Fotografia que fizemos durante a pesquisa - ano de 1996. A ponte estava "guardada" no meio do mato - proximidades da foz do ribeirão do Tigre - Itoupava Seca - Blumenau. |
No ano de 1996, para a conclusão do Curso de Arquitetura e Urbanismo necessitávamos de um tema para desenvolver um Projeto Urbanístico, um TCC e uma monografia, quesitos, na época, necessários para concluir o curso, ocasionalmente nos deparamos com uma exposição de fotografias da ferrovia Estrada de Ferro Santa Catarina EFSC - da Associação de Preservação Ferroviária - ABPF, no principal saguão da Biblioteca da FURB - Universidade de Blumenau.
Naquele momento, cientes da importância do tema exposto em fotografias, percebemos o quanto o tema era pouco conhecido na comunidade. Então, sabíamos o que pesquisaríamos para cumprir os quesitos para o término do curso como também, decidimos disponibilizá-los como uma contribuição a toda comunidade do Vale do Itajaí. Esse trabalho em forma de pesquisa durou mais de 10 anos.
In loco em pesquisa - 15 de março de 2009 |
Para relembrar um pouco dessa história
O plano de implantar a ferrovia na região do Vale do Itajaí chegou com os pioneiros na metade do Século XIX, os quais, então, haviam tido contato, em suas cidades de origem, com a revolução industrial e com o processo econômico capitalista que propiciou o início da era moderna. Foi adotada a tecnologia ferroviária alemã porque estes primeiros imigrantes, durante as primeiras décadas, no Vale do Itajaí, mantinham estreitas ligações comerciais e laços afetivos e culturais com seu país de origem, independentemente da hegemonia da tecnologia ferroviária inglesa presente no mundo e em especial no Brasil. Este fato foi evidenciado quando da escolha do local de assentamento da sede da Colônia Blumenau, à chegada dos primeiros 17 imigrantes em 1850, indicado em um plano, marcando lotes coloniais nas proximidades da foz do ribeirão Garcia.
Os núcleos urbanos no interior da colônia foram assentados, alcançando a superfície do Planalto Oriental, na certeza de que existiria o estabelecimento de uma comunicação natural, por meio de caminhos que posteriormente foram feitos por agrimensores alemães, e em decorrência da construção da ferrovia. Estes núcleos urbanos que pipocavam no interior da colônia mantinham constante articulação com a sede, que apresentava sua localização estratégica sob o ponto de vista geográfico.
Durante a pesquisa, percorremos o histórico leito ferroviário, inúmeras vezes. Encontramos vários monumentos - parte da estrutura ferroviária, ainda presentes na paisagem. Alguns em uso. Outros em estado de ruinificação, outros em bom estado, no entanto, sem uso e esquecidos.
Ponte ferroviária da EFSC - localizada na foz do Ribeirão do Tigre - bairro de Itoupava Seca - Blumenau. fonte: Arquivo Histórico Ferreira da Silva. |
Um dos monumentos que mais despertou nossa atenção durante a pesquisa ferroviária, no trecho ferroviário da Estrada de Ferro Santa Catarina - EFSC, foi uma ponte construída no início do Século XX e inaugurada junto com o primeiro trecho ferroviário. Na época encontramos essa ponte no meio do mato e acompanhada de uma segunda ponte de ferro. O local está na área urbana de Blumenau e muitos desconhecem sua existência - Foto acima. Na época, nos foi apresentado pelo pesquisador ferroviário Luiz Carlos Henkels. Fotografamos a ponte ferroviária de granito no ano de 1996. Com grande dificuldade, chegamos ao seu local - na foz do Ribeirão do Tigre - ribeirão em que muitas crianças das décadas de 1960 e de 1970 encontravam tartarugas entre outras inúmeras espécies de pequenos peixes.
Com o passar dos anos, nossa tranqüilidade quanto a ponte diminuiu, quando imaginávamos que a mesma não se encontrava mais "guardada" no meio do mato - junto à foz do Ribeirão do Tigre.
O local tornou-se um canteiro de obras da Prefeitura Municipal de Blumenau. Paliativamente apresentaram um projeto e iniciaram sua execução, de um dique junto do Ribeirão do tigre - a obra nunca terminou. Atualmente ainda não compreendemos bem seu real objetivo e quais os cuidados que tiveram com o meio ambiente e observações quanto às leis federais ambientais vigentes. O projeto ainda está sendo executado, na Foz do Ribeirão do Tigre no grande Rio Itajaí Açu - próxima à histórica ponte ferroviária de granito. Sentimos muito, pois a ponte se encontra no canteiro de obras, cuja obra até hoje não foi terminada. A seguir, registros do Google Earth em diferentes tempos.
Fomos ao local no dia 4 de janeiro de 2018 - fotos no final da postagem.
Fomos ao local no dia 4 de janeiro de 2018 - fotos no final da postagem.
Edifurb - 2001 |
O Prefeito ficou surpreso com a existência do patrimônio histórico, ficou ciente sobre de valor e sabendo da sua existência em solo blumenauense.
Movidos pelo desejo de preservar e resgatar, inserindo patrimônio ferroviário, se possível, em algum projeto urbanístico para a cidade, o qual tínhamos desenvolvido dentro da FURB, no final da década de 1990, a partir de um parque linear junto ao Rio Itajaí Açu e um museu ferroviário, do qual, também a Macuca faria parte. Essa rodando em um pequeno trecho ferroviário - projeto que foi publicado no livro da EDIFURB Estrada de Ferro no Vale do Itajaí - Resgate do Trecho Blumenau a Warnow.
Passado algum um tempo, também marcamos uma reunião com o Secretário de Planejamento Urbano de Blumenau no dia 9 de abril de 2013, para a qual foram convidados técnicos da ABPF, voluntários ferroviários, Reitor da FURB, historiadores e arquitetos da Prefeitura. Nada aconteceu e atualmente desconhecemos como está uma das pontes ferroviárias mais bonitas dentro da cidade de Blumenau e que continua no meio do mato, com o diferencial de que nesse momento, também está dentro de um canteiro de obras da Prefeitura Municipal de Blumenau.
Nossa proposta para o uso das Pontes Históricas.
Projeto desenvolvido na FURB - ano de 1996
Passado algum um tempo, também marcamos uma reunião com o Secretário de Planejamento Urbano de Blumenau no dia 9 de abril de 2013, para a qual foram convidados técnicos da ABPF, voluntários ferroviários, Reitor da FURB, historiadores e arquitetos da Prefeitura. Nada aconteceu e atualmente desconhecemos como está uma das pontes ferroviárias mais bonitas dentro da cidade de Blumenau e que continua no meio do mato, com o diferencial de que nesse momento, também está dentro de um canteiro de obras da Prefeitura Municipal de Blumenau.
Nossa proposta para o uso das Pontes Históricas.
Projeto desenvolvido na FURB - ano de 1996
Delimitação do sítio estudado e seus pontos focais mais importantes considerados na proposta. |
Um pouco de História - Ponte ferroviária EFSC
A ponte ferroviária de granito de Blumenau foi construída estruturada em três arcos romanos - obedecendo uma simetria - com o mesmo granito que foi construída a Catedral São Paulo Apóstolo projetada pelo arquiteto alemão Dominikus Böhm. O granito é oriundo da localidade de Subida - localidade que fica às margens do antigo leito ferroviário de EFSC. Foi construída no início do Século XX e inaugurada no dia 3 de maio de 1909, junto com a inauguração do primeiro trecho ferroviário dessa linha ferroviária.
Seu projeto foi assinado pelo engenheiro arquiteto, genro do primeiro Cônsul Honorário do Império Austro-Húngaro na Colônia Blumenau, comerciante que, na época, residia em Warnow - Leopold Franz Hoeschl. O nome do engenheiro arquiteto, genro de Hoeschl, de nacionalidade suíça era Albert Weitnauer.
O engenheiro Arquiteto Albert Weitnauer, entre alguns responsáveis pela construção da EFSC, inclusive o Cônsul Honorário do Império Austro-Húngaro- que sedia seu estabelecimento comercial, em Warnow, para escritório da EFSC e tornou-se sogro do engenheiro. Fonte: GERLACH, 2019.
A ponte de granito recebeu a companhia da ponte de ferro que começou a ser utilizada, substituindo-a, ficando esta sem uso. Em 1971, com a desativação da ferrovia, a ponte de granito, já sem uso, estava em pleno processo de ser encoberta, tragada pela vegetação, como ilustra a fotografia.
As duas pontes, de ferro e granito, logo após a desativação da ferrovia – 1971. Desde então, permaneceram no local, isoladas. Fonte: HENKELS, 2009. |
Local da Ponte ferroviária de granito - De Blumenau
A cidade poderia ser mais bonita, sustentável e organizada, se houvesse mais "continuidade" e comprometimento na paisagem e com a história ainda presente nessa. Além disso, se assim fosse, estaria-se disponibilizando equipamentos de excelência à comunidade, sem onerar os cofres e mantendo ponto focais relevantes em seu espaço.
Macuca - Até quando ficará exposta às intempéries na frente da Prefeitura Municipal de Blumenau? |
Como está a ponte de pedra, no momento presente?
Como está a ponte de granito atualmente?
Em 4 de fevereiro de 2018, fomos buscar a resposta para este questionamento no local onde foi construída e para conseguir encontrá-la, seguimos a orientação de nosso croqui feito no TCC, em 1996 e publicada em nosso primeiro livro.
Percebemos que a obra do dique do Ribeirão do Tigre estava com aspecto de abandono e é utilizado como algum tipo de depósito. Verificamos que a ponte ferroviária de granito rosa de Blumenau continuava no local, no meio da mata e da água.
Se não fosse a informação que parte de um de seus arcos está ruindo – a constatação é de que a ponte continua isolada visualmente, ou seja, guardada de ações de vândalos o que é positivo dentro de todo o contexto, ciente de que alguém possa colocá-la novamente na paisagem de Blumenau como um monumento histórico importante e uma infraestrutura que ainda pode ser usada, como é comum nas paisagens das cidades europeias, bem como a acessibilidade à linda paisagem do Rio Itajaí Açu, tão nobre, útil e admirada em outros tempos.
Confira em vídeo a frustrada tentativa de se chegar ao local da ponte de granito
As imagens comunicam
Dia 4 de Fevereiro de 2018
Um pergunta sem resposta - Como está a ponte de pedra, no momento presente?
Fomos buscar a resposta e seguimos a orientação de nosso croqui de 1996.
As imagens comunicam
Para ler sobre Itoupava Seca - Clicar sobre: Um passeio pelo Bairro de Itoupava Seca e um pouco de sua História
Um pergunta sem resposta - Como está a ponte de pedra, no momento presente?
Fomos buscar a resposta e seguimos a orientação de nosso croqui de 1996.
Percebemos que a obra do dique - sobre o Ribeirão do Tigre está parada e o que foi construído até então, está meio abandonado (lembramos dos "furos jornalísticos" sobre o dinheiro púbico indo para o ralo).
Mas o que nos deixou satisfeitos foi constatar a presença da ponte histórica, ainda literalmente no "meio do mato". Portanto - guardada, até que realmente, alguém possa colocá-la, como merece na paisagem de Blumenau como um monumento histórico e uma infra estrutura que pode ser usada, bem como a paisagem do Rio Itajaí Açu, tão nobre, útil e admirada em outros tempos e atualmente, renegada.
As imagens comunicam
Sobre a Ponte Tamarindo - inexistente no ano de 1996. |
Sobre a Ponte Tamarindo - inexistente no ano de 1996. |
"Canteiro de Obras" do Dique do Ribeirão do Tigre - desde a década de 1980. |
Foi inaugurado em 2001 |
Caminhando em direção a ponte ferroviária de pedra - vista da Ponte Tamarindo |
A foto não capta o cheiro de amônia que emanava do local - noutros tempos habitat de tartarugas e peixes. |
A ponte ferroviária de pedras localizada no meio urbano de Blumenau - inaugurada em 1909 com o primeiro trecho ferroviário da EFSC continua "guardada" no meio do mato. Enquanto estiver assim, tudo bem, pois o material não é perecível. Em um momento futuro, alguém com consciência e capacitado poderá resgatá-la no espaço da cidade, onde sempre deveria ter estado e sendo usada.
Leituras complementares - Clicar sobre o título escolhido:
- Recuperação do Pontilhão Ferroviário da EFSC com mais de 100 anos - História da EFSC - Blumenau SC
- Arquitetura - Catedral São Paulo Apóstolo - Blumenau - Arquitetos alemães Gottfried e Dominikus Böhm
- Leopold Franz Hoeschl - 1° Cônsul Honorário do Império Austro-Húngaro na Colônia Blumenau - 1° Parte
- A Ferrovia - EFSC
- Estação Ferroviária da EFSC - Cidade de Rio do Sul
- Pontilhão Ferroviário da EFSC - inserido em Projeto atual de Revitalização da Rua Bahia - Blumenau
- Primeiro Diretor da EFSC - Entrevista ao Sr. Frederico Kilian
- Primeira Estação Ferroviária de Blumenau foi demolida e deu lugar a edificação da Prefeitura Municipal de Blumenau
- Santa Catarina teve única ferrovia brasileira construída com tecnologia alemã
- A Ferrovia no Vale do Itajaí - Parte do Livro - Conclusões
Referências
GERLACH, Gilberto Schmidt, Colônia Blumenau no Sul do Brasil / Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José : Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.) : il., retrs.
HENKELS, Luiz Carlos; HABITZREUTER, Rubens Roberto. Estrada de Ferro Santa Catarina – EFSC – 1909-2009. Publicação do consórcio Empresarial Salto Pilão – CESAP – que retrata em fotografias fragmentos da história da ex-EFSC. Santa Catarina, 2009. 192p.:il.;23x31cm.
HUMPL, Max. Crônica do vilarejo de Itoupava Seca: Altona: desde a origem até a incorporação à área urbana de Blumenau; Méri Frotscher Kramer e Johannes Kramer (orgs.). – 1.ed. – Blumenau (SC) : Edifurb, 2015. – 226 p. : il.
SILVA, José Ferreira. Cervejarias de Blumenau. Revista Blumenau em Cadernos. Tomo III, Setembro de 1960. N°9. Paginas: 161 – 170.
SILVA, José Ferreira. História de Blumenau. -2.ed. – Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. – 299 p.
WITTMANN, Angelina C. R. A ferrovia no Vale do Itajaí: Estrada de Ferro Santa Catarina: Edifurb, 2010. – 304 p. :il.
Interessante que o Ribeirão do Tigre chega a sua foz, com as águas nesse estado de poluição. Em todo o seu percurso, foi implantada a rede de coleta de esgoto.
ResponderExcluirInteressante e pontual observação, Roberto.
ExcluirGostei muito de teu posicionamento, companheiro de pesquisas.
Sempre grata.
Escrevendo da cidade de Rio do Sul.
Em 2017, numa reunião no auditório da Secretaria de Turismo para o trade turístico,o Secretário de Turismo Stodieck aludiu a essa área da municipalidade do ribeirão do Tigre informando que tratativas estavam em curso com a Capitania dos Portos para a implantação de um cais de modo a iniciar navegação e área de lazer.
ResponderExcluirRicardo Stodieck é arrojado e competente naquilo que se propões a fazer e tem muito boas iniciativas, uma delas foi o Projeto "Festival à Bordo". Nosso apontamento, como urbanista, é chamar atenção, não para o caso isolado, pontual. Mas sim observar e destacar a questão de que temos um exemplar de patrimônio histórico isolado e sem o contato com a comunidade inserido em uma área pública. Que sejam, definitivamente, adotadas, dentro de uma equipe interdisciplinar de projeto de cidade contínuo - para os que vivem na cidade (E não somente com o foco do turismo). Prática repassada de uma administração para outra, sem rupturas - contemplando e preservando áreas com vocação cultural e de lazer, públicas, a partir do desenho de cidade - do urbanismo. Fruto de uma proposição técnica dentro de uma equipe interdisciplinar - promessa do atual prefeito, em campanha, feita para nós e para seus eleitores.
ExcluirAgradecemos a informação, de certa maneira positiva. Mas não deveria ser questão da secretaria de turismo, mas sim da equipe de planejamento e projeto de cidade, por assim não dizer do prometido IPPUB.
Abraços....
Boa noite Professora Angelina Wittmann, qual a melhor forma de acessar a Ponte Ferroviária de Granito - EFSC? Gostaria de conhecer este monumento.
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