sexta-feira, 25 de julho de 2014

190 Anos de Imigração Alemã - 2014 - De maneira Organizada - Para o Brasil - Por que 25 de Julho?

Monumento do Imigrante -Praça Hercílio Luz - Blumenau
Por que foi escolhida a data 25 de julho para prestar homenagens aos pioneiros - imigrante alemães, em todo o sul do Brasil?
Por que 25 de Julho faz parte do nome do centro cultural, em várias cidades "pipocadas" no Sul do Brasil?
Homenagens às famílias e aos seus filhos que saíram de suas cidades e  casas,  na Alemanha, para construir uma nova vida em um jovem país distante, para o qual também vieram imigrantes de inúmeras outras nacionalidades e em tempos distintos, dentro de sua história - a História do Brasil Etnias que também imigraram para cá, como: Portugueses, espanhóis, franceses, italianos, poloneses, japoneses, chineses, coreanos, australianos, africanos, americanos, canadenses, ucranianos e alemães -  em recortes de tempos distintos. No caso da imigração alemã, e é no dia 25 de julho - data que é comemorada e lembrada a vinda do primeiro grupo de imigrantes alemães, de maneira organizada.
O 25 de Julho de 2014 é especial, porque é uma data "cheia" - Novamente destacando - Faz 190 anos que o primeiro grupo organizado de imigrantes alemães chegou ao Brasil.

Já postamos sobre o tema, em outros anos, na mesma data - 25 de Julho - Mas sua importância faz nos recordar e relembrar esta história. Apresentá-la às novas gerações e novos blumenauenses. E também, como nossa homenagem aos pioneiros.
Mapa que mostra o que era o Brasil em 1852 e seu território
2 anos após a chegada da leva dos primeiros imigrantes no Vale do Itajaí.
No início do Século XIX, a região sul era um problema de segurança e infra estrutura para o governo central brasileiro recém liberto de Portugal. A região fazia parte de constantes disputas de terras entre, principalmente, portugueses e espanhóis e era pouco desenvolvido e povoado, comparada às regiões sudeste e nordeste do país. 
Em 1822, quando o Brasil se libertou de Portugal, o governo brasileiro investiu em propaganda para promover a imigração para o Brasil, principalmente a alemã e italiana. A Europa, neste período, estava passando por uma série de conflitos e revoluções -  final do século XVIII e  início do Século XIX. 
Brasil não dispunha de um exército para manter sua segurança nacional a partir de seu continental território, principalmente na região sul, que estava sob constantes ameaças em suas fronteiras - investidas das tropas espanholas. Por questões de segurança, não podia confiar nos portugueses que vivam na região.  O governo brasileiro, encontrou uma saída. Através de propaganda de convencimento na Europa, propagava as vantagens do novo país, entre estes: o direito à terra, paz e alimento em abundância. Ofereceu vantagens (Nem sempre cumpridas) às famílias interessadas a residir no sul do Brasil, como: passagens, direito à cidadania, isenção de impostos e direito a posse de uma ou duas colônias de terras (24 a 48 ha). O objetivo era que estas famílias, principalmente alemãs e italianas, ocupassem a terra e os homens servissem no exército de reserva para manter a segurança da região sul , principalmente contra os espanhóis.
Passagem de uma família que imigrou no início do Século XX -
Prática que durou por décadas até às grandes guerras
Nesta época, início do Século XIX, a Alemanha e a Itália não existiam como países unificados e passavam por intensas transformações sociais em seus territórios com a industrialização tardia e movimentação de pessoas do campo para as cidades. Como já postamos aqui no Blog, a Unificação da Alemanha somente ocorreu em 1871. Na mesma época, ocorreu a unificação da Itália, consolidada somente em 1929, com o Tratado de Latrão, entre Mussolini e o Papa Pio XI.
Tratado de Frankfurt - 10 de maio de 1871  - Versalhes  - 
Guilherme I (Rei Prussiano) é aclamado imperador 
da Monarquia Federal Germânica
Já existiam famílias alemãs no Brasil, soldados alemães nos quartéis do Rio de Janeiro, empresas alemãs nas regiões litorâneas do Brasil, mas foi somente no dia 25 de julho de 1824, que chegou ao país um grupo organizado e orientado pelo Estado brasileiro, de imigrantes alemães. Um grupo de 39 imigrantes alemães que chegou no Porto de Tebas na Real Feitoria da Linha Cânhamo, na atual cidade gaúcha de São Leopoldo.
Porto da cidade de São Leopoldo RS - Ano de 1900
europeu, teria que continuar. A terra prometida era muito diferente daquela descrita nas propagandas. Eram regiões rudes, desprovidos da infra-estrutura mínima, como por exemplo, estradas e com donos  - os nativos. 
Imigrantes alemães se instalando em São Leopoldo - RS

Primeiros imigrantes na Colônia Dr. Blumenau
Formaram muitas colônias de imigrantes alemães no sul do Brasil. Estes novos brasileiros, resolveram adotar esta data de 25 de Julho, como a data que homenageariam os imigrantes alemães, o colono, agricultor e a festa da colheita, muito comum na Alemanha e também parte da mitologia germânica - A festa do agradecimento
Mapa alemão de 1905 da colônias alemãs no Brasil
Ficou então determinado que no dia 25 de Julho seria o Dia do Colono, aludindo aqueles primeiras famílias alemãs que receberam colônias de terra e também seria a data de homenagens e agradecimento em memória dos pioneiros alemães, que enfrentaram grandes e muitos desafios e ajudaram a construir muitas das cidades do sul existente principalmente nas paisagens dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.



No navio - durante a viagem pelo Atlântico


Inauguração do monumento em homenagem ao centenário da imigração
alemã em 1924 - em São Leopoldo.
Postado por Felipe Kuhn Braun
Monumento símbolo da marca dos
Centros Culturais 25 de Julho





















A data também tem muito ligação com o C.C. 25 de Julho, não somente o centro cultural de Blumenau, mas aos muitos, em várias cidades do sul, fundados por alemães e seus descendentes, como espaço de práticas culturais e tradições do país de origem - Alemanha.
A música sempre estevem presenta nas famílias de imigrantes alemães
Conhecendo a origem do C.C. 25 de Julho...

Sr. Theodor Heuss
Após o término da II Grande Guerra, um Coro só de homens - Coro Masculino Alemão de Porto Alegre, e seus familiares organizaram uma ação de Ajuda Humanitária à Alemanha - chamada na época, de Socorro à Europa Faminta - SEF. Captaram donativos e enviaram para o país de origem de muitos que viviam no sul do Brasil e para não assim dizer, com familiares na Alemanha. 

Para a surpresa do Coro que teve a iniciativa, não demorou muito e recebeu uma carta do Presidente alemão da época, Sr. Theodor Heuss, expressando o seu agradecimento  e de todo o povo alemão  pelo ato caridoso e solidário. Acompanharam a carta, dois candelabros elaborados por artistas alemães com a seguinte frase: Dankspende des Deutschen Volks (Agradecimento do povo alemão).

Em 1950, os coralistas formaram um novo coral que batizaram exatamente com a data25 de Julho e ficou então batizado Coro Masculino 25 de Julho. 
Em 1951, os senhores do Coro Masculino entendendo que poderiam ter outras atividades culturais além do canto, resolveram abrir o espaço e criar um espaço físico, para canto, dança, teatro entre outras atividades, fundando o C.C. 25 de Julho de Porto Alegre
Toda esta história sensibilizou, como também, motivou outros grupos de imigrantes alemães no sul do Brasil a fundarem "seus centros culturais" com o mesmo nome e Homenagem - C.C. 25 de Julho, com o acréscimo da cidade no final.

Também em Blumenau, no dia 1° de maio de 1954, foi fundado por um grupo de jovens alemães e filhos de alemães - o C.C. 25 de Julho de Blumenau. 
Primeira sede própria do C.C. 25 de Julho de Blumenau - Bairro Victor Konder - Blumenau
As práticas culturais já existiam na cidade, de maneira isolada, pois este hábito foi, e é, trazido junto com a bagagem das famílias alemãs. Por exemplo o Coro Masculino Liederkranz foi fundado em 1909. Depois, foi recriado em 1962, dentro do  C.C. 25 de Julho de Blumenau e permanece até os dias atuais, com mais de 60 anos de existência.
Natal de 1962  - C.C. 25 de Julho de Blumenau
Uma das primeiras apresentações do Coro Masculino Liederkranz 
C.C. 25 de Julho de Blumenau, ha muito tempo, presta homenagens à memória dos antepassados na semana que está esta data: 25 de julho.

Alguns momentos junto ao Monumento do Imigrante...
1971 - Entre os presentes está Sr. Rossmark, Sr. Bethe e o Sr. Paulo Köneig
1974 - Sr. Paulo König , Sr. Harry Dickmann (Presidente do C.C. 25 de Julho de Blumenau) e
 Sr. Félix Theiss - Prefeito de Blumenau
2010 - Sr. Stefan Ziel e Sr. Dieter Berner
2011 - Grupo do C.C. 25 de Julho com  representantes da 
Fundação Cultural de Blumenau 
2013 - Representantes da Comunidade, C.C. 25 de
Julho de Blumenau e da Fundação Cultural de Blumenau
Atualmente, estas ações culminam com muitas atividades, a partir de seus grupos culturais, várias comemorações na cidade.
Hoje estivemos na Praça Hercílio Luz, junto ao Monumento do Imigrante, onde, como em todo o ano, conta com a presença das pessoas e de grupos culturais para a colocação de flores e palavras solenes lembrando àqueles que vieram antes.
Neste dia 25, hoje, a Fundação Cultural de Blumenau coordena a homenagem de Blumenau, aos antepassados, entre os quais , os primeiros chegaram há 190 anos. 

Curiosidade...

Uma narrativa de 1824 do Sr. Schlichthorst com relação aos primeiros alemães que desembarcavam no Brasil e eram obrigados diretamente a se alistarem no exército brasileiro. Sr. Schlichthorst, imigrante alemão, foi um ex-oficial do Imperial Exército Brasileiro. Desembarcou no Rio de Janeiro em 14 de abril de 1824, servindo no período de 1824 a 1826, quando retornou a sua terra natal. Em sua memória lamentou ter sido iludido por falsas promessas no Brasil. Schlichthorst era jovem e gostava de passear pelas ruas do Rio de Janeiro durante as suas folgas apreciando a natureza. A seguir, parte de sua narrativa, rico registro histórico de uma época, do quem vivenciou - Regimento de Estrangeiros nos quartéis do Rio de Janeiro, no Primeiro Reinado brasileiro.
“...Apesar de alistados em Hamburgo como colonos, no Rio de Janeiro eram imediatamente forçados a assentar praça. Só tinham liberdade para ir para onde quisessem os que haviam pago suas passagens; mas estes mesmos às vezes abandonavam suas colônias e voluntariamente se engajavam, sendo, nesse caso, reembolsados pelo Governo[pela passagem](...)Os oficiais vindos nesses navios de transporte, em parte se viam colocados na graduação que o Cavalheiro Schäffer lhes garantia em Hamburgo. Alguns, no entanto, ficaram decepcionados,[foi o caso de Schlichthorst que desejava servir na Marinha e não no Exército] o que se deve atribuir mais a desordem reinante no Ministério da Guerra do que a um engano proposital daquele Cavalheiro.(...) Sim, eu próprio que, mais tarde, pude me enfronhar no modo de vida do país e conhecer o sistema de suborno nele reinante, sabendo como sei que no Brasil tudo se arranja com dinheiro(...)bastando-lhe aparência decente e alguns milhares de táleres [dinheiro alemão] para pagamento da patente(...) Para alimento dum soldado, o Governo escritura por dia meia libra de carne e meia de pão; mas(...)recebem tão pouco[carne] que suas refeições quase se limitam a arroz e feijão. Além disso, a carne que lhes dão é da pior qualidade, isto numa terra como o Rio de Janeiro, onde a carne já é ruim. O pão é feito na maior parte de farinha de milho, apesar de pago como de puro trigo. A maioria dos soldados o vende, para beber mais cachaça. Cozinham-se alternadamente duas vezes por dia, arroz e feijão. Não se varia o alimento. Serve-se o rancho sem o menor asseio. O oficial-de-dia tem obrigação de provar a sopa, sendo realmente preciso grande força de vontade para engolir esse caldo nojento. O mais pobre escravo vive melhor, sem dúvida, do que o soldado estrangeiro no Brasil.(...)O que, no entanto, torna ainda mais intolerável a situação do soldado é a falta absoluta de qualquer comodidade nos quartéis. Em parte, não há sequer tarimbas e os homens dormem pelo chão em esteiras, com um cobertor. Atormentados por incontáveis insetos, procuram na cachaça alívio ao seu martírio e curto esquecimento de sua desgraça.(...) Não é difícil imaginar os excessos a que diariamente se entregam. A conseqüência é uma pancadaria bárbara, sendo raro o dia em que se não apliquem castigos de 50, 100 e até 200 chibatadas, nas costas nuas dos infelizes(...)Os de natureza mais forte sentem uma espécie de orgulho em dizer que suportaram durante seu tempo de serviço alguns milheiros de vergastadas. Diante de um tratamento desses, não é de admirar que as deserções sejam freqüentes. Os que procuram o interior do país são logo agarrados[como os soldados presos em Nova Friburgo], porém, os que tentam escapulir por mar, raramente são descobertos (...)Castiga-se a deserção com 200 chibatadas nas costas nuas, dadas com finas vergastas de junco. Muitos as têm agüentado até quatro vezes, sem desistir de novas tentativas.....” 
Leituras complementares:
Para acessar, basta clicar sobre o Título:
    Alemanha e sua cultura presente na História de Blumenau e região.
    1. A Prainha...Praça Juscelino Kubitschek de Oliveir...
    2. Schützenverein Eintracht
    3. Primeiro Núcleo Urbano de Blumenau - Stadtplatz
    4. A Ferrovia no Vale do Itajaí - Parte do Livro
    5. Leitura - Detalhes da Fundação de Blumenau
    6. Um pouco de história da Colônia Hammônia 
    7. Cia Jensen - Pedaços de História de Blumenau
    8. Tradição 25 de Julho - 60 anos de História
    9. Um personagem - Sr. Carlos Krueger - Tradição e História
    10. Hermann Bruno Otto Blumenau - De 1819 até 1846 - S...
    11. "Quebra Caco" - Uma Tradição que está acabando
    12. O "Alemão" de Pomerode
    13. Blumenau - do Stadtplatz ao Enxaimel
    14. Rua das Palmeiras e o Museu da Família Colonial
    15. Fundação de Blumenau a partir de seus meios de transportes
    16. Gastronomia - Kochkaese
    17. José Deeke
    18. Primeiro Diretor da EFSC - Entrevista ao Sr. Frederico Kilian
    19. A Ponte Lauro Müller - Segunda ponte
    20. A Ferrovia - EFSC
    21. Weingarten - Primeira cidade irmã de Blumenau
    22. Os antepassados - 163 anos de Blumenau - História real
    23. Stammtisch - Origem e Tradição


    Para compreender é importante conhecer, através da História

    Na Semana da Imigração Alemã.


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