terça-feira, 22 de outubro de 2024

Villa Wolff - Museu Municipal Dr. Philipp Maria Wolff e a Tipografia - São Bento do Sul SC

Construções pertencentes ao patrimônio de Dr. Philipp Maria Wolff supostamente construídas na década de 1880.


Casarão e Tipografia.
Encontramos duas edificações em São Bento do Sul, tombadas como patrimônio histórico arquitetônico, atualmente denominado patrimônio cultural. Cada uma destas nos chamou atenção, pela suposta data de sua construção (década de 1880) e por sua arquitetura, a partir do material usado, da tecnologia adotada, por sua volumetria, decorativismo e uso.
A construção destas duas tipologias têm ligação com o personagem da história são-bentense,  Philipp  Maria Wolff, assim era seu nome correto na Alemanha (registro de sua assinatura em documento de casamento), imigrante oriundo da Bavária, Sul do Alemanha. Os dados históricos sobre esta personalidade são muito escassos, principalmente sobre sua passagem no seu país de origem.
Vamos escrever a história destas casas e de seu ilustre construtor, refletindo dentro do contexto e do período histórico, a partir da história da arte.

 Philipp Maria Wolff - Como foi registrado na Alemanha

O médico  Philipp  Maria Wolff nasceu em 6 de junho de 1835, na Baviera, Alemanha e foi filho de José Benedicto Wolff e de Lucrecia Wolff. Estudou medicina  na Universidade de München, onde se formou médico em 1860, com 25 anos.
Faculdade de Medicina em München, dentro do complexo da Universidade. Podemos afirmar que o então Dr. Wolff, teve contato com a arquitetura eclética e clássica no edifício onde estava sua faculdade onde  se formou médico em 1860. Deveria estar familiarizado com o modo de construir, na cidade onde residia, uma das maiores e mais importantes da Alemanha. Portanto tinha conhecimento sobre este estilo e pode aplicar a "mistura" de elementos de estilo observado no seu hospital/residência construído em São Bento do Sul.
Oito anos após  sua formatura, em 1868, 33 anos, migrou para o Brasil e atuou como médico em três cidades de Santa Catarina, sendo que fez história na cidade de São Bento do Sul. Ainda na cidade portuária de Itajaí, nesse ano de 1868, casou-se em 22 de agosto com Maria  Hendchen, na Igreja Santíssimo Sacramento de Itajaí. A igreja existia desde a criação do Curato e a fundação de Itajaí, 31 de março de 1824, e em 1933, da paróquia, com o início da igreja em 1843, portanto, tinha somente 25 anos de existência do início de sua obra, no momento do casamento de Wolff e Maria. Curiosamente consta na história de São Bento do Sul, somente o nome de  Luize Heeren como sua esposa, sendo que o casamento acontecido em Itajaí possui documento oficial do matrimônio de Wolff e Maria. Para os padrões da época, Dr. Philipp Maria Wolff se casou "solteirão", e chegou mais velho ainda, em São Bento do Sul. 
Concluímos que o médico bávaro ficou viúvo, antes de fixar residência em São Bento do Sul.
Na assinatura do noivo é possível observar sua assinatura correta: Phillip.


Igreja Santíssimo Sacramento de Itajaí, onde se casaram Filippe Maria Wolff e Maria  Hendchen e é a atual “Igrejinha da Imaculada" - Igreja da Imaculada Conceição. Sua construção teve início em 1843 e foi construída em alvenaria autoportante de pedras, rebocadas. Com o passar dos anos ela se transformou em uma igreja sólida, bonita e referencial, através dos acréscimos de elementos arquitetônicos. No limiar do século XIX para o XX, a igreja ganhou as feições atuais. Aumentou-se as naves laterais, duplicando sua volumetria pelos vãos abertos das paredes do antigo templo.
Depois de Itajaí, Philipp Maria Wolff residiu  em Blumenau, São Francisco, Joinville, quando foi contratado pela Direção da Colônia Dona Francisca e em  1869 assumiu a Direção do Hospital de Joinville. Em 1º de março de 1870, abriu seu consultório particular, nessa cidade.
Em 1874, foi contratado como médico da Colônia São Bento, sem mudar-se para a nova cidade, efetuando visitas mensais dentro de um programação. Finalmente em 1877 mudou-se para São Bento do Sul. Sempre atuou como médico, nos locais que residiu. 
De acordo com o Site Circuito das AraucáriasPhilipp Maria Wolff se  casou com Luize Heeren, e o casal teve duas filhas: Eliza, casada com o Capitão Rodolfo Krammer e Helena, casada com Martin Ruschkowski. Como isto aconteceu e qual era o estado civil de Wolff, na ocasião, não encontramos indícios em órgãos de pesquisa oficial. Poderia estar viúvo, ou separado. Fato comum neste período histórico, mas muitas vezes era ocultado, prática comum na religião católica, que mantinha regras rígidas. Como um bávaro, comungava da religião católica. Fica uma lacuna desta história, para ser elucidada. Existe um documento histórico que deixa evidente que Philipp Maria Wolff, também possuía uma filha adotiva. O documento mencionado é um convite de casamento dessa filha, escrito na primeira pessoas por Wolff.

Tomo a liberdade de convidar você e sua estimada família para a reunião na quarta-feira b.  6. d.  EM.  ao casamento da minha filha adotiva Antonia Lewantoška com o Sr. Franz Mattheo.
O casamento civil acontece às 4 da manhã na minha casa, sendo imediatamente seguido pelo casamento na igreja católica.
Uma xícara de café com pãezinhos amanteigados e uma dancinha devem encerrar a comemoração.
Entrego-me à agradável esperança de que atendas ao meu pedido e o honres com a tua presença.
S. Bento, 1 de Junho de 1900.
 Dr.  Wolff.
Em São Bento do Sul, Philipp Maria Wolff desempenhou um papel importante dentro da sociedade local e regional, sob aspectos da saúde, da comunicação, econômico, social e político. Foi vereador em 1884 e auxiliou na organização do Conselho Municipal, tornando-se um dos conselheiros.
No oficio encaminhado por Francisco Bueno Franco, Presidente da Câmara, para Francisco Luiz da Gama Rosa, Presidente da Província, está descrito o processo de instalação da Câmara, em 30 de janeiro de 1884, no qual também estava os nomes de Philipp Maria Wolff, João Antônio da Rocha, Augusto Henning, João Filgueira de Camargo, Pedro Teixeira de Freitas, Benedito Teixeira.
Neste tempo, em registros locais, havia evidências de que o médico já havia construído a Villa Wolff no alto do elevado formada pela presença de uma casarão monumental a partir da adoção de vários estilos, caracterizando o eclético e o edifício da tipografia, onde funcionou jornais idealizado por ele, que utilizou a técnica do Backsteinexpressionismus, o que muito nos intrigou, melhor comentado na parte da arquitetura.
A seguir uma sequência de registros fotográficos de São Bento do Sul, em torno da data da suposta construção do casarão e da sede da tipografia, até a pós a data do passamento de Dr. Wolff.
Fotografias do acervo do Museu  Philipp Maria Wolff e do acervo do Arquivo do Departamento Histórico e Cultural de São Bento do Sul, encaminhado pelo diretor  José Tadeu de Santana Junior.
Tipografia de Dr. Philipp Maria Wolff.
Philipp Maria Wolff
, como a maioria das pessoas desta cultura, apreciava efetuar registros em texto,  que quase sempre possuíam um diário. Existe um diário de Dr. Wolff, o qual deveria ser publicado, por sua importância histórica a partir de seus feitos, fonte importante de pesquisa local e regional. Motivado por  esta prática entusiasta de registrar,  Dr. Wolff fundou em 1885, na edificação construída com a técnica pioneira para a época, o 
Backsteinexpressionismus, localizada ao lado de sua residência-hospital-consultório, e parte da Villa Wolff, o jornal O Urubu, totalmente manuscrito. Em 1890, surgiu o jornal A liberdade, apresentando suas páginas impressas, seguindo, em 1892, com a fundação do jornal Legalidade. Em  1892, fundou o jornal Der Volksbote, que existiu até 1910. Não entendemos porque somente este jornal tinha o nome alemão, pois funcionava dentro de uma colônia agrícola alemã, "tocado" por um imigrante alemão, o Dr. Philipp Maria Wolff. Todos seus jornais foram redigidos em português e alemão. 
Em 1893, aconteceu Revolução Federalista, no qual evidentemente Dr. Philippe fez sua participação, acompanhando, para o Paraná, as forças militares, governadas pelo comandante General Argollo, servindo como médico na Divisão Militar em operações na Lapa, governadas pelo comandante General Gomes Carneiro. Esteve, portanto, infelizmente, ao lado dos golpistas da Proclamação da República. 
Para esclarecer, leia o artigo do link acima, para conhecer o que foi o golpe de 15 de Novembro, o qual teve muitas reações e não foi democrático. Na região Sul, o Imperador, que foi embarcado pelos traidores na madrugada do dia seguinte ao golpe, para a Europa, era muito amado, e naturalmente houve revoltas e uma delas, foi a Revolução Federalista
A Revolução Federalista foi, portanto, uma guerra civil ocorrida no Sul do Brasil, entre 1893 e 1895, contrapondo o Golpe Republicano, ou da Proclamação da República. O conflito teve origem na crise política gerada pelos Federalistas, grupo que se opunha ao governo de Júlio de Castilhos, presidente do Rio Grande do Sul, que buscava conquistar maior autonomia e descentralizar o poder da recém-instalada República. Aconteceram combates sangrentos que duraram de fevereiro de 1893 até agosto de 1895, vencida pelos seguidores de Júlio de Castilhos. 
Esta revolta atingiu os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, os três estados da região, que na época, também  contavam com o apoio de São Paulo para vencer os republicanos e seguir para a capital, na época, Rio de Janeiro.
Nesse período do conflito, sendo  Wolff um republicano e liderança republicana, foi nomeado pelo Governo Federal como “Médico Honorário do Exército Nacional”. Lamentável, pois de certa maneira maculou sua brava biografia.
Durante a Revolução Federalista, Philipp Maria Wolff ofereceu sua residência para a instalação da sede do Governo de Santa Catarina e Quartel General dos revolucionários, com isto, São Bento do Sul, por um pequeno período, foi capital do estado de Santa Catarina.
A Villa Wolff: hospital, residência e consultório e a sede da tipografia e jornal de Wolff. Fotografia feita de uma fotografia parte do acervo do Museu Municipal Dr. Philipp Maria Wolff.
Otair Becker (1934-2013).
Philipp Maria Wolff faleceu 
em 29 de outubro de 1910, concedendo sua partida e deixando seu legado e feitos para a cidade de São Bento do Sul. Por algum tempo, o local foi usado por um colega seu de profissão, outro médico. Todas as suas propriedades foram adquiridas por Wenzel Kahlofer, que alugou o local para residência e comércio. Em 1964, o Prefeito Alfredo Diener comprou a "Villa Wolff” para a municipalidade, que era formado pelo casarão, a casa da tipografia e o terminal urbano de passageiros. Em 20 de setembro de 1967, na administração de Otair Becker, através da lei n° 78, foi criado o Museu Municipal de São Bento do Sul, que foi inaugurado somente em 23 de setembro de 1971, na administração de Ornith Bollmann. Alsione Gomes de Oliveira foi seu primeiro diretor. Em 20 de novembro de 1979, sob a lei n°187, o local passou a se denominado "Museu Municipal Dr. Philipp Maria Wolff", o idealizador do lugar e como é conhecido até o momento presente.
Socialmente, Philipp Maria Wolff forneceu amparo e consultou seus conterrâneos chegantes ao local, o que possibilitou seu ingresso na politica e tornou-se um dos nomes influentes na cidade de São Bento do Sul e região, atuando também como delegado de polícia, de higiene, chefe escolar, jornalista e escritor, a partir de sua tipografia. É claro, que também tinha o consultório e no mesmo edifício de sua residência funcionava um hospital, que atuava na região desde que o local era conhecido como Colônia Agrícola São Bento.
Villa Wollf em 1927, quando Dr. Wolff, já havia falecido. Acervo do Arquivo do Departamento Histórico e Cultural de São Bento do Sul, encaminhado pelo diretor  José Tadeu de Santana Junior.
O acervo do museu possui ferramentas utilizadas no trabalho com a madeira, instrumentos agrícolas, louças, móveis, armas, utensílios e instrumentos musicais. São itens trazidos pelos imigrantes oriundos da Europa ou, fabricados no Brasil, pertencentes às primeiras famílias locais. 


Parte do piso do casarão. Ladrilho hidráulico.

Armário

Em 1984, Otmar Schmitt fez o armário com 4 tipos de madeira pura, levando aproximadamente 1.132 horas para confeccioná-lo. O armário tem 1,67m de altura, 2,32m de comprimento e 45 cm de profundidade. No Brasil só existe mais um desse objeto também feito por Otmar. Os adornos indígenas refletem a época do descobrimento do Brasil e ao mesmo tempo a modernidade com o palácio do planalto em Brasília, entalhado na obra.
Doador: Otmar G. J. Schmitt.
Obra de Otmar G. J. Schmitt.






Porta Entalhada

Porta entalhada pelo doador em 1982. Madeira da porta: Arruda, madeira do caixilho: Imbuia Significado dos entalhes: a) Parte com as figuras. Esquerdo superior: profissão da família de Otmar - ferreiros; Direito superior: profissão da família de Helene - lavradores; Esquerdo inferior: coqueiros representam o Brasil e as ferramentas representam a marcenaria, profissão que o Sr. Otmar veio exercer no Brasil; Direito inferior: figura representando o protetor da floresta da região da Alemanha da qual Otmar e  Helene vieram. Parte escrita: ditado popular alemão: "ES GRÜNE DIE TANNE, ES WASCHSE DAS ERZ, GOTT SCHENKE UNS ALLEN, EIN FRÖHLICHES HERZ". Tradução: Pinheiros são verdes, o metal brota do chão, Deus presenteou a todos com um alegre/bondoso coração. Doador: Otmar G. J. Schmitt.
Porta entalhada por  Otmar G. J. Schmitt.





Assoalho de madeiro de pinheiro.




















Com Helen Arruez. Contribuiu muito para este trabalho.











Villa Wolff
As propriedades formadas por edificações dentro do terreno pertencentes a Philipp Maria Wolff foi denominada Villa Wolff, sendo o casarão (Hospital, consultório e residência), tipografia (jornal) e terminal de ônibus.
Corrigindo o nome das ruas. Av. Argolo não chega ao local da Villa Wolff.



Arquitetura Residência - Consultório - Hospital e Museu
Fachada da faculdade onde Wolff cursou medicina, em 1825,
Munique, Bavária.
Com relação à arquitetura do grande casarão que atualmente é a sede do Museu Municipal Dr. Philipp Maria Wolff  de São Bento do Sul, podemos afirmar seguramente que é um exemplar da arquitetura eclética e há evidências de que foi recebendo ampliações de áreas em tempos históricos distintos, construído sem um projeto de ampliação adequado. É perceptível que teve inspiração na arquitetura que Dr.  Philipp Maria Wolff conheceu em Munique, onde residiu por mais de 30 anos de sua vida.
O casarão é totalmente ornado com elementos decorativos do clássico romano, resgatado posteriormente no período neoclássico e muito comum na cidade natal de Philipp Maria Wolff, tendo como exemplo a própria faculdade onde a personalidade histórica de São Bento do Sul cursou medicina. Pelo observado, o médico coordenou a obra do casarão, a partir de seu conhecimento e vivência na grande cidade de Munique, em comparação à cidade de São Bento no mesmo período, um embrião urbano que surgia a partir de construções feitas em madeira, a partir de uma arquitetura vernacular.
A região de sua propriedade na mesma década que, de acordo com informações de fontes históricas da cidade, foi construído o casarão.
Para destacar - algumas características do neoclássico - estilo predominante:
Retorno ao classicismo: os neoclássicos valorizavam elementos típicos da antiguidade clássica, como pórticos com colunas, cúpulas, fachadas retas e frontões triangulares, como há na edificação construída por Wolff em São Bento do Sul;
Simplicidade: a arquitetura neoclássica privilegiava a simplicidade composicional e espacial sem muitos adornos como era usado no barroco e rococó. Elementos meramente ornamentais, comuns no barroco e no rococó, foram eliminados no classicismo, que preferia aqueles com funções práticas, como as empenas, aberturas, pilares a partir de uma simetria plena.
Autoridade: as construções eram usadas como símbolo de autoridade e de poder, marcada pela presença da torre. Esta questão nos leva compreender o porquê Dr. Philipp Maria Wolff  construiu algo tão imponente na vila que surgia. Estava ciente desta característica da arquitetura.
Materiais nobres: as construções usavam materiais nobres, como pedra, mármore e granito. Na casa vimos a presença do ladrilho hidráulico que surgiu para substituir o granito e o mármore, quando este estava incessível.
Proporção e simetria: Sempre, desde o período clássico esta questão é de suma importância para a arquitetura clássica e neoclássica, presente no casarão construído por Wolff.
Uso das colunas gregas: três tipos de colunas eram comuns na arquitetura grega – dórica, jônica e coríntia. A primeira é pesada e robusta. Já a segunda é esbelta e delicada. A coluna coríntia, por sua vez, possui desenho requintado. Nas construções do neoclássico é possível observá-las, como também no casarão de São Bento do Sul, atual Museu Municipal Dr. Philipp Maria Wolff.
Museu Municipal Dr. Philipp Maria Wolff - São Bento do Sul SC e a arquitetura.


Com relação às demais construções de São Bento do Sul da década de 1880, o casarão destoava muito, na escala, técnica adotada, decorativismo e monumentalidade. Em um primeiro momento, dividamos da data apontada para sua construção, mas adora não mais, se considerarmos o cenário de formação acadêmica de Philipp Maria Wolff, na Alemanha, cenário da cidade de Munique, uma das maiores cidades da Alemanha e que teve estreito contato histórico, econômico, político e social com o Império Romano.

Munique em 1650 - Fonte: Wikipédia.
Oportunizamos para esclarecer, que nem toda arquitetura alemã, do pioneiro do século XIX tenha que ter tido contato com a arquitetura vernacular construída com a técnica construtiva enxaimel. São Bento do Sul é um destes exemplos, pois estas pessoas que mudaram-se para o Brasil, teve contato histórico com o Império Romano, que construíam com a técnica autoportante construída com tijolos maciços e pedras, podendo ser rebocados, ou não. Vimos uma pequena confusão ao nos deparamos com construções feitas com concreto armado e com ripas coladas nas paredes, para fazer alusão à arquitetura alemã, que imaginam tenha que ser enxaimel. Isso não existe. 
O território alemão que fez parte do Sacro Império Romano-Germânico.
Villa Wolff - Década de 1880.






















Uma das características da arquitetura eclética e neoclássica é a simetria nas fachadas, com fileiras de grandes aberturas. No caso do casarão, não está evidente esta característica, porque recebeu ampliações de anexos construído em tempos distintos, principalmente aos fundos e nos lados esquerdo e direito da edificação. Foram retirados "Dachgaube", anexados platibandas com "mirantes", voltados para a tipografia, atualmente inexistente no edifício que sobreviveu e que recebeu o museu municipal, áreas que posteriormente, receberam coberturas.
Elementos decorativos da arquitetura romana, clássica e neoclássica, como arcos, cimalhas, frisos, pedras em detalhes, frontões decorados e como elementos decorativos, tal como existia no edifício da Faculdade de Medicina de Munique onde Wolff cursou medicina.


























Vista do local de tipografia, construída com a técnica do Backsteinexpressionimus. As aberturas do casarão são estruturados em madeira, com adornos com frisos e cimalhas. Há tipo diferenciados, como janela de abrir duas folhas e do tipo guilhotina.

A torre foi muito usado no período clássico, na Itália, que tinha relação com o poder da família residente do local. Quanto mais alta e ornada, mais importante era a família. E a torre mais alta da cidade, supostamente era propriedade da família mais importante e com poder da cidade.
O piso em madeira de pinheiro, pode não ser o piso original do casarão. Mostramos no vídeo, no local, mais especificamente no porão, onde há indícios de que este foi trocado em uma das reformas. A cor da madeira destoa dos demais elementos feitos em madeira, como por exemplo, a escada.






A Tipografia - Jornal - Técnica construtiva mista
Fachada posterior da tipografia, com os aspectos da original estrutura enxaimel e paredes autoportantes de tijolos aparentes.


Fachada frontal da casa da tipografia, no interior da varanda com a
presença  da estrutura enxaimel rebocada.
Detalhe da junção da parede e piso.
Arquitetura incrível, mista, usando a técnica autoportante e enxaimel.
A tipografia apresenta planta retangular, aparentemente  sua fachada principal voltada para o casarão, que contém uma varanda, que protege o acesso principal para o edifício.
Deixaremos registrado um impasse que verificamos ao observar este patrimônio. A técnica adotada na maioria de suas paredes é conhecida técnica do Backsteinexpressionismus, oriundo do Norte da Alemanha, que surgiu no início do século XX e que fez destacar muito profissionais da arquitetura, usada também em edifícios feitos por alemães em Santa Catarina, como por exemplo: capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro - Warnow - Indaial, o Seminário de Corupá, entre muitos outros. 
Capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro - Warnow - Indaial. A capela começou a ser construída mesmo, no ano de 1924, pelo alemão Júlio Stoy.


Seminário de Corupá. Tão logo o projeto ficou pronto os trabalho do seminário iniciaram em 1929, mais de 50 anos após a construção da tipografia e a inauguração da primeira parte aconteceu em 1932.

Edifício da antiga tipografia que fazia parte da Villa Wolff, supostamente construída na década de 1880.
Não somente isso. No século XIX, os tijolos fabricados não possuíam normas na sua produção e eram muito grandes, ao contrários destes da edificação da Villa Wolff. 

Arquitetura - Backsteinexpressionismus - Arquitetura expressionista com tijolos
O Backsteinexpressionismus é uma das muitas linguagens da arquitetura que utilizava tijolos maciços comuns ou Klinkern nas vedações ou paredes - elevações das edificações - norte da Alemanha. Os Klindern, são tipos de tijolos com queimas diferenciadas do tijolo comum - adquirindo colorações mais intensas e vibrantes e muitas vezes com nuances diferentes nas peças. Com a queima sob altas temperaturas, os tijolos ficam mais densos, menos porosos e também mais resistentes. 
O nome  faz alusão ao impacto de dois destes tijolos - o som resultante é alto. Os tijolos Klinkern são feitos a partir da mistura do barro feldspato, barro branco ou vermelho. Para a produção dos tijolos, são misturados industrialmente, a argila e água. A seguir, é feito sua queima, em fornos com temperatura médias de 1100 a 1300°C. Tijolos comuns são queimados em fornos com temperaturas médias entre 800 a 1000°C. Os tijolos  Klinkern seguem padrões rígidos na Alemanha - São padronizados pela DIN 105.
Como essa  arquitetura foi construída no
 século XIX em São Bento do Sul?
A linguagem arquitetônica do Backsteinexpressionismus se desenvolveu no mesmo período - contemporâneo à Escola da Bauhaus. Ao mesmo tempo que a Bauhaus defendia e implantava a "limpeza" das fachadas  - retirando os adornos e o decorativismo, os arquitetos do Backsteinexpressionismus desenvolviam uma linguagem ornamental no design de suas fachadas, passando a sensação de movimento e inquietude, como que, além de expressar a dinâmica do tempo, também apresentava a sua gravidade e tensões.
Muitas vezes o resultado era adquirido a partir de desenhos resultantes da organização de tijolos comuns e tijolos  Klinkern,  com variações de cores. Sua desvantagem técnica era e é a ausência do isolamento térmico, quando usado nas paredes, em locais com variações muito grandes de temperaturas em condições climática difíceis. Mas caiu no gosto das pessoas pelas inúmeras possibilidades de composições cores - do marrom, ao vermelho e violeta, denotando grande personalidade a fortalecendo a identidade desta arquitetura, tornando-a uma tendência neste momento - norte da Alemanha.
A principal característica do  Backsteinexpressionismus são as "movimentações visuais" das fachadas feitas somente com o uso de tijolos maciços aparentes em composições diferenciadas. Assim grandes panos de paredes recebiam "movimentos" de acordo com colocações variadas de tijolos maciços - algumas vezes, com diferente cores, de acordo com sua queima. Assentavam-se os tijolos e pedras afiadas em vários tipos de conjuntos e a partir destes criou-se diversas ornamentações e formas de design. Fileiras de tijolos horizontais alternando-se  com outros tipos de assentamento. 
Tipografia da Villa Wolff, São Bento do Sul SC.
Não conseguimos encontrar evidências da data da construção da tipografia, como fotografias. A arquitetura adota estava muito a frente do tempo, no qual despontou no Norte da Alemanha. Philipp Maria Wolff poderia ter sido um espírito muito arrojado, e encontrando os pioneiros desta arquitetura na Alemanha, reproduziu no Brasil, o que seria algo muito excepcional. 
A edificação histórica passou por algumas reformas, que ocasionaram, modificações na volumetria original. O anexo posterior, com um telhado com uma pequena inclinação, tinha a função de um terraço, com vista para a área central da cidade.
Curiosidades além do fato de que a construção da tipografia foi edificada com a técnica do Backsteinexpressiunimus. A fachada possui, em alto relevo o frontão decorado no classicismo, vários tipos de janelas - de guilhotina a de abrir, além da altos relevos a partir do assentamento dos tijolos maciços aparentes de diferentes cores. A volumetria é do tipo mansarda, com a varanda frontal, com a predominância da madeira , como material.
Aos fundos da edificação existe um velho pé de camélia vermelha, que pelo seu tamanho deve ter a mesma idade dela.





Velha Camélia vermelha.


Detalhes de elementos arquitetônicos construídos com os tijolos a partir da técnica do Backsteinexpressionismus.
Detalhes do assentamento dos tijolos maciços  com queima diferentes, criando o decorativismo. Este tipo de arquitetura não existe comumente na Baviera. 









Vista lateral direita, é possível observar a parte construída com estrutura enxaimel, que se limita em muitas construções atuais, por influência dos romanos e arquitetura italiana somente a estruturado telhado. Nesse caso, invadiu um pouco o corpo da edificação, que têm predominantemente as suas paredes autoportantes.













Tombamento
Esfera do tombamento: FCC (Estadual)
Endereço: Av. Argollo, 245
Processo de Tombamento: P.T. Nº 035/93
Ato de Tombamento: Decreto no 2.980, de 24 de junho de 1998.
Proteção: Entorno de 50 metros

Assista os vídeos, pois caminhamos conversando sobre a arquitetura e a história, no interior das edificações históricas.


Um registro para a História.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (X)

Referências

  • Circuito das Araucárias. Museu Municipal Dr. Felippe Maria Wolff, Disponível em: https://www.circuitodasaraucarias.com.br/produtos/ver/136/museu-municipal-dr-felippe-maria-wolff. Acesso em: 5 de outubro de 2024, 25h.
  • Inventário político analítico dos ofícios das Câmaras Municipais para Presidente da Província (1883/1885) - Volume 18 - Caixa 71. Florianópolis, outubro de 2013.
  • VIANA, João. Museu Dr. Fellipe Maria Wolff está restaurado. Primeira Página SC, 5 de julho de 2024. Disponível em: https://www.primeirapaginasc.com/museu-dr-fellipe-maria-wolff-esta-restaurado/. Acesso em 5 de outubro de 2024, 16h24.













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