domingo, 15 de janeiro de 2023

O Bordado - Die Stickerei - Tradição e História

O nome da artista que criou este risco é Margot Noering de Blumenau, citada por Rosita Zeplin. Margot faz esta arte há aproximadamente 70 anos e até os dias atuais trabalha com bordados.
Há algum tempo observamos a existência de uma 
arte ancestral em Blumenau, entre as famílias tradicionais de toda a região que teve sua história pretérita ligada à colônia, através de seus pioneiros - ainda presente dentro dos clubes de mães, artesanato, enxoval atual, e antigo, e decorações. Percebemos que há algo meio vago, quanto a origem de fato desta prática cultural - a arte do bordado. 
Afinal qual a origem e quais são as principais técnicas de bordados desenvolvidas dentro da cultura pioneira, na cidade de Blumenau e região?
A arte do bordado remonta uma longa história, dentro dos vários períodos históricos, desde a antiguidade. Achados arqueológicos mostram que já existiam tecidos bordados em 5000 aC. Encontraram roupas bordadas em várias regiões, como no Egito, na China e América do Sul. Nos primórdios, o bordado retratava figuras geométricas, depois, um pouco antes de Cristo e depois, assumiu importância como símbolo religioso. Só mais tarde as peças de vestuário e objetos foram embelezados com representações figurativas e imagens inteiras, somente como adorno. Fios de ouro, fitas e pérolas também foram usados ​​para refinamento da peças acabadas. Decorar roupas ganhou popularidade entre os povos, ao longo da história da civilização. Bordados nobres foram encontrados nas vestes e mantos dos cônsules, tribunos e Imperadores romanos. Quando convertidos ao cristianismo, foram responsáveis por disseminá-los pela Europa. Na Idade Média, os mosteiros também usavam bordados para produzir paramentos litúrgicos ou para refinar tecidos usados ​​em salas de igrejas
Martírio de Santa Catarina - Data: cerca de 1200 - Lugar de origem: Renânia, Alemanha. Material: seda com linho. Fonte da imagem: Metropolitan Museum of Art.
Detalhe da figura anterior - Data do Bordado - mais ou menos ano de 1200.
Detalhe da figura anterior - Data do Bordado - mais ou menos ano de 1200.
Ao longo da história, predominantemente, os tecidos bordados sempre foram considerados um sinal de riqueza e poder. Bordar demandava muito tempo e dinheiro e o ofício era um privilégio acessível somente à população abastada ou para fins religiosos. As mulheres da aristocracia tinham acesso a este aprendizado através de parte de sua educação refinada, já na infância. Depois a prática foi adotada dentro de outras famílias, onde as meninas também passaram a ter acesso a esta educação, inspirada nas famílias nobres e burguesas.

O que é bordado?

Pano bordado em 1735, com o uso do Ponto Cruz - Fonte: Wikipédia.
Trabalho que iniciado por Rosita Zeplin - Blumenau, 2023.
O
bordado é uma técnica de decorar tecidos ou outros materiais, com diferentes finalidade ao longo da história da civilização, usando uma agulha para aplicar linhas ou fios
O bordado também pode incorporar outros materiais, como miçangas, pérolas, penas e lantejoulas. 
Nos tempos atuais, o bordado é comercialmente usado em bonés, chapéus, casacos, cobertores, camisas, jeans, vestidos, meias e camisas de golfe. 
Ainda contamos com a tradição da arte nos enxovais, presentes personalizados, desta pratica trazida pelos pioneiros que fundaram inúmeras cidades na região da antiga Colônia Blumenau e também no Brasil. Existem na região e ainda são feitos por mão habilidosas. Os bordados estão disponíveis com uma variedade de linhas ou cores de linhas. Existem várias técnicas de bordado.

A história do Bordado

A história do bordado é baseada em uma técnica milenar para criar ornamentação em tecidos e que tiveram diferentes funções ao longo da história da civilização. A arte e o vestuário estão intimamente associados ao bordado e à tecelagem. 

Origem

Bordado egípcio. Fragmento têxtil com desenho entrelaçado
 séculos XI-XII, Egito Linho e seda Kelsey
Fonte: Museum of Archaeology 
A questão da origem do bordado foi discutida não apenas do ponto de vista histórico, mas também técnico. É quase certo que o berço do bordado está na China, onde a tecelagem era praticada já há 3000 aC.. O tecido bordado ou fragmento de tecido mais antigo vem da Dinastia Shang (1556-1051 aC). Portanto, a técnica do bordado era conhecido pelos chineses, desde a antiguidade. Também era conhecido e usado pelos povos indígenas americanos e pelo egípcios. A partir de seus desenhos ornamentais, seus motivos se limitavam em figuras geométricas.
Segundo depoimentos de especialistas, é puramente especulativo como o bordado chegou à nossa região. 
"... só poderia ser produzida numa área que, pelo seu peso político, criasse as condições econômicas necessárias para a prática do trabalho manual e, sobretudo, para o desenvolvimento da realização criativa." 
O bordado existe na região onde hoje está Alemanha, Heimat dos pioneiros de Blumenau e região, desde cerca de 600 aC. Museus da pré-história e história antiga testemunham que as agulhas com orelhas já eram usadas na Idade do Gelo e que as pessoas no Paleolítico usavam agulhas feitas de madeira, osso ou chifre e depois de bronze ou cobre.
Agulhas ósseas, Engen. Alto paleolítico. Foto: Axel Killian.
WITTMANN, 2019.
Constantemente em movimento - o Paleolítico e o Mesolíticoa 5500 aC., no clima rigoroso da Idade do Gelo, caçadores-coletores paleolíticos seguiram as rotas migratórias de cavalos selvagens e rebanhos de renas. Seu modo de vida móvel quase não deixou vestígios no solo. Poucos  e acampamentos de caça evidenciam seus hábitos. A arte desempenhou um papel importante para as pessoas e é demonstrado nas figuras femininas perto de Engen em Hegau. São as obras de arte mais antigas do Sul de BadenApós o fim da última Era Glacial, a vegetação mudou. Devido ao clima mais quente, uma densa área de floresta se desenvolveu na Europa Central. Como resultado, as culturas agrícolas do Oriente se espalharam neste país e os caçadores da Idade do Gelo desapareceram. A primeira e grande revolução do homem, que também deixou de vestir couro e passou a vestir tecidos e se fixou no solo construindo seus primeiros abrigos. Do oriente, também chegou a arte de bordar.

 Cristianismo

Coptas no Egito.
O avanço do cristianismo pode ser visto como um período especial para o desenvolvimento da arte têxtil: os coptas (cristãos no Egito) enterravam seus mortos em mantos tecidos e bordados, que, graças à areia seca do deserto, ainda hoje são achados bem preservados. Antuérpia abriga uma das maiores e mais importantes coleções de tecidos coptas do mundo. Delicados tesouros de tecido bordados com caligrafia árabe testemunham a história do Egito, a presença dos romanos e a influência da fé islâmica.
Resquícios da presença dos cristãos no Egito - os Coptas.


O fato de a tecelagem e o bordado copta também terem influenciado a arte nos séculos seguintes pode ser visto nas obras de Matisse e Picasso, bem como na arte cubista, onde os ornamentos da época podem ser encontrados novamente em forma abstrata.
Os coptas ou coptos (em copta: ⲟⲩⲣⲉⲙ'ⲛⲭⲏⲙⲓ 'ⲛ'Ⲭⲣⲏⲥⲧⲓ'ⲁⲛⲟⲥ são egípcios cujos ancestrais abraçaram o cristianismo no século I.Formam um dos principais grupos etno-religiosos do país.
Padre Kelmon - Brasil.
A palavra "copta" foi usada originalmente no árabe clássico para se referir aos egípcios em geral, porém passou por uma mudança semântica ao longo dos séculos, e passou a se referir mais especificamente aos cristãos egípcios depois que a maior parte da população egípcia se converteu ao Islã (após o século VII). Atualmente, o termo é principalmente aplicado aos membros da Igreja Ortodoxa Copta, independente de sua origem étnica. Para ilustrar, é a linha religiosa do Padre Kelmon, no Brasil.

A túnica de lã copta com trama de tapeçaria (154 cm de altura e 104,1 cm de largura) é mantida no Metropolitan Museum, em Nova York. Data do século VI-VII - época da ocupação árabe.

Bordado egípcio dos coptas.
O período copta é apenas parte da história da arte egípcia, depois que a cidade de Alexandria foi fundada por Alexandre, o Grande, dominou, a partir do século IV, a cultura greco-helenística (332-30 aC), em seguida, o império mundial romano (30 aC-395 dC) que se espalhou pela Europa a partir do grande Império, como já mencionado. Entre os séculos IV e VII (395-640) governaram os bizantinos, depois vieram os árabes (638-644) que pertenciam à área cultural islâmica. Todas essas culturas contribuíram para o desenvolvimento do bordado e trouxeram mudanças com suas diferentes habilidades em motivos e técnicas. Os achados funerários egípcios tardios testemunham a arte assíria de bordar roupas magníficas, os bordados coloridos dos babilônios e as roupas de linho bordadas de cores dos frígios. que habitavam o Noroeste da Ásia Menor. Os gregos e os romanos os viam como os inventores do bordado, de onde vem o termo "opus phrygium". Mas não confere.
Museu Ashmolean, Universidade de Oxford - parte frontal de um túnica copta com motivos geométricos e pássaros bordado com seda colorido em tecido de linho. 
Naquela época, o tecido de lã era a base e os fios de linho ou fios de lã retorcidos eram usados ​​para ponto de corrente e haste. Os achados da China ou da Índia falam de uma arte de bordar muito desenvolvida, onde já se trabalhavam pontos de corrente na seda, muito antes dos cristãos. Costura sofisticada de crina em vários tipos de tecido, sem falar no feltro, foi encontrada nas montanhas siberianas de Altai.
Enorme tapeçaria chinesa bordada à mão com fio de ouro - dimensão 115 x 57 cm. Fonte: Ricardo 
Detalhes
Muitos dos pontos usados na peças, são conhecidos hoje, no ocidente, até os dias atuais.

Há a presença do pontos usados pelas mulheres pioneiras do Vale do Itajaí, usados em seus ricos enxovais e até hoje em seus grupos de amigas. A técnica da Pintura de Agulha - Nadelmalerei.
Bordado local da Colônia Blumenau
sobre um "Wandschoner" - Panos de parede.
Fonte: WITTMANN, 2022.
Bordado - Símbolo de Riqueza e Poder

Na região mediterrânea, a base do bordado (de seda) foi lançada pelos árabes que ali se estabeleceram - adotado pelos gregos. O bordado de seda permaneceu um importante ramo de produção na Itália, após a conquista da Grécia (que foi conquistada pelas práticas artísticas grega - do bordado a arquitetura) até os tempos modernos - e que foi difundida pelos romanos - através de seu grande Império - pela Europa (na região territorial da Alemanha também - de onde veio o bordado para região do Vale do Itajaí). Fantástico.






Bordado local da Colônia Blumenau sobre um "Wandschoner" - Panos de parede.
Fonte: WITTMANN, 2022.

O testemunho mais importante deste tempo, na Itália, é representado pelo manto de coroação de Roger II (1113-1154) feito na oficina da corte em Palermo. É uma prova da época - em torno de 1171, quando os normandos (vikings originais) conquistaram a Sicília e deixaram os árabes que viviam no local, trabalharem em Tiraz (oficinas reais). Salvos pela arte do bordado.
Detalhes do bordado do manto real de Roger II - Motivos orientais

Manto real de Roger II, com uma inscrição em árabe com a data Hijrah de 528 (1133-1134). Tesouro Imperial, Viena, no Palácio Hofburg. 
Material - Seda estampada (tinta de quermes), bordados em ouro e seda, pérolas, ouro com esmalte cloisonné, pedras preciosas. Altura de 146 cm, largura de 345 cm. Fonte Wikipédia.



Guilda dos Alfaiates na Idade Média.
Fonte: 
Berufe-Enzyklopädie
Esta herança bordada, com 11 kg de miçangas e outras preciosidades, pode ser vista no Tesouro Real de Viena.
A independência política de Florença, Gênova, Pisa, Siena e Veneza, a partir do século XIV viabilizou o desenvolvimento do comércio e a partir deste efervescente comércio, houve inovações técnicas e estilísticas no território italiano. Os séculos XIII e XIV tiveram uma grande influência no desenvolvimento do bordado. Curiosamente a atividade de bordar envolve a política das guildas - que organizavam artes e ofícios nas cidades, na época. Funcionava assim. Se as bordadeiras registrassem sua residência na cidade e registrassem seu ofício, podiam trabalhar como artistas freelancers; caso contrário, eram designadas para a Guilda de Alfaiates ou pintores, o que significava, que também estavam  localizados entre os artesãos que atendia a elite desta cidade. As oficinas da corte e do mosteiro também recebiam encomendas de bordados, nesta época, e a influência dos conventos na prática e disseminação do bordado teve relevante papel.
A expressão 
Ora et labora (rezar e trabalhar) estava alinhada às regras monásticas. As vidraças e os bordados de pintor tecnicamente desenvolvidos eram também feitos por um grande número de "ajudantes leigos", pois as ordens de reis e príncipes - especialmente as dos Condes de Borgonha - eram tantas e exigentes que, se os mosteiros não pudessem cumprir suas solicitações, as cortes dos príncipes governantes adotavam seus próprios motivos  e símbolos
Os bordados eram feitos com seda colorida
Whitework.
em ponto, dividido sobre
fundo dourado e os motivos eram, muitas vezes, inspirados em pintores conhecidos e famosos, como Giotto (1337) ou Botticelli (1445-1510). 
Os Príncipes de Borgonha tinham almofadas de sela e uma tenda de cetim feitas com os brasões de todos os países que pertenciam à Borgonha e seu lema bordados. As técnicas de bordado, nesta época, eram diversos. Os mais conhecidos são: ponto claustro, ponto bruxa, ponto plano, ponto cruz e ponto sobreposição com lã ou seda colorida, ponto folha, ponto corrente, ponto festão com fio de linho e muitos pontos acima e abaixo com ouro fio.
Whitework, conhecido bordado com seda colorida e miçangas em linho, pontos planos offset e técnicas de alimentação de ouro e prata foram usadas tanto no Norte da Europa, quanto, da Sicília para a Inglaterra do final do século XV
Neste tempo, o bordado europeu atinge seu auge. O bordado em relevo estava no seu auge. Com esta técnica, os motivos eram previamente forrados com arame, papel, tecido ou mesmo marfim, os espaços entre eles eram realçados com fio de ouro na técnica do alimentador afundado, e não raro, estes eram decorados com pérolas verdadeiras.
O bordado de seda foi o primeiro ramo do comércio de seda na Europa Central no século XIV, antes da fiação e tecelagem de seda, bem como do tingimento de seda. Só então Londres, Paris e algumas cidades holandesas e alemãs se tornaram importantes centros de produção e comércio de produtos de seda, ao norte dos Alpes.




Idade Média - bordadeiras.
As figuras eram muitas vezes "modeladas de fibras vegetais, envoltas com fios de linho, cobertas com tafetá de seda e depois bordadas com fios de seda coloridos, ouro e prata".
O bordado em relevo foi criado pelo desejo gótico de expressividade e naturalismo plástico, mas a beleza do bordado à mão dos séculos passados não foi mais alcançada.

 Influência Oriental na Europa

Através do comércio da Inglaterra com os países orientais, a influência dos países otomanos e árabes se tornou visível também na arte do bordado. Os Mauresques, arte dos mouros, foram usadas nos motivos. Como é sabido, “o Islã proíbe seus crentes de retratar pessoas e animais para fins decorativos. Desenvolveram-se, assim, linhas e formas abstratas, entrelaçadas, que já não tinham qualquer referência floral." 
Os maurescos desenvolveram-se no quadro da ornamentação renascentista e os arabescos surgiram das máscaras e meias-figuras incorporadas.
A porta de entrada europeia para a arte islâmica era a cidade de Veneza, onde a o acúmulo de riqueza da nova classe que surgia (comerciantes e banqueiros), o novo estilo de arte, onde a escala desceu dos "céus" (Catedrais) para a escala do homem (artes e universidades) - sob a ótica do renascimento - e com isto, a arte e a cultura atingiram um pico grandioso para as pessoas e não mais somente para a igreja e a nobreza, como era comum na Idade Média. 
Neste tempo, a técnica do bordado em lã, seda e linho tornou-se cada vez mais perfeita e à medida que a procura crescia devido à o acúmulo de riquezas crescente, muitas bordadeiras ganharam grande reputação. Algumas até gozando de uma relação de confiança com membros da nobreza.
Ano de 1620- Blackwork Jacket, Museu da Rainha Victoria & Albert. Fonte: Costume Antique.
Bordados do ano de  1516,  1527 e 1530.  Fonte: Costume Antique.
1533, Hans Holbein dJ – Die Gesandten. Renascimento de ideais antigos. O foco agora estava na personalidade humana. A burguesia era agora uma potência dirigente, econômica e politicamente e com isto também faziam uso da arte do bordado. Fonte: Costume Antique.




Os bordados deste período receberam ainda mais requinte. Surgiram como decorações arrebatadoras, motivos imaginativos eram frequentemente executados em pontos corridos e planos, técnicas de apliques foram inventadas e, mais recentemente, foram usados seda preta sobre fio dourado, subjacente na técnica de ponto de cruz. Bordados de tapeçaria, enfeites e muitos bordados simbólicos também experimentam um ponto alto no uso doméstico de todos aqueles que poderiam adquiri-lo.
Desde o início do século XVI, quando a impressão de livros foi inventada, tanto os bordadores de arte e seda, quanto os leigos, tiraram novas ideias de inúmeros livros de modelos que propagavam a arte - através do "risco". Atualmente esses livros de modelos são históricos documentos sobre o desenvolvimento secular da arte do bordado.
Tirado de uma Revista publicada, com moldes para bordar - década de 1950.
Mary Cornwallis, Condessa de Bath, 1575.
Vestido com mangas delicadas com apliques e
 bordados, com também a saia e o corpete.
Os bordados cruzados na Alemanha (origem Romana -abaixo explicado), os estilos mouriscos na Itália e os bordados em metal tornaram-se cada vez mais populares e foram usados ​​para móveis, como roupas de cama, toalhas, aparadores ou dossel de cama. Forneceram aos quartos da nobreza e da burguesia, um “caráter caseiro e ao mesmo tempo representativo. Desta forma, o bordado é também uma expressão visível da importância econômica e da riqueza desta classe, que ao mesmo tempo foi o portador cultural da sua época." 
A moda espanhola também deve ser mencionada de onde grande importância foi dada à aparência pessoal. Guarnições de camisas primorosamente bordadas, lenços de peito, aventais e véus com pedras preciosas e pérolas, mangas decoradas, corpetes e casacos curtos são testemunho desta moda, no século XVI.

Arte de excelência e nobre

Sobre os bordados ingleses dos séculos XVI e XVII - denominados bordados elizabetanos - relacionados à rainha Isabel I (1558-1603) é importante destacar quye em nenhum que em nenhum momento, antes ou depois, "o traje secular na Inglaterra foi tão decorado com bordados, do que naquela época.” 
Os bordados riquíssimos trabalhados com seda colorida e fios de ouro e prata. Motivos com um significado mais profundo para as pessoas no século XVI são frequentemente encontrados. Elizabeth I no final da década de 1590. Fonte: Epochs Of Fachion.
A nobre arte do bordado e o cuidado especial com que os objetos de valor eram fixados em mantas, cortinas, baldaquinos e toalhas de mesa podem ser vistos nos registros catalográficos da época e testemunham uma riqueza de motivos e grande habilidade técnica, muito além do, somente do enxoval das moças de família, que pessoas da atualidade imaginam. Eram obras de arte de fato. Os motivos típicos de animais e plantas foram usados ​​como modelos, e livros famosos, como livro de Thomas Trevelyon (1608) ou o livro modelo de Johannes Siebmacher (1597) - "Schön Neues Modelbuchconhecido#  - conhecido nos países de língua alemã.
Motivos - "riscos" de bordados do livro de Thomas Trevelyon (1608). 
Do livro "Schön Neues Modelbuch"  - Johannes Siebmacher (1597).


Ponto Cruz.
Nos primeiros livros que mencionavam as técnicas dos pontos de bordados, predominava o ponto cruz. No Renascimento, predominava a ornamentação com figuras populares da mitologia. Durante o período barroco, os livros de bordados voltaram a adaptar-se ao gosto da época e ofereciam moldes para flores e todo tipo de objetos que deviam ser desenhados nos tecidos. Bordados de linho, pontos de claustro ou bruxa, pontos de espinha de peixe, pontos de urdidura e recortados abertos, pontos planos e de haste, nó francês e pontos divididos e trabalho de alimentador são apenas alguns das técnicas usadas ​​na época. As tapeçarias de camas de aparato, antependios ou capas de batizado com brasões, placas de caixão e panos batismais, confeccionados em materiais de beleza impar e caros sob vários aspectos, como a seda, o tafetá, o brocado, o linho, culminavam com o apogeu da gravura bordada.

Trabalho em Branco.
Trabalho em Branco

Nesta época renascentista, também estava na moda o Whitework, que evoluiu do Piquetwork, poderia-se dizer que, na verdade, era uma imitação de renda. Isso então evoluiu para o “bordado Dresden” ou “Point de Saxe” e as variantes posteriores bem conhecidas, como ilhós e bordado Madeira
No grupo de Whitework também estão os bordados recortados, como o bordado Richelieu, em homenagem ao cardeal francês Richelieu (1585-1642). Na Suíça, o desenvolvimento do Whitework levou à criação do mundialmente famoso “Bordado St. Gallner" e no Norte, o conhecido "bordado Hardanger".  
O extenso bordado das figuras da Idade Média, que haviam desaparecido no período gótico tardio e cada vez mais, no renascimento, foi quase totalmente trocado pela decoração ornamental nos períodos barroco e rococó.

A França dita a moda no século XVII

No século XVII, o modo de vida, a arte e os pontos focais da corte francesa marcaram a moda em toda a Europa e fora da Europa. A vestimenta de gala usada em recepções e festivais era fundamental e de importância - principalmente com a presença do bordado em si. Além de Paris, Lyon era a outra cidade da indústria da seda francesa.
Indumentária com tecidos nobres bordados - França do século XVII.
De acordo com um relatório de Roland de la Platiere, 20.000 pessoas teriam sido empregadas neste setor da seda, em 1778, destas, 6.000 eram bordadeiras.
Os motivos variaram de cravos, tulipas e rosetas do sol a tiras em espiral, romãs e arabescos, bem como peônias, amores-perfeitos, cestos suspensos e treliças em um fundo pontilhado, entre outros. Seda cor de marfim, tecido de seda acetinada (atlas da urdidura), tecido de linho em trama simples, tafetá de seda manca, brocado de seda ou moiré de seda, gaze de seda e tecido de algodão. 
Os tipos de bordados tornaram-se cada vez mais extensos e exigente.
Repetidamente encontramos uma espécie de reminiscência na história da arte
Onde o estilo anterior foi vivido ao extremo, à exuberância das formas do rococó segue-se a desilusão do classicismo
No bordado também o classicismo reporta à antiguidade. Não apenas na arquitetura, mas também na arte têxtil, as flores de lótus, os louros e as pirâmides são redescobertas e, ao mesmo tempo, lembram a campanha de Napoleão no Egito.
As capas bordadas dos móveis dão uma visão adequada das diferentes opções e estilos da decoração no Classicismo e no Império francês. Motivos que reportam às lendas gregas são usados ​​em capas de petit point, arranjos de flores em bordados de seda em almofadas de encosto, bordados de chenille para telas de fogão ou pandeiros em sofás e cadeiras foram muito usados.
A técnica do Gobelin em uma almofada.
A moda feminina é apresentada de uma forma completamente nova e a cor branca domina. Os vestidos compridos, desenhados segundo os modelos gregos, eram bordados com pequenos motivos e os acessórios testemunham a variedade de decorações bordadas da época. Os padrões são inicialmente assimétricos-verticais, entre 1760 e 1780 tornam-se simétricos e são típicos gavinhas de flores, pavões flutuantes, instrumentos musicais e animais míticos, meias-figuras, arranjos de flores com trevo.
Marie Antoniette - 1780. Vestido repleto de arabesco e babados clássicos.
Retrato de Marie Antoniette, de Jean-Baptiste Gautier-Dagoty, 1775, Palácio de Versalhes, França.Foto: Getty Images
Século XVIII, XIX até o presente

popularidade cada vez maior do bordado, conduziu parte desta história para a Inglaterra, mais tarde, para a Borgonha e o bordado atingiu seu verdadeiro auge. Durante algum tempo, o bordado não foi mais tão usado, por inúmeros motivos e, na era Biedermeier, é resgatado novamente  às casas, decoração e indumentária das pessoas. Entre 1815 e 1848, ou seja, o Congresso de Viena e a revolução burguesa, o bordado foi retomado como uma atividade de lazer para mulheres nobres e burguesas. Nos momentos de reuniões de família ou na hora do chá, o bordado era usado para bordar quadros, capas de cadeiras ou telas de fogo.
A história do bordado também testemunhou o desenvolvimento de técnicas especiais de executá-lo, e foram usadas para “estampar” toalhas de mesa e linhos com o ponto de cruz, em específico. A técnica do ponto de tapeçaria foi usada para adicionar bordados decorativos em murais e capas de almofadas. A história do bordado se estende até os dias atuais. A popularidade de embelezar tecidos, com arte e criatividade dos bordados, repassados de uma geração para outra, permanece até os dias  atuais, com a presença de novas técnicas, sem esquecer as tradicionais. 
Bordado em  Wandschoner ou panos de paredes bordado por Friderike Döor, Blumenau. Técnica usada - ponto cruz. 


Em síntese, muitas das técnicas de bordados adotadas na Europa e depois levadas para suas colônias, tiveram sua origem na China, ainda na antiguidade. Também, o bordado já era produzido pelos povos indígenas americanos e pelos egípcios - que tinham contato com o povo cristão
O primeiro povo a adotar o bordado retratando, pela primeira vez, animais e figuras humanas foram os assírios. Bordavam tais motivos em suas roupas e cortinas decorativas. Este povo repassou a técnica artística para os gregos e estes, dominados, foram "copiados" pelos romanos que passaram a chamar o trabalho e a técnica de bordado
Bordado Médio: Técnica: ponto cruz em tafetá, Desenho de árvores com homens assírios de pé de perfil em ambos os lados. O desenho provavelmente é anterior ao bordado - Norte da África, século XVIII e XIX. Fonte: Alamy.




No século XI, a arte do bordado, nobres e clérigos usavam bordados para agregar valor às suas vestes. Os tecidos bordados do Oriente chegaram rapidamente à Europa como sinal de riqueza e poder. Os casacos dos imperadores alemães mostraram seu alto padrão com a presença do bordado. Na Idade Média, os mosteiros usavam bordados para decorar mantos e vestimentas. Durante a evolução da história do bordado, contatamos que o bordado à mão, pode ser um processo demorado e caro. O ofício do bordado ficou, portanto, reservado às famílias abastadas e à igreja. 
Tapeçaria de Bayeux -Laid threads, uma técnica de superfície feita de lã sobre linho, bordada na Idade Média, século XI. Como motivos apresentando uma variedade de animais diferentes, edifícios cerimoniais, soldados com navios cheios de munição. Esta tela monumental foi bordada em algum lugar no final do início dos séculos XI-XII e sobrevive até hoje.
Die allmächtige Amulett - O todo-poderoso amuleto - Um das primeiras técnicas ancestral do Vale do Itajaí - via Pomeranos
Bordado ancestral - antes da chegada do cristianismo no norte da Alemanha e na Rússia.













Mokosh (Makosh) - era uma deusa eslava do Destino - religião primitiva do Norte da Alemanha, reporta à fertilidade e centro familiar. O tempo necessário para que uma moça  estivesse apta para desenvolver estes bordados na região norte junto ao Báltico e também na  Rússia, era de somente 3 anos e esta tinha ciência de que não era algo que fazia para si e também, não era visto como um trabalho, mas sim, uma oportunidade de expressar seus pedidos e esperanças à divindade que seus ancestrais reverenciaram. O bordado tinha aspecto religioso. Esta prática se popularizou entre as pessoas e mais moças bordavam mensagens de esperanças e pedidos que os eslavos dirigiram ao seu patrono e protetor - os poderes superiores. Cada símbolo na tela tinha um significado sagrado, pois se aplicava a importantes cerimônias, crenças e costumes. Os padrões bordados para nossos ancestrais eram uma espécie de pentagrama, e cada signo - toda a história. 
Assim, por exemplo, mostrando um diamante no centro de uma ponta, a bordadeira estava destacando a divindade feminina Mokosh, a deusa do destino, que simbolizava a unidade de seus ancestrais, riqueza, terra, conforto do lar e bem-estar. 
Antigo bordado superior eslavo em roupas, talvez o talismã mais forte fosse o ponto de cruz. A cruz - um símbolo do poder dos quatro elementos, mãos estendidas defendendo contra as forças das trevas que amam o feminino e o masculino. A amante habilidosa sabia bordar bem a cruz, isso significa que o destino lhe  era favorável. O primeiro ponto necessariamente sobreposto à esquerda, revela o feminino, o poder protetor materno, o segundo - à direita é chamado a virilidade. Quando a bordadeira quis criar não apenas um amuleto forte e poderoso, ela tentou fazer todo o trabalho de uma vez - no intervalo do nascer ao pôr do sol. Nossos ancestrais dos povos eslavos valorizavam os menores detalhes e para estas bordadeiras, o bordado não era um ofício fácil de diversão e recreação, era sagrado.

Técnicas de Bordados

Ao longo da história do bordado, dependendo do local e da cultura, e também do período histórico, foram muitas as técnicas adotadas nesta arte. Mostramos algumas principais que tem ligação com a história do bordado na região da Colônia Blumenau, que teve sua origem na Alemanha e na Itália, predominantemente.

A história do Ponto Cruz - Kreuzstich
Imperador Constantino tendo a visão no céu.


Esta técnica envolve bordar pequenas cruzes em um tecido contável. Primeiro, é feito um ponto diagonal, depois um segundo em um ângulo de 90 graus com ele. Se você bordar várias cruzes seguidas, primeiro borde todos os pontos inferiores um ao lado do outro e depois os pontos superiores na carreira de trás sobre eles.
Bordado em um pano de parede,  Wandschoner, da Kruger Haus - Itoupava Central, antiga Colônia Blumenau.
Constantino e Elena.
A história do Ponto de Cruz tem ligação com o cristianismo e sua história/conversão. Esta é complementada com uma antiga lenda do Imperador Constantino, muito comum e conhecido na Alemanha. 
Pensando em seu futuro destino, contam que o Imperador Constantino, de repente, teve uma visão no céu da imagem de uma cruz e a inscrição  "Sim erobern" inscrita por uma força invisível. O Imperador imediatamente interpretou o significado da visão como uma mensagem de poder superior e fez esta marca, um símbolo de seu emblema pessoal e ele o colocou no lugar da águia, que até então, a ostentava em seu estandarte. Quando derrotou seu inimigo em batalha, na ponte de Milviana, Constantino se convenceu do poder do Deus Cristão e proibiu a perseguição aos apóstolos, ordenando ser obrigatório o uso do símbolo que adotou, a cruz, em todas as celebrações cerimoniais, incluindo, na decoração das roupas. As vestes do clero foram autorizadas a receber o bordado da cruz. Nesta época os seguidores dos cristianismo - residentes dos mosteiros -  se autodenominavam "noiva de Cristo"  e portando, deveriam bordar suas vestimentas com a cruz, dando origem do Ponto Cruz e a partir deste, a outros pontos, também.
Bordado de Igreja 
Um movimento de madeira
e carregado sua cópia finamente
bordada - quase sem peso.
Bordado com a imagem de uma pomba - bordado com motivo religioso e representa o perdão de Deus a partir da inciativa e imposição do Imperador Constantino, que ao criar o símbolo da cruz, tornou-se um ícone religioso dos cristãos. Os bordados adornaram não apenas as roupas dos sacerdotes, mas também, a decoração do púlpito, o altar. No templo surgiram símbolos especiais, cujo valor representava a pureza e o amor, renascimento e ressurreição. Por exemplo, o símbolo do infinito, uma vida justa para os verdadeiros cristãos foi representado na flor que brotou das lágrimas de Eva, quando deixaram o paraíso - que eram lírios da Páscoa ou narcisos. O valor do bordado representando uma pomba é tratado como o perdão dos nossos pecados - a ressurreição de uma alma perdida.
Com o tempo, as bordadeiras começaram a bordar imagens - é assim que a palavra é traduzida da palavra grega "símbolo". Provavelmente, o que desencadeou o surgimento da arte dos bordados foi a necessidade de mobilidade dos soldados (Cruzados) e sacerdotes do cristianismo, onde cada um dos grupos assumiram símbolos próprios e diferentes uns dos outros, onde cada um assumiu o símbolo de sua Campanha Militar. 


O
bordado eclesiástico, embora retendo todos os cânones rigorosos e tradição de seu fazer era maravilhoso mas, definitivamente, não era uma tarefa fácil. Era muito trabalhoso e penoso para as noviças e freiras. Quando iniciavam um trabalho de bordado,  borrifavam água benta e usavam apenas costura facial, ou seja, toda vez que a agulha furava o tecido, elas sussurravam: “Meu Senhor”, e quando a agulha voltava de dentro para fora, diziam: “Tem piedade”. Acreditavam que só nestas condições é que o bordado adquiria valor santo e desejado de bem-aventurança que um símbolo religioso e de fé deveria conferir aos verdadeiros cristãos e devotos. As roupas bordadas assim, tinham em si, então,  conteúdo de ícones sagrados. Lembrando que isto acontecia na época - cenário do livro escrito por Humberto Eco - "Em Nome da Rosa".

Bordado de Ouro - Goldstickerei

Ao lado do bordado de pérolas, o bordado de ouro é a forma mais rica de bordado. Fios de ouro são usados ​​para aplicar ornamentos em um suporte têxtil. É usado principalmente para a produção de enfeites e é usado para paramentos litúrgicos (ao lado).
Bordado com fio de ouro - alto relevo.





Bargello ou Bordado Florentino

Bargello, também é chamado de bordado florentino, Point d'Hongrie, ponto irlandês ou ponto chama. Bordado que cobre toda a área, no qual os pontos são guiados paralelamente à fibra em dois a cinco fios transversais. Deslocar levemente os pontos cria padrões abstratos em zigue-zague ou curvas. O registro mais antigo deste bordado foi encontrado em cadeiras do século XVII pertencentes ao Museo nazionale del Bargello, que formalmente emprestou o nome à técnica.

Kilim

O ponto kilim e seu derivado, o ponto haste, formam padrões que parecem tricotados. O design do ponto kilim apresenta nervuras horizontais; os do ponto haste são verticais. Ambos os padrões são feitos de carreiras de pontos diagonais, com os pontos indo em direções opostas em carreiras alternadas. Com o ponto haste, os pespontos são feitos entre as fileiras de pontos kilim. Ambos os pontos são adequados para áreas de padrões grandes e pequenos.

Gobelin

A antiga Casa Mayer - Blumenau.
O bordado Gobelin é uma imitação de tapeçaria, cujo nome vem da manufatura Gobelin. Em contraste com a técnica de tricô/tapeçariaWirktechnik - que cria áreas coloridas inserindo fios de trama de cores diferentes nos fios tensos da urdidura, o bordado Gobelin, os retículos do material de suporte, tecido, recebe bordados diagonalmente com linhas de bordar coloridas. A definição do motivo, é delineado a partir da combinação hábil de pontos com poucos tons de cor. É usado em murais, almofadas e outros peças decorativas. É usual para este bordado, efetuar uso de telas especiais comuns em  tapeçaria e linha de bordar de pura lã.
Existem kits de bordado especialmente preparados, em lojas especializadas, onde contêm tanto a tela, na qual o motivo da imagem já pode ser impresso, quanto a linha de bordar, tal qual eram produzidos para outra técnica de bordar oferecido pela conhecida Casa Mayer de Blumenau. Mais detalhes na sequencia.
Ponto de tapeçaria: Com a técnica de bordado muito simples, também conhecida como meio ponto de cruz, a área do motivo é totalmente bordado no material de suporte, com os retículos sempre na diagonal na mesma direção. A qualidade do acabamento manual fica evidente na uniformidade dos pontos, que cobrem totalmente o forro.
Em tempos passados, no Vale do Itajaí era muito encontrado em casas de famílias mais abastadas. Encontramos um exemplar na casa da família de Ralf Krüger, em Trombudo Central, Alto Vale do Itajaí e o fotografamos que segue abaixo.
Aparente tapeçaria, que na verdade é um bordado com ponto gobelin pendurada na parede do Krüger Haus, Trombudo Central - Alto Vale do Itajaí, que ilustra o cotidiano da vida privada de uma família da Alemanha do séculos XVIII/XIX
Observando o ambiente retratado no bordado gobelin, refletimos de como este veio para o interior da Colônia Blumenau - qual seria sua história? 
Esta maneira de usar o bordado gobelin, em forma de tapeçaria, floresceu na Europa durante a Idade Média devido, por um lado, pela abundância de lã e, por outro, pela quantidade de mão-de-obra disponível, embora já fosse usada pelos gregos e romanos, na Antiguidade.
Na França, despontou seu uso durante o renascimento e no século que se seguiu a este movimento artístico-cultura. Alcançou sua maior expressão no reinado francês de Luís XIV - copiado em toda Europa, principalmente na famosa manufatura dos Gobelins - como esta peça de Trombudo Central.
As obras criadas pelos Gobelins se converteram em peças clássicas e de arte.

Quadro bordado com ponto gobelin, localizado na residência de Ralf Krüger em Trombudo Central SC - Alto Vale do Itajaí.


Pintura de Agulha - Nadelmalerei - nome da técnica dos bordados comercializados na Casa Mayer - Blumenau

Recebeu este nome, porque este bordado faz o uso de vários tons de cores dentro de um mesmo motivo, aludindo ao efeito possível em uma pintura - pintura de agulha quando são criadas transições de cores nas representações que lembram quadros pintados. Na pintura com agulha, os pontos acetinados são costurados e matizados em tons de cores finas. Os pontos são ajustados firmemente, e sua direção segue a forma do padrão escolhido. A pintura com agulha é frequentemente combinada com pontos de haste, pontos divididos e pontos de nó francês.
Seda não torcida e ligeiramente torcida é usado como linha deste bordado. No entanto, lã, chenille ou fio fiado também, em alguns casos, podem ser usados.
Este é o bordado adotado pela tradicional Casa Mayar de Blumenau para comercializar nos anos que atendia na Rua XV de Novembro. Como casas comerciais semelhantes existentes na Europa, fornecia aos seus clientes a base do tecido, com o "risco" do motivo e as cores das linhas e quantidades devidamente marcadas no "risco". Registramos este Kit de Nadelmalerei em janeiro de 2023, na residência de Rosita Zeplin.
O bordado Pintura de Agulha - Nadelmalerei - é muito tradicional na região de Blumenau e foi uma das práticas artísticas trazidas pelas famílias pioneiras, onde as moças bordavam, além de seus vestidos tradicionais, comum no Norte da Alemanha, também peças decorativas da casa, como roupas de cama e toalhas.
Rosita Zeplin mostrando um pouco sobre, no vídeo abaixo.
Um pouco do que vimos na residência Zepplin.








Esta peça bordada por Rosita Zeplin, com a técnica Nadelmalerei,   tem mais de 60 anos.



Uma série de Kit's prontos para bordar, com tecido, "risco" e linhas de acordo com o desenho.





Outros bordados que registramos feitos com a técnica - Nadelmalerei 





Vestido de traje do Norte da Alemanha.

Traje masculino do Sul da Alemanha. Heliomar Schwambach do Espírito Santo, residente na região idealizou e confeccionou.

Detalhe do traje de um dos cantores do Coro Masculino Liederkranz - Blumenau SC - fotografia feita na Festa Pomerana 2023.

Detalhe do traje de um dos cantores do Coro Masculino Liederkranz - Blumenau SC - fotografia feita na Festa Pomerana 2023.


Toalha bordada pela avó  de Bettina Staudinger - Lüderwald Aichinger - Ibirama SC. Antiga Colônia Blumenau.

Clube de Mães - Feira da Amizade - Blumenau SC





Bordado Ajour - Ajour-Stickerei

O bordado ajour é um bordado em que os fios de tecido soltos são puxados juntos com um fio, criando aberturas. As bordas não precisam ser arrumadas, pois são conseguidas, quando puxados os fios juntos. Diferentes tipos de aberturas podem ser obtidos com diferentes variações de pontos, que podem ser preenchidos com outros pontos de renda. Exemplos famosos desse tipo de bordado foram as rendas de Dresden e os bordados Ayrshire da Escócia. Bordados clássicos são bordados feitos monocromáticos branco.

Richelieu

Uma tipo de trabalho branco - Whiteworkque ainda é popular atualmente e é conhecido como Richelieu ou bordado de decote. A linha de borda ou a borda do buraco é bordada com um ponto recortado (também chamado de languette ou ponto de laço). O tecido pode então ser cuidadosamente cortado sob a borda do ponto recortado na borda externa ou no orifício. Este bordado recebeu o nome do Cardeal Richelieu, que o apresentou como um substituto mais barato para elaboradas rendas de agulha.




Bordado Hardanger

A técnica de bordado Hardanger é uma técnica nova e especial de bordado, onde que se fosse na arquitetura, se diria eclética, pois envolve a somatória de outras duas ou três técnicas distintas, utilizando o Ponto Cruz, Richelieu e Ajour, entre outras.

Bordado Sashiko

Técnica decorativa japonesa a partir desta técnica de bordado.

Trabalho de pena - Quillwork

Quillwork é uma técnica ornamental usada pelos nativos americanos.





Bordado Maiorquino

Composição mista de bordado e crochê, onde alguns pontos de corrente são feitos na área de bordar, com a agulha de crochê. Podem ser feitas duas carreiras de crochê com uma pequena distância entre si, que depois será preenchida com linhas de ponto corrente para fixá-las. 



O Material de Bordado

A linha - fio

As linhas/fios são especiais para este fim - bordar. Os mais comuns na atualidade, são fio de bordar e fio de pérolas. A linha de bordar tem 6 camadas e também pode ser dividida em fios mais finos para bordados detalhes finos  e delicados. O fio pérola é indivisível, mas é brilhante e tem uma superfície mais lisa. Mas outros materiais também podem  podem ser usados para bordar e foram amplamente usados nos séculos passados, como por exemplo: filamentos de seda, fios de seda torcidos, fitas de seda estreitas, fios de lã, fios de algodão (costura) ou fios de efeito como chenille.

Agulhas de bordar

A agulha é a ferramenta mais importante e elementar para o bordado. Uma agulha de costura ou, bordado é, geralmente, um alfinete de metal de formato especial com um olho ou um gancho integrado para que possa ser usado para perfurar o tecidos, conduzindo a fio/linha. As agulhas são fornecidas com uma ou duas pontas. A linha de costura ou bordado, também conhecida como linha da agulha, é puxada/passada pelo olho. O gancho da agulha, após perfurar a base do bordado dentro de um determinado processo e combinação, pode formar um ponto.
Existem cinco tipos básicos de agulhas:
  • Agulhas de costura ou bordado de ponta única para bordar com o olho no eixo da agulha;
  • agulhas de ponta dupla para máquinas de bordar à mão com o olho no meio da agulha;
  • agulhas pontiagudas para máquinas de costura e bordado;
  • Agulhas de gancho para ponto corrente ou máquinas de bordar de manivela;
  • Agulhas para máquinas de bordar especiais, por ex. B., para máquinas de bordar orientais , tufting , etc.
  • agulha de costura manual.
Existem tamanhos diferentes de agulhas. Quanto mais fino for o fio do tecido, mais fina deve ser a agulha utilizada. O diâmetro e o comprimento da agulha, como também seu olho (tamanho e forma) são projetados de maneira diferente, de acordo com a linha e sua base de tecido.

Campo de bordar

Dependendo da técnica de bordar utilizada, existem diferentes tipos de tecidos para bordar. O tecido deve ser contável para ponto cruz, mas não é necessário que seja para a técnica Pintura com agulha - o bordado da Casa Mayer. Tecidos contáveis ​​incluem tecido Aida , lona ou linho. Os tecidos elásticos, por outro lado, são inadequados para qualquer tipo de bordado. A gaze de seda é frequentemente usada para bordados em petitpoint .

Bastidor de bordar

Para não puxar o tecido junto com o bordado e evitar distorções no padrão, o tecido é esticado em um bastidor de bordar. Geralmente é redondo e consiste em um anel interno e um externo, entre os quais o tecido é colocado.
Material base pesado para receber um
bordado de ouro, precisa de uma moldura quadrada, que consiste em uma longarina e duas ripas perfuradas. O tecido deve ser costurado nas longarinas como em um retângulo. Desta forma, até mesmo bordados de grande formato, podem ser realizados muito bem sem distorções.

Resumindo...
Definitivamente o resultado de um bordado é uma peça de arte, que acompanhou a tendência dos períodos da História da Arte, dentro da história da Civilização e também, as mudanças tecnológicas e seus inúmeros novos materiais, sem esquecer dos tradicionais - sem perdê-los de vista, como de fato fosse uma herança ancestral. Com isto, atualmente existem inúmeras técnicas de bordar dentro da linha manual e também, mecanizada/industrial, alinha com todas as demais práticas do homem do século XXI.
Abstrato do século XXI de Ana Tereza Barbosa.


 Observamos que a arte, o bordado, teve o período, impulsão dentro dos períodos históricos onde a religião ditava as praticas das famílias, dentro das cidades, com maior intensidade, na Idade Média, do período gótico, cuja sociedade era regida pela igreja católica centrada em Roma. Depois, no também teve muito destaque, no renascimento, quando o ponto focal desceu do céu para a terra, mediante o surgimento de novas classes sociais, além da nobreza e do clero - a arte do bordado adentrou as casas dos mais abastados como um elemento - a exemplo de outras artes da época - ostentava riqueza e poder, que passou a ser um desejo de consumo e prática de todas as famílias, e também, passou a fazer parte da educação das moças - indispensável no decorrer de feitio do enxoval, ou indispensável dentro do novo lar que surgia. Não era mais, somente confeccionado por artesãos, padres e freiras, mas dentro de todas as casas
Óleo sobre tela cujo motivo é uma moça bordando junto à janela de sua sala. Obra de Carl Vilhelm Holsøe  - Ano de 1863- Técnica óleo sobre tela, 61x51cm - assinado no canto inferior direito: Holsøe. Fonte: Galeria Dr. Nöth
Bordado de Gobelin, fotografado em um sala da Cidade de Trombudo central - antiga Colônia Blumenau, que retrata o cotidiano da vida privada de uma família da Alemanha do Século XVIII/XIX. O que fazem? São mulheres bordando em uma grande sala - próximo à lareira. Famílias como estas migraram para a Colônia Blumenau.



Nos séculos XVIII e XIX, 
o bordado estava popularizado em todas as casas europeias e destas, chegou nas malas em milhares de colônias ao longo do planeta, dentro desta linha evolutiva. Também chegou na Colônia Blumenau, com todas as cores, ferramentas, riscos e linhas, trabalhando as muitas técnicas


Imagens do Museu de Hábitos e Costumes - Blumenau SC
Museu do Imigrante - Timbó SC









Museu Weege - Pomerode SC
Em maio de  2022 foi assinado o projeto de Lei que tornou o bordado da Casa Meyer como patrimônio imaterial de Blumenau
Esta técnica de bordar - chamada "da Casa Mayar" é técnica trazido da Alemanha pelos pioneiros denominada, ou conhecida Pintura de Agulha ou, em alemão, Nadelmalerei, existente na Europa desde que o bordado chegou à região, a partir da China, onde era confeccionado desde a antiguidade, em tecidos de seda. Chegou à Europa através da cidade italiana de Veneza.  A Lei assinada é de autoria da vereadora Cristiane Loureiro. A assinatura da aconteceu às 16h do dia 20 de maio de 2022 na sala Freya Gross da Fundação Cultural, em um evento aberto ao público.    
Bordado Chinês com mais de dois de mil anos.
Um tesouro pertencente a terceira geração de uma família da região da antiga Colônia Blumenau.

Depoimentos

"Meu grupo de mulheres tem várias bordadeiras incríveis e muito talentosas. Bordam ponto cheio como as antigas toalhas da Casa Mayer." Rose Kropp

"Essas toalhas duram 500 anos ou, mais. Tenho várias delas compradas só riscadas. Eu as bordei... A primeira coisa que se fazia em Blumenau, era ir na casa Meyer." Vera Bammann Schmidt

"Temos aulas de bordado desse tipo, na Kunst Haus dentro do Parque Vila Germânica, Blumenau... Somos uma associação de artesãos." Vera Bammann Schmidt 

"Minha mãe adorava estes bordados. Ainda guardo, com carinho, as toalhas bordadas por ela, e outras, repassei às minhas filhas. Eu mesma, nos tempos de escola, bordei algumas, mas sempre com a observação crítica e capricho de minha mãe. Cleide Weiss

"Rosita Zeplin nascida Burghardt de testo salto, acho que somos parente, porque tenho parente en testo salto eu também bordo." Marlene Harbs
"Eu risco bordados a 70 anos. E este é um desenho que eu criei. Até hoje trabalho com bordados." Margot Noering
Margot Noering - fez os riscos dos
bordados de Rosita Zeplin.

Conhecer é preciso.
Um registro para a História!

 Referências

  • Berufe-Enzyklopädie. Die neuesten Berufe in unserer Enzyklopädie. Die Schneider - Schneider im Mittelalter. Disponível em: https://berufe-dieser-welt.de/die-schneider/ . Acesso em: 13 de janeiro de 2023 - 14h23.
  • Friedrich Schöner, Klaus Freier. Stickereitechniken. Fachbuch der Hand- und Maschinenstickerei. VEB Fachbuchverlag, Leipzig 1982.
  •  Johanna Mestorf in Berliner Gesellschaft für Anthropologie, Ethnologie und Urgeschichte: Zeitschrift für Ethnologie. Verlag von A. Asher & Co, 1889, S. 109–110
  • Lothar Bühring, Nora Grawitter: Fachlexikon Stickerei und Spitze.  Auflage, Deutsches Innovationszentrum für Stickerei e.V., 2010.
  • Memória Digital. Casa Meyer. 07 de novembro de 2018. Fundação Cultural de Blumenau - FCBLU - Memória Digital. disponível em: https://www.blumenau.sc.gov.br/secretarias/fundacao-cultural/fcblu/memaoria-digital-casa-meyer63 . Acesso em: 12 de janeiro - 00h02.
  • Ruth Grönwoldt. Stickerei von der Vorzeit bis zur Gegenwart. München 1993.
  • Stickerei Geschichte  und Entwicklung des Handwerks. 1. Juni 2017  Handmadebase. Disponível Em: https://handmadebase-com.translate.goog/de/embroidery-history-and-development-Crafts/?_x_tr_sl=de&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=sc. Acesso em: 12 de janeiro de 2023 - 20h33.
  • GEIHSEDER, Agnes. Eine historische Übersicht über Entwicklung und Techniken. University of Artistic and Industrial Design Linz - Art University Linz (Instituto de Arte e Design com especialização em têxtil. art. design.). Número de catálogo V308132.
  • Metropolitan Museum of Art - The Met. Stole with the Martyrdom of St. CatherineThe Collection Medieval Art. Disponível em:https://www.metmuseum.org/art/collection/search/468624  . Acesso em 12 de janeiro de 2023 - 21h38
  • Thérèse de Dillmont. Encyklopaedie der weiblichen Handarbeiten. Bibliothek DMC, Dornach (Elsass) um 1900.
  • WITTMANN, Angelina. Fragmentos Históricos - Colônia Blumenau: Arquitetura - Cidade - Sociedade - Cultural. Volume 1. 1° edição. Blumenau, SC: AmoLer Editora, 2022. 572p.; il.; 17 x23cm.

Leituras Complementares - Para Acessar - Clicar sobre o Título escolhido.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twiter)

Chegou o livro “Fragmentos Históricos – Colônia Blumenau” – inspirado nesta pesquisa.

Agradecemos e a todos que nos inspiraram e incentivaram para esta publicação. Colocaremos nas Bibliotecas das Escolas Municipais e nas principais bibliotecas de Blumenau.









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