sábado, 26 de dezembro de 2015

Refletindo...Culturas do Brasil...

Culto no idioma alemão Igreja Luterana Martin Luther - Blumenau
Muitos chegaram à região do Vale do Itajaí em diferentes períodos. Como nós mesmos chegamos. Atualmente, também, pessoas de diversas regiões do país e do globo, inclusive filhos da mesma pátria dos pioneiros da Colônia Blumenau - Alemanha.
Dois músicos de Blumenau - O primeiro - filho de família de  descendentes alemães da região do Alto Vale - interior da Colônia Blumenau e o segundo o alemão da Baviera que vive em Blumenau no tempo presente
Quando nós chegamos na cidade de Blumenau na década de 1980, encontramos uma comunidade com uma cultura muito diferente daquela que nos era familiar no litoral de Santa Catarina, onde nossa família residia - Florianópolis.  Também a cultura de Blumenau era diferente da cultura de nossa família, oriunda da Serra Catarinense onde prenominava a cultura tropeira do Rio Grande do Sul -  eis as diferenças culturais dentro do próprio estado de Santa Catarina. 
É um mapa turístico - Mas o perfil vocacional turístico tem uma leve relação com a cultura local de cada uma das regiões que tem identidade própria, uma diferente da outra a partir da história local.

Encontramos diferenças na gastronomia, folclore, hábitos e costumes, música, religião e, em muitos casos, no idioma; forma de construir suas cidades a partir da arquitetura. 
Esta edificação é característica das regiões fundadas pelos
imigrantes alemães/austrícaos/suiços - entre outras tipologias
Recém saídos da adolescência, desconhecíamos as diferentes etnias formadoras do estado de Santa Catarina. Formadoras dos aglomerados urbanos do grande  Brasil. Para nós, naquela época o país era o Brasil miscigenado e terra do samba.  
Com o decorrer dos anos e formando família em Blumenau, procuramos compreender a cultura da cidade como o principal elemento formador da identidade local sob o olhar de arquiteta. A cidade que nos acolheu a partir de sua história e cultura próprias, apresentava uma identidade própria. Com a formação de urbanista e arquiteta, percebemos que tínhamos o compromisso de conhecer e nos familiarizar à história e cultura locais - identidade da cidade ou das cidades (Antiga Colônia Blumenau rendeu algumas cidades no Vale do Itajaí). 
Perguntávamos, então, porque o samba é tido como música do Brasil e a valsa, somente dançada na comemoração dos 15 anos de jovens - quando sentem-se princesas? (Esquecendo-se que há e houve, princesas dentro de todas as etnias formadores do grande Brasil atual.) Ouvimos esta sandice em um programa de televisão brasileiro de massas que é transmitido aos domingos e apresenta concurso de danças.
Perguntávamos então, porque os Contos de Fadas eram todos recheados de passagens da mitologia germânica, cheios de príncipes e princesas, escritos em sua maioria pelos Irmãos Grimm (Para ler clicar em: Grimm)? Os mesmos eruditos que escreveram o primeiro dicionário oficial da Alemanha. Perguntávamos, porque nossa família nos censurava ao adotávamos a prática cultural daqueles que fundaram a cidade de Blumenau - cidade que escolhemos residir e formar nosso núcleo familiar. Inúmeras vezes ouvimos no seio familiar: "Por que te vestes assim - se não és "alemã?". Imagem abaixo - foto tirada em um encontro de danças em Blumenau, com pessoas que praticam a cultura no estado de Pernambuco - Integração.
Essa censura não acontece, por exemplo, quando há uma roda de capoeira na cidade onde vive nossa família - Florianópolis - a terra do Boi-de-mamão e da Maricota - da qual tinha muito medo na minha infância. Fotografamos uma roda de capoeira na frente da Catedral Metropolitana de Florianópolis musicada com uma canção da Bahia e dançada por descendentes de várias etnias - muitos, pessoas que não descendem diretamente daqueles que trouxeram esta prática cultural para o Brasil. 
As pessoas da roda de capoeira não são questionadas porque estão ali, pelo fato de não serem nativos de países da África - Aceitam participar desta cultura e não são contestadas. A mesma coisa acontece na cultura gaúcha, que tiveram adeptos - imigrantes alemães e italianos - no Rio Grande do Sul - Respeito à cultura local- Gaúcho, que teve sua origem nas Missões Jesuíticas.



















No vídeo, a   música que dançavam a capoeira, nestas imagens feitas em frente da Catedral de Florianópolis.


Catedral Metropolitana de Florianópolis


A Bahia é um exemplo positivo, sobre a questão que apresentamos - de preservar a sua cultura dos antepassados sem se permitir constranger mediante a pressão de outras culturas. Jamis veremos em Salvador um Boi-de-mamão com a Maricota, ou mesmo uma roda de danças folclóricas alemã. O ritmo da Bahia foi escolhido  para estar na canção de final do ano da Rede Globo 2015. 
Para quem desconhece, na Bahia estava a primeira capital do Brasil -  fundado por portugueses, primeiros imigrantes a chegarem no país. A capital foi Salvador do Elevador Lacerda e da Praça do Pelourinho. Nesse período, quando a cidade era a capital do país - era onde estava a elite da colônia portuguesa - uma das culturas  que forma a grande colcha cultural que é o Brasil, mas não é a única.
Será que as demais culturas - responsáveis pela formação da grande nação brasileira, não terão seus espaços reconhecidos e disponíveis para suas práticas - como também parte do Brasil multicultural
O racismo no Brasil é visto somente quando algum brasileiro de pele negra é descriminado, muitas vezes esta condição, característica, nem é citada - tido já como o sinônimo de racismo. 
Há o racismo oficial implementado a partir dos organismos oficiais - quando permitem as cotas a partir da cor da pele - estas não distribuídas pela capacitação do interessado, mas a partir de uma etnia, dentre as muitas formadoras do povo brasileiro.
Relembramos, também, o Nacionalismo - instituído durante o Governo Getúlio Vargas no Vale do Itajaí, com "ecos" até os dias atuais.

Para ler e vale a pena conhecer - Clicar sobre: Nacionalismo no Vale do Itajaí - a partir do Governo de Getúlio Vargas
Getúlio Vargas, toma o poder do Brasil a partir de um Golpe - Na fotografia ainda fardado com charuto na boca

O racismo existe dentro de outras etnias em maior e menor grau, onde filhos destas passam por constrangimentos, como passaram famílias no Vale do Itajaí, antes durante e após a 2° Guerra Mundial - na Europa - continente do qual vieram diferentes povos para formar o Brasil (Italianos, franceses, portugueses, espanhóis, alemães, húngaros, poloneses, holandeses, etc...etc..). 

No caso do Vale do Itajaí - muitos são descendentes dos  Voluntários da Pátria (Foto da lista em documento original - foto abaixo) que se apresentaram de livre e espontânea vontade para lutar sob a bandeira do Brasil, na controversa Guerra do Paraguai. Após o término do conflito, estes voluntários retornaram para a Região do Vale do Itajaí e continuaram seu trabalho - entre eles oficiais. Os oficiais que retornaram para a capital do país da época - Rio de Janeiro, aplicaram um golpe de estado na coroa brasileira. Fruto do descontentamento por não conseguirem mais vantagens e poder por terem lutados na tal guerra - o golpe ficou conhecido como Proclamação da República do Brasil.
Documento encontrado no Setor de Documentos Raros da Universidade Federal de Santa Catarina. Observamos que muitos dos nomes dos imigrantes alemães, foram "abrasileirados" - como: Emílio/Emil; Carlos/Karl ; Rodolfo/Rodolph; Ernesto/Ernest; Guilherme/ Willheim; Henrique/Heinrich; Miguel/Michael; Augusto/August;
Para ler mais sobre o Golpe de Estado feito pelos militares, no Brasil Imperial, no dia 15 de novembro - Clicar sobre: Proclamação da República

São muitas as questões que nos levam a buscar sobre a diversidade cultural a partir da história da Colônia Blumenau, que deu origem aos muitos municípios do Vales do Itajaí, resquício do Governo de Vargas e o Nacionalismo.
Como "chegantes", respeitamos a sua história que difere de outras regiões do continental Brasil - e que difere de nossa cultura de berço. Respeitamos a identidade da cidade que escolhemos para morar e que não era a mesma da cidade de nossa família. 
Observemos esse mapa que estava exposto no Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, e fotografamos no ano de 2009
Como podemos ter a presença de samba (Ritmo considerado brasileiro) nesta região do Estado de Santa Catarina? Também não se faz  presente na região serrana do estado - região fundada pelos tropeiros e de onde trazemos nossas  raízes. Rítmo herdado dos africanos escravizados pelos primeiros imigrantes que chegaram ao país - os portugueses e, muitas vezes, negociados em portos de África, por irmãos etnicos.
Mais detalhamento, observar o mapa de Santa Catarina abaixo - para melhor compreensão.
Fonte: Rosimari Glatz
As muitas obras de Debret são fontes de informações para compreensão dos costumes do Brasil no século XIX e seu convívio com a escravidão.
A assinatura da Lei Áurea - Libertação da escravatura no Brasil - feita pela Princesa Isabel, filha do Imperador brasileiro Pedro II (e neta de Dona Leopoldina -  Princesa austríaca - família Habsburgo), foi um dos motivos que a fizeram perder o trono brasileiro "camuflado" no golpe conhecido como Proclamação da República - Golpe de Estado feito pelos militares que estiveram na Guerra do Paraguai. Na sua despedida, rumo ao exílio, a princesa brasileira disse, que se fosse preciso, faria tudo novamente. 
Proclamação da República





















Para Ler sobre o Golpe de Estado pelos  Militares - Clicar sobre: República

A Região do Vale do Itajaí não teve escravos - com a exceção de uma ou outra família que já vivia na região do Garcia, oriundas de Itajaí, que tinham escravos. Também o sócio de Hermann Blumenau - quando chegou de Nossa Senhora do Desterro, na região. A sociedade ruiu antes mesmo da fundação da colônia. Os escravos não chegaram com os imigrantes que fundaram oficialmente a Colônia Blumenau.
Para que toda esta divagação?
Porque após as duas grandes guerras, a partir do racismo, quase que a cultura dos fundadores de Blumenau e de todas as cidades oriundas das nucleações urbanas que surgiram no interior de Colônia Blumenau foi dizimada mediante a proibição do falar o idioma alemão. Uma ou mais gerações posteriores tinham vergonha e medo de falar o idioma. Tivemos contato com exemplos atuais entre nossos alunos na região do Vale do Itapocu - que deram este testemunho nos dias atuais (Terceira geração após as guerras) e também, em nossa família blumenauense e em inúmeras famílias amigas. Isto aconteceu em outras colônias alemãs do estado de Santa Catarina.  
São os "ecos" do Nacionalismo que mencionamos e do Bulling oficial implantado, dentro de um período histórico, na região.

De acordo com o Museu da Língua portuguesa - "A Língua é o que nos une".
A língua dos  pioneiros que fundaram as cidades na região quase se extinguiu, por ações de preconceito e racismo





Existe a sequência de vídeos destes depoimentos históricos para quen quiser continuar a assistir. Observar no You Tube.
Este, entre outros episódios, fizeram com que gerações de descendentes desses imigrantes tivessem vergonha, medo de aprender e falar o alemão que seus pais aprenderam ler e escrever nas escolas fundadas pelos mesmos. Ao contrário do resto do país - não haviam analfabetos na região - no início do Século XX
Escola da comunidade Ilse - Ascurra (antigamente pertencial a Indaial)
Neste período o índice de analfabetismo era alto no país. 























Detalhe histórico de nossa família.
Nossa trisavó - foi escrava de nosso trisavô na cidade gaúcha de Vacaria - Rio Grande do Sul. Nossa tia avó ficou constrangida em nos contar a "Pouca vergonha", pois o trisavô era casado. Tranquilizamo-na, dizendo que isto era a história do Brasil naquela época, muitas vezes acobertada pela própria igreja. Nunca ouvimos o samba (o tal "ritmo brasileiro") - propagado a partir da segunda capital do Brasil, pela televisão - Rio de Janeiro, na casa de nossos pais. 
Partes da Palestra do Dr. Ricardo Costa de Oliveira
II Colóquio Catarinense de Genealogia - dia 6 de setembro de 2015 - Com a palestra da Dr. Ricardo Costa De Oliveira - Região Litoral Norte de Santa Catarina: Camadas demográficas e novas - Técnicas de pesquisas genealógicas. Comenta sobre o impacto do encontro das etnias formadores do povo residente da região norte do  estado de Santa Catarina - Muito bom. 
Herança Cultural nas palavras - Dicionário brasileiro
Museu da Língua Portuguesa

















A partir da década de 1980, lentamente a língua alemã está retornando em atividades culturais e religiosas na região. 
Participamos do Culto de Natal da Igreja luterana de Itoupava Seca - Igreja Martin Luther - Blumenau feito no idioma alemão - Natal 2015.
A grande maioria dos presentes - netos, bisnetos e filhos de imigrantes alemães que falam a língua dos antepassados.




























 Glückliches neues Jahr


Sugestões de Leitura - História da Região
Clicar sobre o título:


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  12. Origem do nome do Bairro Garcia - Blumenau
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  15. Salto Weissbach
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  19. Correspondência Oficial - Colônia Blumenau 1
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