sexta-feira, 1 de setembro de 2017

1° Carta do Agente Fiscal da Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães - Colonisation Vereins Hamburgo - Hermann Bruno Otto Blumenau

A primeira carta do Agente Fiscal do governo alemão da Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães - Colonisation Vereins Hamburgo - com sede em Hamburgo - Hermann Bruno Otto Blumenau aos familiares na Alemanha - falando sobre sua impressão das Colônias do sul do Brasil. Documento histórico relevante.
Tudo aconteceu porque no final da década de 40 do século XIX, chegavam notícias do Brasil  na Alemanha. As notícias mencionavam a propaganda e promessas do Estado brasileira na Europa  - Alemanha - aliciando pessoas que mudassem para o Brasil para trabalhar e povoar o sul. As notícias chegantes do Brasil afirmavam que parte destas promessas não era de fato, cumpridas.

Os imigrantes foram atraídos para o Sul do Brasil através de propagandas enganosas. Sul despovoado, atrasado economicamente, que corria risco de ser tomado pelos espanhóis. Muito da propaganda divulgada na Europa não se cumpria. Chegavam notícias de maus tratos ao imigrante e seu abandono a própria sorte. O Governo alemão organizou a "Sociedade de Proteção aos Imigrantes Alemães" - Acima - charge que chegava na Alemanha, sobre os maus tratos.
Oportunisticamente, com intenções claras de conhecer o Brasil pessoalmente, Hermann Blumenau não perdeu tempo em candidatar-se a vaga de Agente Fiscal do governo alemão da "Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães"Colonisation Vereins. Como representante oficial do governo alemão, visitou colônias de imigração alemã nas Províncias do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande - Sul do Brasil.
Em abril de 1846 – com 27 anos, embarca a trabalho, como representante do governo alemão para o Brasil. Despediu-se de seus pais e embarcou no veleiro Johannes, no porto de Hamburgo.
Porto de Hamburgo
Viajou por mais de dois meses e chegou no Rio Grande no dia 19 de junho de 1846. Visitou alguns locais, fazendas e fez pesquisas para seu projeto pessoal, narrado, através de correspondência, aos seus pais - na Alemanha. 

1° Carta de Hermann Blumenau para os pais - na Alemanha

"Depois de ter me referido a assuntos em geral, quero agora fazer-vos destes mais detalhadamente, mesmo que eu, de novo, não possa escrever como desejaria, por ter muito o que fazer e estar com a vista bastante afetada. Preciso adiar ainda um relatório extenso, para quando tiver mais tempo e estiver melhor ambientado. Agora, portanto, só assuntos, esparsos da minha vida e atividades, desde a minha chegada ao Rio Grande, de onde só lhes mandei duas cartas mensagens, por não me ter sobrado tempo para comunicações mais demoradas e ainda pela razão de ter sabido, tardiamente, da partida dos respectivos navios. Viajei de vaporzinho do Rio Grande a Pelotas, situada a noroeste, no Rio São Gonçalo, que liga a lagoa Mirim com a dos Patos. A passagem levou cinco horas e foi agradável. As ribanceiras do rio são baixas e pouco pitorescas, mas de longe, no noroeste, aparece uma linda cordilheira azul, a Serra dos Tapes
Nas margens do Rio São Gonçalo, vi, pela primeira vez, uma capivara entre os juncos, uma espécie de animal que se assemelha ao hipopótamo em dimensões menores, vivendo quase sempre dentro d’água, tem o tamanho de um porco pequeno. Avistei também algumas espécies de pássaros esquisitos. 
O comandante do vapor, amável conterrâneo, permitiu-me pernoitar a bordo, onde eu, sob o meu casacão, dormi regularmente bem. No dia seguinte, mandamos chamar um outro alemão, bem conhecedor da região - uma espécie de tropeiro - para conversar com ele sobre uma incursão ao interior, que eu pretendia fazer, indaguei sobre tudo que me interessava, tirando informações valiosas. Depois andamos pelos arredores, onde cheguei a conhecer muita coisa que me era novidade e que observei com grande interesse. A vegetação, particularmente, era para mim estranha novidade, as palmeiras, os arbustos de mamona, cactáceas da grossura de uma perna e com 12 a 6 pés da altura, ficus-índica, uma outra qualidade de cactus aproveitada para sebes, enfim não sendo muito fértil a região, muita novidade apresentava para mim. 
Bem do lado, onde atracava o vapor, encontrava-se uma charqueada, onde é preparada a carne-seca salgada, e onde estavam sendo secados os couros e procedido o aproveitamento da gordura. Tais charqueadas se estendem ao longo do rio, no percurso de duas horas, sendo que as maiores aproveitam, diariamente, 300, 400 e até 600 cabeças de gado. A vista e o cheiro dessas charqueadas são horríveis - sangue, ossos, carne apodrecida e peles, estômagos e intestinos em decomposição em toda parte, pesteando o ar. Os chifres, ligados ainda a uma parte dos ossos da testa são aproveitados para cercados, dentro dos quais são mantidos porcos e outros animais que, parcialmente se alimentam de sobras de carne. Onde quer que se pise, para onde quer que se vá, sempre o mesmo aspecto de sangue, estômagos apodrecidos e mau cheiro. 
Fiquei deveras contente quando de lá saímos, por mais interessante que o assunto fosse. Os proprietários dessas charqueadas, os "charqueadores", são geralmente gente bruta, principalmente enriquecidos nos últimos tempos. Se a paz for restabelecida no país vizinho, para o que as expectativas atualmente são boas, o lucro torna-se-á menor, mas sempre ainda bastante compensador.
Mais tarde visitei ainda um negociante alemão, que me acolheu muito bem, tendo me oferecido pouso e um cavalo, dispondo-se a fazer uma excursão comigo. Andei depois por ali assim, tendo visto pela primeira vez, um lindo pomar de laranjeiras, que apresentava um esplendido aspecto, as árvores de ramagem escura e copa arrendondadas, onde apontavam as maravilhosas frutas que estavam justamente amadurecendo. É um belo espetáculo observar-se os pomos dourados, um perto do outro, às centenas! Os pés já produzem no seu quinto ano e consta que, já no décimo ano dão 4 a 6 mil frutas anualmente (Propaganda para os conterrâneos!). No interior me afirmaram que há laranjeiras de 8 polegadas de diâmetro de renderiam seus 4 a milhares de frutas por ano e teriam apenas 8 anos. 
À noite, encontrei em casa do Sr. Claussen ainda alguns brasileiros, todos já um tanto alcoolizados, com os quais palestrei a respeito de minha excursão, sobre a qual, depois de muita discussão, finalmente nos entendemos. Mais tarde, ainda apareceu um grupo de jovens, fantasiados de polacos e poloneses, dançando a polca ao compasso de uma esquisita, mas bonita modalidade de música, que era novidade para mim: uma pequena flauta com acompanhamento de pandeiro. Após os outros terem ainda "champanhado" vastamente e eu meditado sobre os meus planos para o dia seguinte, fomos dormir. Subi a minha cama de campanha e cobri-me com um cobertor e o meu casacão, dormindo bem até o raiar do dia, quando o meu comandante veio do vapor buscar-me para o início da jornada à Serra dos Tapes. Começou então a balburdia. 
O gerente da casa de hospedagem Claussen e alguns fazendeiros ali hospedados, todos ainda sob o domínio das consequências da champanha, não encontravam meios de se acordarem. verifiquei também que havia cavalo para mim, mas que não havia arreios. Tive que andar para lá e para cá e isso com os negros na sua insuportável moleza. Era de enlouquecer. 
Finalmente, passadas quatro horas, estávamos prontos para partir, isto é, o comandante e eu, pois todos os demais estavam de ressaca, o que não mais me desapontou, convicto, como fiquei, de que eles só estorvariam os meus propósitos. 
Através de uma região de terras baixas, por vezes pantanosas, dirigimo-nos, montados nos nossos cavalos, em direção noroeste, ao encontro da montanha.
Três horas distantes da cidade, na propriedade de um amigo do comandante, pretendíamos trocar de cavalos. Não o encontrando, entretanto, em casa tivemos que continuar nos mesmos animais, que não eram lá muito bons. Um pouco adiante paramos em um estância para nos refrescarmos. O proprietário também não estava em casa, mas sim a patroa e uma irmã dela, ambas chinas, ou índias, com olhos um tanto oblíquos, pele amarelada e cabelos pretos muito compridos. Como fosse domingo, estavam elas bem arrumadas, com vestidinhos bonitos e modernos, os cabelos penteados e bem trançados. Interessante era o contraste destes requisitos da civilização com a absoluta ausência de bons modos. Uma delas puxou as pernas, com a maior naturalidade, para cima do banco, encostando o queixo nos joelhos, enquanto a outra, penteando uma criança, falava com o meu companheiro ao mesmo tempo que, com o pente, palitava os dentes
Lá tomei pela primeira vez o chá mate (erva mate) a folha de um arbusto em forma de árvore, a qual é torrada e socada. Sobre certa porção desta erva, se põe água fervendo (e açúcar quem quiser), sugando-se o líquido através de um canutilho de folha de Flandes, ou ouro, que termina em uma pequena bola perfurada, que se coloca dentro do chá. De início é fácil queimar-se a boca, como a mim aconteceu, mas depois saboreia-se com gosto esse chá e também sem açúcar, o qual, segundo se diz, muito mais saudável. É preparado sempre na casca de uma pequena abobora garrafa, do tamanho de uma mão fechada, às vezes enfeitadas com lindas decorações de prata. Suga-se enquanto tiver chá. Depois, vem uma negra, pega a cuia, e despeja nela novamente água fervente e assim a cuia continua a rodar não se devendo limpar, de maneira nenhuma, a bombilha, mesmo tendo saído, talvez, da boca de um vizinho bastante sujo, porque isto seria interpretado como ofensa. Quando o mate perde o gosto, é jogado fora e coloca-se nova porção de erva. 
De lá partimos, após agradecimentos pelo gentil acolhimento, efusivos mas formais, tendo alcançado, após várias horas, na colina anteposta à serra outro amigo hospitaleiro, numa propriedade maravilhosamente bem situada, fazendo jus ao nome: "Muito Bonito".
Fomos acolhidos com muita gentileza e dignidade, tendo eu experimentado aí, pela primeira vez, uma refeição à maneira nacional: carne de vaca, bem picadinha, com toucinho. O prato é acrescido de farinha de mandioca) produto conseguido pela raspagem, prensagem e torração da raiz de mandioca) que se mistura à carne, e de que eu gostei muito, jantando-se ainda laranja à vontade. A permanência ali foi muito interessante. A propriedade é muito bonita, um quarto de légua quadrada, totalmente cercada de laranjas e outras frutas. Mandei pedir informações pelo valor aproximado da mesma, obtendo a resposta que, ao preço de 12.000 dólares (18.000 Thalers) estaria certamente à venda. Seria uma propriedade para um agricultor abastado (Interesse nos negócios de terras). Fica à seis horas de viagem da cidade e do porto de Pelotas, margeada de boa estrada. Lá encontrei, por primeiro, as variedades de laranjas (ou da nossa "Apfelsine", de casca alaranjada), das quais existem diversas espécies de tamanhos e gostos diferentes, assim como acontece com nossas maçãs. Tem aqui, uma laranja lima, de casca amarelo-claro, cor de limão, doce, mas um tanto insonsa, a lima de umbigo e a bergamota (da qual se obtém o óleo de bergamota) que também é doce mas nada de gosto especial. As limas são inferiores às laranjas no gosto, mas tem a vantagem da produção durante todo o ano, enquanto a laranja é apenas de seis meses. Depois há o limão, do qual também existem várias qualidades, alguns bem maiores e bastante mais ácidos do que o nosso limão, e por fim as qualidades azedas (cidras) que na Alemanha, chamamos de "Pommeranza" ou laranja azeda.
Havia ainda outras árvores frutíferas, como figos, pêssegos, pinheiros, (que dão uma qualidade de nozes) como ainda cana de açúcar, batatas, etc. (Vegetais que vi ali pela primeira vez). além disso havia uma porção de arbustos floridos, mesmo sendo inverno na época, principalmente uma espécie de acácia de flor grande purpúrea quase escarlate.
Foi uma pousada agradável, aumentada ainda pela gentileza simples e agradável, mas de grande dignidade, daquela gente. Depois de termos consumido farto almoço, chupado laranjas e tomado café para finalizar, partimos ao encontro de outro amigo ainda, o qual mora a várias léguas de distância, na montanha. Anoiteceu entretanto, e nos vimos obrigados a pernoitar a uma milha de distância do nosso destino, em outra fazenda localizada mais esplendidamente ainda do que a "Muito Bonito". Fomos bem recebidos e nos serviram, a pedido de meu companheiro, ainda um pouco de linguiça e farinha, pois eu estava com bastante fome. O leito era duro e a noite gélida, e como tivéssemos apenas nossos casacos para nos cobrir, sentiram um pouco de frio, mas, mesmo assim, dormi muito bem. Durante a noite, os moradores daquela fazenda começaram a tarefa de descascar raízes de mandioca para o preparo da farinha, ao clarão de enormes tochas. Não havendo mais sossego, nos levantamos e observamos, por algum tempo, a faina. Depois pegamos as nossas montarias, o que levou bastante tempo e partimos, após os merecidos agradecimentos. No alto dos morros havia geado fracamente, mas nos vales, a camada era mais grossa, e havia gelo da grossura de um dedo nas poças d'água que, entretanto, derreteu muito depressa.Foi uma magnífica manhã fria e eu mesmo, com região glútea bastante prejudicada, me encontrava em rósea disposição. Depois de duas horas, chegamos à fazenda do Senhor Serafim Barcelos, onde o meu companheiro, lutando entre um grupo de revolucionários, se encontrara aquartelado por diversas vezes. Fomos recebidos com a mais gentil cordialidade, e fizemos passeios de reconhecimento pela região e pela fazenda, tendo eu recebido muitas informações sobre produtos agrícolas, agricultura, valor das propriedades, etc., sobre o que escreverei em outra ocasião. 
Depois de um sólido almoço, com muita e boa carne, mas sem pão que era substituído por farinha de mandioca, entramos na mata e dirigimo-nos a diversos ribeirões onde, segundo consta, teriam sido encontrado minérios (de ferro), os quais eu queria examinar. Não encontramos nada do gênero, mas vi diversas flores lindas e árvores e outras coisas interessantes, de maneira que o tempo passou depressa demais. Os curso d'água naquela região contem todos eles ouro, e, em vários pontos tanto que um homem pode ganhar de um a três ducados diários. (Propaganda!) Isto é muito, mas essa faina estraga a gente como um jogo de azar - muito empobrecem, outros enriquecem consideravelmente, mas todos se tornam, pela tarefa fácil de obter lucro, preguiçosos e desordeiros, ao passo que a labuta naquele solo bom e fértil alimenta o homem, garantidamente. 
Foi lá que vi, também pela primeira vez, abelhas nativas que fazem os ninhos nas selvas, onde são apanhadas. Não tem ferrão, são menores que as nossas abelhas e, nem de longe, tão agressivas. Fazem os ninhos em partes ocas de troncos de árvores: as células são grandes, como avelãs e a cera é escura e um tanto mole, sendo o mel fino, mas saboroso. Para obter-se o enxame, derruba-se a respectiva árvore, serrando-se depois o tronco dos dois lados da cavidade, rachando-se em seguida o bloco para tirar o mel e a cera. Depois, junta-se e amarra-se novamente as duas partes, e tapa-se tudo com barro, deixando-se apenas uma pequena abertura. Nestes blocos pendurados, as abelhas voltam aos ninhos antigos, onde produzem novamente. O processo é muito primitivo. A apicultura metódica, na forma que se faz com abelhas europeias, deveria dar bons resultados. 
A tardinha, após despedida cordial, com abraços e repetidos convites para outra visita, partimos para alcançarmos ainda "Muito bonito", onde nos haviam convidado para pernoitar.
Desorientamo-nos, entretanto, e cavalgamos pela região até às nove horas da noite, sem avistar casa alguma. Quando por fim encontramos uma estância no mato, onde se encontrava alguns negros e a proprietária, uma mulata. Mesmo que as aparências não fossem muito boa, vimo-nos obrigados a permanecer ali. Ainda nos serviram algumas costelas assadas ao fogo, além de farinha. A fome temperou a refeição simples, que não foi de grande asseio, tendo os dedos de fazer as funções de garfos. Depois nos serviram mate e fumados ainda alguns cigarros, e tendo eu rememorado os acontecimentos do dia, deitamo-nos para descansar dentro de uma cabana inacabada, sem paredes ainda, mas com coberta. O leito improvisado sobre uma porta era duro, porem o cansaço nos fez dormir bem. Partimos ao raiar do dia em direção a "Muito Bonito", onde fomos novamente recebidos com muita amabilidade. Depois de bem alimentados, tendo passada mais uma revista na bela propriedade, partimos, tendo chegado ao cair da noite em Pelotas, com a região glútea bastante maltratada, mas absolutamente satisfeitos com o resultado da excursão. No dia seguinte, visitei uma fábrica de sebo nas proximidades, por cujo proprietário, um francês, fui muito bem recebido e que me mostrou as instalações, tendo conversado com ele sobre tudo que se pode ali empreender, ainda. O homem havia iniciado, fazia cinco anos, com pouco recursos e, através de muito trabalho e empenho, possui agora, uma grande fábrica com 25 escravos. Ele deu-me esperanças para um empreendimento químico, convidando-me, também, para fazer o necessário estágio no seu estabelecimento, para o caso de eu resolver voltar a Pelotas para estabelecer-me ali.
No dia seguinte voltei ao Rio Grande, onde precisei embarcar imediatamente no vapor que zarparia no dia seguinte, com destino ao Rio. Sobre esta viagem, comunicarei na carta seguinte. Desde que pisei em terra firme, como meus queridos pais podem verificar, quase não tive tempo pra dedicar-me a mim mesmo. Já vi que, aqui, o empenho para a fixação em algum empreendimento é maior do que na Alemanha, mas também são as possibilidades em relação aos lucros. Aqui, no Rio de Janeiro, a hospitalidade anda danadamente escassa; Todas as minhas recomendações serviram-me de quase nada. Tendo de gastar, assim, muito dinheiro, pretendo afastar-me, o mais depressa possível. Em convites para a mesa, sem se fala, o que mesmo não é possível, porque quase todas as famílias (estrangeiras) moram longe, por vezes duas horas de distância do centro, e só aqui chegam para cuidar dos negócios, voltando logo depois. O Sr. H. Fröhlich, para cujos filhos eu trazia cartas, sem procurei, porque ele, segundo consta, parece ser um homem bastante original. Simples jornaleiro antigamente em Brehmen, estaria ele aqui hoje muito rico, pelos próprios esforços, mas de maneiras bruscas e insultuosas, muitas vezes, tendo eu sido advertido de não procurá-lo, para poupar-me de aborrecimentos. A filha (no endereço ainda "Fräulein" é agora Madame Emília, recebeu-me muito bem em companhia de seu marido e de um primo, morando eles também uma meia hora de viagem distante da cidade. As cartas de recomendação, desta maneira, com exceção de alguns bons conselhos, que de fato me valeram, nada de positivo resolveram para mim.
Travei, entretanto, outros conhecimentos com pessoas que se empenharam bastante por mim, apoiando-me no desempenho de meus objetivos. Encontrei aqui, aliás, uma família com a qual pretendo estreitar relações, onde fui muito bem recebido, se ter sido recomendado. O chefe desta família é um comerciante hamburguês, Sr. Bahre, homem muito inteligente, se bem que excêntrico, que veio para cá com os mesmo objetivos que eu, isto é colonização. A amabilidade calma da esposa é o equilíbrio para as adversidades criadas pelo caráter do marido. Esta família pretende estabelecer-se em Pelotas ou Montevideo e, possivelmente, eu os acompanharei, tanto mais quanto o Sr. Bahre me fez propostas para um empreendimento em comum, caso não sejam realizáveis os nossos objetivos de colonização. 
Na província do Rio Grande, a hospitalidade é muito grande, podendo-se viajar durante meses sem fazer gastos, além de alguns talers em milho para os cavalos. É tido como ofensa oferecer-se pagamento em uma propriedade onde se comeu, bebeu e pernoitou. Quem é dedicado às crianças, pode contar com o mais sincero acolhimento, mesmo para uma permanência mais prolongada. 
Se eu, portanto, me decidir a fazer viagens de sondagem ao Rio Grande, às despesas serão mínimas. O que se conta aí de animais selvagens e cobras também não é tão assustador. Quem quiser ver uma onça, ou um tigre, vivos nas selvas, deverá mesmo caça-los, pois evitam timidamente o homem, atacando mesmo só quando muito famintos, ou então quando feridos. É interessante que não é atacado o branco, quando este se encontra em companhia de um negro, que então será cobiçado. Com as cobras o caso, igualmente, não é tão grave como supõe. Consta que há muitas, segundo alguns dizem, mas as mordidas são relativamente raras, porque as cobras são medrosas e fogem, se tiverem alguma oportunidade.(Seguem considerações sobre o assunto, como também da calamidade dos mosquitos, etc. Anotação na cópia da carta da qual foi feita esta tradução.) No Rio Grande estas calamidades são menores, e no inverno, em que estamos pouco se percebe das mesmas. Mas mesmo que fossem um pouco mais graves, a terra e o clima pelo menos no Rio Grande, ao qual sempre se voltam os meus pensamentos, são tão excelentes que se pode suportar também algumas adversidades. Um céu ameno, não demasiadamente quente, nem frio demais, seco e saudável, solo ubertoso e fértil, frutas maravilhosas, todas as qualidades de frutas e hortaliças europeias, que mais poderia almejar? Além disso, há minérios e carvão, ouro, comércio e bons salários. Poderia existir terra melhor para os alemães? Só talvez, um pouco mais de fé e boa vontade da parte do governo.
Em Montevideo, o clima é mais frio, mas saudável da mesma maneira. Com a paz restabelecida, consta que muitos alemães pretendem transferir-se para lá, onde há mais justiça que aqui. O trigo da ali muito bem, que antigamente se cultivou com muito sucesso no Rio Grande, onde, desde uns 20 anos passado, é atacado pela "ferrugem", não dando mais lucro, foi substituído pelo plantio de outros cereais além do milho, batatas, mandiocas, etc. 
Caso eu não consiga nada no Rio Grande, irei, provavelmente com o meu projeto de colonização a Montevideo, para onde já tenho propostas da parte de um espanhol rico, mas cujas bases ainda não estudei bastante. De qualquer maneira, contanto que a minha vista permaneça boa, poderei eu arrumar aqui o meu futuro, podendo afirmar desde já, que jamais arrepender-me-ei de ter vindo para cá, contanto que eu possa preservar a saúde. (Segunda a cópia de onde foi feita esta tradução, à carta seguiam conselhos para os sobrinhos Gaetner e Kegel, caso quisessem emigrar para o Brasil).
Hermann Blumenau
Terminada em 5 de agosto de 1846.“


Documento histórico relevante para a região...

 do Vale do Itajaí - para o sul do Brasil.











































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