sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Qual a relação entre a Casa mais antiga do Vale do Itajaí e Johann Otto Rohkohl - Primeiro Diretor da ferrovia EFSC?

Foi a capa de nosso livro "Fachwerk - A Técnica Construtiva Enxaimel" e a personalidade histórica está nas páginas de nosso outro livro " A Ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina".






Buscado um tema inédito para
pesquisar e que tivesse relação com o Vale do Itajaí, encontramos esta pequena nota envolvendo uma das filhas do primeiro diretor da Estrada de Ferro Santa Catarina - EFSC Otto Rohkohl e a estação ferroviária de Blumenau, uma tipologia construída com estrutura enxaimel e talvez uma das mais significativas de seu tempo e dos demais, na região, demolida em 1974 para dar lugar à nova Prefeitura Municipal de Blumenau em alvenaria, com ripas coladas na fachada para dar a entender que se trata de enxaimel. Atualmente vem sendo construída uma réplica/cenário sobre uma praça pública nas proximidades desta mesma tipologia fake construída no terreno da antiga estação ferroviária de Blumenau.
Réplica fake da estação ferroviária de Blumenau construída sobre uma praça pública, no momento atual.
 Na pequena nota, a filha de Rohkohl desejava encantar uma das sacadas da histórica estação com uma trepadeira.
Ao tentar conhecer todas as questões desta pequena nota reencontramos fatos curiosos e interessantes que junto às novas informações encontradas compartilhamos na sequência. 
Quem foi Johann Otto Rohkohl? Quem foi sua filha? Onde residiam? E outras questões...
A anota da Revista Blumenau em Cadernos  publicada no ano de 1969, ano do falecimento de Otto Rohkohl.
Dama da Noite.
"A filha do primeiro diretor da E. de F. "Santa Catarina" contou-nos certa ocasião, que, desejando adornar a varanda da esta~]ao com uma bonita trepadeira, escreveu para a Alemanha, para um floricultor conhecido, pedindo-lhe que mandasse o que de melhor houvesse. Vieram as sementes que, germinando, foram tratadas com carinho. quando começaram a florescer, qual foi o espanto da senhora ao constatar que a trepadeira, cuidada com tanto esmero, era uma das plantas mais comuns à margem do rio Itajaí, onde crescia em estado silvestre. No próprio barranco onde ficava atrás da estação havia-as em grande abundância, perfumando o ambiente com suas grandes flores brancas que desabrochavam a noite e se mantinham abertas até o sol se levantar no horizonte."
Como mencionado, concluímos que esta nota  da Revista Blumenau em Cadernos publicada em julho de 1969 menciona a filha mais velha de Otto Rohkohl - Renate Luise Rohkohl, o primeiro Diretor da Estrada de Ferro Santa Catarina - EFSC, integrante da equipe técnica responsável pela construção  da ferrovia, como Diretor Comercial e também, Cônsul Honorário da Alemanha em Blumenau - durante mais de 25 anos. 
Equipe de execução e projeto da EFSC, 1907 - do livro A Ferrovia no Vale do Itajaí Estrada de Ferro Santa Catarina- Edifurb, 2010.
Clicar sobre o livro - para ler.
Johann Otto Rohkohl veio para a região, primeiramente, para contribuir, através de seu trabalho e formação técnica,  com a equipe alemã que construiu a única ferrovia com tecnologia e capital alemão, no Brasil, e sua história seguinte.
Chamarmo-nos Rohkohl (que traduzido para  português - significa "repolho cru") como era conhecido na região: ou de Otto Rohkohl, que foi um engenheiro alemão, nascido  em Liegnitz, Liegnitz, Liegnitz, Schlesien, estado da  Prússia, Alemanha, em  21 de janeiro de 1881.  

O lugar onde nasceu Rohkohl
Liegnitz era uma região administrativa na província prussiana da Silésia e mais tarde, na Baixa Silésia. Existiu entre 1815 a 1945 e cobriu a parte noroeste da Silésia. A cidade atual está a sudoeste da Polônia e  foi mencionada, pela primeira vez, em crônicas datadas do ano de 1004, portanto, mais de 500 anos após a descoberta do Brasil. O nome foi mencionado também, em 1149 sob o comando do Alto Duque da Polônia Bolesław IV, o Encaracolado. Legnica era provavelmente a sede de Bolesław e tornou-se a residência dos altos duques que governaram o Ducado de Legnica de 1248 a 1675. É uma cidade sobre a qual a dinastia Piast, que reinou por mais tempo, permaneceu cerca de 700 anos. 
Os pais de Otto Rohkohl foram Hermann Rohkohl e Karolina Patzschke.
Rohkohl estudou na autarquia das Estradas de Ferro da Prússia, onde colou grau de engenheiro. De 1905 a 1907, um pouco antes de vir para Blumenau, trabalhou na administração da estrada de ferro “Otavibahn”, na África. Ainda em 1907, mudou-se para Blumenau integrando a equipe técnica de construção da EFSC. Mais tarde, após sua transferência da Empresa Força e Luz Santa Catarina, de São Paulo para Blumenau, foi eleito primeiro diretor-gerente da firma. 
Na fotografia, Rohkohl na companhia de suas duas filhas. Uma de suas filhas, Elise Sigrid faleceu e foi sepultada na Alemanha, junto de sua mãe Edith Anna Schwarzer.

Rohkohl se casou em 27 de novembro de 1909 com uma blumenauense. Conta um pesquisador da estrada de ferro da região -- EFSC - que os jovens da equipe técnica alemã de sua construção, causavam alvoroço entre as moças solteiras da região e pelo que soubemos Rohkohl não foi o único a se casar em Blumenau. Chegaram solteiros e saíram casados.
Otto Rohkohl não migrou imediatamente para o Brasil. Fazia parte da equipe técnica que construiu a ferrovia EFSC, cujo primeiro trecho foi inaugurado em 3 de maio de 1909 e em  27 de novembro deste mesmo ano, estava casado com  Edith Anna Schwarzer (1887–1945 - faleceu na Alemanha 4 dias após o final segunda guerra mundial, em 6 de setembro.) Como morreu? Seria vítima de algum bombardeio?  A primeira filha do casal, Renate Luise Rohkohl nasceu no ano seguinte do casamento, em 29 de agosto de 1910 (+1997 em Blumenau). A segunda filha,  Elise Sigrid Rohkohl  nasceu 6 anos depois, em  9 de maio de 1916 e também faleceu na Alemanha. Não há informações, ainda, se nasceu naquele país, pois seus pais mudaram-se para lá onde sua mãe faleceu em 1945, como também Elise. Os pais de Edith Anna já residiam na casa que fora de Hermann Wendeburg desde 1880 - ano da grande enchente.
Em 1930, a filha mais velha Renate Luise foi para a Alemanha para estudar quando conheceu Werner Dietrich durante a viagem. Casaram-se no Rio de Janeiro, capital do Brasil, antes do início da guerra, em 26 de maio de 1934
Residiram em Blumenau, na mesma casa de seus avós e Hermann Wendeburg. Werner Dietrich  faleceu em 1953 e Renata Luise começou a trabalhar na firma  Artex como desenhista Industrial e se tornou encarregada da Sala de Desenhos. Parou de trabalhar quando precisou cuidar de Otto Rohkohl e da amiga e vizinha  Edith Gaertner (a do cemitério dos gatos) que faleceu em 1964 e seu pai faleceu em 1969.
Seu avô, o Opa Paul faleceu em 1906, antes mesmo, de conhecer  seu pai Otto Rohkohl e sua avó Mathilde von Knorring faleceu em 1919, deixando a casa para sua mãe  Edith Anna e depois, com o falecimento de sua mãe, Renate Luise  herdou a casa.


Antes disto, após ficar viúvo e o término da segunda guerra mundial,  em 1949, Otto Rohkohl imigrou definitivamente para o Brasil, Rio de Janeiro. Até então, Rohkohl residia em   Baeuerschestr.2, Blankenburg, Alemanha, onde sua esposa Edith Anna foi sepultada. Também há lacunas de como foi Cônsul Honorário Alemão em Blumenau e depois disto, mudou-se  para a Alemanha. Aparentemente passou os anos do tempo da segunda guerra mundial na Europa.  Ficamos imaginando, como deva ter sido sua experiência e de sua família durante o grande conflito e até que ponto, este foi uma questão decisiva para o seu retorno ao Brasil, com quase 70 anos de idade, onde a família de sua filha Renate Luise que agora assinava Dietrich. O casal Dietrich não teve filhos.
A carismática Renate Luise Rohkohl sentada em uma das portas da propriedade que pertenceu a Hermann Wendeburg, seu primeiro proprietário e que fora adquirido por seu Opa e Oma em 1880. Fonte: Fundação Cultural de Blumenau - Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.
Documento do casamento de Renate Luise e Werner Dietrich.
O casal Dietrich fixou residência na casa que pertenceu aos avós maternos de Renate, os Schwarzer que residiram na casa construída por Hermann Wendeburg.
Edith Anna Schwarzer,  esposa de Otto Rohkohl era filha de Paul Schwarzer (1844–1906) e de Mathilde von Knorring  (1852–1919). A Frau Rohkohl teve mais três irmãs, que foram: Olga Schwarzer (1873–1953), Paula Schwarzer (1879–1956) e Alice Olympia Schwarzer (1883–1964).
Irmã de Edith Anna.
Fonte: Blumenau em cadernos - Tomo VI - N°6
Renata Luise  faleceu dia 4 de Dezembro de 1997 em sua residência na Palmenallee - Rua das Palmeiras, antigo Boulevard Hermann Wendeburg.

A Casa de Hermann Wenderburg - Centro Histórico de Blumenau


 Clicar sobre o livro - para ler.
A casa construída com técnica construtiva enxaimel, dentro do processo evolutivo desta técnica na região com aspectos da casa urbana, a qual classificamos em nossa pesquisa publicada no livro "Fachwerk - a Técnica Construtiva Enxaimel". Isto significa que e a edificação, a partir da tipologia primária, recebeu anexos típicos usados na área urbana da Colônia Blumenau, como por exemplo, o alpendre frontal e o Dachgaube no telhado, cujo espigão é paralelo a rua. Por ser esta edificação, a mais antiga em todo o Vale do Itajaí, construída em 1858, tornamo-la a capa do livro mencionado, sobre a pesquisa da técnica trazida pelos pioneiros. 

A casa localizada na conhecida "Palmenallee e pertenceu a Hermann Wendeburg, secretário de Blumenau e foi adquirida pelos pais de Edith Anna, em 1880. Seu pai foi um dos primeiros advogados da Colônia Blumenau. A propriedade foi herdada pela esposa de Otto Rohkohl, a filha Edith Anna (Schwartzer) Rohkohl. Na casa, residiram o viúvo Rohkohl, pois sua esposa faleceu na Alemanha no final da segunda Guerra Mundial e  sua filha, Renata Luise (Rohkohl) Dietrich e o marido Werner Dietrich. O casal Dietrich não teve filhos e fez a doação do patrimônio histórico arquitetônico à cidade de Blumenau, em 1964, com direito a usufruto, quatro anos antes do falecimento de seu pai Otto Rohkohl. 
Renate oficializou em cartório, a doação de sua residência construída em 1858, para a Fundação Cultural de Blumenau fazer uso após seu falecimento, que aconteceu em 1997, quando o patrimônio foi incorporado ao complexo do museu da família Colonial com todo o acervo da família. Isto explica as muitas peças relacionadas a EFSC presentes no local como a perfeita maquete de um vagão da EFSC.

As mulheres sempre estiveram presentes nos acontecimentos da cidade. Trabalhando no campo, no lar, nas fábricas, na educação, na cultura, na saúde e em outras atividades afins. Ela é a grande figura oculta ou visível. Um desses exemplos é a blumenauense Renata Luiza Rohkohl Dietrich, filha do engenheiro e Cônsul alemão em Blumenau Otto Rohkohl e Edith Rohkohl. Herdeira e moradora da mais antiga casa da Blumenau Colônia (1858), num gesto de consciência de preservação da memória da cidade, foi doadora do patrimônio que abriga uma das casas que constituem o Museu da Família Colonial. (Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva / Fundação Cultural de Blumenau)


DIETRICH, Renata Luiza Rohkohl
Nasceu no dia 29 de Agosto de 1918, em Blumenau. Os pais eram Otto Rohkohl da Silésia, da Alemanha e Edith Schwarzer de Blumenau.
O pai foi diretor e engenheiro da estrada de ferro de Blumenau, diretor da empresa Força e Luz de Blumenau e Cônsul da Alemanha em Blumenau.
Em 1930, foi até a Alemanha para estudar. Na viagem conheceu Werner Dietrich, com quem se casou em 1934, no RJ. Em 1953 faleceu o senhor Werner e D. Renata passou a trabalhar na fábrica da Artex, como desenhista Industrial e encarregada da Sala de Desenhos. Depois de trabalhar anos na Artex, saiu para cuidar de seu pai e de uma amiga e vizinha, Edith Gaertner que faleceu em 1964, seu pai faleceu em 1969.
O grande mérito de D. Renata está na doação que fez à cidade de Blumenau em 1964, quando oficializou em cartório a doação de sua residência construída em 1858, para a Fundação Cultural de Blumenau fazer uso após seu falecimento.
D. Renata faleceu dia 4 de Dezembro de 1997 em sua residência na Alameda Duque de Caxias. VER – Jornal de SC do dia 5 de Dezembro de 1997. Pg. 4/b
(amigos prestam homenagem no velório de D. Renta)  Fonte: Arquivo de Blumenau
Muito do acervo do museu da Família Colonial pode ter pertencido à família Rohkohl/Dietrich e muito pouco é divulgado sobre, onde, quem  é mais lembrado  é  Hermann Wendeburg,  Edith Gaertner e seu cemitério de gatos.









Imperador Wilhelm II.
Em Blumenau, Otto Rohkohl também exerceu  o cargo de primeiro gerente da Empresa Telefônica de Blumenau S/A. Foi diretor-conselheiro da Caixa Agrícola e Comercial de Blumenau (depois Banco INCO), membro do primeiro conselho do Hospital Santa Catarina e em primeiro de maio de 1914, assumiu o cargo de Cônsul Honorário da Alemanha em Blumenau, nomeado pelo Imperador Wilhelm II, confirmado em 1921, em título emitido pelo presidente Friedrich Ebert. Deixou o cargo depois de 25 anos de serviços constantes. Como foi Cônsul, se somente migrou em 1949 e residia na Alemanha
Johann Otto Rohkohl faleceu em 4 de agosto de 1969 e está sepultado no cemitério luterano da Igreja do Espírito Santo - Comunidade luterana Centro - Blumenau.

Partindo de uma pequena nota da Revista Blumenau em Cadernos, descobrimos que a planta dama da noite era comum na barranca do rio Itajaí Açu, em Blumenau e que a filha de Otto Rohkohl pretendia encantar a estação ferroviária com uma planta trepadeira na varanda, oriunda da Alemanha, onde seus pais residiram e sua mãe faleceu no término da segunda guerra mundial. Os sogros de Rohkohl foram os novos proprietários da casa de Hermann Wendeburg, em 1880, que foi herdada pela neta, filha de Rohkohl, e que esta, repassou para o município com tudo que havia dentro, pois não existiam herdeiros diretos. 
Voltaremos ao museu e o olharemos com outros olhos.

Curiosidades

Sabia que existiu o "Prêmio Otto Rohkohl de Conservação da Água" em 2005 e  que era concedido à pessoas físicas e/ou jurídicas que se destacaram pela sua atuação em prol da proteção da água na bacia hidrográfica do rio Itajaí? O prêmio foi instituído pelo Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí  sob a deliberação N° 13.

Há indícios que Rohkohl trabalhou em projetos para contenção de enchentes no Vale do Itajaí, citado no trabalho de Patrick Laigneau, no trabalho de sua autoria desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - "Vamos lutar da forma que nós sabemos". 

Em 1991 surgiu a oportunidade de aprofundar essas reflexões, quando Beate foi para Florianópolis fazer um doutorado em Engenharia da Produção sobre o tema do gerenciamento ambiental da bacia do rio Itajaí, com ênfase no problema das enchentes. Na parte histórica de sua pesquisa, descobriu as propostas de organização institucional para a prevenção das enchentes formalizadas pelo engenheiro Otto Rohkohl, em 1929, que, em grande parte, coincidiam com suas próprias idéias. Patrick  Laigneau



Otto Rohkohl e as Minas de Prata
Otto Rohkohl - durante a visita do Rei da Saxônia a Blumenau
Sociedade contemporânea de Otto Rohkohl



Um registro para a História.
Sob Revisão...

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twiter)



Chegou o livro “Fragmentos Históricos – Colônia Blumenau” – Primeiro Lançamento em Blumenau - em 9 de março de 2023 - Fundação Cultural de Blumenau / MAB

Agradecemos e a todos que nos inspiraram e incentivaram para esta publicação. Colocaremos nas Bibliotecas das Escolas Municipais e nas principais bibliotecas de Blumenau.

















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