segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Ilhota SC - Uma ex Colônia Belga - Um pouco de sua História e Registros Atuais

Praça Charles Maximilien Louis Van Lede - Ilhota SC.




Ilhota está localizada na Rodovia  - versão atualizada da antiga estrada que ligava a Colônia Blumenau a Itajaí, no entanto, sua colonização aconteceu antes da colonização de Blumenau, no início do assentamentos de colonizadores da Bélgica em 31 de março de 1842, data encontrada em registros antigos, que mostram o início de uma viagem de reconhecimento dos rios Itajaí - Açu e Itajaí Mirim pelo engenheiro e pesquisador Charles Maximilien Louis Van Lede, Joseph Philippe Fontaine, geólogo Wilhelm Bouliech e como guia, o escrivão policial José Alves de Almeida - pera estudar a região.
Ilhota faz parte da região do Baixo Vale do Itajaí. Situa-se numa posição estratégica por sua proximidade com o Porto de Itajaí, Porto  e Aeroporto de Navegantes e entre centros catarinense industriais e turísticos.
Aparentemente sua área urbana aparenta ser uma área pequena, o que não reflete a verdade sobre  toda sua grande extensão territorial. Dentro de seu território, está o Parque Municipal do Baú entre outros biomas. Apresenta grandes áreas de várzeas e planícies sedimentares, entremeadas de morros e sua altitude varia entre 6 à 819 metros acima do nível do mar. O município tem um dos picos mais altos da região, o Morro do Baú, com 819 metros.

Bruges - Bélgica.
A História de Ilhota possui algumas lacunas a serem preenchidas. Cidade com 14.531 habitantes (IBGE - Estimada 2021), que faz fronteira com Itajaí, Gaspar, Brusque e Luiz Alves. De acordo com a publicação de Ana Luiza Mette e Elaine Cristina de Souza, a colonização de Ilhota teve início em 1845, com com a chegada do belga Charles Maximilien Louis Van Lede e mais de 63 colonos à esta região. Van Lede nasceu em Bruges, em 20 de maio de  1801, estudou em Paris -  "Les études préparatoires à l'Ecole polytechnique", algumas fontes mencionam que ele era engenheiro de minas. Em 1822, prestou serviço militar na Espanha e como soldado mercenário se rebelou contra a tirania absoluta do rei espanhol Fernando VII. Não existia o reinado da Bélgica. Da Espanha, partiu para México onde trabalhou para uma firma inglesa, na qual foi engenheiro chefe das minas de Thalpuxahua. 

"Sob o pretexto de ter estudado na França e não na escola militar de Delft na Holanda, eu foi impedido de entrar no corpo militar de engenheiros da Bélgica. [Para sua informação, no período de 1815 a 1830, a Bélgica fazia parte do Reino Unido dos Países Baixos. Isso me forçou a seguir carreira no exterior. Com a permissão do governo holandês, entrei ao serviço da República do Chile, onde ascendi a diretor de obras públicas. Ao que tudo indica, para grande satisfação do governo chileno, pois após uma ausência de vinte anos, voltou a insistir que eu assumisse seu antigo cargo, que ainda estava vago." Carta de  Van Lede publicada no Journal de Bruxelles em 7 de junho de 1850

Fez muitas viagens à America do Sul, entre outras, para o Chile onde foi promovido como diretor do departamento de Pontes e Vias. Contraiu malária e  foi forçado a retornar para a região onde viria a ser a Bélgica. 
Bruxelas - Bélgica.
Depois de setembro de 1830, todos os oficiais belgas que estiveram no exterior foram requisitados a se apresentarem para defender a nação recém-formada. Estranhamente, o diretor da guerra disse a Van Lede que este não poderia ser admitido no grupo porque não havia concluído a escola holandesa em Delft. Ao contrário de outros arquitetos e engenheiros de pontes e estradas, os quais foram admitidos no corpo de engenheiros. 
Em 1830, Van Lede tinha um papel inferior na luta pela independência da Bélgica. O livro "Les quatres journées de Bruxeles" par le Géneral Juan Van Halen (Bruxelas, 1831) publicou nas páginas 139-158, o relatório de uma investigação feito em 23 de outubro de 1830 sobre o papel do general Van Halen em serviço do estado belga. O general mencionou que Van Lede viajou com ele para Bruges, onde foi hospedado em sua casa, e no dia seguinte, rumaram à Ostende. No mesmo livro aparece também Joseph Denis Isler, negociante domiciliado em Antuérpia, que futuramente vai migrar para a colônia belga fundada por Van Lede em 1844 - Ilhota. Seus amigos oferecem um emprego no exército belga e este recusou. Junto com o seu irmão Louis, criou em 1836 a Societé Commercial de Bruges que entrou no ramo de comércio com o Brasil, de onde, importavam café. Em 1840, a Sociéte fundou uma sede no Rio de Janeiro. Em 1841, a serviço da Société e fundador da Société belge-brésilienne de Colonisation, Van Lede partiu para o Brasil. Sua missão era avaliar e observar o solo e as florestas catarinenses para a exploração de ferro, carvão e outros minérios. Van Lede, o belga Joseph Philippe Fontaine, o geólogo francês Guilherme Bouliech, e o guia, o escrivão policial José Alves de Almeida, foram os primeiros a realizar uma viagem de cunho científico à parte navegável do Rio Itajaí-Açu.
Van Lede se encantou com o Vale do Itajaí. O solo era propício para a agricultura e havia a possibilidade de exploração de minérios. O explorador belga desenhou um mapa detalhado da Província de Santa Catarina, parte da província de São Paulo, do Rio Grande do Sul e parte, da república do Paraguai. Em 1842, o mapa foi impresso em Bruxelas.
Durante sua viagem pelo Brasil - Santa Catarina, idealizou a possibilidade de um projeto colonizador, com o objetivo de explorar as prováveis jazidas de minérios existentes em Santa Catarina. 
Em 10 de agosto de 1842 foi assinado um contrato provisório de colonização entre o Governo Imperial Brasileiro e a Compagnie belge-brésilienne de Colonisation, que nunca foi ratificado pelo Parlamento Brasileiro. Após adaptações ao projeto e com dificuldades de ganhar terras – uma nova lei interditou a doação de terras públicas - Van Lede e os irmãos Lebon, adquiriram, terras no Vale do Itajaí-Açu. Em 21 de novembro de 1844. Adquiriram 1.200 hectares de Dona Rita Luisa Aranha e, em 2 de janeiro de 1845, adquiriram  2150 hectares do tenente coronel Henrique Flôres e uma floresta por desbravar, de 4.100 hectares que seria batizada Ilhota. Em 6 de julho de 1846, adquiriu uma área de 2.150 hectares do Padre Rodrigues, no local chamado Prainha. Antes mesmo da realização das aquisições, o primeiro grupo de colonos belgas já estava viajando de Ostende, da Bélgica, de onde partiram rumo ao Brasil - Ilhota, em 23 de agosto de 1844, contratados por Van Lede.

A Chegada dos Primeiros imigrantes belgas - 1844

Os belgas chegaram ao local, 2 anos antes da família Wagner chegar ao local e isto é confirmado, pois as autoridades de Itajaí mandavam as famílias subir o Rio Itajaí Açu e ocupar o último terreno vago. Os Wagner chegaram até bem próximo, ao local, onde mais tarde seria fundada a Colônia Blumenau.
Caminho até a Foz do Rio Itahahi - percorrido pelos Wagner pelo mar
Mapa de 1828 -  S. Sidney - Fonte: Pelos caminhos-antigos.
Em 24 de agosto de 1844, mais de cem imigrantes belgas partiram de Porto de Ostende com contrato firmado para plantar lavoura na futura colônia, atual município de Ilhota, a 3 francos por dia de serviço. Embarcaram na embarcação Jean Van Eijck, na cidade de Bruges até Ostende e aguardaram o momento onde o clima estivesse em melhores condições para iniciar a viagem.
Cópia do original da lista de embarques dos imigrantes belgas a bordo do barco Jan Van Eyke, que partiu do Porto de  Ostende em 24 de agosto de 1844. Fonte: Blog Colonização Belga no Sul do Brasil.


Na lista acima estão os nomes dos solteiros e dos chefes (masculinos) de família.

Segundo o Diário do Rio de Janeiro, de 2 de novembro de 1844, chegaram em 31 de outubro de 1844 no porto do Rio de Janeiro, 109 colonos. Alguns faleceram durante a viagem. No porto, os aguardava Charles Maximilien Louis Van Lede, que havia chegado no Rio  em 25 de outubro de 1844. Estava em Ilhota. O mesmo barco, Jan Van Eijck, saiu em 9 de novembro de 1844 do Rio de Janeiro em direção a Nossa Senhora do Desterro, onde chegaram em 17 de novembro de 1844, onde foram recepcionados pelo Cônsul da Bélgica - Charles Sheridan.

" O bergantim ainda se acha no porto desta capital por falta de vento proprio para a viagem de Itajahy, e os colonos, que teem desembarcado, parecem-me gente de boa escolha, porque se teem comportando honesta, e sisudamente." Diario de Pernambuco de 05 de fevereiro de 1845

Nossa Senhora do Desterro.

Em Nossa Senhora do Desterro, imediatamente após a chegada do grupo, iniciaram os desentendimentos entre Van Lede e Louis Christians de Gent, que, não aceitava muito bem o projeto de cultivar terras que não fossem de sua propriedade. Radicalmente se separou de Van Lede com mais 16 imigrantes, entre estes a família de  C. Van der Heyden. Este grupo se assentou em  São José da Terra Firme, projeto que não deu certo e durou somente 6 meses. As famílias se dispersaram entre a Colônia Alemã de São Pedro de Alcântara, Passa Vinte e em Nossa Senhora do Desterro. 
Houve outras famílias que se separaram do projeto, o que contribuiu para que Van Lede não conseguisse cumprir a exigência contratual de trazer 100 imigrantes para formar sua colônia, que seguiram viagem para ocupar uma pequena ilha no Rio Itajaí Açu, localizada exatamente na frente da Igreja Matriz São Pio X. A ilha deu origem ao nome do município e desapareceu depois de grandes enchentes no Rio Itajaí Açu. Para registro, a primeira grande enchente ocorreu em 1880 e arrasou com lugares da Colônia Blumenau. Depois aconteceu a grande enchente de 1911.
Em 27 de novembro de 1844 foi oficialmente fundada a Colônia Belga. De acordo com publicações, como ocorria nas colônias alemãs, houve a derrubada da mata  - onde foi construído o galpão dos imigrantes. Van Lede e o grupo de colonos, iniciaram a construção de 16 casas de madeira que deram origem a primeira nucleação urbana de Ilhota. 

Os Primeiros imigrante belgas - fundadores de Ilhota
A Bélgica atual  é um país da Europa Ocidental.O país possui área de 30,5 mil km² e um litoral estreito banhado pelo Mar do Norte. Sua população é de 11,59 milhões de habitantes, os quais se dividem em três regiões (Flandres, Capital Bruxelas e Valônia) e são falantes de três idiomas: holandês, alemão e francês. Altamente desenvolvido, sua economia se concentra no setor de serviços. O sistema de transportes moderno do país o coloca em posição de destaque na logística europeia. O Reino da Bélgica formou-se em 1830, a partir da proclamação de sua independência da Holanda. Foi instaurada a monarquia constitucional como forma de governo. A Holanda, no entanto, reconheceu a independência belga apenas no ano de 1839. A partir da segunda metade do século XIX, também a Bélgica aderiu às práticas imperialistas e exerceu domínio no Congo, na África, em 1908. O país constituiu outras duas colônias no continente africano: Ruanda e Burundi. O país tem saída para o oceano Atlântico, no mar do Norte, em um estreito litoral de 66,5 km localizado a noroeste. Faz fronteira: ao norte e nordeste, com a Holanda; ao leste, com a Alemanha; ao sudeste, com Luxemburgo; ao oeste, com a França.

De acordo com Jornal Metas, os primeiros imigrantes foram:
  1. Philipe Fontaine, 43 anos (diretor da Colônia);
  2. Jean Nicolas Denis Isler, 46 anos (sub diretor);
  3. Pierre Plettincks, 43 anos (médico);
  4. Emmeric Crebeels, 48 anos (alfaiate);
  5. Pierre Deprez, 42 anos;
  6. Leonard Vandergucht, 48 anos (agricultor);
  7. François Walthez, 48 anos;
  8. François Hollenvoet, 36 anos;
  9. Reine de Vrekc, 36 anos (dona de casa);
  10. Jean Van Heicke, 46 anos (agricultor);
  11. Louis Christiaens, 28 anos (negociante);
  12. Pierre Veighe, 36 anos (jardineiro);
  13. Charles de Waele, 37 anos (ourives);
  14. François de Smedt, 40 anos (agricultor);
  15. François Beyts, 44 anos (agricultor);
  16. Maxem Milcamps, 20 anos;
  17. Louis Maebe, 27 anos (carpinteiro);
  18. Hypolite V. Heyde, 23 anos;
  19. Henri Plancke, 42 anos (agricultor);
  20. Leonard Degand, 52 anos (agricultor);
  21. Eugene Maes, 43 anos (agricultor);
  22. Ignace de Sanders, 42 anos (agricultor);
  23. Gregoire Himpens, 40 anos (agricultor);
  24. Henri Devreker, 29 anos (carpinteiro);
  25. Charles Castelein, 31 anos (agricultor);
  26. Louis Van der Busche, 32 anos (agricultor);
  27. Jean Baptiste Buelens, 29 anos (pedreiro);
  28. Pierre Heytens, 38 anos (agricultor);
  29. Gustave Lebon, 26 anos;
  30. Pierre Brackeveld, 42 anos (agricultor);
  31. Henri Wismer,40 anos (agricultor);
  32. Ange Gevaert, 47 anos (agricultor);
  33. E. François Milcamp, 22 anos;
  34. Jean Van de Vrecken, 30 anos (agricultor);
  35. Jean Baptiste Vilain, 31 anos - (agricultor);
  36. Edouard de Smet, 22 anos;
  37. Bernard Lecluyse, 21 anos (barbeiro);
  38. Judoc Mussche, 23 anos (carpinteiro);
  39. Michel Coucke, 21 anos (agricultor);
  40. Romain Busso, 17 anos (estudante);
  41. Martin Verlinden, 30 anos;
  42. Auguste Lebon, 22 anos;
  43. Charles Devleeschower, 36 anos (serrador de madeira);
  44. Gerard De Rycke, 49 anos (jardineiro);
  45. Jean B. Van Hamme, 39 anos;
  46. Benoit De Ny’s, 23 anos;
  47. Charles de Gandt, 56 anos;
  48. Ange Gillis, 18 anos;
  49.  Ange de Neve, 31 anos;
  50. Bernard Van Rie, 47 anos;
  51. Bruno Claeys, 32 anos (trabalhador);
  52. Charles Opstaele, 22 anos (agricultor);
  53. Honoré Ego, 30 anos (agricultor);
  54. Philippe Deprez, 29 anos (agricultor);
  55. Leonard Maes, 31 anos (agricultor);
  56. Charles Schloppal, 22 anos;
  57. Pierre Sijs, 17 anos (carpinteiro);
  58. Clement Vanysere, 21 anos (agricultor);
  59. François Meuwens, 26 anos (fundidor de ouro);
  60. Joseph Loens, 21 anos (ourives);
  61. Emile De Gandt, 19 anos.
Em 1845 e 1946 chegaram as seguinte famílias na região.
  1. Fontaine;
  2. Denis Isler;
  3. Plettincks;
  4. Crabeels;
  5. Deprez
  6. Van der Gucht;
  7. Walthez;
  8. Hollenvoert;
  9. De Vreker;
  10. Van Heicke;
  11. Christiaens;
  12. Veighe;
  13. de Waele;
  14. de Smedt;
  15. Beyts;
  16. Milcamps;
  17. Maebe;
  18. Van der Heyde;
  19. Plancke;
  20. Degand;
  21. Maes;
  22. de Sanders;
  23. Himpens;
  24. Devreker;
  25. Castelein;
  26. Van der Busche;;
  27. Buelens;
  28. Heytens;
  29. Lebon;
  30. Brackeveld;
  31. Wismer;
  32. Gevaert;
  33. Van der Vrecken;
  34. Vilain;
  35. de Smet;
  36. Lecluyse;
  37. Mussche;
  38. Coucke;
  39. Busso;
  40. Verlinden;
  41. Devleeschower;
  42. De Rycke;
  43. Van Hamme;
  44. De Ny's;
  45. de Gandt;
  46. Gillis;
  47. de Neve;
  48. Van Rie;
  49. Claeys;
  50. Opstaele;
  51. Ego;
  52. Schloppal;
  53. Sijs;
  54. Vanysere;
  55. Meuwens;
  56. Loens;
  57. Gregoire;
  58. Kamer;
  59. Van Daele;
  60. Hostyn;
  61. Van Steenhuyze;
  62. De Coninck;
  63. Houttekees;
  64. Neirinck;
  65. Lievens;
  66. Speckaert;
  67. Ranwez;
  68. De Vreese;
  69. Paul;
  70. Praetmeu ip.
Lista dos imigrantes Belga de acordo com  METTE e SOUZA.
A situação das instalações e de vida, das famílias de imigrantes, em Ilhota não eram boas.  De acordo com registros, do Diretor Joseph Philip Fontaine, nomeado por Van Lede, este não teria feito as demarcações dos lotes coloniais para cada família, que gerou muita confusão entre os  imigrantes belgas e Fontaine e este acabou se desentendendo com Van Lede e com os próprios imigrantes. Com muitas limitações, os belgas sobreviveram os primeiros seis meses em condições muito precárias. Mesmo diante de tanta dificuldade, as famílias dos imigrantes foram se estabelecendo, principalmente na margem direita do rio, local do Stadtplatz de Ilhota. Poderia-se dizer, que viviam em  condições rudimentares, semelhantes à de todo pioneiro que adentrou a mata virgem do Vale do Itajaí, desprovido de infraestrutura para iniciar nova vida. Também contribuiu para gerar os desentendimentos, o fato que descobriram a intenção de Van Lede, de não colonizar, mas sim,  explorar as riquezas minerais encontradas no subsolo da região e promover o extrativismo - tal como os portugueses o fizeram no Brasil, séculos passados usando esta mão de obra. Não deu certo.
Em janeiro de 1845 já havia uma segunda colônia, dissidente da primeira, em função das promessas não cumpridas e de outras 60 famílias belgas e francesas trazidas por Van Lede em segunda viagem a Europa. Em maio do mesmo ano, o engenheiro belga Charles Maximilien Louis Van Lede retornou para a Bélgica, encerrando as atividades da Companhia e deixou a administração da colônia nas mãos do Diretor Philippe Fontaine. Revoltados com a situação de miséria, os colonos pediram insistentemente a saída de Fontaine, o que viria a ocorrer somente dois anos depois. 
O ex Diretor da colônia foi embora e levou consigo documentos históricos importantes. A direção passou a ser exercida por Gustave Lebon. Ilhota era então uma pequena nucleação urbana entre Gaspar e Itajaí. 

(...)não mais suportando rixas e perturbações e temendo um levante armado abandonou a colônia e voltou definitivamente para a Bélgica. Antes de partir Fontaine entregou a direção da colônia nas mãos de Gustave Lebon e mandou os colonos assinarem um documento, que tinham recebido, de acordo com o contrato, os alimentos e mantimentos necessários para subsistência como carne, feijão, arroz, mandioca, café, açucar, etc. Providenciou um certificado assinado pelos colonos e autenticado  pelo juiz de paz de Itajaí Sr. Francisco da costa Passos e o cônsul da Bélgica no Desterro Henry Schutel.  FICKER.

Na Bélgica, Charles Maximilien Louis Van Lede tentou um cargo para a Câmara para as eleições de 1848 sem êxito. Em 12 de julho de 1848 assumiu o posto de conselheiro provincial de Flandres Ocidental para a região de Bruges pelo partido liberal. Van Lede viveu com a a familia na Rue Saint-Amand 11 na cidade belga Bruges. O registro de habitação de Bruges indica que era seu "proprietário" e tinha uma segunda residência, também em Bruxelas. 
Casa de Charles Van Lede - Kleine St.-Amandstraat 11 - Bruges. Fonte: STORMS.


Cathédrale Saint-Michel et Gudule - Bruxelas.
A colonização do Braço do Baú, na margem esquerda, começou em 1886 com as famílias Nunes, Reichert e Zabel.
Van Lede faleceu em  19 de julho 1875 com 74 anos, deixando suas casas em Bruxelas e suas terras no Brasil como doação à "Commissie van Burgerlijke Godshuizen" (CBG), uma instituição civil que cuidou dos pobres, da sua cidade natal, Bruges. Ele foi sepultado na Cathédrale Saint-Michel et Gudule, em Bruxelas.
A praça central do município de Ilhota homenageia esse personagem da colonização belga, que permaneceu somente um ano no local, com o nome Praça Charles Maximiliano Louis Van Lede.
Não bastasse todos os conflitos de implantação da colônia, em 1874, os herdeiros de Van Lede reivindicaram a posse das terras de Ilhota. 
 
Situação da região de Ilhota, em 1876. Fonte: METTE e SOUZA.  

Na sequência dos fatos, o Cônsul da Bélgica em Desterro, Henry Schutel, usando uma procuração assinada por Van Lede, negociou alguns terrenos, agravando a situação. Também, em 1889, o Hospital de Bruges requereu parte das terras da colônia deixadas por Van Lede em testamento. Quando o  suposto procurador de Van Lede iniciou o trabalhos de medição das terras, mais de 80 moradores de Ilhota e das vizinhanças, armados defenderam o que percebiam como seus direitos e tomaram os instrumentos de trabalho destes e os expulsaram de Ilhota. O Ministério da Bélgica pronunciou-se e favor dos colonos belgas e as diferenças foram encerradas.
Muitas famílias belgas deixaram o local e mudaram-se para outras localidades ou mesmo, retornaram para a Bélgica. 

Em 1845, o engenheiro belga Van Lade adquiriu uma légua12 quadrada de terras à margem direita do rio Itajaí-Açu, e fundou uma colônia belga (atual Ilhota). Depois de criar a Companhia Belgo-Brasileira de Colonização, Van Lade trouxe da Bélgica, para as terras que adquirira, 90 colonos, dando com eles início à Colônia Belga. Van Lade faleceu em sua terra natal, antes de poder completar os trabalhos de organização de sua empresa. Esta não prosperou; ao contrário, extinguiu-se pouco a pouco e os colonos confundiram-se com os demais moradores da região. A sede da Colônia Belga passou a denominar-se Ilhota, (nome atual) sede de florescente município. (SILVA, 1972, p. 18)

No início do século XX, a maioria das famílias que viviam em Ilhota eram arrendatários. Os que tinham mais possibilidades, abriram os primeiros armazéns, onde eram comercializados carne, café, arroz, açúcar e etc. Também construíram os primeiros engenhos de cachaça e as primeiras lojas de secos e molhados. Outros produtos eram comprados em Itajaí. 
Fonte: METTE e SOUZA.

Fonte: METTE e SOUZA.

Fonte: METTE e SOUZA.

Antiga Intendência/Prefeitura - Fonte: METTE e SOUZA.
O Vapor Blumenau e a carroça eram os únicos meios de transporte, pois não havia estradas, somente picadas. A energia elétrica chegou na década de 1930. Em 1954 foi inaugurada a ferrovia EFSC, cujo leito passava em Ilhota- através do prolongamento da linha, de Blumenau até Itajaí. O município contava com a sua estação ferroviária que estava localizada no km 19,32. A ferrovia foi desativada em 1971, década quando as primeiras residências com água encanada surgiram.
A criação do Distrito de Ilhota aconteceu em 26 de agosto de 1930, por intermédio do requerimento apresentado pelo deputado Marcos Konder. A instalação do município ocorreu em 14 de fevereiro de 1931. O primeiro Intendente foi Pedro Faustino Nunes. O distrito pertenceu ao município de Ilhota até 21 de junho de 1958, quando, através da lei estadual 348 foi elevado a categoria de município, desmembrando-se de Itajaí. O primeiro prefeito (provisório) foi Guilherme Alípio Nunes, tendo sido sucedido por Teodoro Zimmermann. O primeiro prefeito eleito foi José Köehler, que ficou no poder de 31 de janeiro de 1959 a 31 de janeiro de 1964.
Atualmente sua economia tem como principais atividades a confecção e o comércio de roupas íntimas e moda de praia -Turismo de Compras. Há também lojas com artesanatos em vime e móveis rústicos. Como atrativos culturais e de lazer possuem a Festa do Divino Espírito Santo (maio), o Festival de Terno de Reis (dezembro e janeiro) e o Encontro de Amigos (junho) fazem parte do calendário das festas religiosas e populares. A Expo Belga (setembro) traduz a tradição belga.

Dados Geográficos complementares atualizados (IBGE)
  • Área Territorial - 253,024km²  [2020]
  • População estimada  - 14.531 pessoas [2021]
  • Densidade demográfica  -  48,86 hab/km² [2010]
  • Escolarização - 6 a 14 anos 97%   [2010]
  • IDHM - Índice de desenvolvimento humano municipal - 0,738   [2010]
  • Mortalidade infantil - 5,15 óbitos por mil nascidos vivos  [2019]
  • PIB per capita 50.605,82 R$   [2018]
As imagens comunicam...

Igreja Pio X

Sua construção foi uma iniciativa do Frei Elmar, batizada primeira como Capela São Sebastião. Tornou-se matriz em 31 de maio de 1954. Sua construção terminou em 1941.



Piso ladrilho hidráulico.









Praça Charles Maximilien Louis Van Lede
Edifício da Intendência/Prefeitura antiga
A Intendência de Ilhota tinha um jardim, muro e a característica fachada com varandas abertas ornada com arcos plenos. Fonte: METTE e SOUZA.
Atualmente é usado para ser a Casa da Cidadania - Museu "Casa Belga" e Biblioteca Municipal. 
Esta edificação histórica foi o cenário  da instalação do município em 18 de junho de 1958 (Dado do IBGE - há outras fontes que citam a data de 18 de julho), às 10:00h com a presença do Governador do Estado de Santa Catarina Antônio Carlos Konder Reis. 
Com as professoras Célia Regina Merlini (Diretora de eventos
da Fundação Cultural José Izidro Vieira) e Professora Vanessa
Simon (Coordenadora da Biblioteca).
O edificio apresenta platibandas cuvilíneas efetuando acabamentos nas empenas de volumes que formam o jogo volumétrico, composto por uma varanda ornadas com arcos plenos, frizado pela simetria da fachada. O conjunto é ornado por elementos decorativos, como cimalhas do neoclassicismo. Em sua última reforma, este espaço aberto, recebeu fechamento em vidro temperado para criar novo ambiente e também desprovido o edifícios de espaços abertos, susceptíveis a visitas indesejadas, de acordo com explicações das professoras Célia Regina Merlini (Diretora de eventos da Fundação Cultural José Izidro Vieira) e Professora Vanessa Simon (Coordenadora da Biblioteca).

Vídeo







Estação Ferroviária EFSC

Durante nossas  pesquisas sobre a ferrovia Estrada de Ferro Santa Catarina - EFSC, iniciadas em 1996 e terminada em 2008, recebemos a informação de que a estação ferroviária de Ilhota fora demolida. Também lemos no material de pesquisa  do pesquisador ferroviário nacional Ralph Mennucci Giesbrecht, na época, de que a estação havia sido demolida em 1982. Sua informação foi atualizada (25 de janeiro de 2015), pois o blog assim permite, percebemos agora, consultando seu trabalho, para esta postagem de que esta está ainda no local. Na época da nossa  pesquisa, também, recebemos a informação, na cidade de Ilhota, que de fato, assim teria acontecido - sua demolição. Este dado foi publicado no livro "A Ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina".
Do livro A Ferrovia no Vale do Itajaí Estrada de Ferro Santa Catarina.

Também, neste ano de 2021, uma pessoa que lia o livro A Ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina, atualizava-nos com sua leitura e, após a sua visita aos locais mencionados no livro - comentava sobre os mesmos conosco. Visitou muitos locais e quando visitou Ilhota nos alertou sobre a existência da estação da Ilhota no local. Resolvemos colocar o nome da estação ferroviária  no "busca", o qual nos mostrou sua localização exata. Falamos com a Diretora de Eventos da Fundação Cultural José Izidro Vieira de Ilhota e ela confirmou as informações desencontradas e contou-nos que na casa reside uma família, que de acordo com o registros de  Ralph Mennucci Giesbrecht de 2010, já faz algum tempo, pois ali já verificou-se grades nas janelas e a ocupação residencial.
Portanto, aqui deixamos a atualização das informações, com o compromisso de atualizar o conteúdo na nova edição do A Ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina, cuja primeira edição, está esgotada.
A estação ferroviária de Ilhota  está localizada no km 19,32 foi inaugurada com o prolongamento da linha, de Blumenau até Itajaí, em 1954. Sua arquitetura segue a linha Art Decó. Arquitetura dotada de linhas retas e simples, com platibandas e maquise sobre a plataforma de embarque e desembarque. - localizada próxima à linha férrea. Fachada oposta - caracterizada pela simetria - marcada no seu centro, com a presença de uma grande porta de acesso das pessoas. A rampa junto à plataforma de embarque e desembarque construída com grandes blocos de granitos, a exemplo de outras estações desta histórica ferrovia. Geralmente o único elemento que permanece na paisagem - em muitos dos locais onde estava construída uma estação da EFSC ao longo desta ferrovia.

A estação nos anos 1960 -Acervo ABPR-PR - Fonte: GIESBRECHT.

A estação em 1971. Autor desconhecido - Fonte: GIESBRECHT.

A antiga estação em 13/11/2010. Foto Marcelo Frotscher - Fonte: GIESBRECHT.

A antiga estação em 13/11/2010. Foto Marcelo Frotscher - Fonte: GIESBRECHT.







Registros da Estação Ferroviária de Ilhota - 20 de setembro de 2021.







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Referências

Colonização Belga no Sul do Brasil. Disponível em: http://coloniabelga.blogspot.com/2011/10/lista-de-passageiros-do-bridge-belga_31.html. Acesso em: 13 de outubro de 2021 - 10:21h.

GIESBRECHT, Ralph Mennucci. Estações ferrovi[árias do Brasil - E. F. Santa Catarina (1954-1971), ilhota. Disponível em: http://www.estacoesferroviarias.com.br/efsc/ilhota.htm. Acesso em: 29 de setembro de 2021.

Jornal Metas. Movidos Pela Esperança. A História de uma das mais conturbadas Colonizações no Vale do Itajaí: Ilhota. 17 de Dezembro de 2011. Especial

METTE, Ana Luiza; SOUZA, Elaine Cristina. Ilhota: O Encanto dos Belgas no Vale do Grande Rio. Blumenau: Nova Letra, 2009. 208p.:il.

SILVA, José Ferreira. História de Blumenau. -2.ed. - Blumenau: Fundação "Casa Dr. Blumenau", 1988. - 299 p.

STORMS, Marc. Patrimônio Belga no Brasil. Van Lede, Charles Maximilien Louis (1801 – 1875). Disponível em: http://www.belgianclub.com.br/pt-br/creator/van-lede-charles-maximilien-louis-1801-%E2%80%93-1875. Acessado em 13 de outubro de 2021 - 4:00h.

WITTMANN, Angelina C. R. A ferrovia no Vale do Itajaí: Estrada de Ferro Santa Catarina: Edifurb, 2010. - 304 p. :il.


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