Deutsche Welle
Protestos reúnem centenas de milhares em todos os estados brasileiros e elevam pressão sobre governo petista, já abalado pelo escândalo da Petrobras, pelas dificuldades com a base aliada e pela desaceleração da economia.
Centenas de milhares de pessoas – segundo estimativas da PM, mais de 1,8 milhão – saíram às ruas de dezenas de cidades do Brasil e do exterior neste domingo (15/03) para protestar contra a corrupção e a presidente Dilma Rousseff, em marchas com potencial para aumentar a pressão sobre um governo já minado por escândalos, crise econômica e perda de apoio político.
No dia dos 30 anos da redemocratização, o desejo de mudança que se manifesta no cenário nacional há pelo menos dois anos voltou a aparecer. Mas, diferentemente dos protestos de meados de 2013, desta vez de forma mais clara: os manifestantes nas ruas de todos os 26 estados do país e do Distrito Federal estavam contra o governo – muitos falando em impeachment; alguns pedindo até intervenção militar.
Os protestos começaram ainda pela manhã. Levaram uma multidão a locais simbólicos do país, como a praia de Copacabana, que reuniu 25 mil pessoas, e o Congresso Nacional em Brasília, que teve mais de 40 mil manifestantes. E viveram seu ápice pela tarde, em São Paulo, quando mais de 1 milhão de pessoas – segundo a PM – foram à Avenida Paulista. Segundo o Instituto Datafolha, o público máximo que passou pelo local foi de 210 mil pessoas.
Os manifestantes se concentraram, sobretudo, nas áreas mais nobres das cidades. Tinham muitas vezes o rosto pintado de verde amarelo, se envolviam na bandeira nacional e trajavam a camisa da seleção brasileira. "Nossa bandeira jamais será vermelha", bradava um grupo na Avenida Paulista.
Também assim se vestiu o senador tucano Aécio Neves, que declarou apoio aos protestos, mas se limitou a aparecer na janela de seu apartamento no Rio, vestindo uma camisa da seleção brasileira. Depois, em vídeo postado nas redes sociais, declarou que o 15 de março ficaria marcado como o "dia da democracia":
"Depois de refletir muito, eu optei por não estar nas ruas neste domingo, para deixar muito claro quem é o grande protagonista destas manifestações. E ele é o povo brasileiro, o povo cansado de tantos desmandos, de tanta corrupção. Mas o caminho só está começando a ser trilhado", afirmou.
Sem destaque para políticos
Os protestos foram organizados de forma espontânea através de redes sociais, convocados por grupos de diferentes cartilhas, mas que têm em comum o desejo de mudança e a insatisfação com o governo Dilma.
Com cerca de 300 mil seguidores no Facebook, o "Vem pra Rua", por exemplo, afirma que não há base jurídica para um impeachment. Já o "Movimento Brasil Livre" (MBL) diz que defende o liberalismo econômico e a participação mínima do Estado na economia. Ele chegou a organizar uma fila para pessoas interessadas em participar de um abaixo-assinado para retirar Dilma do poder.
"Não somos a favor do impeachment. Agora o momento é de eles reavaliarem os valores que perderam, como ética, como respeito, e principalmente cuidar da coisa pública, que é pra isso que eles foram eleitos", afirmou Paulo Pagani, coordenador de outro grupo, o "Limpa Brasil".
Como em 2013, políticos não tiveram vez nos protestos. Alguns foram vistos nas ruas, como o ex-candidato a presidente pelo Partido Verde Eduardo Jorge e o deputado federal Paulinho da Força (SD-SP). Mas nenhum teve espaço em carros de som e alcançou qualquer protagonismo.
Ao todo, houve protestos em pelo menos 152 municípios brasileiros e em algumas cidades do exterior, como Londres e Lisboa. Acostumados a serem hostilizados pelos manifestantes, como ocorreu em 2013, os policiais chegaram a ser aplaudidos nos protestos deste domingo, que não tiveram nenhum registro significativo de violência.
- Data 15.03.2015
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