segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Arquitetura - Portão de Brandemburgo - Berlin - 225 Anos

Um dos pontos focais de Berlin e da Alemanha - o Portão de Brandemburgo - aniversaria no dia 6 de agosto. Em 2016 completou 225 anos. Foi inaugurado sem qualquer festa, no ano de 1791, quando foi liberado para o trânsito. O Monumento foi cenário de acontecimentos históricos - não somente do país, mas da Europa.

Sua história...

Em 1658, 10 anos após a Guerra de 30 anos, Berlin se desenvolveu como uma fortaleza, uma cidade murada e possuía 18 portões. 
Berlin - 1652
Berlin - 1688

Friedrich Wilhelm II
Na segunda metade do século XVIII, imitando a corte francesa, o rei prussiano  Friedrich Wilhelm II implantou um plano de Reurbanização semelhante àquele feito por Haussmann em Paris. Neste projeto foi idealizado um novo portão para Berlin - inspirado na entrada da Acrópole de Atenas. O portão seria para seu próprio uso.
O antigo Portão de Brandemburgo foi demolido em 1788, quando foi iniciado a construção do novo portão.
Antigo Portão de Brandemburgo






Carl Gotthard Langhans
O projeto proposto do novo Portão de Brandemburgo, seguiu a linguagem internacional - neoclássica. O projeto foi assinado pelo arquiteto Carl Gotthard Langhans. A proposta, como mencionada, foi inspirada na Acrópole de Atenas. Coincidentemente, no  século XVIII, Berlin se tornou o centro cultural da Europa e o portão ficou conhecido como "Atenas Spree".
Portão de Brandemburgo - 1791 - Período de sua ianuguração
Inspiração - Entrada da Acrópole - Grécia Clássica.






A Acrópole de Atenas - Propileus - cidade alta - localizada no ponto mais alto de Atenas, em uma coluna rochosa, era divinizada pelos gregos. Neste local não era construído apenas o Templo do Pártenon, como também outros monumentos representativos da arquitetura clássica e importantes na antiguidade, por suas celebrações. Existia o Propileus,  que era a entrada monumental do recinto sagrado dos santuários no alto  da Acrópole. Foi construído quando foi terminado o Pártenon de acordo com o projeto do arquiteto Mnésicles. Foram usadas colunas  dóricas no exterior e jônico no interior, compondo portas e pórticos, alguns com 15 metros de comprimentos e com escadarias usadas por pedestres e animais consagrados aos sacrifícios. Também passavam as procissões das Panateneias.
Acrópole de Atenas

Transposta a porta principal, depois de acendidos quatro degraus, penetrava-se no recinto sagrado, separado do mundo profano, por uma muralha, e tinha a visão com a serena e harmoniosa fachada do Pártenon. Em um dos lados do conjunto, ficava a Pinacoteca, além de salas não concluídas, mas com proposta de uso  para a residência dos sacerdotes e administração dos templos. Atenea Niké era a deusa alada da vitória. Próximo aos Propileus, foi construído um pequeno templo, em estilo jônico e anfiprostilo, ou de duas fachadas - projeto de Calicrate. O friso deste templo elegantemente decorado de baixos relevos revela o apuro da técnica, diferentemente  da simplicidade de execução das decorações do Pártenon. Representa combate entre gregos e persas. O Erecteion foi dedicado a Erectheuns, filhos de Hefaístos e rei mítico de Atenas, que instituiu o culto de Atenea e o festival das Panateneias, construindo  um templo para a deusa na AcrópoleGeograficamente a Acrópole se destaca na paisagem da Ática. É acessível a pé somente pelo oeste.
Prosseguindo...

A obra de construção do portão durou dois anos - de 1789 até 1791. 
Friedrich Wilheim II não se fez presente no dia de sua inauguração e também não festejou sua entrega. Foi liberado para o uso no dia 6 de agosto de 1791. O Portão foi adequado e construído   para o acesso direto e exclusivo do Imperador e de seus convidados ao Palácio Real, na Unter den Linden, ao Tiegarten - para seus jardins  na parte externa da cidade. 
Suas principais medidas: 
  • Altura: 26m;
  • Profundidade: 11m
  • Largura: 65m.
Sob o portal  há cinco passagens entre seis colunas dóricas.
Keiser Platz e o portão


Quando foi aberta ao público estavam faltando  as esculturas  de Johann Gottfried Schadow e a quadriga com a deusa grega da Paz
Quadriga
No ano de 1793, o portal recebeu a quadriga, idealizada por Johann Gottfried Schadow. Antes mesmo de iniciar a obra, o arquiteto, escultor e os herdeiros da fundição de Vicenz Jury, tinham a ideia definida. A curiosidade é que o carro de duas rodas puxado por quatro cavalos não era guiado pela deusa Ateneia Niké - deusa da  vitória, mas sim pela deusa da paz  - Eirene, mesmo sabendo que os gregos clássicos não tinham muito tempo e nem disposição para um período muito longo de paz. Eram naturalmente bélicos. O objetivo era comunicar que o Portão de Brandemburgo era o "Portão da Paz". Tiveram uma preocupação de símbolos e mesmo inspirando-se na Acrópole grega, modificaram seus signos.
O portão não permaneceu por muito pouco tempo como  "Portão da Paz" e foi transformado em um cenário de guerras. 
Em 1806, os prussianos foram vencidos pelas tropas de Napoleão Bonaparte e as tropas francesas  marcharam pelo Portão de Brandemburgo. Napoleão retirou a quadriga e a levou como troféu de guerra para sua capital - Paris. Ficou guardada e não  exposta, na capital francesa.
General Ernst von Pfuel
Mas isto durou pouco tempo.  Após 8 anos, em 1814, foi a vez da Prússia derrotar o exército de Napoleão Bonapart. Resgataram a quadriga, sob o comando do General Ernst von Pfuel, que conquistou o direito de passar pelo pórtico, regalia concedida  somente ao Imperador.
Quadriga







Neste momento, o arquiteto Karl Friedrich Schinkel reformulou o portal, transformando-o em uma espécie de Arco do Triunfo prussiano.  Resgataram a presença da deusa da Vitória Ateneia Niké, junto da águia prussiana e a cruz de ferro.
Em 1868, foi demolido o muro da  cidade (Lamentável) e o Portão  recebeu em suas extremidades, dois pequenos pavilhões sobre colunas, com a altura definida na metade da altura do portão, projetados por Johann Heinrich Stack.
Fonte: www.welt.de

O Partido Político Nacional-Socialista usou o Portão para propaganda política. Em 1933 festejaram a ascensão de seu líder. O plano era que se vencessem a 2° Guerra Mundial, tudo seria reformado com uma escala monumental. O portão seria poupado.
Após o término da 2° Guerra Mundial, o portão sofreu avarias e Berlin recebeu um grande número de refugiados das províncias orientais

Após a 2° Guerra Mundial
Os vencedores da guerra dividiram a cidade em  setores - para cada um dos grupos: Setores dos aliados ocidentais (Estados Unidos, Reino Unido e França) Dando origem a Berlin Ocidental, o Setor da União Soviética formava  a Berlin Oriental.
O  Portão de Brandemburgo ficou no território de Berlin Oriental. De 1945 até 1975 uma bandeira soviética tremulou na quadriga, dando lugar um tempo depois à bandeira da República Democrática Alemã. 
O que restou da Quadriga
Novamente troféu de Guerra
Do conjunto original, apenas a cabeça de um cavalo permanecia inteira, atualmente exposta no Märkischen Museum, em Berlin. Os dois lados da Berlin dividida pelo muro reconstruíram juntos o histórico portal. 
Ambos os lados da cidade de Berlin divida, acertaram dividir custos para restaurar o Portão de  Brandemburgo. 
O lado oriental assumiu a reforma do portão e o ocidental, refundiu a quadriga. Para isto, encontraram o molde original de gesso da quadriga, que foi reconstruída. 
Em julho de 1958 foi terminada a reforma. Nos dias 1° e 2  de agosto, a quadriga fundida em partes foi remontada na Praça Pariser Platz - lado oriental. À noite, a quadriga foi levada para Marstall - Berlin Ocidental e a águia prussiana e cruz de ferro prussiana - tidas como símbolo do militarismo alemão - foram retiradas.



Águia Prussiana e estrela de ferro prussiana



















































No dia 27 de setembro de 1958, sem os símbolos prussianos, a quadriga foi instalada no alto do Portão de Brandemburgo, mas não na sua posição original. Quase em uma atitude infantil, a quadriga foi colocada de tal maneira que a frente dos cavalos ficassem de frente para o lado oriental e os cascos dos cavalos em movimento, voltados para o lado ocidental. Foi motivo para discórdia, por algum tempo entre os dois lados da cidade de Berlin.
Cavalos de costas para a parte frontal do monumento - contrária à posição original

No dia 13 de agosto e também dia 14, aconteceu o fechamento de todas as fronteiras do setor soviético com o ocidente - a construção do Muro de Berlin. A área em torno do Portão de Brandemburgo foi isolada e a cidade dividida em duas. O local ficou bloqueado ao trânsito de veículos e pessoas por quase 30 anos. Berlin Ocidental não teve mais acesso ao Portão de Brandemburgo e então se transformou no espectro de uma Alemanha dividida.
1961 com a presença do Muro de Berlin


Mikhail Gorbachev
De repente, duas personalidades internacionais dariam o primeiro passo para grandes transformações na História da Europa e da Alemanha. No dia 12  de junho de 1987, Ronald Reagan - Presidente do Estados  Unidos, em visita a Berlin, envia um comunicado  a partir de seu discurso, ao Presidente da Russia - Mikhail Gorbachev: "Senhor Gorbachev, derrube esse muro!". Falou nos microfones, junto ao muro e seu pedido foi ouvido também na Berlin  Oriental.


















Já escrevemos sobre esta história - a queda do muro. Recomendamos a leitura - link no final da postagem.
No dia 9 para o dia 10 de novembro de 1989, pessoas, não acreditando, comemoravam a queda do muro de Berlin, que aconteceu quase de maneira acidental. O local escolhido pela maioria das pessoas que se encontravam em Berlin para festeja a queda do muro foi o Portão de Bandemburgo. 
De símbolo da divisão das duas Alemanha's, agora tornava-se o símbolo da unidade. 



Na festa de Réveillon, a quadriga foi danifica, e partes roubadas, talvez como souvenir, como aconteceu com o muro de Berlin durante e após a sua queda. 
Quando a quadriga foi concertada, recebeu, mais uma vez a águia prussiana e a cruz de ferro, ficando completa novamente como fora feita e idealizada originalmente.
O local - Monumento do Portão de Brandemburgo, como ponto focal da capital da Alemanha Unificada, é parada obrigatória de visitantes de todo o mundo, bem como local de comemorações oficiais, festa de virada de ano, concertos e manifestações. 
É um ponto de encontro e palco para todas as naturezas de reuniões. É a centralidade das centralidades da Alemanha e uma das principais da Europa.






Desde 1991, a águia e a cruz de ferro prussiana retornaram à quadriga, mas a posição dos cavalos permaneceu como fora colocada pelos russos.
Nas comemorações de 25 anos da queda do Muro de Berlin, em 9 de novembro de 1914, foi projetada em sua principal fachada, a palavra Frieden - paz - enfim - a paz. 
Após 225 anos, um dos locais mais importantes, não somente para a cidade de Berlin, mas para a Alemanha - o Portão de Brandemburgo - passou por períodos de Guerra e Paz. 
Traz em si, a partir de sua história, a esperança de um futuro pacífico.

Como diriam os  Irmãos Grimm: "Era uma vez..."...
E passa por momentos de "Final Feliz."

Explicando - A águia e a cruz de ferro prussiana na quadriga - Para muitos, podem ser algo incompreensível, a insistência de resgatar estes elementos e porque, por duas vezes, estes foram transformados em troféu de Guerra - cujo simbolismo é muito importante. 
É fácil. Estes elementos tem ligação com a identidade da cidade e pela importância desta, tem também ligação com a identidade do país. Não há "Empreendedor" que consiga comprar isto, onde exista o mínimo de consciência sobre a importância da identidade para as pessoas que vivem na cidade. 

Leituras Complementares - Clicar sobre o título escolhido:
O portão de Brandenburgo foi escolhido e recebeu cuidados, ao longo de sua conturbada história. Seu "chão" não foi comprado à "preço de ouro" e a partir do falso discurso de "geração de empregos" - sobre ele, não foram construídos shopping's ou arranhas céu. É um marco dentro da maior cidade da Alemanha por mais de 200 anos - faça guerra ou faça paz. Coisa muito difícil de ser compreendido em solo brasileiro, onde perdemos, paulatinamente, nossos Monumentos com auxílio do poder público, em detrimento do "gerar lucros", somente para alguns, que se apropriam de propriedades públicas, muitas vezes - históricas". 
















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