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Gertrud Groß - Solteira Hering. |
Gertrud Wally Toni Hering, ou simplesmente Gertrud Hering e depois de casada - Gertrud Groß, nasceu em Dresden, em 6 de maio de 1879, cidade onde residia sua família Hering. Migrou para Blumenau em 23 de junho de 1880, com um pouco mais de um ano de idade. Gertrud era a penúltima filha de Friedrich Hermann Hering nascido em 3 de fevereiro de 1835 na cidade de Hartha, Döbeln, Leipzig, Sachsen, atual Alemanha e de Anna Minna Foerster, nascida em 9 de agosto de 1839, em Neustadt, Chemnitz, Sachsen, Preußen, atual Alemanha. Hermann e Hanna se casaram em 28 de maio de 1860, em Harta, Saxônia e tiveram 10 filhos. Ou seja, Gertrud teve 9 irmãos, que seria a primeira mão-de-obra formal no empreendimento Hering em Blumenau. São eles:
Paul Gerhardt Hering (1861–1942), Liddi Hering (1863–1863), Elise Liddi Hering (1865–1947), Johanna Helene Hering (1867–1950), Nanny Martha Hering (1870–1950), Margarete Lydia Hering (1873–1970), Max Alfred Hering (1875–1967), Elly Hering (1877–1878), a escritora Gertrud Wally Toni Hering (1879–1968) e Curt Victor Hering (1881–1948).
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Dresden em 31 de maio de 2015. Fonte: Wikipédia. |
“Não tenho muito a narrar: minha vida correu sem acontecimentos extraordiná-rios, numa trajetória já quase preesta-belecida. O único acontecimento que se poderia taxar de extraordinário ficou quase sem traços na minha memória. Fui mais objeto do que sujeito naquele drama. Falo da emigração de minha mãe em conjunto com meus irmãos mais velhos sob a proteção de nosso bom tio.”Gertrud Groß
Gertrudes morou com sua família na Wurststraße, atual Rua XV de Novembro. Seus irmãos a ensinaram a ler e a escrever. Completou seus estudos em Blumenau na Neue Deutsche Schule.
Sua família residia ao lado dos Groß, família de seu futuro marido Richard Franz Groß que nasceu em Brusque, em 27 de julho de 1880.
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Família Groß. |
Gertrud e Richard se casaram em 1 de maio de 1906, em Blumenau e fixaram residência no bairro Bom Retiro, onde já residia parte de sua família. Tiveram os filhos: Ralph Bruno Groß (1907–1963), que se casou com a artista ceramista Freya Groß - solteira Schmalz; Eva Groß (1909–1989); Hildegard Groß (1911–2005) e Gertrud Margaretha Hedwig Groß (1911–1911).
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Com suas irmãs mais velhas Johanna, nascida em 1867 e Nanny em 1870. Gertrud nasceu em 1879.
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Residência Groß - estivemos nesta casa como expositora da feira de decoração Mostra Bordeux. Maravilhosa. Atualmente é parte do quintal de um edifício. |
Gertrud Groß foi uma escritora que tinha uma atividade não muito comum às mulheres que viviam no Brasil no início do século XX e poucas pessoas tinham a capacidade de entendimento sobre seu trabalho, embora com um enfoque não muito imparcial sobre as questões que faziam parte de suas pautas. Seus textos perdiam um pouco do valor, pois se colocava dentro do mesmo, opinando e tomando partido. Há um exemplo publicado nesta postagem. Mesmo assim, foi pioneira e fez a diferença.
Desde criança se destacou na família através de seu hábito de escrever. A família cultivava o
gosto pela literatura e recebia constantemente volumes enviados da Alemanha, entre eles, a obra completa
de Goethe. Na escola teve como mestre o naturalista e biológo Fritz Müller. PUFF
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Arquiteto Hans Broos. |
No início da década de 2010, quando estávamos preocupados com a saúde e bem estar do arquiteto Hans Broos, alguém do seu círculo a descreveu para nós como muito "avançadinha" para a sociedade blumenauense da primeira metade do século XX, o que confirma que sua produção tinha características de vanguarda. Falando no arquiteto Hans Broos, ela o hospedou em sua casa, no bairro Bom Retiro, todo o tempo que o arquiteto residiu em Blumenau, antes de mudar-se para São Paulo, o que aconteceu imediatamente após a morte de Gertrud, em 7 de março de 1968. Foi devido esta aproximação que Broos conheceu sua companheira, Freya Groß, viúva do filho de Gertrud e de Richard - Ralph Bruno Groß, desde 9 de maio de 1963 e que residia próximo à residência da sogra. Olhar o mapa anterior.
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Taxa de analfabetismo entre pessoas de 5 anos de idade no Brasil 1872 a 1920. Fonte: Ferreira - Carvalho. |
Gertrud Groß escreveu romances, contos, poemas e peças teatrais.
Seu primeiro trabalho, Durch Irrtum Zur Wahrheit, foi publicado em 1913, no jornal Der Urwalsbote no início do século XX. Isso foi um feito, dentro de um país com um elevado índice de analfabetismo. Nesse período, o índice de analfabetismo girava em torno de 70% da população brasileira. Isso significa que somente 30% da população brasileira sabia ler e escrever.
Seu primeiro trabalho era um pequeno livro escrito alemão, normal na cidade de Blumenau, onde este idioma era falado predominantemente, pois escolas e professores falavam o idioma, bem como, a sociedade, a qual era sustentável, dentro do estado e do país. Toda sua literatura foi originalmente publicada em alemão, e o foco da pauta era voltado para as questões da imigração alemã, e de suas dificuldades e conquistas, um registro para história. A escritora, antes de publicar seu primeiro trabalho, já tinha estado uma vez na Alemanha - em 1901 e depois, retornou no país que nasceu e também, sua família, por mais três vezes: em 1929,1936 e 1952.
Gertrud Groß escreveu nove romances, sete contos e poesias e pesquisadores estão cientes de que há muito material inédito com seio da família. Groß teve trabalhos seus publicados em jornais da Alemanha.
Algumas obras publicadas
- Durch Irrtum zur Wahrheit - Através de erros à Verdade. Foi publicado em 1913 no jornal Der Urwaldsbote. Foi reeditado em 1922 em forma de livro pela Tipografia e Livraria Blumenauense (Buchdruckerei 18 G. Arthur Koehler, Blumenau).
- Neue Heimat - Nova pátria: foi publicado em 1929 no jornal Deutsche Welt.
- Aus Kinder Werden Leute - Crianças tomam-se adultos. Publicado no jornal Der Urwaldsbote entre 1930 e 1931. Foi reeditado em 1934 pela Buchdruckerei G. Arthur Koehler, Blumenau.
- Frauenschicksale - Destino de mulheres: coletânea de quatro contos. Publicado em 1932 no
- jornal Deutschen Nachrichten, São Paulo. Reeditado em 1936 pela Buchdruckerei G. Arthur Koehler, Blumenau.
- Vereinte Kräfte - Forças Unidas: publicado em 1933 no jornal Der Urwaldbote, e, em 1937 no jornal alemão Deutsche Welt.
- Grosvater Bätzold wandert aus - Vovô Bätzold emigra: publicado em 1936 no jornal Brasil-Post, São Paulo.
- Dersonnenhof - O pátio ensolarado: publicado em 1951 no jornal São Paulo Zeitung. Reeditado em 1967 pela Tipografia e Livraria Blumenauense S.A.
- Neue Wege - Novos caminhos: publicado em 1952-1953 no jornal Brasil-Post, São Paulo. Reeditado pela Tipografia e Livraria Blumenauense S.A.
- Der Weg der Frau Agnes Bach - O caminho da senhora Agnes Bach: publicado em 1954 pela Impressora Paranaense, Curitiba.
- Und Dann kam die Lösung - Então veio a solução: publicado em 1956 pela Tipografia e Livraria Blumenauense S. A.
- “ruck Gratwanderer wenn der wind Darüber geth..." -“... quando o vento passar sobre o que já foi...”: Dois romances num mesmo volume. Publicado em 1957 pela Tipografia e Livraria Blumenauense S. A.
- Os dois irmãos - Die zwei Brüder: Trad. Custódio F. de Campos. Publicado em 1954 pelo Boletim Cultural Brasil/Alemanha, Florianópolis, SC.
Em 1993, vem a lume o livro de Valburga HUBER (1948- ), Saudade e esperança. O dualismo do imigrante alemão refletido em sua literatura, produto de seu Mestrado, defendido em 1979 na Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a orientação de Afrânio Coutinho. O corpus recorta dentro da literatura da imigração de língua alemã no Brasil, segundo a autora, os escritores e as obras mais representativas do Vale do Itajaí em Santa Catarina, dos primórdios à Segunda Grande Guerra. São, assim, estudados romances de Gertrud Groß-Hering e de Emma Deeke e contos de
Therese Stutzer e José Deeke. SOUZA.
Gertrud Groß é estudada na Academia. O trabalho de Lia Carmen Puff, que traduziu o conto Uma Enteada da Natureza, mostra uma Gertrud Groß argumentando que a autora apresenta em seus personagens femininos, como mulheres fortes e que se posicionavam diante dos conflitos. Normal. Uma mulher, para se submeter a migração no final do século XIX e início do XX, muitas vezes para construir sua cabana na mata, deixando para trás, cidades muito bem estruturadas e milenares, deveriam ser pessoas fortes e sem melindres. Passavam isso às suas filhas e estas, às suas filhas. Nós não vemos algo como assombroso nisso uma vez que toda mulher de família de imigrante era convidada, dentro da célula familiar assim se posicionar. Gertrud foi uma migrante dentro de família de migrantes e deixaram uma cidade como Dresden para trás.
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Fábrica dos pais de Gertrud Groß no Bom Retiro. Firma Hering - Século XIX. Toda a família trabalhou no local. |
Nós crescemos dentro de um grupo étnico misto de português/espanhol, onde o "papel da mulher", predominantemente se resumia em acatar decisões do "chefe da família" e cumprir com suas obrigações de dona de casa sem expectativas em ter uma profissão, o que ocorria no Vale do Itajaí, na antiga Colônia Blumenau. O casal "trabalhava fora" e as próprias fábricas alimentícias que iniciaram o processo de industrialização do estado de Santa Catarina tinha no conjunto de sua mão obra, famílias inteiras, inclusive da família proprietária da fábrica, que possuíam dupla jornada: da fábrica, da lavoura e da produção de geleias, musse, queijos, embutidos e na horta em sua própria propriedade. A família, homens e mulheres tinham funções no funcionamento da propriedade (que era sustentável) e da fábrica. Realidade muito diferente na grande maioria do território do país. |
Mulheres no horário do almoço no refeitório da Hering na década de 1940. Fonte: Museu da Hering. |
Valburga Huber, pesquisadora que estuda a literatura brasileira em língua alemã, apresentou algo mais concreto e coeso quando descreve a literatura de Gertrud Groß, denominando-a popular.
A escritora, que só escrevia no idioma alemão, e como a grande população do Vale do Itajaí, tiveram problemas no período do governo do presidente Getúlio Vargas e do governador Nereu Ramos - período do Estado Novo. Blumenau foi diretamente prejudicado, também na senda politica. No final da postagem disponibilizamos o link "Nacionalismo no Vale do Itajaí".
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Getúlio Vargas, o interventor de Santa Catarina Nereu Ramos, militares e programação cívica em Blumenau - 1940 |
Durante a campanha de nacionalização, vozes foram caladas e também foi proibido escrever no idioma das famílias que fundaram as cidades, e nestas, fundaram escolas e igrejas com esse idioma, pois padres e professores também somente falavam alemão. Gertrud Groß somente escrevia em alemão e ficou sem publicar entre os anos 1937 e 1951. Seu romance Der Weg Der Frau Agnes Bach, de 1954, destaca, exatamente o período da II Guerra Mundial e as consequências deste período para a região.
Sua obra foi publicada em jornais de Blumenau e da Alemanha e depois foi moldada para ser publicada na forma de livro pela Tipografia e Livraria Blumenauense. Dois contos foram traduzidos para o português: Uma Enteada da Natureza (que originalmente integra o livro de contos Frauenschicksale, de 1932) e Os dois Irmãos, publicado originalmente no Boletim Brasil/Alemanha, em 1954, ambos reunidos no livro Uma Enteada da Natureza (2000), organizado por Lia Carmen Puff.
Gertrud Wally Toni Hering solteira Hering, faleceu em 7 de março de 1968, com 88 anos, faltando dois meses para completar 89 anos.
Um texto seu publicado em Blumenau em Cadernos de 1960 e nosso comentário
Um Retrospecto
28 de julho de 1893
Nenhum do velhos blumenauenses ignora, hoje, o significado que essa data teve para nós. Sessenta e sete anos se amontoaram sobre aquele dia. É, pois, tempo de trazer à baila lembranças que não se apagam de todo, em meio ao progresso trepidante da nova Blumenau.
Como se sabe, a 14 de julho de 1893, havia sido tocado de BIumenau o destacamento policial, contudo quanto possuia. Isso em represália ao procedimento hostil manifestado contra as autoridades fiéis ao governo e mesmo à população. A animosidade já havia, praticamente, chegado ao auge, quando a mesma polícia, composta de 15 a 18 homens, sob às ordens de Elesbão Pinto da Luz, tiroteara na Palmenalee (atual rua das Palmeiras) o salão de bailes do sr. Schrepp, no qual se comemorava, com grande alegria, o regresso do político, dr. Bonifácio da e dos seus correligionários.
O Brasil inteiro, fervia, então, de rixas políticas. O governo já se encontrava assoberbado em assegurar a vacilante cadeira presidencial e não podia socorrer aos Estados e municípios. Estes que se ajudassem como pudessem. E Blumenau socorreu-se mesmo do melhor jeito que pôde. Convocou-se uma guarda civil, que foi arregimentada de qualquer maneira, sob direção competente. Dispunha-se de muito tempo e, além disso, as atividades comerciais e outras, estavam completamente paralisadas pelo que os cívicos até gostavam da nova situação.
Depois da proclamação da república, lavrava a desordem por toda parte, até mesmo na administração das cidades. Reclamava-se, fazia-se oposição a tudo e cada qual se julgava no direito de dar opinião e intrometer-se na vida administrativa do país. Os partidários do imperador criavam dificuldades de toda a sorte à nova república. Falava-se, até, que ele pretendiam assumir o governo dos municípios, o que, aliás, conseguiram com a posse de algumas câmaras. Mesmo a câmara de Blumenau esteve, por algum tempo, nas mãos dos imperialistas (maragatos), fato esse que deu azo a intrigas, atritos e conflitos que
permaneciam impunes, pois a própria polícia a eles se ligara. Tornar-me-ia muito prolixa se
mencionasse, aqui, tudo o que então, sucedeu em Blumenau e mesmo se me propusesse esmiuçar o que se deu no dia 28 de julho, data que marca o pronto final de uma série de lamentáveis acontecimentos.
Voltemos, pois, à câmara de Blumenau.
No dia 13 de julho, um violento foguetório (particularidade que nunca faltava em ocasiões "importantes" em ambos os partidos) anunciava que os legalistas (simpatizantes da nova república) tinham se apoderado, novamente, da câmara municipal. O mesmo acontecera com as câmaras de Brusque e de Tijucas que caíram nas mãos dos legalistas no mesmo dia. A polícia tratara, até então, a
população, como inimiga e os abusos por ela cometidos haviam ultrapassado as medidas. Por isso,
aconteceu que na manhã de 14 de julho, os filhos dos colonos e os da cidade, sem arma alguma, expulsaram de Blumenau os policiais e se encarregaram, eles mesmos da guarda da prisão.
Naturalmente
que tal fato não poderia deixar de
provocar reações. Elesbão espumava de raiva e jurou vingar-se dos blumenauenses. Foi aí que começaram os tempos mais agitados. Boatos por toda parte. Soldados
e paisanos se movimentaram. Cavaleiros levavam, daqui, as novas
aos colonos mais afastados. Quem tivesse coragem e uma arma que
se apressasse, pois os poucos habitantes da cidade de Blumenau não
conseguiriam, sem o auxílio do interior, enfrentar o ataque de algumas centenas de "inimigos". Cento e cinquenta homens, todos
blumenauenses, sob o comando
dos doutores Cunha e Hercílio Luz puseram-se em marcha no dia 25 de julho, para o sul, no propósito de sustar a marcha dos "invasores". Pelo menos era isso que se dizia e, talvez tivesse sido essa a verdadeira intenção, mas a realidade foi que a tropa se dirigiu para a capital do Estado. Esperava-se que os contingentes que Floriano mantinha na fronteira de Santa Catarina com o Rio Grande, fossem suficientes para conter os revoltosos do sul.
Aliás, por esse mesmo tempo, parece ter-se dado, também, em Itajaí, um choque armado, no qual o comandante das tropas de guarda-fronteiras, Coelho, prendeu o chefe do grupo, Brasil. Mas não foi difícil a essa gente bisonha encontrar uma saída. O referido grupo derrotado (na sua maior parte composto de caboclos) aliou-se a Elesbão da Luz, seguindo com este, contra Blumenau. Vê-se, por aí, que não era só Elesbão que intencionava "visitar" a nossa cidade. Ele animou os demais para que se juntassem ao grupo. Certamente já prelibavam os três dias de festa que passariam em Blumenau, durante os quais pudessem saquear e depredar à vontade. Blumenau estava desprovida da sua melhor proteção e do seu armamento, em virtude da partida dos 150 homens de Hercílio Luz.
Agora, porém, que a ameaça pesava sobre as próprias cabeças, encontraram-se ainda bastante mocinhos e número razoável de "trabucos" para constituir novo esquadrão. Nos arrabaldes próximos ao barracão dos imigrantes, foram cavadas trincheiras e feitas barricadas; outras cavadas às margens do rio e ao longo da estrada; no alto do morro, postaram-se vigias. A cidade estava pronta para receber o adversário em incontida e febril expectativa.
De repente aparece um grupo de inocentes lenhadores avançando pela estrada; os nossos acreditaram tratar-se da vanguarda dos inimigos. Alguns tiros de pólvora seca, porém, bastaram para pô-los em fuga. Um homem muito gordo montado num burrinho, ia pela estrada, assustando os moradores e gritando, com voz de trombeta: "eles vêm aí! Eles vêm aí ,,, Uma mulher, alvoroçada e tremendo de medo, empurrava um carrinho de criança, daqui para ali, pela estrada, de uma trincheira para a outra; um carro de cerveja rodava pelo caminho, fazendo um barulhão e o condutor batia os animais, como um possesso, com o intuito de apressá-los partir mais depressa apanhar a sua arma. As crianças, despreocupadas, sem consciência do perigo, gritavam contentes de tomar parte no espetáculo: "Eles vêm, eles vêm aí!"
Certamente, se esses fatos acontecessem em nossos dias, a coisa seria diferente. "Eles", porém, não apareciam. E continuava a expectativa e a ansiedade.
Afinal, apareceram na tarde do 28 de julho, inesperadamente. Inesperadamente, paradoxo ridículo. A verdade é que Blumenau estava completamente isolada das demais cidades porque os "inimigos" haviam cortado os fios do telégrafo. Ninguém viajava desprevenido naqueles tempos. Logo que aparecia um rosto estranho, era visto com olhos de desconfiança e, não levava muito tempo até que
o acusassem de espião. Aviões e automóveis com os quais a gente pudesse se pôr em comunicação com outros centros, pertenciam ainda aos domínios da imaginação. Quem poderia, pois, adivinhar se o combate se travaria hoje, ou dentro de oito dias? . Mas veio mesmo no dia 28 de julho e começou com uns poucos tiros. Depois, foi uma saraivam de balas.
Felizmente, ninguém saberia profetizar o fim do combate e nem mesmo saber o número de invasores, o que se constituía num fator útil e mesmo de entusiasmo para os blumenauenses ali concentrados, O pior é que os nossos quase não tinham armas e eram integrados, na sua maioria, por mulheres e crianças. Descendo a pormenores, devo dizer que nós, crianças, estávamos ansiosos por ver alguma causa, mas nem sequer se nos dava atenção. Invejávamos os maiores que corriam para as margens do rio a fim de escutarem os tiros. As balas, conforme diziam depois, sibilavam em torno deles. O farmacêutico Brandes, que participara da guerra franco-alemã de 1871, competente, portanto, no assunto, e que também se encontrava à beira do rio, comentava: "Eles atiram alto demais! O pessoalzinho nem mesmo sabe disparar. Escutem! Lá estão os nossos. Esses, agora, são tiros de perseguição".
E eram mesmo! O araque fôra repelido em menos de uma hora. Os atacantes que chegavam convencidos de poder se apoderar de Blumenau sem luta e resistência viram-se, de repente atacados por todos os lados e por tais saraivadas de balas, que pareciam descer dos céus. De nada adiantaram os revólveres de Elesbão e de Fausto Werner apontados contra os fugitivos. Toda a tropa atacante, ao se ver alvo de tantos tiros, pôs-se em fuga desabalada.
Alguns, mais afoitos e corajosos ainda trocaram alguns tiros com os nossos, mas, na impossibilidade de alvejar-nos. fugiram também . Do nosso lado, não houve prejuízos. Apenas um furo de bala num chapéu velho de um colono desconhecido. Para tirar aos grupos atacantes compostos de policiais, aventureiros, mulheres e crianças, a vontade de voltarem, durante a noite, os nossos perseguiram pela estrada à fora pela alguns quilômetros para baixo.
Mas o campo estava livre e os nossos poderiam descansar sobre os louro da vitória. Enquanto, aqui em Blumenau" as coisas corriam desse jeito, a guarda que daqui havia saído a 25 de julho se preparava para um golpe certeiro na capital do estado. Tencionava-se, por motivos políticos, depor o governador e empossar outro. Ousada tentativa de um grupo insignificante. A façanha. entretanto, foi bem sucedida. No dia 30 de julho, após terem se apoderado, sorrateiramente, das armas existentes no arsenal, os nossos bombardearam o palácio do governo e empossaram Hercílio Luz no cargo de governador. Voltaram em seguida para Blumenau, onde chegaram a 4 de agosto. Os moradores do Desterro, ressentidos pelo golpe, muitos ano o não o esqueceram, votando-nos raiva muito justificada. Realmente, havíamos conquistado duas grandes vitórias: uma contra os invasores do município e
outra, contra o próprio governo do Estado.
Algum dia poderá reproduzir-se esse histórico acontecimento? Duvidamos. Gertrud Groß
Nosso Comentário
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Elesbão Pinto da Luz. |
Como escritora e "contadora" dos fatos vivenciados pela sociedade de sua época, incorreu do erro de escolher um lado e se colocar dentro deste lado. Não pode. É uma pena. Pois suas informações imparciais poderiam contribuir de maneira mais confiável e positiva, ainda mais neste assunto, sobre o golpe impetrado contra o Imperador do Brasil D. Pedro II e mortes de brasileiros que nunca aceitaram essa traição. Gertrud Groß deixa evidente sua pouca informação sobre a questão política, o que deveria ocorrer na época com alguns brasileiros. Mas não foram todos que se deixaram enganar, pois não aceitaram e muitos perderam suas vidas pela causa.Só para registrar, Elesbão Pinto da Luz foi o primeiro delegado de Blumenau e da família de Hercílio da Luz. Mesmo assim foi fuzilado na Ilha de Anhatomirim juntamente com outros chefes de família de Florianópolis que não concordavam com o golpe conhecido como Proclamação da República.
Quem ordenou sua execução de Elesbão? Hercílio Luz, com que dividia casa em Blumenau. A História se repete e os golpes, igualmente.
Link no final desta postagem.
Referências
- COSTA, Viegas Fernandes. Gertrudes Gross-Hering. Sarau Eletrônico FURB. Sistema Integrados de Bibliotecas. Disponível em: https://bu.furb.br/sarauEletronico/index.php?option=com_content&task=view&id=21. Acesso em 26 de março de 2023 - 6h.
- FERRARO, Alceu R. História inacabada do analfabetismo no Brasil. São Paul: Cortez, 2009.
- FERREIRA, Ana Emília Cordeiro Souto; CARVALHO, Carlos Henrique de. Escolarização e Analfabetismo no Brasil: Estudo das Mensagens dos Presidentes de Estados de São Paulo e Rio Grande do Norte (1890 -1930).
- GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.) : il., retrs.
- PUFF, Lia Carmen.O Processo de Tradução do Conto "Uma enteada da Natureza" de Gertrud Gross Hering. Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Letras Literatura Brasileira/Teoria Literária UFSC. Florianópolis, 1995.
- SCHMITT, Darlan Jevaer. Blumenau em Cadernos e José Ferreira da Silva: Passado e Presente para o Vale do Itajaí Santa Catarina - 1957-1973. Programa de Pós-Graduação em História - Universidade do Estado de Santa Catarina. Florianópolis, 2011.
- SOUZA, Celeste Ribeiro de. A literatura brasileira de expressão alemã e a crítica. Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de Letras Orientais. Pandaemonium, São Paulo, v. 19, n. 28, set.-out. 2016, p. 45-73.
Leituras Complementares - Clicar sobre o título:
Sob Revisão!
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
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@AngelWittmann (Twiter)
Agenda:
- Em 14 de abril, numa sexta-feira, na véspera do aniversário de 92 anos de emancipação político-administrativa de Rio do Sul, estaremos fazendo duas palestras em períodos distintos, nessa cidade. No período matutino, a palestra começa às 8h30, no Teatro Domingos Venturini e no período vespertino, a atividade inicia às 14h e será realizada na Videoteca da Fundação Cultural de Rio do Sul.
- Dia 10 de maio estaremos lançando o Livro “Fragmentos Históricos Colônia Blumenau – Arquitetura * Cidade * Sociedade * Cultura Volume 1″ no espaço Cultural da Assembleia Legislativa de Santa Catarina – ALESC, Florianópolis.
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