quinta-feira, 19 de junho de 2014

Primeiro Núcleo Urbano de Blumenau - Stadtplatz - Entre 1850 - 1880

Stadtplatz - Colônia Blumenau
Foto: Arquivo Histórico
Vamos efetuar, de maneira resumida, uma análise da formação e transformações urbanas no Stadtplatz da Colônia Blumenau, entre 1850, quando chegaram os primeiros imigrantes alemães e 1880, ano que Blumenau foi elevada à condição de Município. A análise feita a partir de observações dos principais elementos construídos e estruturadores da malha urbana, como também, as transformações, interações e os processos sociais desenvolvidos no local. 
A conformação geográfica do Vale do Itajaí, junto à foz do ribeirão Garcia foi importante para a definição do tipo de ocupação do sítio físico do primeiro núcleo urbano da Colônia de Blumenau - Stadtplatz (Centro da cidade). O rio Itajaí Açu, os ribeirões Garcia, da Velha e outros ribeirões menores, como os ribeirões Bom Retiro e Fresco, foram os guias e caminhos fluviais de penetração na área, e o vale foi, o limitador, através de sua topografia acidentada, quanto ao tipo de apropriação e uso do solo.

O sítio físico onde foi assentado o primeiro núcleo urbano da Colônia Blumenau está situado na confluência do rio Itajaí Açu com o ribeirão Garcia, último trecho navegável do Itajaí Açu. O acesso ao local, pelos primeiros imigrantes, foi feito através de balsas e canoas. A ocupação do sítio foi efetivada com a demarcação dos lotes coloniais a partir da estrutura fundiária desenhada por agrimensores alemães em 1864, embora os primeiros imigrantes já tenham tido posse da terra em 1852.
“Nos vales do rio, mais a jusante, podiam-se ver extensos campos e pastagens, os arredores da cidade apresentavam, em sua maioria, aspecto agreste. Na verdade existia um lugar e não uma cidade. Havia uma casa e nela um comércio de toda Blumenau e o escritório do diretor da Colônia. Todas as demais construções eram choupanas de barro. Na embocadura do ribeirão Garcia localizava-se a edificação mais importante para quem chegava, o Galpão da Recepção. Em geral, havia terras não habitadas entre um e outro morador, pois os lotes, naquele tempo, como também agora, não eram distribuídos em série: Cada um podia escolher o número do lote que melhor lhe agradasse. À montante, o rio Itajaí Açu estava desmatado a partir do centro da cidade até onde é hoje se ergue a igreja católica. Depois vinha a floresta até o ribeirão da Velha, na foz do qual teve início a colônia”. Deeke – 1995, .50) 
Foram locados neste traçado, os rios, traçados de picadas, para deslocamentos a pé, a cavalo e estradas carroçáveis. Também foi desenhado o primeiro parcelamento de terras no Vale do Itajaí. Neste primeiro projeto teve destaque juntamente com o porto fluvial, a rua principal. Um boulevard com arborização central, aos moldes dos boulevares franceses na época da intervenção de Haussmann, conhecida Rua das Palmeiras, atual Alameda Duque de Caxias.

Leitura complementar - Clicar sobre: 
História

Em uma rápida explanação, apresentamos o contexto político, econômico e social da Província de Santa Catarina, na época em que foi fundada a Colônia Blumenau.
A povoação de Santa Catarina é recente, se comparada a outras regiões litorâneas do país. 
A povoação no litoral catarinense aconteceu no Século XIII. O objetivo desta povoação foi de ordem militar. O Governo Imperial incentivou o deslocamento de alguns grupos de imigrantes açorianos para a costa catarinense, fundando, em 1645, o povoamento de São Francisco do Sul e um pouco mais tarde Nossa Senhora do Desterro - Florianópolis e, em 1676, o povoado de Laguna. O único povoamento existente no interior da Província era o povoamento de Lages, criado em 1771, ao lado da Estrada que liga São Paulo a Rio Grande do Sul.

No Século XIX, a natureza da política de povoamentos mudou de natureza militar para o desenvolvimento econômico.
Em 1829 começou o povoamento pelos imigrantes alemães. Com o primeiro grupo, composto de 635 pessoas, aconteceu a fundação de São Pedro de Alcântara. 
Em 1848, conforme artigo 16 da Lei geral n°. 514, cada Província teve o direito a 36 léguas quadradas de terras virgens. Era proibido o uso da mão de obra escrava. Os agricultores e imigrantes não seriam proprietários de suas terras se em cinco anos, não a cultivassem. Esta lei permitiu a criação de colônias provinciais e que regeu o sistema fundiário até o Golpe Militar conhecido como Proclamação da República, em 1889. 
Em 15 de maio de 1850, através da assinatura de contrato entre os Príncipes de Joinville e a Sociedade de Colonização de Hamburg, aprovado pelo decreto governamental, foi fundado a Colônia de Dona Francisca, atual Joinville. No mesmo ano, Hermann Blumenau funda a Colônia Blumenau.
Em 1850 é instituída a Lei de Terras, regulamentada pelo Decreto 1.318 de 1854, acelerando o processo de povoamento na Província de Santa Catarina. 
Em 1859, segundo Santiago, a Colônia Blumenau já contava com 943 habitantes que ocupavam 169 lotes coloniais e urbanos, quando a colônia foi elevada a Distrito de Paz.
Até 1860 a Colônia era propriedade e negócio de Hermann Blumenau, até que o Governo Imperial encampou o empreendimento e pedido do fundador comprando, pagando alguma coisa a Blumenau. Hermann Blumenau permaneceu na colônia como funcionário público da coroa do Brasil - como diretor da - até 1880, quando a Colônia foi elevada a Município. Nesta época tinha uma área territorial superior a 20 mil km2.

Formação dos espaços da cidade
“No intervalo compreendido entre a chegada e a ocupação do lote próprio, os migrantes se ocupavam de trabalhos agrícolas, da derrubada de matas; eles eram igualmente obrigados a participar nos serviços gerais de abertura de estradas, construções de pontes e outras obras de interesse coletivo, não somente para não ficarem na ociosidade, segundo disseram, mas, sobretudo, para conhecerem o novo quadro da vida.” (VIDOR, 1995)
Stadtplatz de Blumenau
Stadtplatz

O Stadtplatz foi o primeiro núcleo urbano da Colônia Blumenau. Os primeiros imigrantes alemães participaram diretamente da construção e espacialização dos primeiros elementos urbanos. O parcelamento foi iniciado em 1852 através da medição e demarcação dos lotes. 
Mapa da grande Colônia Blumenau desenhado pelo agrimensor alemão José Deeke.

O Rio Itajaí Açu e os ribeirões Garcia, Fresco, Velha e Bom Retiro foram de grande importância na definição do traçado do Stadtplatz - em 1852, registrado no primeiro mapa (1864). O traçado dos primeiros lotes urbanos surgiu a partir da localização e orientação do rio Itajaí Açu e ribeirões. Este cuidado estava relacionado à acessibilidade através destes caminhos naturais, e também, a facilidade do livre acesso à água, para fins de uso doméstico na propriedade e para irrigação da plantação. 


Stadtplatz Blumenau Fotografia da Família Odebrecht
Encontrada na casa de familiares na Alemanha


A conformação geográfica dos rios e a topografia colaboraram para a definição do desenho do parcelamento de terra. Segundo Deeke, os lotes se dividiam em três tipos dentro da malha, observando a linha de fundos do mesmo.
- Reta: Formando lotes de profundidade desigual;
- Sinuosa: formando uma paralela ao traçado do curso d´água;
- Escalonada;

O parcelamento e desenho do solo eram formados por lotes estreitos e compridos, paralelos entre si e perpendiculares ao rio, aos caminhos e às curvas de níveis. Predominou lotes com testadas muito estreitas para o caminho (estrada, picada, rio ou ribeirão) e com profundidades extensas, tão extensas que em algumas situações se confrontavam com a profundidade de um lote situado em outro curso d´água. 
Ainda, existe o fator cultural para esta configuração urbana detectada no Stadtplatz da Colônia Blumenau. Segundo YAMAKY citado por Del Rio, as cidades de culturas alemãs são estruturadas pela rua principal e o rio, portanto em um vale.
“Destacaríamos também as pesquisas sobre as estruturas espaciais das cidades de colonização japonesas, alemãs e italianas no Brasil desenvolvidas por YAMAKI (YAMAKI & NARUMI 1985). YAMAKI nos mostra como as cidades de colonização seguiam intenções de projeto não tão simples como se supunha, perseguindo uma “imagem inicial” e uma estrutura com claras definições ideológicas e conceituais, às vezes perseguindo modelos europeus do início do século, como os da cidade jardim.” (DEL RIO – 1990 Pág. 81)
O parcelamento do primeiro núcleo da Colônia Blumenau surgiu a partir da adequação da paisagem natural, formada pelo vale (rios, ribeirões e montanhas) e a necessidade de acessibilidade às propriedades, aproveitando os caminhos naturais. Também houve reflexo das cidades alemãs sobre e estruturação urbana a partir da rua principal e rio. 
Segundo KOHLSDORF, parcelamento se refere à maneira que o solo é dividido para os vários tipos de ocupação, sejam edifícios ou áreas abertas. Há duas instâncias de observação dos tipos de parcelamento: um refere-se as quadras, e outro a parcela no interior das mesmas.
No Stadtplatz da Colônia Blumenau, o traçado surgiu para completar e interagir com os caminhos já existentes naturalmente: rios e ribeirões.
Os primeiros lotes foram entregues aos colonos em 1852. No início da colonização, as famílias residiam na sede da colônia, deslocando-se diariamente até sua gleba de terra para o trabalho na plantação. À medida que os novos imigrantes chegavam à colônia, iam sendo demarcados os lotes urbanos e rurais ao longo das picadas já abertas, formando as linhas coloniais, onde os colonos passavam a ir à sede somente nos finais de semana. Este traçado ia tomando a forma de “espinhas de peixe”.
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Porto: Local onde aportavam e partiam os imigrantes rumo a Itajaí e de lá para outras partes do Brasil e exterior, quase sempre para Alemanha. 
O porto estava localizado às margens do Itajaí Açu, na foz do ribeirão Garcia. De frente para o Boulevard Hermann Wanderburg - Rua das Palmeiras, atual Alameda Duque de Caxias. Rua onde os lotes coloniais foram logo ocupados, por casas comerciais, residências e igreja. No terreno situado às margens do Rio Itajaí foi criado um espaço público através de uma praça linear ao rio. Ponto de encontros, e pequeno comercio local. O Porto, depois do rio Itajaí Açu, foi o primeiro elemento e se firmar como elemento estruturador da cidade. A primeira área a ser ocupada foi em suas proximidades, foz do ribeirão Garcia.
Porto antes de 1890

Bulervar Hermann Wandarburg - Rua das Palmeiras: Atual Alameda Duque de Caxias. É um grande avenida desenhada aos moldes das grandes avenidas francesas. Com duas largas pistas de rodagem, sem ainda ter a presença do automóvel, separadas por duas fileiras de palmeiras e um caminho para pedestres. O início do boulevard se dava no porto, como marco “ zero” da cidade. Sua implantação considerou a orientação do porto, paralelamente ao ribeirão Garcia, orientando de certa forma a ideia de rua principal paralela ao rio ou ao ribeirão. Conforme analisou Peluso e outros pesquisadores, as cidades de colonização alemã apresentam crescimento linear e radial de acordo com a estruturação, geralmente, percebida nas cidades da Alemanha. Os eixos são orientados paralelamente aos cursos d´água. Este fato também é citado por Del Rio, p. 82.
Rua das Palmeiras - Final Século XIX
Rio Itajaí Açu: O primeiro grande elemento natural estruturador do primeiro núcleo da Colônia Blumenau. Responsável pela viabilização do Porto. Elemento focal natural importante e direcionador na estruturação posterior do Stadtplatz, como também de outros tantos núcleos urbanos que nasceram ao longo de suas margens do rio no Vale do Itajaí para o norte. Esta acessibilidade facilitou a formação da rede de povoados que deu origem a rede de cidades no Vale do Itajaí. 
Vapor Progresso no Rio Itajaí Açu
Fonte de alimento e água para irrigação da plantação do imigrante.
O rio, desde o primeiro momento, foi importante para o desenho da cidade, que no primeiro mapa do Stadtplatz, de 1864, foram detalhados com quase precisão, a localização de todos os cursos d´água.
A paisagem e o espaço urbano de Blumenau são fortemente condicionados pelas encostas dos morros, coberta pela luxuriante mata Atlântica, que seccionam o tecido urbano. Entre rio e montanha, a malha urbana se desenvolveu inicialmente linearmente ao longo de fundos de vale, em área parcialmente inundável...” (Claudia Siebert – 1999)
Ribeirão Garcia: Tal como o rio Itajaí Açu tem sua importância como elemento focal natural, fonte de irrigação da lavoura, elemento estruturador das ruas, no traçado do lotes. As ruas foram quase todas, orientadas, adequando-se acessibilidades ao ribeirão. 
Foz do Ribeirão Garcia - 1869
Comentário: Observa-se a intenção de promover a ligação entre o porto e a via principal (rua das Palmeiras), sendo que esta é orientada paralelamente ao ribeirão Garcia, forçando o desenvolvimento da malha no sentido do vale do ribeirão Garcia, ocupando as partes planas e baixas do sítio físico. Estas com um traçado que permitisse o acesso à água por todas as propriedades. Resultado: lotes estreitos e profundos.

Praça da Fonte: Foi criada uma pequena praça, hoje inexistente em função do tráfego de veículos (tragada pelo sistema viário atual) entre o boulevard e o porto. Ponto de encontro, interação e lazer. Inserida no espaço do Stadtplatz, respeitando a escala local. Munida de equipamentos urbanos, como: bancos, canteiros e fonte d´água.
Praça da Fonte
Foto: Arquivo Histórico
O conjunto dos elementos formadores da malha urbana do Stadtplatz - primeiro núcleo urbano de Blumenau tem características muito bem delineadas no que tange a ao espaço público e privado na paisagem predominante.
Neste primeiro momento de urbanização, antes do uso e do surgimento da Rua XV de Novembro, tradicional rua de comercio de Blumenau, percebe-se que o não havia uma preocupação em demarcar um local na cidade estritamente comercial
Segundo Sr. José Ferreira da Silva, os terrenos eram distribuídos de maneira aleatória aos colonos que escolhiam aqueles que mais lhe agradavam. Criando com isto, pontos de áreas verdes não ocupados, entrecortando as propriedades ainda com características rurais neste primeiro momento da história da formação da malha urbana de Blumenau. A rua XV de Novembro era então, somente uma picada na mata margeando o rio Itajaí Açu, rumo à foz do ribeirão da Velha.
Como já visto, os terrenos tinham a forma retangular com a testada estreita e de grande profundidade, por conta de importância da acessibilidade ao curso d´água. As edificações permanentes eram locadas, neste primeiro momento, com um determinado afastamento da rua, para o feitio de um pequeno jardim de flores, dividido em duas partes através de um caminho que levava ao portão que ligava a varanda da casa à rua. 
1876 - Casa do Padre - Igreja católica de Blumenau
Este caminho era adornado com flores silvestres e roseiras, cujas mudas vinham da Alemanha. Na parte dos fundos da propriedade, em áreas planas, eram edificados os ranchos, estrebarias, depósitos e oficinas. Onde dormiam e eram alimentados os animais, ordenhava as vacas, fazia produtos do leite, como queijo, queijinho e nata. Nestas edificações, também era onde cozinhavam os musses (Doce de frutas), faziam as linguiças e derivados em geral da carne de porco e gado; armazenavam as produções agrícolas, como grãos (trigo, feijão, arroz), iame, cará, batatinha; e equipamentos diversos, desde arreios, ferramentas da lida na lavoura, carros de boi, carros de mola, entre outras coisas.
Arquivo José Ferreira da Silva
Geralmente a área de plantio de maior porte, ficava mais afastada da casa. Próxima a casa ficava uma horta, com ervas e verduras e o local onde ficavam as galinhas, para a produção de ovos. Entre a lavoura e a horta e galinheiro tinha o pomar. Pomar, fonte de frutas para alimento e feitio de doces, tortas e sobremesas. Culinária familiar, onde as receitas eram oriundas da Alemanha, repassada de mãe para filha. Estas benfeitorias iam sendo feitas ao longo do tempo, quando as pessoas já instaladas na propriedade 
A propriedade, neste primeiro momento, de 1850 até 1880, era abastecida pela água dos cursos de água locais, ou por poços construídos.

As propriedades ocupavam as partes mais planas do vale, e entrecortadas por caminhos, ruas, estradas e picadas, quando não houvesse acesso ao rio e ribeirões. 
Em um primeiro momento, a colônia, que apresentava uma estrutura minifundiária, dedicou-se a policultura de subsistência. Logo, entretanto, o trabalho do imigrante permitiu a formação de um excedente, que propiciou o surgimento de pontos de trocas, surgindo o comércio e a área comercial. Que por sua vez, fez surgir outro tipo de ocupação do lote. A rdificação ficava junto ao alinhamento da rua, sem qualquer afastamento da rua.
O grande número de artesão (marceneiros, ferreiros, carpinteiros, alfaiates, etc) aumentou o grau de auto-suficiência da Colônia, possibilitando a atividade da exportação e o aumento da movimentação no Porto fluvial situado à cabeceira do Boulevard Hermann Wanderburg - Rua das Palmeiras. 
Era comum, existir áreas vazias entre uma propriedade e outra. Isto acontecia por que os lotes não eram distribuídos em série. O imigrante, como já comentado, escolhia o lote que lhe agradava e que podia pagar a Hermann Blumenau. Como tinha ainda muita terra disponível, ficavam muitas lacunas sem construção no perfil da paisagem. Claudia Siebert comenta que aí surgiu a “Urbanização desequilibrada”, permeada dos vazios urbanos, instrumento da especulação imobiliária - coisa que sempre existiu, pois haviam colonos que podiam adquirir somente no interior da Colônia Blumenau, bem no interior. Ouvimos isto de descendentes de imigrantes - lotes próximo ao Stadtplatz eram muito caros. Hermann Blumenau implantou a especulação imobiliária desde o início da  história da Colônia Blumenau.

As edificações

A casa permanente do imigrante adotava a técnica em enxaimel. O enxaimel consiste, basicamente, na articulação de peças de madeira horizontais, verticais e inclinadas, formando um sistema rígido, preenchido com materiais de vedação, desde taipa, madeira, adobe ou tijolos maciços.

Leitura Complementar - Clicar sobre: Técnica enxaimel

A implantação da casa e das outras instalações domiciliares eram realizadas de forma despretensiosa, nas áreas planas da propriedade e, raramente eram feitas nos aclives, com nítida tendência ao isolamento. 
Em um primeiro momento, os fechamentos eram confeccionados em taipa e dobe. Foi por pouco tempo, logo o imigrante começou confeccionar tijolos e telhas em olarias. As paredes externas passaram então e ser feitas em tijolos aparentes na cor natural.
Foto: Arquivo Histórico de Rio do Sul
A edificação era feita elevada do chão através de baldrames apoiados sobre pedestais apoiados sobre pilaretes de tijolos ou pedras, com isto criando dificuldade para entrada de insetos e cobras, e promovia o isolamento contra a umidade do solo, aumentando a vida útil da madeira. Seu perfil era caracterizado por telhados pontiagudos de duas águas, com o lado da calha voltado para a rua. A cobertura era feitos com telhas duplas, curvadas na parte inferior (conhecida telhas alemãs, germânicas ou cauda de castor), prolongando-se até os beirais apoiados em elementos de madeiras conhecidas como “cachorros”.
As aberturas são usadas nas fachadas de forma simétrica em relação a porta. Apresentam as mesmas dimensões, com a abertura das folhas voltadas para o lado externo da casa. As primeiras casas tinham aberturas de madeira, mais tarde surgiram casas com aberturas com vidros de pequeno tamanho.
A porta principal quase sempre era adornada e localizada ao centro da fachada principal. Às vezes era complementada por pequenas esquadrias.
Os volumes das primeiras edificações do Stadtplatz apresentavam quase sempre os mesmos elementos tipológicos. Da rua, como já visto anteriormente, se atravessa um jardim, em direção à porta, na maioria das vezes protegidas por uma varanda ou pequena cobertura.
A espacialização interna também segue, quase sempre uma mesma tipologia. Na parte frontal localiza-se a sala e um dos quartos. Na parte posterior, está a cozinha, a copa e uma escada íngreme que leva ao piso superior, o sótão. O sótão geralmente utilizado como o quarto dos rapazes ou depósito de produtos agrícolas.
A varanda era utilizada nos momentos de lazer, aos domingos e após o trabalho. Geralmente com guarda corpo fechado com gradis de madeira trabalhada. Protegia a casa dos excessos de sol e chuva.
A decoração interna da casa apresentava paredes com pintura, cortinas claras, móveis de madeira pesada, assoalho de tábuas largas e tetos de madeiras. 
As construções em enxaimel foram utilizadas nas mais variadas funções: desde casas de comércio, escolas, salões de baile e, até em igrejas.
O enxaimel trazido pelos imigrantes alemães no fim do século XIX remonta ao período renascentista, desenvolvido em alguns lugares da Europa, e no caso da Alemanha, entre os séculos XVI e XVIII, já considerado fora da época. Entretanto esta técnica construtiva conhecida dos etruscos no século VI a.C. pode ter tido seu início talvez, alguns séculos antes. (VIDOR)O enxaimel se caracteriza como obra de grande efeito plástico, decorrente da exposição de materiais tectônicos, sem nenhuma cobertura, sem adereços, fazendo com que os tijolos, telhas e madeiras brilhem de acordo com a intensidade da luz. Estas construções, sempre em simbiose com o verde natural, onde foram construídas, marcam de maneira muito forte, todo lugar em que se encontram. Outrora, estas construções foram consideradas rudes. (VIDOR - 2006)
Referências

AYMONINO, Carlo. “O significado das Cidades” . Coleção Dimensões n.15. Ed Presença. Lisboa, 1984.
DEEKE, José. O município de Blumenau e a historia de seu desenvolvimento. Tradução Edith Sophia Eimer. - Blumenau : Nova Letra, 1995.
DEL RIO, Vicente. Desenho Urbano no Processo de Planejamento. São Paulo, PINI, 1980.
Fundação “Casa Dr. Blumenau”. Museu da Família Colonial. Edição Comemorativa dos 20 anos de instalação. Blumenau, 1967/1987.
GERODETTI, João Emílio, CORNEJO, Carlos. As ferrovias do Brasil – Nos cartões Postais e algumas lembranças. Solaris Edições Culturais. São Paulo, 2005.
KIRLIAN, Frederico. A Estrada de Ferro Santa Catarina. Blumenau em Cadernos, Tomo I, N_72. Blumenau, Dez. 1957.
KLUEGER, Urda Alice. Verde Vale. 1. Edição – Ed Lunardelli. Blumenau, 19__.
KOHLSDORF, Maria /Elaine. A Apreensão da Forma da Cidade, Brasília, UnB. 1996.
PANERAI, Philippe, DEPAULE, Jean-Charles, DEMARGON, Marcelle e VEYRENCHE, Michel. Elementos de Análises Urbana. Colecccion Nuevo Urbanismo. Madri, Instituto de Administracion Local, 1983. p 26
PELUSO Jr., Victor Antônio. Estudos da Geografia Urbana de Santa Catarina. Secretaria de Estado e Cultura e do Esporte. Ed UFSC.
PORATH, Soraia Loechelt. A paisagem de rios urbanos A presença do rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau. Florianópolis, 2004. 150 f.Dissertação (Mestrado) – Orientadora Sônia Afonso. Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. 
SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. 3º Edição; São Paulo S.P . Editora HUCITEC, 1991.
SANTIAGO, Nelson Marcelo. Acib – 100 anos Construindo Blumenau. Blumenau Editora Expressão. Editora expressão.Blumenau 2001.
SIEBERT, Claudia Freitas. Evolução Urbana de Blumenau. O (des)controle Urbanístico e a Exclusão socio-espacial. Orientadora Margareth A. Pimenta. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. 711.40981642 ,S571e ,TE Ano 1999.
SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. Fundação Casa Dr. Blumenau – 2. Edição. Blumenau,1988.
VIDOR, Vilmar. Indústria e Urbanização no nordeste de Santa Catarina. Ed Furb. Blumenau, 1995.
WITTMANN, Angelina. A Estrada de Ferro no Vale do Itajaí – Resgate do Trecho Blumenau – Warnow. Blumenau. Edifurb. Ano 2001.





5 comentários:

  1. Consegui localizar no Arquivo Histórico de Blumenau, o Contrato de Arrendamento e Compra do Lote de Terras, firmado entre o meu Trisavô materno Johann Wloch e Dr Hermann Otto Blumenau, datado de 01 de março de 1858 e junto ao contrato foi localizado um papel com anotações dos pagamentos efetuados, bem como o cálculo dos juros anuais referentes as parcelas.

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  2. Meu trisavô Johann Wloch embarcou no Porto de Hamburgo em 15 de março de 1856, no Veleiro Walter, com sua esposa Theresa (ou Theresia, com em alguns registros) e suas filhas: Hedwig com 8 anos, Caroline 5 anos e Anna com 2 anos. Após sua chegada nasceo o varão Johann Wloch filho em 1857 e em 1861 nasceu o caçula Gustav Wloch, meu bisavô. Segundo o registro de embarque eles eram procedentes de Erlenbusch-Madenburg- Império Prusso, hoje chama-se Olszyniec e fica na Polonia. Ainda consta no registro de embarque como sendo sua profissão como Baumann ou Bauermann (não está muito legível).

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  3. Bom dia Sr. Wagner. O Senhor tem consigo preciosidades históricas. Depois desta pesquisa , andei pesquisando...seguindo sugestões sobre a etnia Kaschubien....Por favor acesse no link - http://angelinawittmann.blogspot.com.br/2014/06/kaschubien-povo-e-cultura-que.html. É curioso.
    Abraços...

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  4. Hoje me arrependo amargamente quando não dava atenção as histórias que mamãe contava de nossos antepassados. Já que mamãe era filha de imigrantes de Weimar. Hoje fazem 21 anos que mamãe partiu e papai já fazem 30 anos. Acordei tarde para investigar minhas origens. Muitas histórias se perderam no tempo. Depois que me aposentei comecei a pesquisar a minha história, e descobri que muitos problemas de saude que tenho são comuns com meus antepassados....Como diz meu médico são as heranças de seus avós e bisavós... Ma continuo na luta na busca de minhas origens para poder construir o meu futuro...

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    1. Antes, tarde, do que nunca. que bom que o senhor investiga e encontrou algumas respostas aos seus questionamentos. Pesquisar é muito bom! Abraços.

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