sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Réveillon - comemoração do Ano Novo 2022

Publicidade anunciando o cancelamento do Réveillon de São Paulo, entre outras medias anunciada na mesma matéria do Terra - momentos diferentes.
Estamos no último dia de um ano, novamente atípico. Poucos foram os que viveram intensamente, como ocorria em outras décadas, no entanto, ele está findando, para muitos, sem senti-lo e sem poder fazer planos exatos e seguros para o futuro,  como eram feitos com certa facilidade, também em décadas anteriores. Estamos adentrando em 2022, do século XXI, quase 1/4 deste século que vimos iniciar com muita festa, sem ter a mínima ideia sobre o que estaríamos vivendo neste tempo presente, no que tange, economia, política, aspecto social, cultural, em todos os lugares do planeta.
Está chegando o enigmático ano de 2022.  Será que vale ainda as práticas e sinônimos que colocávamos sob o significado de Réveillon? O Réveillon de festas e de muitos fogos, onde, até estes entraram para o rol do "Não pode"
Mudanças intensas e radicais impostas sob discursos inflamados em todas as estruturas (reestruturadas neste tempo) sociais, religiosas, políticas e econômicas. Quem não aprecia o embate, cala-se e se resigna.  O Universo do planeta terá que se reinventar a partir da poeira levantada.
Lembrávamos, em postagens anteriores, que o Reveillon - é a comemoração da transição - do encerramento do ano que finda e as boas vindas do ano que inicia - Ano Novo. Neste caso, o ano de 2022, sem fogos em muitas das cidades, onde isso era tradição. No oriente, tradição milenar. O ano de 2022, chegou e não percebemos como o tempo do ano de 2021, foi "usado" e nem onde terminou o "ciclo". A sensação é de que há uma continuidade incomoda.
Festejando o Ano Novo na Idade Média - Europa.
O termo Réveillon tem origem no verbo francês: Réveiller - despertar - acordar, "deixar de dormir". Do latim: velare - cuidar, velar, não dormir. O termo usado na França, é normalmente usado no período de natal. No Ano Novo, é usado a expressão: Réveillon de la Saint Sylvestre, pois dia 31 de dezembro é o dia de São Silvestre.
Réveillon - De uma maneira geral, no planeta, é a expressão usada para denominar as comemorações  para receber o Ano Novo, com ou sem fogos, lembrando o início de um novo ciclo. Aguardaremos as comemorações  Réveillon atual e colocaremos o registro no final desta postagem. 
Réveillon's de décadas passadas.
As festividades feitas até então, de comemoração da passagem do Ano Novo eram  muito antigas. O embrião destas, nasceu no seio do povo que inventou a escrita e a roda - berço da cultura ocidental: Mesopotâmia. Sua origem tem ligações com os rituais ligados à natureza, aos ciclos celestes e lunares e à agricultura. Ciclos - ligados a ideia do recomeço - como acontece, também nos dias atuais. Era o tempo que o homem se habituou a se relacionar com a natureza (religião antiga), para colher o que plantou e também, cuidar de seu rebanho e nascimentos novos dentro deste, observando as diferentes gestações.
Os primeiros registros desta comemoração na Mesopotâmia, são de 2000 AC. A festividade era conhecida como Festival de Ano Novo. Na Babilônia, iniciava no equinócio da primavera, como também, nas religiões antigas da Europa, onde este período sempre teve muita importância em todas as suas festividades. Sendo algumas adotadas, dentro do Cristianismo, como o Natal.
Jano
Os assírios, persas, fenícios e egípcios comemoravam o Ano Novo em 23 de setembro. Os gregos, celebravam, o início do novo ciclo entre os dias 21 ou 22 de dezembro - equinócio da primavera e data que depois deu origem ao Natal cristão, na Europa.
Os romanos, em 753 AC,  criaram uma data dentro de seu calendário,  para comemorar a grande festa de encerramento do ciclo anual e início de outro. Naquela época o Ano Novo iniciava no dia 1° de março. Depois, foi oficializado, através de um decreto do  Imperador Júlio Cesar, em 46 AC,  que o dia 1° de janeiro fosse o primeiro dia do Ano Novo.
Na época de Júlio Cesar, os romanos dedicavam este dia a Jano- deus dos portões. A sua dupla face simboliza o passado e o futuro - uma voltada para frente (futuro) e a outra para trás (passado). O deus Jano é o deus dos inícios, decisões e escolhas. Seu nome deu origem ao nome do mês - janeiro. 
Mosaico romano do século II -  Fonte: Ensinar História - Joelza Ester Domingues.

Rei Numa Pompilius
Antes do Império Romano tornar-se cristão, era politeísta - com a presença de vários deuses - herança oriunda dos mesopotâmicos. Os festejos de virada de ano era uma prática destes tempos entre esta cultura. Não se tinha notícia que o povo judeu e os cristãos, comemorassem esta data, naqueles tempos.
A ordem dos meses, dentro do calendário romano, tinha a sequência de janeiro a dezembro, como o é na atualidade. Era assim desde o Rei Numa Pompilius, cerca de 700AC, de acordo com Plutarco e Macrobius. Durante a idade média, vários outros dias foram considerado  primeiro dia do Ano Novo, entre diferentes povos. Como por exemplo: 1° de março, 25 de março, 1° de setembro, 25 de dezembro. Em vários países do ocidente, o dia 1° de janeiro é considerado feriado nacional. Em 1582, a Igreja Católica de Roma adotou o calendário gregoriano criado pelo Papa Gregório VIII e então ficou consolidado a data de 1° de janeiro, como o primeiro dia do Ano Novo.
Papa Gregório VIII.
Em 1755, por exemplo, a Inglaterra e todos os países sob seu domínio, ainda consideravam que o Ano Novo iniciava em 25 de março. Depois desta data, os ingleses adotaram, também, o dia 1° de janeiro com o primeiro dia do Ano Novo. Com a expansão da cultura ocidental e o desenvolvimento tecnológico nas comunicações, foi adotado o calendário gregoriano e o seu significado de Ano Novo com as respectivas comemorações - no dia 1° de janeiro, em quase todo o globo.
A data do dia 1° de janeiro não é comemorada em alguns países, como por exemplo: Israel, Japão, China e Índia. Na China a festa da passagem do ano é comemorada no final do mês de janeiro, com desfiles e show´s pirotécnicos - há milhares de anos. No Japão, o Ano Novo é comemorado nos três primeiros dias de janeiro. Os judeus comemoram o Ano Novo - o Rosh Hashaná - festa das trombetas - em setembro ou no início de outubro e dura dois dias. Os islâmicos celebram seu Ano Novo em meados de maio - corresponde ao aniversário da Hégira - emigração - cujo ano "zero" está relacionado com o ano 622, quando o Profeta Maomé deixou Meca e seguiu para Medina.
China.



Em alguns países da América Latina, a partir do enfoque cultural, existe uma leque de tradições e crenças em torno desta data, inclusive no Brasil. Algumas tradições mais comuns:

Cor da roupa
Yemanjá e Nossa Senhora - Sincretismo
Cor Branca  (mais comum)

No Brasil e em alguns outros países - é resultado da influência da cultura e mitologia africana (Yoruba) - Umbanda e CandombléNo Brasil, o hábito de festejar junto ao mar tem origem da homenagem a Yemanjá - orixá africana que tem ligação com a expressão yoruba Yéyé omo ejá - Mãe de todos os peixes. Yemanjá é filha de Olokun - Dono do mar e a orixá é considerada - Rainha das águas. Ficou popular no Brasil, a partir do Rio de Janeiro, cenário propagado pela televisão nacional, para todos os cantos do país. A celebração da virada de ano no Rio de Janeiro, com a presença de milhares de pessoas - quase sempre vestidas de branco, tem o tradicional banho de pipoca e o pulo de sete ondas -  maneira de pedir sorte à orixá. Estas práticas são propagadas e as pessoas repetem em grande parte do território nacional.
Geralmente as homenagens à orixá são feitas nas praias ou mesmo, dentro do mar, na virada do ano que termina para o Ano Novo, atualmente, não somente no Rio de Janeiro, mas na costa brasileira. 
Divulgação do sincretismo religioso e seus rituais, pela mídia.

Dentro da mitologia africana, crenças e tradições foram trazidas pelos africanos que eram comercializados na costa da África por seu próprio povo e trazidos cativos para o Brasil através de navios negreiros para trabalhar para os colonizadores portugueses, que exploravam o país nesta época. A cor branca fez e faz parte dos rituais da religião trazidos por este povo e está presente no Brasil, até os dias atuais. Atualmente, a religião dos descendentes daqueles africanos recebeu influência e foi um pouco modificada, devido o contato com o cristianismo português, que fez surgir o sincretismo religioso, presente no país. Atualmente, a cor branca nas roupas é usada, com o mesmo significado dos tempos passados, embora muitos desconheçam-no e também, sua origem histórica.
Lavando as escadarias da Igreja do Bonfim - Salvador

Sincretismo 

Continuando...
Não importa o Orixá e nem o Santo, cada Filho de Santo se veste de branco, quando presta uma homenagem ao Pai e aos Orixás. Contam, que uma entidade da Umbandaconhecida Caboclo das Sete Encruzilhadas, sugeriu que os médiuns, sacerdotes ou qualquer pessoa que participassem da sessão religiosa, vestissem roupas brancas.
A cor branca sempre foi usada, por representar a paz e a fraternidade
Também nas antigas ordens religiosas do Oriente, a cor branca significa elevada sabedoria e alto grau de espiritualidade. Na antiga Índia, os Magos Brancos utilizavam vestimentas brancas - eram assim chamados, por utilizarem sua magia para o bem. A cor branca também passa a sensação de limpeza, paz, harmonia, critérios observados para uniformes dos profissionais da área da saúde e do ensino. Sob o enfoque científico, pesquisa de Isaac Newton, constatou-se que a luz solar (branca), quando atravessa um prisma de cristal, desdobra-se nas cores do arco íris, concluindo que cor branca possui em si todas as demais cores.
Podemos concluir, que o costume de usar a cor branca  - no Brasil, durante as comemorações da virada de ano, tem origem no sincretismo religiosoa partir de duas culturas e atualmente está inserida na cultura do país e na religiosidade do país. Muitos participam das comemorações do Ano Novo, vestidos de branco, desconhecendo a origem e o significado do branco na indumentária.
Conhecer é preciso.

Prosseguindo...

Cor amarela - Uso recente e representa a prosperidade e riqueza material. Seu significado está  relacionado à cor amarela do metal - ouro.

Cor Verde - Uso recente e representa a natureza. Também tem relação com a prosperidade, através da renovação da esperança.

Cor Azul - Uso recente e representa bonança e prosperidade.

Cores escuras (marrom, preto, cinza) De acordo com os credos, devem ser evitados no Réveillon, pois podem atrair, tristezas e mau agouros.
Alimentos, que não podem estar na mesa das festividades do final do ano, de acordo com as tradições e superstições, no Brasil, são:

Aves (inclusive peru e chester): Dizem que a felicidade voará de sua casa junto como a ave. Também observam que "ciscam" para trás, isto pode significar  um "retrocesso" à vista.

Louro - Acreditam, igualmente, que o louro chama dinheiro. Dizem que se colocar uma folha do vegetal na carteira, pode funcionar. Também, como tempero das iguarias da ceia de Réveillon.
Romã
Romã - Acreditam pela grande produção de sementes da fruta, pode trazer felicidades. Alguns dão a seguinte dica; No primeiro dia do ano, colocar uma semente de romã, na primeira panela de arroz que cozinhar e uma semente na carteira, que deverá permanecer na mesma, durante todo ano até o próximo Réveillon, quando poderá ser substituída.

Existem outras tantas crenças e práticas, as quais não listaremos aqui. Quem se interessar, vale a pena uma pesquisa, a partir da Antropologia. Nossa intensão e objetivo é provocar a curiosidade e motivar a busca do conhecimento, desprovida de etnocentrismo. Sabemos que há muitas práticas ainda que variam de região para região, de país para país, praticadas neste período do ano. 
Quanto às boas expectativas para o Ano Novo, nós acreditamos que, a partir de cada ação"colhemos" as reações, boas e não tão boas. Se, não tão boas, observemos com atenção, pois pode tratar-se de "remédio amargo" útil na nossa jornada. Tudo realmente tem um sentido maior os momentos não tão bons, se observados,  podem ser que não sejam tão ruins, como percebemos.
Desejamos um ano melhor, lembrando estes dois últimos que passaram (2021 e 2022), sob os vários aspectos que envolve a estruturação social no mundo, dentro das famílias. Nestes dois últimos  anos, vimos muitas famílias se desestruturarem, como nunca antes. Que retorne a paz e a harmonia nas sociedades, entre os homens e nas famílias,  neste ano novo de 2022. 
O tempo é agora.
Que seja melhor do que foram os anos de 2020 e 2021! Que tenhamos saúde e que o Covid seja o grande derrotado deste novo ano de 2022.
Em muitos locais - sem fogos, sem Réveillon e sem pessoas.
Passaremos a virada do Ano Novo na praia de Gravatá - Navegantes SCDurante a passagem de ano, entre abraços e lembranças daqueles que não estão presentes, com votos de "um mundo melhor" a partir dos bons momentos, brindemos.
O Show pirotécnico - tradição que em muitos lugares, não acontecerá mais, é uma prática que teve origem no Oriente milenar. Vivemos e praticamos um conjunto de diferentes hábitos e costumes, repassadas, durantes muitos séculos, de pai para filho. Muitas vezes só repetimos, sem a consciência.  É importante conhecer para que não nos percamos da essência.
Prost Neujahr!
Feliz Ano Novo!






Glückliches Neuesjahr !! 
Feliz 2022!


Referências
  • Ensinar História. O dia de Ano Novo nem sempre foi 1º de Janeiro. 27 de dezembro de 2021. Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues. Disponível em: https://ensinarhistoria.com.br/ano-novo-1-janeiro/ . Acesso em: 24 de dezembro de 2021 - 21:45h.
  • História em Cartaz. HISTÓRIA | Celebrando o Ano Novo, no estilo medieval. Janeiro 01, 2018. Texto traduzido e adaptado do original Celebrating the New Year, Medieval Style de Sandra Alvarez. Site Medievalists.net. Disponível em: http://historiaemcartaz.blogspot.com/2018/01/historia-celebrando-o-ano-novo-no.html . Acesso em 29 de dezembro de 2021 - 22:05h.
  • Coleção Historia Em Revista Time Life Abril.
  • DAMASCENO, Tatiana Maria.  Nas Águas de Iemanja - um estudo das práticas performativas no candomblé e na festa à beira-mar. Rio de Janeiro. 2015. UNIRIO. Centro de Letras e Artes. Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Artes Cênicas do Centro de Letras e Artes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do grau de Doutora em Artes Cênicas. Linha de pesquisa: Estudos da Performance e Discursos da Imagem e do Corpo – PCI. Orientador: Prof. Dr. José Luiz Ligiéro Coelho











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