades da Princesa, cujos limites era o lado esquerdo do rio Itapocu.
Francisca de Bragança, Princesa de Joinville, 1850, Winterhanter. |
Casal Jourdan |
No dia 17 de outubro de 1870, através da Lei Federal n° 1904, estas terras foram consideradas devolutas e foram demarcadas, em Santa Catarina. No ano de 1875, Emílio Carlos Jourdan, engenheiro agrimensor e Coronel honorário do Exército Brasileiro, foi convidado para fazer a medição e tombamento de 25 léguas quadradas no Vale do Itapocu e Rio Negro, assinando contrato em 21 de janeiro de 1876.
Emílio Carlos Jourdan nasceu no dia 19 de julho de 1838 e é considerado o fundador de Jaraguá do Sul. Nasceu nas proximidades de Namur - Bélgica e foi o Patrono da 3° Companhia de Engenharia de Combate Mecanizada do Exército Brasileiro.
Na mesma época, assinou instrumento particular de arrendamento de 430 hectares das terras, com a Princesa Isabel. Após sua chegada a Joinville, viaja para São Bento no dia 29 de fevereiro de 1876 e 49 dias depois, retorna a Joinville, encerrando a demarcação.
Louis Niemeyer – Fotógrafo alemão, registra a implantação da Colônia Dona Francisca, na província de Santa Catarina - atual cidade de Joinville. |
Jourdan passa a colonizar os lotes e com auxilio de 60 trabalhadores, inclusive escravos, que cultivam a cana-de-açúcar, constituindo-se ali um engenho de cana, serraria, olaria, engenho de fubá e mandioca. O Estabelecimento Jaraguá, em tupi-guarani - Senhor do Vale, ficava entre os rios Itapocu e Jaraguá e a região pertencia ao município de Paraty (Araquari). Em 17 de abril de 1883 foi anexada por Joinville. Diante da impossibilidade de reverter a situação, em 1888, Jourdan desistiu do empreendimento, depredado em 1893.
Proclamação da República. |
Com a Proclamação da República em 1889, as terras dotais passam para o domínio da União e, em 1893, para a jurisdição dos Estados. As terras devolutas na região, à margem direita do Rio Jaraguá, passam a ser colonizadas pelo Estado através do Departamento de Terras e Colonização, sediado em Blumenau, a partir de 1891: na região de Garibaldi e Jaraguá Alto, com imigrantes húngaros; na região do Rio da Luz e Rio Cerro com colonizadores alemães e neste último também com italianos.
Rio da Luz - Fonte: poracaso.com |
Rio da Luz - Fonte:www.sentidosul.com.br |
Após sua participação na Revolução de 1893 ao lado do Marechal Floriano Peixoto, (Um dos nomes da Proclamação da República do Brasil - permaneceu o tempo todo "em cima do muro") Emílio Carlos Jourdan retorna à região e solicita ao Governador do Estado de Santa Catarina, Hercílio Pedro da Luz, a concessão de 10.000 hectares de terras para a Colônia Jaraguá, o que ocorre em 15 de maio de 1895, com escritura lavrada em 4 de fevereiro de 1896. Devido a problemas de demarcação da concessão e desavenças políticas, Emílio Carlos Jourdan vendeu a concessão no dia 1° de julho de 1898, para Pecher e Cia e muda-se para o Rio de Janeiro - capital do país onde tinha o apoio político e boas relações dos e com os militares que aplicaram um golpe no Governo Imperial brasileiro sob denominação de República.
Joinville - 1902. |
Maximiliano Schubert -
nascido na província
da Saxônia, Alemanha,
em setembro de 1867.
Imigrou para Joinville,
em 1889, depois indo
residir em Itapocu.
|
Em 1896, um ano depois, a região volta a pertencer a Paraty. Houve movimentações, de ainda, formar um município com o nome de Glória, junto com Barra Velha.
Em 1897, foram realizadas consultas populares: Georg Czerniewicz e Roberto Buhler lideraram o grupo que defendia a emancipação; Rosemberg, Butschardt e Koch eram do grupo que queriam ser anexados a Joinville. Venceu o segundo grupo e Jaraguá passou a ser o 2.º Distrito de Joinville.
Para complementar - recomendamos a leitura da Postagem - Clicar sobre: História comum entre as Colônias Blumenau, Pommerroder, Itapocu, Humbold e São Bento - José Deeke
A ferrovia foi inaugurada no ano de 1910, um ano após a EFSC no Vale do Itajaí e contribuiu para o desenvolvimento da cidade a partir de questões sociais, econômicas e políticas.
Fotografia mostra o movimento na primeira estação. Foto: Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul. |
Provavelmente o seu desmembramento de Joinville teve o mesmo teor político dos muitos desmembramentos ocorrido na região do Vale do Itajaí - motivo político liderado por Getúlio Vargas e interventores do Governo do Estado de Santa Catarina, neste caso, Aristilianos Ramos, foi o personagem histórico.
Indicamos a leitura da postagem (Clicar sobre) Nacionalismo no Vale do Itajaí - a partir do Governo de Getúlio Vargas - para a compreensão de muita coisa, que ocorreu com a cultura dos fundadores destas, e de outras inúmeras cidades catarinenses colonizadas por imigrantes alemães e italianos.
Também sugerimos a leitura de (Clicar sobre) - Urbanismo - Parque da Malwee - A iniciativa de um cidadão
Outras leituras - (Clicar sobre): Sünnros Volkstanzgruppe
Estivemos, de maneira muito rápida, na tarde do dia 4 de agosto de 2016, na cidade de Jaraguá do Sul e percebemos "marcas" de uma cidade que adensou de maneira muito rápida - sem observar alguns critérios. Como acontece com todas as cidades que se tornaram médias/grandes nas últimas décadas, em nossa região. Percebemos alguns ícones na paisagem - pontos focais naturais, que se encontram dispersos no meio de "fragmentos de cidades" de alguns períodos de sua própria história, sem o devido "enviés" entre si e os "anexos" e intervenções.
Conhecemos um pouco de Jaraguá do Sul, através da percepção de nossos alunos de Planejamento Urbano, História da Arte e de Planejamento Regional - em sua análises urbanas/regionais.
As imagens comunicam...
Espaço da antiga Estação Ferroviária
Lado da plataforma de embarque e desembarque - presença das edificações dos funcionários da ferrovia ainda presente na paisagem - mesmo sem o uso da estrada de ferro - à esquerda. |
Segmento humanizado - Proximidades da antiga estação. |
Proximidades da antiga estação - Equipamentos urbanos - lembra o que se faz em cidades da Alemanha sem a presença de manutenção adequada. |
Antiga estação -Atual biblioteca Municipal. |
Residência dos funcionários da ferrovia. |
Bons equipamentos urbanos, com uma boa linguagem , espacialidade conjunto - porém sem a manutenção. |
Contrastes do crescimento desordenado. |
Nova Estação Ferroviária - Também sem uso para qual foi construída
Fundação Cultural de Jaraguá do Sul
Antiga Prefeitura
Igreja Matriz
Um momento em Jaraguá do Sul...
Estação ferroviária nova. |
Bicicletário. |
Semelhante aos que vimos na Alemanha. |
Equipamentos urbanos semelhante aos que vimos na Alemanha Materiais: metal, pedra, madeira e quando for possível: água. |
Resquício de um modal que complementava o modal rodoviário e talvez o cicloviário - Não mais presente na paisagem da cidade. |
Inauguração da Prefeitura e da praça Ângelo Piazera - 4 de outubro de 1941 (Foto: Acervo Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul/Divulgação). |
Igreja Matriz
Um momento em Jaraguá do Sul...
Olhando a cidade.
Que cidade deixaremos para as futuras gerações?
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