sábado, 7 de agosto de 2021

A Casa de Joaquim Breves Filho - Diretor da EFSC - Estrada de Ferro Santa Catarina - A r q u i t e t u r a

Apresentamos a residência do engenheiro Joaquim José de Souza Breves Filho, personalidade histórica da cidade de Blumenau, com  mudanças polêmicas no projeto original da ferrovia EFSC. Breves chegou à cidade de Blumenau e região a partir de movimentações políticas e familiares, ocorridas no início do século XX.
Para relembrar, publicamos sobre parte de sua história em nosso segundo livro: A Ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina e também em uma postagem publicada no blog, sobre as edificações do Centro Histórico de Blumenau. Durante a elaboração desta postagem e através da pesquisa descobrimos a sua residência e que muito nos surpreendeu pela sua localização e por sua  monumentalidade e beleza arquitetônica.

Para acessar o livro - Clicar sobre a capa:

Um pouco da História de Joaquim Breves Filho

Foi um engenheiro brasileiro, que assumiu o comando da construção da ferrovia EFSC fazendo alterações nos projetos executados durante a segunda parte da construção da ferrovia. Muitas dessas alterações resultaram em modificações radicais, que envolveram mudanças do trajeto da EFSC e aumentos de construções ferroviárias. E não ficaram muito bem explicadas na documentação oficial. Assumiu o posto ferroviário, quando este empreendimento foi encampado pelo governo federal brasileiro após o término da 1°Guerra Mundial. Foi um indicação política - pois era filho de um politico da capital do Brasil - Rio de Janeiro e, neto de um dos maiores escravagistas do Brasil, considerado o "Rei do Café" no seu estado.
O engenheiro fez parte da história da construção da EFSC e foi designado pelo governo brasileiro para o cargo de diretor, e também, engenheiro chefe,  responsável por várias mudanças no traçado ferroviário original - no Vale do Itajaí. Breves Filho, engenheiro  formado no Rio de Janeiro, tinha estreitas relações e laços de família com a família Konder de Itajaí. Nesta época, Victor Konder tinha sido nomeado Ministro de Obras e Viação do Brasil, no Rio de Janeiro e a esposa de seu irmão que residia em Blumenau - Marcus Konder  - era da família Breves do Rio de Janeiro.
Em 22 de maio de 2015  - via correspondência eletrônica - recebemos uma mensagem de um descendente do Barão de Piraí - que também era bisavô do Diretor da EFSC - engenheiro Joaquim Breves Filho, o qual esclareceu este parentesco e com certeza, muito contribuiu para a contratação do engenheiro para o cargo de diretor da ferrovia construída pelos alemães, recém encampada pelo governo brasileiro, para assumir sua direção.

A mensagem de Aloysio Clemente Breves. 

"Olá, Angelina,
Excelente a matéria em seu blogg sobre o Breves Filho. Sou descendente do Comendador Joaquim Breves. Tenho parentes em Blumenau pelo lado paterno - família Beiler de Gaspar. Tirei fotografias da casa quando estive em Blumenau pela última vez. Gostaria de publicar no meu site - brevescafe.net que trata da história da família Breves. Não sei se você conhece, mas os Konder estão intimamente ligados aos Breves. Uma neta do barão de Piraí, ligada aos Flores de Itajaí se casou com o imigrante alemão Marcus Konder. Um abraço, Aloysio Clemente Breves

De acordo com Renato La Porta Pimazzoni  - mensagem enviada via comunicação eletrônica - em 9 de fevereiro de 2017, a família Breves tinha parentesco, igualmente com a família Konder por parte dos Flores. Joaquim Breves Filho foi primo dos Konder. 

A mensagem de  Renato La Porta Pimazzoni.

"Joaquim Breves Filho foi primo dos Konder, por parte dos Flores. Foi primo em 2º grau de meu bisavô materno, Raymundo Flores. Praticamente toda a família Flores trabalhou na estrada de ferro, na época. Raymundo era neto do coronel José Henriques Flores, o qual era dá família Breves, assim como sua esposa. A família Breves foi a mais rica do império, até a abolição dá escravatura. Tinham o domínio do tráfico de escravos e a maior plantação de café, chegando a responder por 7% dá produção nacional e o maior plantel de escravos do país, com mais de 15.000 negros."Renato La Porta Pimazzoni.

O Engenheiro Joaquim José de Souza Breves Filho foi filho de Joaquim José de Souza Breves, que foi filho do Comendador Joaquim José de Souza Breves, conhecido “Rei do Café” no Império, escravagista e contrário à abolição da escravatura e de Dona Maria Izabel de Moraes Breves que foi filho do Capitão-mór José de Souza Breves e do Barão de Piraí. Seu avô possuía uma população de aproximadamente  milhares de escravos.

A vida política e a construção da riqueza dos Souza Breves se assentavam em uma base social agrária, que conciliava diversos alqueires de terras, a milhares de escravos. O número de fazendas espalhadas pela província fluminense, e suas respectivas escravarias, são citadas em diversos trabalhos. Viajantes de época se impressionavam com o número de escravos sob domínio dos Comendadores, como Maurício Ternaux-Comapans, diplomata francês a serviço na legação do Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX. Em visita à fazenda do Pinheiro, em 1876, destacou: 'A família Breves é dona em conjunto de um pequeno número de doze mil escravos apenas! O dono do Pinheiro só por si possui três mil'. Estudos memorialísticos e historiográficos, que se dedicaram a pesquisar o século XIX, apontam que os Breves concentravam as maiores escravarias do Brasil Imperial. LOURENÇO, 2010.

Deputado Joaquim
 José de Souza Breves
O pai do engenheiro Joaquim José de Souza Breves Filho foi um deputado e homem influente na capital federal – Rio de Janeiro. Sua formação se deu nesse cenário da elite nacional do início do século XX. Sua família foi a maior proprietária de terras e escravos da Província do Rio de Janeiro e de grande influência social e política no País, além dos estreitos laços políticos e familiares que possuía com oligarquias familiares do Vale do Itajaí, como os Konder e Flores. 

Mudanças promovidas por Breves Filho  - no Projeto original da EFSC

Encontram-se registradas nos relatórios do Engenheiro Breves Filho, palavras aos seus superiores, como recurso de persuasão sobre a importância da construção do prolongamento da EFSC que não constava no projeto original e para isto solicitava a liberação de verbas. 
 
O prolongamento desta Estrada é providência que não deve ser mais retardada. Basta considerar-se a vasta e rica região sobre a qual exercerá decisiva influência, o far-west catharinense e o norte do Rio Grande do Sul, dotado de terrenos fertilíssimos, com um clima temperado e salubérrimo, onde se succedem as zonas agrícolas e pastoris, e que, pela variedade de altitudes e de composição do solo, são apropriados a nelles medrarem os productos das zonas tropicaes ora os cereaes e fructas dos climas europeus. Esse prolongamento é uma exigência nacional, de ordem econômica e social, para transportes fáceis à produção agrícola e industrial, que se intensifica, e servir de valioso factor da nacionalização dos elementos heterogêneos, que vão povoando os nossos sertões, além de obedecer a razões estratégicas e, finalmente, financeiras. (BREVES FILHO, 1920).

Também, o engenheiro sugeriu a mudança do traçado na área central da Colônia Blumenau, tendo recebido apoio, por meio da justificativa do primeiro diretor da EFSC, Otto Rohkohl. Segundo este, a mudança de traçado da ferrovia na área central da cidade seria efetivada pela falta de verbas do município para quitar o montante da obra. Segundo Rohkohl, o custo para fazer o muro de contenção da barranca do rio entre o porto do centro e a estação de Blumenau – se a ferrovia seguisse o primeiro traçado (junto à margem direita do rio Itajaí-Açu) – seria superior ao da construção de duas pontes sobre o rio Itajaí-Açu, um túnel, um elevado e uma nova estação
O capital para esse trecho da obra, foi liberado pelo governo federal; portanto, não deveriam existir problemas quanto ao valor do projeto inicial e a disponibilidade ou não de capital por parte do município. O projeto original poderia ser implantado sem preocupações financeiras.
Vista da primeira estação de Blumenau e do coreto. 
Vista da primeira estação de Blumenau na paisagem da cidade.


Estação de Blumenau, 1939.
Vista aérea de Blumenau, final da década de 30 do século XX.



Os dois planos do traçado ferroviário para a área central de Blumenau.
Arquitetura
A Casa de Joaquim Breves Filho - Blumenau SC
De acordo com informações na placa colocada pela municipalidade para a identificação do patrimônio histórico arquitetônico (a primeira imagem foi fotografada em 2015 e a segunda em 2021) - esta monumental edificação foi construída em 1900. O engenheiro Breves Filho chegou à cidade somente   em 1920, quando assumiu o posto de Diretor e engenheiro chefe da EFSC. Não temos a informação de quem construiu a casa e de que residiu na mesma antes da família Breves, se realmente esta data estiver correta. 
Pelas características e linguagem arquitetônica, poderia-se afirmar seguramente, que a casa, também foi construída na década de 1920, ou seja, que foi feita especialmente para a família do engenheiro Joaquim Breves Filho.
A arquitetura construída na centralidade de Blumenau  na virada do século XIX para o século XX era uma arquitetura de transição entre a forma de construir com a técnica enxaimel e o novo estilo internacional oriundo da Europa, adotada pelos novos comerciantes e industriais na região - nova elite, como: o classicismo, neoclassicismo e eclético, onde muitas vezes, edificações com estrutura enxaimel recebiam reboco com elementos decorativos destes novos estilos. Sendo que, uma ou duas décadas depois, já se construíam construções autoportantes de tijolos maciços, como é o caso da residência de Joaquim  Breve Filho.
Sua planta é irregular formada por justaposição de vários volumes com elementos utilizadas em edificações construídas em Blumenau nas décadas de 1920 e 1930. Os ambientes estão distribuídos em dois pavimentos, sótão (mansarda) e porão. O conjunto se caracteriza pela linguagem eclética com a presença de novas tecnologias, como ladrilho hidráulico, piso cerâmico queimado tipo sextavado, ferro nos adornos de cercas e outros elementos e estuque, material com origem no barroco alemão, nos muitos elementos de decoração como: forros, cimalhas, perfis, roda tetos e rodapés. A edificação é dotada de paredes autoportantes de tijolos maciços rebocadas com um acabamento texturizado - pintado. 
Há a presença de estuque nos beirais e por certo deve ter sido usado no seu interior também. No Brasil, o estuque foi largamente empregado a partir dos meados do século XIX até as primeiras décadas do século XX, a partir do decorativismo usados nos "neos".

"O estuque é uma argamassa a base de cal, areia e, conforme o caso, gesso (este em pequena quantidade, apenas para acelerar a pega), usada para revestir as paredes internas e os forros, servindo de vedação, preenchendo os interstícios de uma armação qualquer, como por exemplo, telas de arame, sarrafos de madeira, fibras..."Centro de Estudos avançados de Conservação Integrada.

  Bay Window, que em inglês significa janela d
e sacada, é um tipo de vitrô muito utilizado na
 arquitetura inglesa, popularizando-se em
meados da década de 1870. 
A edificação histórica possui aberturas de madeira - com janelas de duas folhas - usual nas edificações dos pioneiros desde sua casa temporária. Também, conta com a presença de um porão construído em pedras aparentes, comum no território da Alemanha  que fez parte do antigo território do Império Sacro Romano.  A edificação, na sua fachada frontal,  conta com uma monumental varanda localizada ao lado de um grande Bay Window. 
A edificação resultante atual, que foi residência do engenheiro Joaquim José de Souza Breves Filho - Diretor da EFSC e Engenheiro chefe, é resultado de uma construção feita em três tempos distintos. A primeira e original, próxima ao barranco, mas não encostada. A segunda feita nas décadas de 1950/1960 e a última, já sobre o barranco - intervenção recente e nada adequada ao patrimônio histórico arquitetônico. São perceptíveis e distintas, através dos materiais usados, como também, a presença de diferenças nos acabamentos, mesmo que aparentemente houve aparente tentativa de se fazer semelhante, como por exemplo, a textura do reboco.
As imagens comunicam.
Esta imagem apresenta as três etapas da de construção da edificação.  Abertura de ferro/basculante - reportam a segunda etapa.

Escada frontal de acesso a porta principal da edificação original, feitas de elementos cerâmicos, compondo com o piso cerâmico sextavado da varanda.


Porta que acessa ambiente externo, através da varanda, provavelmente o estúdio/escritório de trabalho do engenheiro Breves Filho. Sem acesso para o interior da casa. Com almofadas, vidros adornado e também com mais segura através da presença de arabescos de ferro retorcido.

Através da monumental escada, se acessa a varanda que tem cerâmica sextavada como piso.


Grandes e monumentais colunas com fustes, capitel e bases munidos de formas diferentes, sendo que o grande capitel conta com a presença de arabescos em alto relevo, de maneira decorativa.
Detalhe superior do guarda-corpo.

Vista da monumental escada externa de acesso à porta principal.

Detalhe da escada.

Detalhe da janela do porão - construída na  ala original.


Janelas originais de madeira da construção do início do século XX. Tipologia característica da das primeiras casas enxaimel da Colônia Blumenau.

                     
Segunda e terceiras etapas da construção da
 edificação - encostada no barranco.





Implantação no Terreno

Nesta região do bairro Vorstadt - cidade de Blumenau, a topografia é acidentada caracterizando pelo vale, resultado da presença da montanha e de um curso d'água. O terreno apresenta a configuração de um lote colonial, com uma área maior, denotando uma topografia acidentada e com a presença de um pequeno ribeirão, o que nos fez identificar no antigo mapa, com o desenho dos lotes coloniais. A casa foi locada na extrema esquerda do terreno, para permitir a disponibilidade de uma maior área, para o jardim, paisagismo e o rio. A edificação foi praticamente construída junto a um barranco, sendo que a parte mais antiga, construída no início do século XX, a segunda etapa, de acordo com observações nas aberturas e acabamento, poderia-se afirmar que são das décadas de 1950/1960 e a última etapa, com menores cuidados, esmero e qualidade do material feita no tempo presente, com o aspecto de "um puxado" coberto com eternit/amianto, totalmente encostado no barranco, o que não acontecia na volumetria da construção original.
Mapa Histórico retirado do Livro A Colônia Blumenau - no Sul do Brasil.




Lado Sul/direito da edificação histórica, encostada no barranco, liberar áreas para o jardim no lado Norte/esquerdo.

















Dados do livro de Tombamento do FCC 2021 -
diferente de dados do próprio FCC do link: Clicar aqui.
No registro de tombamento do FCC, está registrado sob número 137, para esta imagem. O número em questão, na verdade, está na casa do antigo Bar Kriado - tipologia enxaimel. O número desta edificação tombada é 89, como mostrado nos detalhes fotográficos. Também o ano de tombamento difere de outro registro de FCC.

Tombamento
P.T. nº: 120/2000 - FCC

Foi tombada pela FCC no ano 2002.
A residência foi construída no início do século XX e se localiza no Centro Histórico de Blumenau.
Endereço: Rua Alvin Schrader, 89. Bairro Vorstadt - Blumenau SC
Imagens do Tombamento FCC





















Registro do Arquivo Histórico José Ferreira da Silva
Nossos Registros em 2015
Lago ao lado da casa compondo com o jardim.


Varanda, com acesso fontal através de uma grande escada, em função da presença do porão.

Detalhes confeccionados em estuque nos beirais.


Detalhes - e ferro artisticamente trabalhado.

Presença de Jardim com flores.

Bay Window.





Nossos Registros em 2021
Janelas duas folhas com vidraças.

Dois pavimentos, sótão e porão. Planta irregular.

Varanda frontal com uma grande escada de acesso. Ladeado pelo Bay Window.


















Iracema nome bem característico, oriundo do Rio de Janeiro. Iracema é uma obra do escritor romântico cearense José de Alencar, publicada em 1865.















Rua Alwin Schrader.
Epílogo

Recebemos em 3 de setembro de 2021, imagens da casa da equipe de Produção de O Município, mencionando que receberam de um membro da família que residia na casa. Observando as fotos, poderíamos dizer que a casa, foi realmente construída em 1900, no estilo Art Nuveau e foi modificada, descaracterizada, a partir da linguagem do Art Nuveau, para a tipologia que conhecemos no momento presente, apresentando algo não muito definido, uma vez que permaneceu com elementos da arquitetura antiga, porém sem as características do Art Nuveau, presentes nas aberturas e mansarda. Quem a projetou?  É a pergunta que fica.


Leituras Complementares - Clicar sobre o título escolhido

Referências

FCC. Patrimônio Edificado tombado pelo Estado de Santa Catarina. Disponível em: https://www.cultura.sc.gov.br/a-fcc/patrimoniocultural/patrimonio-material/listagem-de-bens-tombados#blumenau. Acessado em: 5 de agosto de 2021 - 23:34h.

LOURENÇO, Thiago Campos Pessoa. O Império dos Souzas Breves nos Oitocentos: Política e escravidão nas trajetórias dos Comendadores José e Joaquim de Souza Breves. Pós-Graduação em História na Universidade Fluminense - Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Sociais - Área de História. Niterói, 2010.

WITTMANN, Angelina C.R. A Ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina. -Blumenau : Edifurb, 2010. - 304 p. :il.

WITTMANN, Angelina C. R . A estrada de ferro no Vale do Itajaí: Resgate trecho Blumenau-Warnow . Blumenau : Edifurb, 2001. - 145p. :il.














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