Deutsche Welle
Um ano após revogação do aumento das passagens, MPL reivindica tarifa zero e readmissão de metroviários demitidos. PM atribui destruição de agências bancárias e concessionária de carros ao movimento.
O protesto organizado nesta quinta-feira (19/06) pelo Movimento Passe Livre (MPL), que luta por melhorias no transporte público, reuniu mais de mil pessoas em São Paulo e terminou com depredações de agências bancárias e de uma concessionária de carros.
Durante o protesto, um carro da TV Gazeta teve o vidro destruído por manifestantes. A Polícia Militar (PM) interveio somente no final, dispersando o ato com bombas de gás. Não houve detidos. O ato marcou um ano da revogação do aumento das passagens, após as manifestações de junho do ano passado.
A manifestação começou pacífica, por volta das 15h, na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista. Os manifestantes seguiram em passeata pela Avenida Rebouças, onde algumas dezenas de mascarados destruíram as fachadas de ao menos quatro agências bancárias.
Outro grupo de manifestantes, alguns também com o rosto coberto, conseguiu impedir depredações em diversas ocasiões, fazendo um cordão humano para proteger estabelecimentos no caminho. Durante o percurso, manifestantes picharam paredes e muros com os dizeres “PM ama FIFA”, entre outros bordões.
Por volta das 18h, a passeata seguiu até a Marginal Pinheiros, uma das principais vias da cidade, onde queimaram catracas feitas de papelão e encenaram uma partida de futebol. Nesse momento, pequenos grupos montaram barricadas e atearam fogo aos objetos.
Cerca de uma hora depois, o MPL deixou a marginal em direção ao Largo da Batata, onde terminaria o ato. Nesse momento, entretanto, mascarados retomaram as depredações, incluindo uma concessionária de carros. Vários veículos de luxo foram destruídos, além de objetos dos escritórios.
Além do transporte público, Copa do Mundo e Fifa foram alvos das manifestações
Pouco depois, a Tropa de Choque chegou ao local e usou bombas de gás para dispersar o protesto. Pequenos grupos adeptos da tática black bloc continuaram no bairro de Pinheiros, usando lixo e objetos para obstruir algumas ruas. Em vários momentos do protesto, bandeiras do Brasil e adereços da Copa, presos a carros ou edifícios, foram destruídos. Por volta das 20h, a situação já estava normalizada.
Numa coletiva de imprensa no fim da noite, a Polícia Militar disse que se manteve distante do ato por um pedido do MPL e que atribui as destruições ao movimento. Segundo um membro do grupo, Heudes Cássio da Silva, o movimento não é responsável pelas depredações. “O ato é aberto, não controlamos quem participa. Os manifestantes têm autonomia”, disse.
Ainda de acordo com Silva, o MPL não pediu que a PM ficasse distante do ato. “Nós dissemos que a presença ostensiva da polícia costuma causar problemas e que nós somos capazes de garantir a nossa própria segurança.”
Tarifa zero e readmissão de metroviários
Além de marcar um ano da revogação do aumento das passagens, o protesto também pedia a tarifa zero e a readmissão dos 42 metroviários demitidos durante a greve da categoria, no início deste mês.
A manifestação, nas zonas oeste e central da cidade, também foi voltada contra a Copa do Mundo e marcada para uma hora antes do jogo Uruguai e Inglaterra, realizado no Itaquerão, na zona leste. A chegada e saída de torcedores do estádio transcorreram sem incidentes.
O principal motivo para José de Freitas, de 86 anos, protestar foi a Copa
“Enquanto os governos gastam bilhões com a Copa, somos humilhados diariamente nos trens e ônibus lotados. Quem tenta resistir é criminalizado. Motoristas, cobradores e metroviários são demitidos por fazer greve e quem tenta se manifestar é reprimido pela PM. Se a Copa é dos ricos, a cidade vai ser nossa. Tarifa zero já!”, disseram, em jogral, os organizadores do ato.
Para Silva, há poucos motivos para comemorar. “Os investimentos da Copa em mobilidade foram para obras viárias, que privilegiam o transporte individual”, reclama. Ele afirma também que houve um aumento na repressão às manifestações. “Desde junho do ano passado, o armamento usado pela PM nos protestos só aumentou”, diz.
Entre os manifestantes estava o aposentado José de Freitas, de 86 anos, que diz ter participado de mais de dez manifestações desde junho de 2013. O principal motivo para comparecer ao protesto desta quinta-feira foi a Copa: “sou contra, lógico!”.
- Data 20.06.2014
- Autoria Marina Estarque, de São Paulo
- Edição Luisa Frey
Nenhum comentário:
Postar um comentário