Blumenau - sua fundação - dia 2 de setembro, o marco da chegada dos 17 imigrantes na cidade de Nossa Senhora de Desterro - no dia 2 de setembro de 1850.
Nesta época do início do mês de setembro - mês do "olho de boneca", não há como não relembrar sua histórica, muitas vezes pouco lembrada, ou mesmo, desconhecida de muitos que residem na cidade que escolheu para morar.
Hino de Blumenau - interpretado pelo Coro Masculino Liederkranz - 2018 acompanhado pelo teclado de Hans Jurgen Jopp. Composição: Edson Luis Da Silva / Márcio Volkmann
"Segundo Lago (1968), e conhecendo o que foi o objetivo de Hermann Blumenau - a Colônia Blumenau nasceu como uma empresa agrícola com vistas para o desenvolvimento industrial. A localização determinou sua função desde o início, de entreposto comercial e de centro preferencial de investimentos aplicados no setor da economia industrial. Passados alguns anos após a fundação, a colônia apresentava certo desenvolvimento econômico, pela comercialização do excedente agrícola das propriedades coloniais e surgimento de pequenas indústrias familiares. O objetivo socioeconômico da implantação dos núcleos urbanos dentro da grande Colônia Blumenau era o de produzir (produção agrícola x transformação industrial) e inserir esses grupos no mercado nacional." Da Postagem: Clicar sobre "Kulturverein - Die Kolonie Blumenau - Cooperativismo"
Tudo fez parte do plano do idealizador e fundador da colônia no Vale do Itajaí - Hermann Bruno Otto Blumenau e a sua Colônia Blumenau. Um pouco sobre esta história.
Relembramos que no início do Século XIX, a região sul era um problema
de segurança e infra estrutura para o governo central
brasileiro recém liberto de Portugal. A região fazia parte
de constantes disputas de terras entre, principalmente, portugueses e
espanhóis e era pouco desenvolvido e povoado, comparada às regiões sudeste e nordeste do
país.
Em 1822, quando o Brasil se libertou de Portugal, o governo
brasileiro investiu em propaganda para promover a imigração para o Brasil,
principalmente a alemã e italiana. A Europa, neste período, estava passando por
uma série de conflitos e revoluções - final
do Século XVIII e início do Século XIX.
O Brasil não dispunha de um exército para manter sua
segurança nacional a partir de seu continental território, principalmente na
região sul, que estava sob constantes ameaças em suas fronteiras - investidas
das tropas espanholas. Por questões de segurança, não podia confiar nos
portugueses que viviam na região. O
governo brasileiro, encontrou uma saída. Através de propaganda de convencimento
na Europa, propagava as vantagens do novo país, entre estes: o direito à terra,
paz e alimento em abundância. Ofereceu vantagens (Nem sempre cumpridas) às
famílias interessadas a residir no sul do Brasil, como: passagens, direito à
cidadania, isenção de impostos e direito a posse de uma ou duas colônias de
terras (24 a 48 ha). Na Colônia de Blumenau estes lotes coloniais eram vendidos por Hermann Blumenau às famílias de imigrantes - e a colônia tinha um certo planejamento como colônia agrícola empresarial - inspirada na ideologia neoliberal de Quesnay - industrializar e comercializar o excedente da propriedade agrícola.
Prosseguindo...
Nesta época, início do Século XIX, a Alemanha e a Itália não
existiam como países unificados e passavam por intensas transformações sociais
em seus territórios com a industrialização tardia e movimentação de pessoas do
campo para as cidades. Como já postamos aqui no Blog, a unificação alemã
somente ocorreu em 1871. Data posterior a fundação de Blumenau - que oficialmente é tida como 1850.
Johann Jacob Sturz |
A História de Blumenau teve início na Alemanha a partir das decisões e ambições de um jovem da cidade de Hassenfelde.
Com a idade de 23
anos - na cidade de Erfurt, após contato com naturalistas e principalmente com a família Müller (trabalhou com o avô materno do naturalista Fritz Müller),
Hermann Bruno Otto Blumenau - doravante Hermann Blumenau, começou a observar mais as questões e elementos naturais e
despertou-lhe a curiosidade em conhecer as terras na América. Muitos alemães
emigravam para a América do Norte e, em menor quantidade, para a América do Sul, para o Brasil.
No final do ano de 1843, Hermann Blumenau viajou para a capital da Inglaterra - Londres, a trabalho. Foi tentar conseguir uma patente de invenção para os preparados químicos e autorização para a comercialização deles - trabalhava para o avô de Fritz Müller. Em Londres, conheceu o Cônsul Geral do Brasil na Prússia - Johann Jacob Sturz.
A conversa foi longa com o diplomata brasileiro na Prússia. Neste encontro, Hermann Blumenau ouviu muitas histórias sobre o Brasil, desde narrativas sobre a natureza e muito da propaganda do que o governo brasileiro vinha fazendo na Europa, para atrair imigrantes e povoar, o quanto antes, o inabitado sul do Brasil. O governo do recém liberto Brasil, temia que esta região fosse invadida pelos vizinhos de língua espanhola. O governo brasileiro não podia pedir ajuda a Portugal, país do qual acabara de se libertar, em 1822. Necessitava fortalecer os limites do sul, cujo interior era praticamente inabitado.
Hermann Blumenau vislumbrou a oportunidade de fazer negócios no Brasil e ficar rico. Pesquisou muito sobre a imigração e a colonização no Brasil. Procurou conversar com brasileiros, pesquisou a história do Brasil e a movimentação migratória que aconteceu de seu país para o Brasil.
Seguindo o conselho de Fritz Müller, dado um tempo atrás, com objetivo de viajar gratuitamente nos navios que cortavam o Atlântico, cursou a universidade. Em 1846 formou-se químico, mesmo não tendo terminado o ginásio.
Um comentário - já fomos inquiridos e convidados a colocar o título "Doutor" na frente do nome do fundador de Blumenau - Hermann Blumenau. Insistimos que Químico não é um profissional que faz uso do título, como também há políticos na atualidade que se apropriam do título erroneamente. Doutor é um título conquistado mediante a conclusão e aprovação de um curso de Doutorado.
Para ler mais (Porque não usamos Dr. na frente do nome de Blumenau - Clicar sobre: DOUTOR ou ainda sobre: DOUTOR 1
Um comentário - já fomos inquiridos e convidados a colocar o título "Doutor" na frente do nome do fundador de Blumenau - Hermann Blumenau. Insistimos que Químico não é um profissional que faz uso do título, como também há políticos na atualidade que se apropriam do título erroneamente. Doutor é um título conquistado mediante a conclusão e aprovação de um curso de Doutorado.
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No final da década de 40 do Século XIX, chegaram notícias do Brasil na Alemanha. As notícias mencionavam a propaganda e promessas do Estado brasileiro na Europa - Alemanha - aliciando pessoas que mudassem para o Brasil para trabalhar e povoar o sul do país. As notícias chegantes do Brasil afirmavam que parte destas promessas não eram cumpridas. Estas informações foram propagadas em solo alemão (ainda não existia o país Alemanha) e ficou de conhecimento público.
Charge que circulava na Alemanha, sobre os maus tratos ao imigrante
que era levado pela propaganda do governo brasileiro.
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Hermann Bruno Otto Blumenau - no jardim de sua residencia - Stadtlatz Blumenau |
Oportunisticamente, com intenções de conhecer o Brasil e suas possibilidades, Hermann Blumenau imediatamente se candidatou a uma vaga de Agente Fiscal do governo alemão da "Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães" - Colonisation Vereins Hamburgo - 1845/1846 - com sede em Hamburg. Como representante oficial e funcionário do governo alemão, viajou gratuitamente e visitou colônias fundadas por alemães nas Províncias do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande - Sul do Brasil. Além de estreitar laços com o Imperador do Brasil - D. Pedro II - sendo ambos maçons.
Porto de Hamburgo |
Em abril de 1846 – com 27 anos, embarca como funcionário do Colonisation Vereins Hamburg, como representante do governo alemão para o Brasil. Despediu-se de seus pais e embarcou no veleiro Johannes, no porto de Hamburg.
Viajou por mais de dois meses e chegou no Rio Grande no dia 19 de junho de 1846. Visitou alguns locais, fazendas e fez pesquisas para seu projeto pessoal, narrado, através de correspondência para seus pais - na Alemanha.
Curiosamente, também nesse ano de 1846, chegavam ao local onde atualmente está o bairro blumenauense Vorstast (último ponto, após a ocupação a partir da foz do Rio Itajaí Acu no mar) Johann Peter Wagner/Pedro Wagner, casado e demais familiares (seu pai - Georg Wagner), que já se encontravam no Brasil desde o ano de no Brasil desde 1829. Dos últimos a subir o Rio Itajaí Açu, receberam terras praticamente dentro nova futura Colônia Blumenau. Neste tempo, Hermann Blumenau ainda não conhecia a região.
Curiosamente, também nesse ano de 1846, chegavam ao local onde atualmente está o bairro blumenauense Vorstast (último ponto, após a ocupação a partir da foz do Rio Itajaí Acu no mar) Johann Peter Wagner/Pedro Wagner, casado e demais familiares (seu pai - Georg Wagner), que já se encontravam no Brasil desde o ano de no Brasil desde 1829. Dos últimos a subir o Rio Itajaí Açu, receberam terras praticamente dentro nova futura Colônia Blumenau. Neste tempo, Hermann Blumenau ainda não conhecia a região.
Caminho até a Foz do Rio Itahahi - percorrido pelos Wagner pelo mar
Mapa de 1828 - S. Sidney - Fonte: Pelos caminhos-antigos
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Prosseguindo...
D. Pedro II - na época |
Ao contrário de verificar a situação de seus compatriotas e emitir relatórios ao governo prussiano que lhe custeava as despesas, Hermann Blumenau oportunizou a viagem e fez contatos e outras pesquisas, visando montar sua colônia agrícola empresarial. Em 1847, colocou na ponta do lápis, tudo que conseguia observar - rendimentos a partir das propriedades rurais de outros imigrantes alemães já instalados no Brasil - como pode ser observado em suas correspondências para a Alemanha.
Depois seguiu para a capital do Brasil - a cidade do Rio de Janeiro, onde permaneceu por aproximadamente 8 meses, igualmente efetuando estudos e contatos, principalmente com o Imperador D. Pedro II.
Depois seguiu para a capital do Brasil - a cidade do Rio de Janeiro, onde permaneceu por aproximadamente 8 meses, igualmente efetuando estudos e contatos, principalmente com o Imperador D. Pedro II.
Rio de Janeiro - 1843 |
Nesse tempo, articulou e procurou conhecer toda a tramitação para efetivação da imigração e colonização de terras, bem como suas vantagens e desvantagens. Também estudou o clima e a geografia de algumas províncias do Brasil, procurando a terra ideal para sua colônia agrícola.
Em abril de 1847, Hermann Blumenau embarca para Nossa Senhora do Desterro, capital da Província de Santa Catarina, onde, nesta época, viviam muitos alemães. De Desterro, visitou a Colônia de São Pedro de Alcântara, na qual, em 1829, foi improvisadamente assentado um grupo de imigrantes alemães. Este grupo chegou na capital de Província de Santa Catarina e não tinha sido previamente planejado e estudado seu local definitivo de assentamento - sendo este, reconhecido como o primeiro núcleo de imigrantes alemães na Província de Santa Catarina. Muitos destes pioneiros integrantes deste primeiro grupo organizado de imigrantes alemães que chegaram á Província, desapontados com local inadequado que receberam para desenvolver atividades rurais e criação de animais, a exemplo dos Wagner e Busch, mudaram-se para a região do Vale do Itajaí. Com isto, as relações entre as regiões do Vale do Itajaí e São Pedro de Alcântara surgiram, através das ligações entre familiares que mudaram-se e os que permaneceram em São Pedro de Alcântara. Neste momento, Hermann Blumenau ouviu pela primeira vez, falar da região do Vale do Itajaí, para a qual voltou toda sua atenção nos tempos seguintes.
Lembramos, já existiam muitas famílias de imigrantes alemães residindo na região que seria a Colônia Blumenau. No Arquivo Histórico de Blumenau existiam cópias autenticadas do requerimento feito por Hermann Bruno Otto Blumenau, quando esteve, como representante da Sociedade Protetora dos Imigrantes Alemães, visitando, pela primeira vez o Vale do Itajaí no ano de 1848. Ele foi conduzido pelo balseiro Ângelo Dias a partir de Itajaí e fez uma parada na propriedade de Peter Wagner - local onde atualmente está o Loteamento City Figueiras - na cidade de Blumenau. Ângelo Dia emprestou seu nome para uma das ruas centrais da cidade de Blumenau atual.
Lembramos, já existiam muitas famílias de imigrantes alemães residindo na região que seria a Colônia Blumenau. No Arquivo Histórico de Blumenau existiam cópias autenticadas do requerimento feito por Hermann Bruno Otto Blumenau, quando esteve, como representante da Sociedade Protetora dos Imigrantes Alemães, visitando, pela primeira vez o Vale do Itajaí no ano de 1848. Ele foi conduzido pelo balseiro Ângelo Dias a partir de Itajaí e fez uma parada na propriedade de Peter Wagner - local onde atualmente está o Loteamento City Figueiras - na cidade de Blumenau. Ângelo Dia emprestou seu nome para uma das ruas centrais da cidade de Blumenau atual.
Um comentário - Se fosse considerado o método que algumas cidades do Vale do Itajaí - antiga Colônia Blumenau, que contam suas história, muitas vezes, excluindo nomes de pioneiros da história pretérita e assumindo os nomes locais que primeiro chegaram ao local - sendo este considerado o fundador da cidade. Basta surgir a comprovação de que um nome esteve antes do pretenso fundador que o segundo passa a sê-lo, então.
Se assim fosse, o fundador da cidade de Blumenau seria, o quase desconhecido - Pedro Wagner, que serviu uma refeição em sua casa, na primeira visita do fiscal do governo das terras alemãs na região, Hermann Bruno Otto Blumenau. Observamos que a história formal local quase não coloca destaque sobre estes fatos históricos e seus personagens. Por que será?
Durante a construção das primeiras casas provisórias e galpões, limpas de terrenos, fornecimento de alimentos - no início da história da Colônia Blumenau, as famílias já estabelecidas na região foram de extrema importância na construção da nova colônia.
Na época da primeira visita de Hermann Blumenau à região, a Família Wagner respondeu a muitas perguntas do visitante. Perguntas como: As terras são propícias ao plantio? Os alemães se adaptam bem? Há contato com o restante do mundo? As crianças se desenvolvem? Como se mora? como se vive?
A Família Wagner serviu uma refeição aos dois visitantes, a partir dos "frutos" produzidos em sua propriedade. No decorrer da troca de idéias - Hermann Blumenau continuou a receber informações destes que já residiam no local há um bom tempo e tiravam da propriedade, a sobrevivência das famílias. Anotou as informações. Hermann Blumenau e Dias saíram da propriedade dos Wagner no outro dia cedinho e subiram o Rio Itajaí Açu. Retornou após dois dias, partindo para Itajaí e então, para Desterro, via navegação marítima.
Os Wagner, e outros, que já residiam na região, subiram o Rio Itajaí Açu a fim de observar o local que despertou o interesse de Hermann Blumenau, ao ponto de o mesmo querer construir sua colônia agrícola no local.
Quando esteve no Rio Grande, no dia 19 de junho de 1846, visitou alguns locais, fazendas e fez pesquisas para seu projeto pessoal, narrado, através de correspondência, aos seus pais - na Alemanha, na qual percebemos seu principal foco durante sua excursão pelo sul do país.
Carta para os pais - Alemanha
"Depois de ter me referido a assuntos em geral, quero agora fazer-vos destes mais detalhadamente, mesmo que eu, de novo, não possa escrever como desejaria, por ter muito o que fazer e estar com a vista bastante afetada. Preciso adiar ainda um relatório extenso, para quando tiver mais tempo e estiver melhor ambientado. Agora, portanto, só assuntos, esparsos da minha vida e atividades, desde a minha chegada ao Rio Grande, de onde só lhes mandei duas cartas mensagens, por não me ter sobrado tempo para comunicações mais demoradas e ainda pela razão de ter sabido, tardiamente, da partida dos respectivos navios. Viajei de vaporzinho do Rio Grande a Pelotas, situada a noroeste, no rio São Gonçalo, que liga a lagoa Mirim com a dos Patos. A passagem levou cinco horas e foi agradável. As ribanceiras do rio são baixas e pouco pitorescas, mas de longe, no noroeste, aparece uma linda cordilheira azul, a Serra dos Tapes. Nas margens do Rio São Gonçalo, vi, pela primeira vez, uma capivara entre os juncos, uma espécie de animal que se assemelha ao hipopótamo em dimensões menores, vivendo quase sempre dentro d’água, tem o tamanho de um porco pequeno. Avistei também algumas espécies de pássaros esquisitos. O comandante do vapor, amável conterrâneo, permitiu-me pernoitar a bordo, onde eu, sob o meu casacão, dormi regularmente bem. No dia seguinte, mandamos chamar um outro alemão, bem conhecedor da região - uma espécie de tropeiro - para conversar com ele sobre uma incursão ao interior, que eu pretendia fazer, indaguei sobre tudo que me interessava, tirando informações valiosas. Depois andamos pelos arredores, onde cheguei a conhecer muita coisa que me era novidade e que observei com grande interesse. A vegetação, particularmente, era para mim estranha novidade, as palmeiras, os arbustos de mamona, cactáceas da grossura de uma perna e com 12 a 6 pés da altura, ficus-índica, uma outra qualidade de cactus aproveitada para sebes, enfim não sendo muito fértil a região, muita novidade apresentava para mim. Bem do lado, onde atracava o vapor, encontrava-se uma charqueada, onde é preparada a carne-seca salgada, e onde estavam sendo secados os couros e procedido o aproveitamento da gordura. Tais charqueadas se estendem ao longo do rio, no percurso de duas horas, sendo que as maiores aproveitam, diariamente, 300, 400 e até 600 cabeças de gado. A vista e o cheiro dessas charqueadas são horríveis - sangue, ossos, carne apodrecida e peles, estômagos e intestinos em decomposição em toda parte, pesteando o ar. Os chifres, ligados ainda a uma parte dos ossos da testa são aproveitados para cercados, dentro dos quais são mantidos porcos e outros animais que, parcialmente se alimentam de sobras de carne. Onde quer que se pise, para onde quer que se vá, sempre o mesmo aspecto de sangue, estômagos apodrecidos e mau cheiro. Fiquei deveras contente quando de lá saímos, por mais interessante que o assunto fosse. Os proprietários dessas charqueadas, os "charqueadores", são geralmente gente bruta, principalmente enriquecidos nos últimos tempos. Se a paz for restabelecida no país vizinho, para o que as expectativas atualmente são boas, o lucro torna-se-á menor, mas sempre ainda bastante compensador.
Mais tarde visitei ainda um negociante alemão, que me acolheu muito bem, tendo me oferecido pouso e um cavalo, dispondo-se a fazer uma excursão comigo. Andei depois por ali assim, tendo visto pela primeira vez, um lindo pomar de laranjeiras, que apresentava um esplendido aspecto, as árvores de ramagem escura e copa arrendondadas, onde apontavam as maravilhosas frutas que estavam justamente amadurecendo. É um belo espetáculo observar-se os pomos dourados, um perto do outro, às centenas! Os pés já produzem no seu quinto ano e consta que, já no décimo ano dão 4 a 6 mil frutas anualmente (Propaganda para os conterrâneos!). No interior me afirmaram que há laranjeiras de 8 polegadas de diâmetro de renderiam seus 4 a milhares de frutas por ano e teriam apenas 8 anos. À noite, encontrei em casa do Sr. Claussen ainda alguns brasileiros, todos já um tanto alcoolizados, com os quais palestrei a respeito de minha excursão, sobre a qual, depois de muita discussão, finalmente nos entendemos. Mais tarde, ainda apareceu um grupo de jovens, fantasiados de polacos e poloneses, dançando a polca ao compasso de uma esquisita, mas bonita modalidade de música, que era novidade para mim: uma pequena flauta com acompanhamento de pandeiro. Após os outros terem ainda "champanhado" vastamente e eu meditado sobre os meus planos para o dia seguinte, fomos dormir. Subi a minha cama de campanha e cobri-me com um cobertor e o meu casacão, dormindo bem até o raiar do dia, quando o meu comandante veio do vapor buscar-me para o início da jornada à Serra dos Tapes. Começou então a balburdia. O gerente da casa de hospedagem Claussen e alguns fazendeiros ali hospedados, todos ainda sob o domínio das consequências da champanha, não encontravam meios de se acordarem. Verifiquei também que havia cavalo para mim, mas que não havia arreios. Tive que andar para lá e para cá e isso com os negros na sua insuportável moleza. Era de enlouquecer. Finalmente, passadas quatro horas, estávamos prontos para partir, isto é, o comandante e eu, pois todos os demais estavam de ressaca, o que não mais me desapontou, convicto, como fiquei, de que eles só estorvariam os meus propósitos. Através de uma região de terras baixas, por vezes pantanosas, dirigimo-nos, montados nos nossos cavalos, em direção noroeste, ao encontro da montanha.
Três horas distantes da cidade, na propriedade de um amigo do comandante, pretendíamos trocar de cavalos. Não o encontrando, entretanto, em casa tivemos que continuar nos mesmos animais, que não eram lá muito bons. Um pouco adiante paramos em um estância para nos refrescarmos. O proprietário também não estava em casa, mas sim a patroa e uma irmã dela, ambas chinas, ou índias, com olhos um tanto oblíquos, pele amarelada e cabelos pretos muito compridos. Como fosse domingo, estavam elas bem arrumadas, com vestidinhos bonitos e modernos, os cabelos penteados e bem trançados. Interessante era o contraste destes requisitos da civilização com a absoluta ausência de bons modos. Uma delas puxou as pernas, com a maior naturalidade, para cima do banco, encostando o queixo nos joelhos, enquanto a outra, penteando uma criança, falava com o meu companheiro ao mesmo tempo que, com o pente, palitava os dentes. Lá tomei pela primeira vez o chá mate (erva mate) a folha de um arbusto em forma de árvore, a qual é torrada e socada. Sobre certa porção desta erva, se põe água fervendo (e açúcar quem quiser), sugando-se o líquido através de um canutilho de folha de Flandes, ou ouro, que termina em uma pequena bola perfurada, que se coloca dentro do chá. De início é fácil queimar-se a boca, como a mim aconteceu, mas depois saboreia-se com gosto esse chá e também sem açúcar, o qual, segundo se diz, muito mais saudável. É preparado sempre na casca de uma pequena abobora garrafa, do tamanho de uma mão fechada, às vezes enfeitadas com lindas decorações de prata. Suga-se enquanto tiver chá. Depois, vem uma negra, pega a cuia, e despeja nela novamente água fervente e assim a cuia continua a rodar não se devendo limpar, de maneira nenhuma, a bombilha, mesmo tendo saído, talvez, da boca de um vizinho bastante sujo, porque isto seria interpretado como ofensa. Quando o mate perde o gosto, é jogado fora e coloca-se nova porção de erva. De lá partimos, após agradecimentos pelo gentil acolhimento, efusivos mas formais, tendo alcançado, após várias horas, na colina anteposta à serra outro amigo hospitaleiro, numa propriedade maravilhosamente bem situada, fazendo jus ao nome: "Muito Bonito".
Fomos acolhidos com muita gentileza e dignidade, tendo eu experimentado aí, pela primeira vez, uma refeição à maneira nacional: carne de vaca, bem picadinha, com toucinho. (O prato é acrescido de farinha de mandioca) produto conseguido pela raspagem, prensagem e torração da raiz de mandioca) que se mistura à carne, e de que eu gostei muito, jantando-se ainda laranja à vontade. A permanência ali foi muito interessante. A propriedade é muito bonita, um quarto de légua quadrada, totalmente cercada de laranjas e outras frutas. Mandei pedir informações pelo valor aproximado da mesma, obtendo a resposta que, ao preço de 12.000 dólares (18.000 Thalers) estaria certamente à venda. Seria uma propriedade para um agricultor abastado (Interesse nos negócios de terras). Fica à seis horas de viagem da cidade e do porto de Pelotas, margeada de boa estrada. Lá encontrei, por primeiro, as variedades de laranjas (ou da nossa "Apfelsine", de casca alaranjada), das quais existem diversas espécies de tamanhos e gostos diferentes, assim como acontece com nossas maçãs. Tem aqui, uma laranja lima, de casca amarelo-claro, cor de limão, doce, mas um tanto insonsa, a lima de umbigo e a bergamota (da qual se obtém o óleo de bergamota) que também é doce mas nada de gosto especial. As limas são inferiores às laranjas no gosto, mas tem a vantagem da produção durante todo o ano, enquanto a laranja é apenas de seis meses. Depois há o limão, do qual também existem várias qualidades, alguns bem maiores e bastante mais ácidos do que o nosso limão, e por fim as qualidades azedas (cidras) que na Alemanha, chamamos de "Pommeranza" ou laranja azeda.
Havia ainda outras árvores frutíferas, como figos, pêssegos, pinheiros, (que dão uma qualidade de nozes) como ainda cana de açúcar, batatas, etc. (Vegetais que vi ali pela primeira vez). Além disso havia uma porção de arbustos floridos, mesmo sendo inverno na época, principalmente uma espécie de acácia de flor grande purpúrea quase escarlate.
Foi uma pousada agradável, aumentada ainda pela gentileza simples e agradável, mas de grande dignidade, daquela gente. Depois de termos consumido farto almoço, chupado laranjas e tomado café para finalizar, partimos ao encontro de outro amigo ainda, o qual mora a várias léguas de distância, na montanha. Anoiteceu entretanto, e nos vimos obrigados a pernoitar a uma milha de distância do nosso destino, em outra fazenda localizada mais esplendidamente ainda do que a "Muito Bonito". Fomos bem recebidos e nos serviram, a pedido de meu companheiro, ainda um pouco de linguiça e farinha, pois eu estava com bastante fome. O leito era duro e a noite gélida, e como tivéssemos apenas nossos casacos para nos cobrir, sentiram um pouco de frio, mas, mesmo assim, dormi muito bem. Durante a noite, os moradores daquela fazenda começaram a tarefa de descascar raízes de mandioca para o preparo da farinha, ao clarão de enormes tochas. Não havendo mais sossego, nos levantamos e observamos, por algum tempo, a faina. Depois pegamos as nossas montarias, o que levou bastante tempo e partimos, após os merecidos agradecimentos. No alto dos morros havia geado fracamente, mas nos vales, a camada era mais grossa, e havia gelo da grossura de um dedo nas poças dágua que, entretanto, derreteu muito depressa.
Foi uma magnífica manhã fria e eu mesmo, com região glútea bastante prejudicada, me encontrava em rósea disposição. Depois de duas horas, chegamos à fazenda do Senhor Serafim Barcelos, onde o meu companheiro, lutando entre um grupo de revolucionários, se encontrara aquartelado por diversas vezes. Fomos recebidos com a mais gentil cordialidade, e fizemos passeios de reconhecimento pela região e pela fazenda, tendo eu recebido muitas informações sobre produtos agrícolas, agricultura, valor das propriedades, etc., sobre o que escreverei em outra ocasião. Depois de um sólido almoço, com muita e boa carne, mas sem pão que era substituído por farinha de mandioca, entramos na mata e dirigimo-nos a diversos ribeirões onde, segundo consta, teriam sido encontrado minérios (de ferro), os quais eu queria examinar. Não encontramos nada do gênero, mas vi diversas flores lindas e árvores e outras coisas interessantes, de maneira que o tempo passou depressa demais. Os curso dágua naquela região contem todos eles ouro, e, em vários pontos tanto que um homem pode ganhar de um a três ducados diários. (Propaganda!) Isto é muito, mas essa faina estraga a gente como um jogo de azar - muito empobrecem, outros enriquecem consideravelmente, mas todos se tornam, pela tarefa fácil de obter lucro, preguiçosos e desordeiros, ao passo que a labuta naquele solo bom e fértil alimenta o homem, garantidamente. Foi lá que vi, também pela primeira vez, abelhas nativas que fazem os ninhos nas selvas, onde são apanhadas. Não tem ferrão, são menores que as nossas abelhas e, nem de longe, tão agressivas. Fazem os ninhos em partes ocas de troncos de árvores: as células são grandes, como avelãs e a cera é escura e um tanto mole, sendo o mel fino, mas saboroso. Para obter-se o enxame, derruba-se a respectiva árvore, serrando-se depois o tronco dos dois lados da cavidade, rachando-se em seguida o bloco para tirar o mel e a cera. Depois, junta-se e amarra-se novamente as duas partes, e tapa-se tudo com barro, deixando-se apenas uma pequena abertura. Nestes blocos pendurados, as abelhas voltam aos ninhos antigos, onde produzem novamente. O processo é muito primitivo. A apicultura metódica, na forma que se faz com abelhas europeias, deveria dar bons resultados. A tardinha, após despedida cordial, com abraços e repetidos convites para outra visita, partimos para alcançarmos ainda "Muito bonito", onde nos haviam convidado para pernoitar.Desorientamo-nos, entretanto, e cavalgamos pela região até às nove horas da noite, sem avistar casa alguma. Quando por fim encontramos uma estância no mato, onde se encontrava alguns negros e a proprietária, uma mulata. Mesmo que as aparências não fossem muito boa, vimo-nos obrigados a permanecer ali. Ainda nos serviram algumas costelas assadas ao fogo, além de farinha. A fome temperou a refeição simples, que não foi de grande asseio, tendo os dedos de fazer as funções de garfos. Depois nos serviram mate e fumados ainda alguns cigarros, e tendo eu rememorado os acontecimentos do dia, deitamo-nos para descansar dentro de uma cabana inacabada, sem paredes ainda, mas com coberta. O leito improvisado sobre uma porta era duro, porem o cansaço nos fez dormir bem. Partimos ao raiar do dia em direção a "Muito Bonito", onde fomos novamente recebidos com muita amabilidade. Depois de bem alimentados, tendo passada mais uma revista na bela propriedade, partimos, tendo chegado ao cair da noite em Pelotas, com a região glútea bastante maltratada, mas absolutamente satisfeitos com o resultado da excursão. No dia seguinte, visitei uma fábrica de sebo nas proximidades, por cujo proprietário, um francês, fui muito bem recebido e que me mostrou as instalações, tendo conversado com ele sobre tudo que se pode ali empreender, ainda. O homem havia iniciado, fazia cinco anos, com pouco recursos e, através de muito trabalho e empenho, possui agora, uma grande fábrica com 25 escravos. Ele deu-me esperanças para um empreendimento químico, convidando-me, também, para fazer o necessário estágio no seu estabelecimento, para o caso de eu resolver voltar a Pelotas para estabelecer-me ali.
No dia seguinte voltei ao Rio Grande, onde precisei embarcar imediatamente no vapor que zarparia no dia seguinte, com destino ao Rio. Sobre esta viagem, comunicarei na carta seguinte. Desde que pisei em terra firme, como meus queridos pais podem verificar, quase não tive tempo pra dedicar-me a mim mesmo. Já vi que, aqui, o empenho para a fixação em algum empreendimento é maior do que na Alemanha, mas também são as possibilidades em relação aos lucros. Aqui, no Rio de Janeiro, a hospitalidade anda danadamente escassa; Todas as minhas recomendações serviram-me de quase nada. Tendo de gastar, assim, muito dinheiro, pretendo afastar-me, o mais depressa possível. Em convites para a mesa, sem se fala, o que mesmo não é possível, porque quase todas as famílias (estrangeiras) moram longe, por vezes duas horas de distância do centro, e só aqui chegam para cuidar dos negócios, voltando logo depois. O Sr. H. Fröhlich, para cujos filhos eu trazia cartas, sem procurei, porque ele, segundo consta, parece ser um homem bastante original. Simples jornaleiro antigamente em Brehmen, estaria ele aqui hoje muito rico, pelos próprios esforços, mas de maneiras bruscas e insultuosas, muitas vezes, tendo eu sido advertido de não procurá-lo, para poupar-me de aborrecimentos. A filha (no endereço ainda "Fräulein" é agora Madame Emília, recebeu-me muito bem em companhia de seu marido e de um primo, morando eles também uma meia hora de viagem distante da cidade. As cartas de recomendação, desta maneira, com exceção de alguns bons conselhos, que de fato me valeram, nada de positivo resolveram para mim. Travei, entretanto, outros conhecimentos com pessoas que se empenharam bastante por mim, apoiando-me no desempenho de meus objetivos. Encontrei aqui, aliás, uma família com a qual pretendo estreitar relações, onde fui muito bem recebido, se ter sido recomendado. O chefe desta família é um comerciante hamburguês, Sr. Bahre, homem muito inteligente, se bem que excêntrico, que veio para cá com os mesmo objetivos que eu, isto é colonização. A amabilidade calma da esposa é o equilíbrio para as adversidades criadas pelo caráter do marido. Esta família pretende estabelecer-se em Pelotas ou Montevideo e, possivelmente, eu os acompanharei, tanto mais quanto o Sr. Bahre me fez propostas para um empreendimento em comum, caso não sejam realizáveis os nossos objetivos de colonização. Na província do Rio Grande, a hospitalidade é muito grande, podendo-se viajar durante meses sem fazer gastos, além de alguns talers em milho para os cavalos. É tido como ofensa oferecer-se pagamento em uma propriedade onde se comeu, bebeu e pernoitou. Quem é dedicado às crianças, pode contar com o mais sincero acolhimento, mesmo para uma permanência mais prolongada. Se eu, portanto, me decidir a fazer viagens de sondagem ao Rio Grande, às despesas serão mínimas. O que se conta aí de animais selvagens e cobras também não é tão assustador. Quem quiser ver uma onça, ou um tigre, vivos nas selvas, deverá mesmo caça-los, pois evitam timidamente o homem, atacando mesmo só quando muito famintos, ou então quado feridos. É interessante que não é atacado o branco, quando este se encontra em companhia de um negro, que então será cobiçado. Com as cobras o caso, igualmente, não é tão grave como supõe. Consta que há muitas, segundo alguns dizem, mas as mordidas são relativamente raras, porque as cobras são medrosas e fogem, se tiverem alguma oportunidade. (Seguem considerações sobre o assunto, como também da calamidade dos mosquitos, etc. Anotação na cópia da carta da qual foi feita esta tradução.) No Rio Grande estas calamidades são menores, e no inverno, em que estamos pouco se percebe das mesmas. Mas mesmo que fossem um pouco mais graves, a terra e o clima pelo menos no Rio Grande, ao qual sempre se voltam os meus pensamentos, são tão excelentes que se pode suportar também algumas adversidades. Um céu ameno, não demasiadamente quente, nem frio demais, seco e saudável, solo ubertoso e fértil, frutas maravilhosas, todas as qualidades de frutas e hortaliças europeias, que mais poderia almejar? Além disso, há minérios e carvão, ouro, comércio e bons salários. Poderia existir terra melhor para os alemães? Só talvez, um pouco mais de fé e boa vontade da parte do governo. Em Montevideo, o clima é mais frio, mas saudável da mesma maneira. Com a paz restabelecida, consta que muitos alemães pretendem transferir-se para lá, onde há mais justiça que aqui. O trigo da ali muito bem, que antigamente se cultivou com muito sucesso no Rio Grande, onde, desde uns 20 anos passado, é atacado pela "ferrugem", não dando mais lucro, foi substituído pelo plantio de outros cereais além do milho, batatas, mandiocas, etc. Caso eu não consiga nada no Rio Grande, irei, provavelmente com o meu projeto de colonização a Montevideo, para onde já tenho propostas da parte de um espanhol rico, mas cujas bases ainda não estudei bastante. De qualquer maneira, contanto que a minha vista permaneça boa, poderei eu arrumar aqui o meu futuro, podendo afirmar desde já, que jamais arrepender-me-ei de ter vindo para cá, contanto que eu possa preservar a saúde. (Segunda a cópia de onde foi feita esta tradução, à carta seguiam conselhos para os sobrinhos Gaetner e Kegel, caso quisessem emigrar para o Brasil).
Hermann BlumenauTerminada em 5 de agosto de 1846.“
Digitado por Angelina Wittmann
Nesta mesma viagem, de retorno à capital da Província, Hermann Blumenau se dirigiu à Assembléia Provincial, com uma proposta de colonização das terras por ele visitadas - como fiscal e funcionário da Sociedade Protetora dos Imigrantes Alemães. Estava no Brasil, para observar como viviam os imigrantes alemães no país, e simultaneamente efetuou estudos para iniciar seu negócio, no Brasil.
Neste período, como pesquisamos em outros trabalhos e comentamos anteriormente, existiam 17 famílias de imigrantes alemães na região do Vale do Itajaí, nas proximidades onde surgiu a centralidade da Colônia Blumenau. A última propriedade e que estava mais próxima da sede onde seria a Colônia Blumenau, era a propriedade da Família Wagner, oriunda da Colônia de São Pedro de Alcântara e que hospedou o funcionário da Sociedade Protetora dos Imigrantes Alemães - Hermann Blumenau.
Em Desterro, em posse de um requerimento datado de 26 de março de 1848 - elaborado pelo Presidente da Província, Marechal Antero pretendia partir. Hermann Blumenau seria o procurador da concessão, na qual recebiam terras às margens do Rio Itajaí Açu.
"Essa modelar e longa proposta de colonização reveste-se de suma importância para os estudiosos da história de Blumenau, porque revela aspectos muito interessantes do caráter do proponente e das intenções leais e patrióticas que animavam, tanto a Sociedade Protetora dos Imigrantes Alemães no sul do Brasil, como o seu representante. " José Ferreira da Silva em - História de Blumenau - pagina 35
Nossa Senhora do Desterro - Atual Florianópolis -neste período |
Em Desterro, o Marechal Antero - Presidente da Província, em um primeiro momento, recebeu muito bem a proposta e pessoalmente, foi favorável, emitindo um ofício externando sua opinião, aprovada facilmente na Assembleia Legislativa e acompanhada de um projeto de Lei, para ser sancionada. O Projeto tinha 9 artigos.
O 1° Artigo concedia glebas de terras, duas partes cada uma com 24 a 28 quilômetros de largura, à Sociedade Protetora dos Imigrantes Alemães. Seria um suborno? No Artigo 2°, a Sociedade poderia escolher as terras concedidas entre as terras devolutas, podendo dividi-las entre os imigrantes. Hermann Blumenau comercializou as terras e fez surgir mercado fundiário, fazendo surgir a maior ou menor valorização fundiária e sua estruturação dentro de todo o território, de acordo com a localização.
No Artigo 5° ficava proibido a entrada de escravos, não somente às terras concedidas a Sociedade, como as demais. As primeiras famílias residentes na região tinham escravos. O balseiro de Pedro Wagner era seu escravo.
A intensão de Hermann Blumenau e do Presidente da Província não teve êxito. Houve opiniões divergentes à transformação do projeto em lei e não foi sancionado.
"Foi constituída, na Assembléia, uma comissão especial, que, concordando com o modo de ver do Presidente, acrescentou um substitutivo ao projeto. Entretanto, também este substitutivo não logrou passar em segunda votação. Por essa razão, o Secretário da Assembléia, com a aprovação desta, encaminhou ao Presidente Antero um ofício comunicando 'que a Assembléia Legislativa rejeitou o projeto de lei sobre a colonização proposta pelo Sr. Blumenau, como representante da Companhia Protetora dos Imigrantes Alemães no Sul do Brasil, estabelecidad na cidade Hamburgo, e julgando a mesma Assembléia que V. Excia, pelas disposições dos decretos provinciais n° 49, de 15 de janeiro de 1836 e n° 79, de 2 de maio de 1839, está autorizado a entrar em contato com qualquer particular, ou companhia que empreenda a colonização da Província, espera que V. Excia, o fará com o sobredito Blumenau...'" José Ferreira da Silva em - História de Blumenau - pagina 36
Os planos mudaram um pouco. Hermann Blumenau oportunamente fez sociedade com o comerciante de Desterro, imigrante alemão, Ferdinand Ernst Friedrich Hackradt. Precisava de alguém no local, quando estivesse na Alemanha, concluindo as providencias necessárias para retornar com os primeiros imigrantes para sua colônia e de maneira definitiva.
A empresa foi chamada de Blumenau e Hackradt. O Marechal Antero, em um primeiro momento, concedeu terras nas imediações do Ribeirão Garcia - cerca de uma gleba de terra, aumentada no decorrer do tempo, atingindo a área de 150000 jeiras ou 378.000.000m2. A empresa Blumenau e Hackradt era uma empresa particular de Agricultura e Indústria.
Ficou acertado entre os dois sócios que enquanto Blumenau estivesse na Europa para buscar os imigrantes, Hackradt permaneceria nas terras escolhidas, preparando o local, construindo ranchos, efetuando plantações e preparando o local para as primeiras acomodações dos colonos. Os vizinhos locais acompanharam toda esta movimentação com grande expectativa e também com auxílios, quando necessário.
Ferdinand Ernst Friedrich Hackradt foi para a região, na companhia de 5 escravos, adquiridos junto ao administrador de Itajaí - Iniciaram a construção de ranchos, roças e engenhos no local onde atualmente está a foz do ribeirão da Velha, próximo a Prefeitura Municipal de Blumenau atual.
As famílias anteriormente fixadas nas proximidades do atual limite entre Gaspar e Blumenau, como os Wagner, enviaram homens de Belchior para contribuírem com os trabalhos, pois tinham interesse no êxito do projeto, que era assunto freqüente em Belchior e região. Não durou muito tempo o auxilio e a troca, por incompatibilidade com o método de trabalho adotado pelo sócio de Hermann Blumenau. Com o passar do tempo a empreitada quase foi abandonada. Do projeto original restaram um rancho, um engenho de serra semi-acabado. Sem plantações.
Carl Franz Albert Hoepecke |
Hermann Blumenau levou 2 anos para retornar à região, da Alemanha. Hackradt retornou para seus outros negócios em Nossa Senhora do Desterro. Comunicou ao sócio, por carta, que estavam saindo da sociedade. Nesta correspondência disse que o engenho construído na foz do Ribeirão da Velha estava ameaçado de ser carregado pela enchente e as tábuas serradas alcançavam preço muito baixo. Esta questão atestava que já existia um pequeno comércio na região, antes da chegada dos pioneiros que fundaram a Colônia Blumenau.
Hachkradt, um tempo depois aconselhou o imigrante e colono, seu sobrinho Carl Franz Albert Hoepcke, que veio para a Colônia Blumenau, que não ficasse residindo na mesma e fosse trabalhar com ele em Desterro. Disse-lhe, que não era um bom negócio permanecer na colônia de Hermann Blumenau. E assim aconteceu.
Após um trabalho intenso de propaganda na Alemanha, Hermann Blumenau conseguiu reunir um pequeno grupo de pessoas para imigrar para o Vale do Itajaí - Brasil, onde já existiam famílias residindo. O embarque do grupo aconteceu no mês de junho de 1850. Depois de 84 dias de viagem, chegaram no Rio de Janeiro. No veleiro, Blumenau trouxe mudas de roseiras e árvores frutíferas.
Hermann Blumenau veio na frente do grupo e encontrou o local da foz do ribeirão da Velha abandonado. Neste, estavam velhas cabanas com um velho escravo paralítico e uma escrava, sua companheira. Também, tinha um engenho de serra, que não funcionava. Não haviam plantações, somente um pasto com algumas vacas.
Foz do Rib. da Velha |
Este era o quadro existente, quando chegaram na foz do Ribeirão da Velha, o sobrinho de Hermann Blumenau - Reinold Gärtner e os primeiros 16 moradores da Colônia Blumenau que simbolicamente surgia neste momento. O grupo viajou da Alemanha para o Brasil com o Veleiro Christian Mathias Schröder.
Nos primeiros tempos, a data de fundação de Blumenau era comemorada no dia 28 de agosto de 1852, sendo que seu 25° aniversário foi comemorado no dia 28 de agosto de 1877.
Os Pioneiros
- Reinhold Gaertner - 26 anos de idade, solteiro, natural de Brunsvique, sobrinho de Hermann Blumenau;
- Franz Sallenthien - 24 anos, solteiro, lavrador, também natural de Brunsvique;
- Paul Kellner - 23 anos, solteiro, lavrador, igualmente de Brunsvique;
- Julius Ritscher - 22 anos, solteiro, agrimensor, natural de Hannover.
- Wilhelm Friedenreich - com 27 anos de idade, alveitar, natural da Prússia, casado com ...
- Minna Friedenreich - 24 anos de idade, possuindo o casal os seguintes filhos;
- Clara Friedenreich - com 2 anos de idade;
- Alma Friedenreich - com 9 meses.
- Daniel Pfaffendorf - 26 anos de idade, solteiro, carpinteiro, natural da Saxônia;
- Friedrich Geier - 27 anos de idade, solteiro, marceneiro, natural de Holstein;
- Friedrich Riemer - 46 anos de idade, solteiro, charuteiro, natural da Prússia.
- Erich Hoffmann - 22 anos de idade, ferreiro, funileiro, também da Prússia;
- Andreas Kuhlmann - 52 anos de idade, ferreiro, igualmente da Prússia, acompanhado da esposa;
- Johanna Kuhlmann - 44 anos de idade, e das filhas;
- Maria Kuhlmann - 20 anos de idade;
- Christine Kuhlmann - 17 anos.
- Andreas Boettcher - 22 anos de idade, solteiro, ferreiro, natural da Prússia.
Os primeiros imigrantes eram da religião protestante luterana. Logo que aportaram, iniciaram a construção de novos ranchos, fizeram derrubadas, limpezas de terrenos e plantações. Desde que chegaram, contaram com o apoio de famílias residentes na região. Destas também era - 17 - as famílias de imigrantes alemães - viviam nas localidades de Pocinho e Belchior, distante de aproximadamente, somente 4 quilômetros, Rio Itajaí Açú abaixo, da sede da nova colônia - Stadtplatz.
Quando assumiam suas terras |
Os antigos moradores da região - que já residiam no local - como os Wagner's, que acompanharam a chegada dos 17 imigrantes alemães de um montante de 250 que viriam, para iniciar a colônia de Hermann Blumenau, auxiliaram os chegantes com dicas e adaptações locais, por já estarem há mais tempo na região - pelo menos 4 anos. Estes já possuíam propriedades próprias com hortas, pomares, vacas, porcos e galinhas.
Alguns nomes de famílias, residentes na Colônia São Pedro de Alcântara, tinham membros residindo na região do Vale do Itajaí. Estes foram de grande auxílio e apoio aos 17 primeiros pioneiros da Colônia Blumenau. Alguns dos nomes de membros destas famílias - no Vale do Itajaí:
Georg Schmidt, Ludwig Werner (roceiros); Johann Händschen e o belga Jacob Villain (Ferreiros); Georg (Pai de Peter Wagner) Wagner, Ludwig Wagner, Antonio Händschen, Josef Sesterheinn, Peter Lukas, Nikolau Deschamps, Joaquim Antônio Amorim, Jacinto Miranda, Marcelino Dias, Valentim Theiss, auxiliaram em tudo um pouco.
Nem todos os 17 primeiros chegantes permaneceram na Colônia Blumenau. De todos os nomes citados, somente a família de Wilhelm Friedenreich e Friedrich Riemes radicaram-se permanentemente na Colônia Blumenau, que aniversaria no dia 2 de setembro.
O fundador de Blumenau - Hermann Bruno Otto Blumenau, retornou para a Alemanha definitivamente no dia 15 de agosto de 1884. Viveu em Braunschweig - Baixa Saxônia, com a esposa - Bertha Blumenau com quem casara em 1867. Faleceu no dia 03 de outubro de 1899.
Blumenau em Cadernos - Agosto de 1958 Em outubro deste mesmo ano, Hermann Blumenau é nomeado agente oficial da Colonização brasileira em Hamburgo. Sempre diplomático e parte de todos os lados. |
História.
A cidade de Blumenau - cidade que continua acolhendo os chegantes. Estes devem lembrar que a cidade possui uma identidade pautada em uma História. Esta identidade tem relação direta à alma da cidade, aquela que atraiu sua atenção, quando a escolheu para morar.
Monumento ao Imigrante |
Algumas imagens da aniversariante - que comunicam...
Aleatórias e com diversas datas - em construção!
Aleatórias e com diversas datas - em construção!
Local da primeira nucleação urbana da Colônia Blumenau - Stadtplatz |
Paisagem em frente ao port fluvial junto ao Stdtplatz - local que as pessoas chegavam na Colônia Blumenau. |
Residência mais antiga do Vale do Itajaí - Residência de Hermann Wanderburg - corrimão comprometido - Stadtplatz |
Stadtplatz |
Ponte coberta de Madeira de Badenfurt sobre o Rio do Testo
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Que cidade deixaremos para as futuras gerações?
Como estamos transformando o meio que recebemos?
Como estamos transformando a Blumenau que recebemos?
Como estamos transformando a Blumenau que recebemos?
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Leitura - Detalhes da Fundação de Blumenau
Para leitura e pesquisa: parte do livro
VIDOR, Vilmar. Indústria e Urbanização no Nordeste de Santa Catarina. Editora da FURB. Blumenau, 1975.
Chegando da Alemanha em 1848 e comissionado pela Sociedade de Proteção aos Emigrantes, sediada em Berlim, Hermann Otto Blumenau entrará em contato com a realidade brasileira percorrendo a região sul do país e tomando informações junto às pessoas recentemente instaladas em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.
No Rio de janeiro, durante o mesmo ano, junto à Corte, ele redigiu um relatório expondo seus planos a propósito do povoamento no Vale. Em suma, a sua proposta consistia em fazer vir imigrantes para desenvolver economicamente uma região ainda virgem. Nada de original, pois a política do Governo nesta época, como já se viu anteriormente, era justamente a de impor um número cada vez maior de mão-de-obra de vez que o tráfico de escravos estava interditado. Caso seu plano fosse aprovado, ele solicitava um empréstimo para poder iniciar a empresa que consistiria logo de início, em uma sociedade privada agro-industrial cuja produção seria industrializada e o excedente exportado.
Hermann Blumenau, tendo já a prática do comércio e da pequena indústria, estabeleceu a empresa Blumenau e Hackradk, que recebeu do Presidente da Província, por compra, uma gleba de terras às quais se somaram outras, adquiridas de terceiros v, compondo um todos de 150 mil jeiras. Pg 26
Os alemães recém-chegados eram, na maior parte dos casos, pessoas selecionadas nas cidades de Bremen e Hamburgo pela Sociedade de Proteção aos Emigrantes. Pg 26
Na Alemanha, em 1849, quando os relatórios sobre os imigrantes vinham público, ele propunha às pessoas que quisessem partir uma vida livre e próspera, liberdade de pensamento, aquisição de um lote de terra, coisas que os alemães em vias de partir não tinham mais. Pg 27
O Plano proposto por Blumenau era seguido com toda segurança e Herbert Koch em seu relatório de 1852 aconselhava as pessoas a se dirigirem a Joinville, São Leopoldo e Blumenau, lugar onde elas encontrariam compatriotas, boa acolhida e independência sem restrição, ao contrário de outros lugares no Brasil onde a condição do imigrante se tinha reduzido à do escravo. Pg 27
Durante o ano de 1852, começaram os trabalhos de medição e demarcação dos lotes, procedendo a fixação de fato (Não ainda de direito) dos agricultores e artesãos. Pg 27
Arquivo Histórico José Ferreira da Silva
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Entrevista da acadêmica de Arquitetura e Urbanismo Angelina Wittmann ao Diretor Presidente do IPPUB - Instituto de Planejamento e Pesquisas Urbanas de Blumenau - Professor Arquiteto Vilmar Vidor - ano de 1992.
A acadêmica coletava dados para propor uma intervenção no Centro Histórico de Blumenau – ou Stadtplatz da ex colônia Blumenau.
Referências:
LAGO, Paulo Fernando. Santa Catarina: a terra, o homem e a economia. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1968.
SANTIAGO, Nelson Marcelo; PETRY, Sueli Maria Vanzuita; FERREIRA, Cristina. ACIB: 100 anos construindo Blumenau. Florianópolis: Expressão, 2001. 205 p, il.
SILVA, J. Ferreira da. Cronografia do doutor Hermann Bruno Otto Blumenau, fundador da cidade e do municipio de Blumenau no estado de Santa Catarina -3.ed. - [Blumenau : Tipografica e Liv. Blumenauense, 1978]. - 18p. :il.
SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau /J. Ferreira da Silva. -Florianópolis : EDEME, [1972?]. - 380 p. :il.
SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau /J. Ferreira da Silva. -Florianópolis : EDEME, [1972?]. - 380 p. :il.
SILVA, J. Ferreira da. O Doutor Blumenau . -2.ed. - Florianopolis : EDEME :Paralelo 27, 1995. - 103 p. :il.
WITTMANN, Angelina. A ferrovia no Vale do Itajaí :Estrada de Ferro Santa Catarina -Blumenau : Edifurb, 2010. - 304 p. :il.
VIDOR, Vilmar. Indústria e urbanização no nordeste de Santa Catarina. Blumenau: Ed. da FURB, 1995. 248p, il.
Revistas Blumenau em Cadernos
Em Construção....
Em Construção...
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