Stadtplatz da Colônia Blumenau, 8 anos antes do envio desta correspondência à capital da Província, assinada por Hermann Blumenau. A fotografia ilustra as primeiras edificações de Blumenau. Fonte Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. |
Apresentamos uma correspondência escrita a próprio punho pelo fundador da Colônia Blumenau em resposta à Presidência da Província de Santa Catarina, escrita em 25 de fevereiro de 1876. Dois anos antes da grande enchente de 1880.
Tais documentos foram encontrados por nós, no Setor de Documento Raros da Biblioteca Central da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, em 2015. Foram doados pela família Renaux de Brusque e por certo, pertenciam ao genro do pioneiro Johann Peter Wagner, Cônsul da Alemanha, Karl Christian Renaux.
Patriarca da família de Brusque que doou documentos históricos de Blumenau para o acervo da UFSC. |
Encontramos grande dificuldade em "traduzir" o teor de alguns deles, principalmente daqueles escritos por Hermann Blumenau.
Se alguém conseguir e desejar contribuir com este material histórico, complementando o conteúdo que está por trás dos “X”, agradecemos.
Na correspondência de fevereiro de 1876, Hermann Blumenau usa palavras pesadas e cobra atitudes, apresentando sugestões quase que exigindo que sejam colocadas em prática. Nesta correspondência é possível perceber o quanto Hermann Blumenau poderia ser duro em seus posicionamentos se assim o desejasse. São citadas autoridades da Corte, nomes como Buenos Agnes e Costa.
A impressão que temos é de que, Hermann Blumenau tentava evitar a chegada de mais migrantes internos à sua colônia sem o seu controle direto (nesse período já articulava junto à corte brasileira para tornar sua colônia em Município) e com isso, perder, de alguma maneira, o controle de sua colônia planejada. Nas missivas, cita Brusque, Angelina e Colônia Dona Francisca. Usa expressões como "vagabundos e criminosos" e cita a dificuldade de enviar a próxima correspondência por conta da mala do correio.
As palavras que não conseguimos decifrar, preenchemos com a letra "X". Esteja à vontade para contribuir, caro leitor e leitora.
O teor das missivas parece pesado - no caso, é possível lermos vagabundo incorrigível.
Transcrição da Correspondência de fevereiro de 1876
XXXXXXXXXXX, resposta ao offo. N° 17 de 25 de fevereiro de 1876.
XXXXXXXX chegarão já ao ponto de que não somente o subdelegado que differente vezes na alhudio e até reprovem XXX a conveniência, de se requisitar uma força armada de revoltados, mas não particularei, homens e mulheres, XXXXXXXX e choramingarão de que exponho eu minha vida e propriedade, não tinha o mesmo Direito e respeito de outros igualmente ameaçados no caso de uma revolta e reavaliando se há ameaça de assassinato, morte, incêndio e pilhagem, proferidos para diferentes italianos em diversos arraiaes. Conheço e cumpre provém meu dever e que tal requisição e força armada há de desprezar; tenho a XXXXXX são na Europa e no Brazil absurdas despesas; tenho é muita energia e coragem e procuro inspirál-os aos demais; mas marchando sobre um tremedal e tendo também, de cuidar dos interesses de outros. Va. Sra. me perdoará a pergunta, se, dando-me uma emergencia realmente grave, e mandando um respectivo telegrama a Vsa. Sra., poderei contar com que reclamação venha como uma razão como uma força armada?O que me parece certo e indubitável é, que, fixando as medidas ou soluções das colônias tratadas como indulgencia e benevolência, recebendo gratuito agasalho, sustento, XXXXXXX transporte para Rio Grande ou à Costa em lugar de serem tratados como segos e como incorrigíveis vagabundos, outras muitas quererão favores, estabelecem e ameaçam extorquir os mesmos favores, estabelecendo-se um afetivo êxodo aos XXXXXXX de revoltas XXXXXX obstare!!!! Tão pouco o Exmo. Sr. Ministro da Agricultura como o da Áustria na Corte e os Consulares deste Buenos Agnes até o Costa serão dificultados de tal êxodo, que até ao último causou e causa as mais XXXXXXXXXXX e mesmo desprezo. Por esta razão, é que preveni-los, já preparei uma circular a todos, as quais, juntarei um modelo de certificado para habilital-os a distinguir pelo menos as medidas e eliminar quem não pode ao que apresenta tal certificado, ou é criminoso ou é vagabundo incorrigível. Mas somente, com a próxima mala poderei expedir a Vsa. Sra. E secretarias d’Estado tal circular pondo anexo. Mandar para Brusque as sahidas d’aqui e reviversao, seria o meu modesto XXX e panorama da reivindicação em expediente pouco próprio; mas não seria possível mandar alguns para Angelina e outros, antevendo-se previamente com o direito, para Dona Francisca, raramente dando-se a ambos esta severidade para com tais sugeitos?H Blumenau
Nosso comentário: Será que Hermann Blumenau solicitava ao governo provincial e até nacional, que parasse de fornecer regalias e favores àqueles que chegavam à Colônia Blumenau de outros lugares? Pois isto, de acordo com seus argumentos, somente incentivaria que mais pessoas viessem atrás de facilidades? Ou será que isso estava minguando seu negócio de empresa agrícola e também, de seu negócio fundiário? Usou argumentos alarmistas.
Quando se diz que as pessoas foram colocadas aqui, isoladas e sem auxílio do governo, seria, de fato, verdade? Muitas das famílias se estabeleceram na região de Blumenau antes da chegada do fundador e forneceram todo apoio aos novos residentes. Pedro Wagner forneceu os primeiros mantimentos para que o sobrinho de Blumenau, Gärtner, montasse sua casa comercial. Cedeu-lhe 11 sacos de farinha, 3 barris de melado. Tiveram relações estreitas e trocavam visitas de maneira constante, para troca de experiências e também troca de mudas e sementes. A história formal não destaca muito estas relações, e outros. A família Wagner e vizinhos acompanharam a chegada ao local dos 17 imigrantes alemães de um montante de 250 que viriam para iniciar a colônia de Hermann Blumenau e lhes forneceram subsídios. Estas famílias já instaladas, eram famílias de êxodo interno dentro da Província de Santa Catarina, tais como Busch, Junkes, Müller, König, Uhlmann, Petry, Wagner, Schmidt, Lukas, Schneider, Kühnen, Momm, Sens, entre outras. Outras famílias, ainda, eram oriundas das fazendas de café do Sudeste brasileiro, os Kaffeepfklücker. A existência destes Kaffeepfklücker foi o motivo pelo qual Blumenau veio ao Brasil como fiscal do governo para checar a situação de seus patrícios, cujas notícias não eram nada boas, chegadas à Europa.
Imigrantes alemães trabalhando na fazenda de café. Fonte: Diário de Rio Claro SP. |
Muito curioso este ofício de Hermann Blumenau, no qual, solicitava o controle sobre o ir e vir das pessoas, mediante certificação, ao governo para definir quem poderia, ou não, entrar na Colônia Blumenau sob seu jugo e critérios.
Lembramos, também, da história do Dr. Fritz Müller, que "não leu na sua cartilha", e contra sua vontade, foi enviado para trabalhar em Nossa Senhora do Desterro e quando pôde, e foi possível, retornou ao seu Heimat, no Brasil onde foi sepultado, sendo que o outro, Hermann Blumenau, retornou à Alemanha ainda no século XIX, em 1884.
Para terminar, imaginamos que quando menciona a autoridade da Áustria, se reporta ao Império Austro-húngaro, cujo 1° Cônsul na Colônia Blumenau - Leopold Franz Hoeschl - demorou a ser reconhecido, pois respondia, na verdade, aos interesses dos trentinos, que faziam parte deste grande império, posteriormente, considerados "os italianos", pois parte de seu território foi encampado pela Itália, após a Primeira Guerra Guerra Mundial.
1° Cônsul do Império Austro-Húngaro na Colônia Blumenau Leopold Franz Hoeschl. |
Dois artigo publicados na revista Blumenau em Cadernos - 1977/1978, assinado por José E. Finardi, apresenta os nomes das primeiras famílias de imigração italiana na Colônia Blumenau, mais ou menos no período deste ofício formal de Hermann Blumenau. Fixaram-se em Rodeio e Região, parte do território da colônia privada de Blumenau.
Um Registro para a História.
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.Contatos:@angewittmann (Instagram)@AngelWittmann (Twitter)
Para ler mais sobre este assunto, clique em:
- Imigrantes alemães nas Fazendas de Café do Rio de Janeiro - São Paulo e depois - Santa Catarina - Século XIX - Kaffeepfklücker
- Hermann Bruno Otto Blumenau - Primeiro Negociante de Terras no Vale do Itajaí
- Fritz e Hermann - Dois Personagens da História de Santa Catarina
- Carl Franz Albert Hoepcke - Uma personalidade da História Catarinense
- Nome dos moradores da Colônia Blumenau - Ano 1857
- August Müller e seu Diário - Colônia Blumenau e a enchente de 1880
- Johann Peter Wagner / Pedro Wagner - O pioneiro
- Karl Christian Renaux e a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux S/A - Brusque SC
- Os Índios da Bacia do Itajaí - Relatório de Friedrich Deeke de 1877 - à Direção da Colônia Blumenau - Biografia do pioneiro da Família Deeke
- Leopold Franz Hoeschl - 1° Cônsul Honorário do Império Austro-Húngaro na Colônia Blumenau - 1ª Parte
- Residência da Família Blumenau - Texto da filha de Hermann Blumenau
- Documentos Históricos - Cartas
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