Joanna e Isabel Wittmann sob a árvore de natal. quando era comum, montar uma árvore de natal natural para comemorar os natais. |
A partir do passamento de Joanna Wittmann em 11 de setembro de 2020 em Blumenau e a manifestação espontânea de sua neta Isabel Wittmann (35 anos), residente em São Paulo, percebemos que durante um período muito pequeno de tempo, mudamos nossos hábitos e costumes, muitas vezes, com práticas, das quais não lembramos mais.
Este intervalo de tempo narrado por Isabel não dista 30 anos atrás e observamos, o quanto mudou a maneira de viver, na cidade de Blumenau.
Considerem a narrativa que descreve, predominantemente, com momentos vivenciados na década de 1990.Joanna Wittmann (*21/04/1926 +11/09/2020)
"Minha Oma tinha o olhar calmo e era muito paciente. Das coisas que mais me lembro da infância estão seu permanente sempre em dia e seus vestidos e saias retas com a combinação escapando por baixo, quando sentava.
Quando a gente ficava na casa dela, ela fazia sopa de moela com macarrãozinho pro almoço, sabendo que a gente gostava, e também pegava morangos e os picava ou, passava mussi no pão, cortando-o em quadradinhos, sem casca, pra gente comer. Uma mordomia que não existia em nenhum outro lugar do mundo. Quando a coisa ficava feia, desandava a falar em alemão com os outros adultos, pra gente não entender.
Sempre achei intrigantes os romances de banca que ela lia, todos impressos em letras góticas que me pareciam impossíveis de ler.
Eu lembro sempre do jardim impecável, com os canteiros de amor-perfeito e boca-de-leão (essas últimas eu brincava de apertar pra abrir a boquinha), as nêsperas que nós colhíamos e o pinheiro, que cortávamos todo ano para o Natal. Natal na casa da Oma tinha pinheiro com bolas de vidro muito antigas e muito fininhas e dava medo de encostar e elas quebrarem. E tinha aqueles grampos de metal com pequenas velas retorcidas presos nos galhos. Natal também tinha as bolachinhas que ela fazia, sempre muito bem decoradas com o glacê e o açúcar cristal.
O baleiro de vidro sempre cheio, ela nunca disse não, diante de um "Oma, pode pegar bala?". As almofadas e as toalhas de mesa bordadas de sua casa eram lindas e quando eu tinha uns 9 ou 10 anos pedi pra ela me ensinar. Ela passou uma lista de materiais e todo sábado de manhã meu pai me deixava lá para ela, pacientemente, me ensinar os principais pontos. Ela era rigorosa com o avesso perfeito. Eu nunca fui muito boa. Teve uma vez que eu fiz um quadrinho em ponto cruz, com modelo tirado de uma revista, de presente pra ela. Ficava pendurado do lado da janela, ali da mesa de jantar.
Mas, Oma, essa semana eu pensei muito na senhora e queria ter agradecido seu carinho e sua paciência. Eu bordo até hoje. Muita coisa eu não aprendi e queria ter aprendido. A Oma fazia o melhor sagu do mundo, sempre de frutas da época e tinha aquela conserva de chuchu nos vidros herméticos em cima do armário da cozinha.
A Oma também me dava lençóis ou fronhas avulsos de presente e, quando fui fazer faculdade, a solidão de outro cidade era quebrada pela sensação de que, no meio daquelas roupas de cama florais, eu estava em casa. Agradeci muitas vezes. Adorava tirar dela suas histórias de juventude, especialmente sobre cinema, e de como quando foi ver ...E o Vento Levou na matinê, um acontecimento. Ou sobre os filmes de Rodolfo Valentino.
Eu lembro sempre do sorriso dela. E teve aquela vez que ela me vestiu em seu vestido de noiva (uma coisa que ela nunca me viu fazer depois). Ateia que sou, levo comigo, pra onde for, a bíblia que me deu na minha 1ª comunhão, com a dedicatória em letrinhas bem desenhadas e um pouco tremidas.
Minha Oma sempre significou doçura pra mim. Foi muito difícil estar longe esses últimos 8 anos, com o pensamento sempre se voltando a ela, sempre com saudade. Micróbio maldito. Se não fosse a pandemia, eu tinha viagem planejada pra Santa Catarina em julho que passou. Eu sei que ela não saberia mais quem eu sou, mas mesmo assim. Eu poderia escrever e escrever muito mais, mas já estou soando desconexa.
94 anos, 3 filhos, 1 nora, 4 netos, 2 bisnetas. Te amo, Oma." Isabel
A Oma e a Isabel na 1ª Comunhão - Década de 1990. |
Natal na Casa da Oma e do Opa - 1995
O baleiro de vidro da Oma cheio de balas, na casa de Isabel Wittmann, São Paulo. A memória da casa da Oma permanece - 2024. |
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (X)
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