quarta-feira, 15 de março de 2023

Iomerê SC - Faxinal Branco - Predominância da cultura italiana que migrou do Rio Grande do Sul

Foto do Site da Prefeitura Municipal de Iomerê.


Se emancipou de Videira. Laços tão estreito que o nome da Praça da cidade tem o nome do Ex-prefeito de Videira, iniciativa de um Vereador de Iomerê.
Na sequencia de
cidades que visitamos em novembro de 2022, localizadas no Vale do Rio do Peixe, apresentamos a cidade de Iomerê, palavra de origem tupi-guarani, cujo significado reporta à uma "Clareira Branca" ou Faxinal Branco. Iomerê é o terceiro nome histórico da comunidade. O primeiro nome foi  Faxinal Branco, batizado pela Companhia Colonizadora
Selbach & Kröef, depois mudou para São Luiz, uma homenagem ao primeiro colonizador e o terceiro e atual nome é Iomerê. Seria muito bom conhecer o nome completo do pioneiro Luiz.
A primeira ocupação de Iomerê  foi através de migração interna oriunda do Rio Grande do Sul, semelhante ao  que ocorreu com outras cidades da região, por descendentes de imigrantes italianos, em um primeiro momento. Geralmente eram famílias católicas dotadas de grande religiosidade, como também era as famílias pioneiras alemãs.
Atestado de óbito do pioneiro Luis Lazzari.


Atestado de óbito do pioneiro  Erico Piccoli.
Padres Camilos.
Em 1912, o trem parou na estação de Pinheiro Preto (postagem listada entre os link's abaixo), e desembarcaram famílias,  acampando na clareira aberta pelos índios e caboclos, conhecido como  Faxinal Branco.  Em 1917, Faxinal Branco é elevado a Distrito. Em 1923 foi fundada a Banda Santa Cecília, para animar as festividades da comunidade e também nas localidades vizinhas que deram origem a inúmeras cidades atuais, na região.
Em 1935, chegam à comunidade, que agora era denominada São Luiz, os padres Camilianos,  ou padres Camilos, padres de uma ordem religiosa católica fundada em 1590 pelo religioso italiano São Camilo de Lellis e voltada à assistência espiritual e corporal dos doentes. Logo depois vieram as Irmãs Marcelinas.




Em 1º de maio de 1944, a comunidade resgata o nome Faxinal Branco, que em Tupi Guarani significa Iomerê. Semelhantemente, aconteceu com a cidade do Alto Vale do Itajaí, Ituporanga, que tinha o nome de Salto Grande, traduzindo para o nome tupi guarani, recebeu o nome como é conhecido atualmente.
Uma das primeiras iniciativas dessas primeiras famílias foi a construção de um monumento em homenagem a São Cristóvão, padroeiro dos motoristas. A obra construída por José Alberto Fappi  e Jaime Perguer, observada pelo padre Jarcy Antônio Demartini e pela comunidade, durou aproximadamente dois meses para ser concluída.
Caminhoneiros históricos de Iomerê, quando ainda era
Distrito de Videira.
O monumento possuía um chafariz no centro, cujas água vinha da propriedade  de Adão Baptista Breda. Sem a devida manutenção, o chafariz deixou de funcionar e foi substituído por um canteiro de flores. A imagem de São Cristóvão (de gesso) localizada ao lado pilar era frequentemente vandalizada e foi substituída por uma de madeira. A histórica e primeira imagem ficou sob os cuidados da família de José Alberto Fappi. O conjunto também tem um pneu que lembra os veículos usados pelos motoristas, na atualidade, também nos lembrando o quanto a história de Iomerê é recente e que esta peça não apresenta muitas características artística. O pneu foi retirado de uma máquina que esteve em ação durante manutenção da rodovia entre Iomerê e Bom Sucesso, durante a inauguração do conjunto em 25 de julho de 1968.
Iomerê.
Para sua
inauguração foi feito uma festa, contanto com a Banda  Santa Cecília e as características procissões - como ocorre em todo o Brasil, no dia de São Cristóvão e assim se repetiu todo ano, na mesma data. Para registro, o monumento foi construído em 1968 na esquina entre as  ruas Antônio Breda e a Avenida Pedro Penso, na quadra nº 09 -  terras doadas pelo Seminário São Camilo.





No final da década de 1980, com uma boa infraestrutura regional a partir da rodovias pavimentadas com asfalto que interligavam Videira, Arroio Trinta e Salto Veloso, começou-se a cogitar a emancipação da comunidade de Videira. Para isso foi feito um plebiscito para decidir a partir da vontade popular sobre a emancipação do distrito de Iomerê de Videira. O "sim" venceu e a emancipação aconteceu em 19 de março de 1995 e em 20 de julho, a Lei Estadual nº 9.898 criava o município de Iomerê.  
Com passar do tempo, outras famílias mudaram-se para a localidade. Praticaram o extrativismo - como ocorreu em todo o estado de Santa Catarina, no ciclo madeireiro.
Antes da emancipação, Iomerê pertenceu a Porto União, depois Campos Novos, mais tarde a Joaçaba e finalmente a Videira, desmembrado em 1995.
O maior evento da comunidade de Iomerê é a Festa Julina, realizada sempre no final de semana próximo ao aniversário do município que é comemorado no dia 20 de julho. A Festa Julina foi oficializada através de Lei Municipal de 12 de março de 1997. Atrai cerca de 20 mil visitantes durante os três dias de festa. Conta atrações, como shows nacionais e regionais, show de fogos, acendimento da fogueira, gastronomia e bebida típica de festa Julina. Paralelamente à Festa Julina é realizada a Feira da Indústria e do Comércio, além de etapas catarinense do Enduro de Regularidade e o Encontro de Tropeiros.
Festa Julina - Iomerê.







Iomerê IBGE
  • População: 2.962 habitantes IBGE/2019;
  • Área territorial: Iomerê ocupa uma área de 114 km²;
  • Altitude: Acima de 847 m de altitude;
  • Municípios limítrofes: Ibicaré, Treze Tílias, Arroio Trinta, Videira e Pinheiro Preto
Pontos focais
Igreja São Luiz Gonzaga
Igreja de Lamon,  Província de Belluno - Itália.
Em 1910 a Companhia Colonizadora Selbach Kröeff doou o terreno para construir uma igreja e foi somente em 21 de junho de 1924 que foi realizada a primeira festa do padroeiro. Com a criação da paróquia de Iomerê em 1935, no terreno foi construída uma capela de madeira, material abundante e com valores acessíveis, em 1936.
Em 4 de julho de 1948 iniciou a construção da nova Igreja e atual igreja que foi concluída em 19 de abril de 1953. Sua arquitetura foi inspirada em uma igreja existente na Itália, da cidade de Lamon, na Província de Belluno. Receberam contribuição de mão de obra vinda da Itália para sua execução.
O altar da Igreja, que foi confeccionado de madeira, foi avariado por um incêndio. Foi reconstruído e recebeu a imagem sacra esculpido em mármore italiano.
Naves laterais na basílica de Roma.
Seu estilo arquitetônico reporta ao clássico, com leve distorção, na tentativa de lhe proporcionar certa verticalidade presente nas catedrais góticas. Isto é o resultado do encontro das duas culturas, alemã e italiana, na região. O renascimento tem como uma de suas características, a adoção da escala do homem. Destacamos a presença da rosácea, arcos plenos, simetria das fachadas e a intensão de mostrar as naves laterais. Como as igrejas renascentistas, não possui a torre no corpo da igreja, o que reporta à primeira basílica cristã adotada pelos romanos - no romanos do Império de Constantino que adotou a basílica civil romana como a arquitetura do templo cristão romano, que era um edifício grande  oblongo, geralmente composto por uma  nave central, duas  colaterais  e uma ou mais absides. As naves laterais eram mais baixas, por  forma a não  obstruir as janelas altas (clerestório) na  parte  superior da nave central. Numa posição bem visível, ao fundo, estava  a  tribuna que mais tarde, seria   adaptada transformando-se no altar  e no  púlpito  do culto cristão. Percebemos a tentativa do resgate destas naves laterais da basílica de Roma, mesmo que sem a mesma função, tendo esta função de identidade cultural.

 Igreja São Paulo

Igreja São Paulo
A
primeira igreja da comunidade de São Paulo foi construída em 1924, por Luiz Falchetti, com a contribuição da comunidade. No local também funcionava a escola com aulas ministradas em italiano até 1930. A primeira missa foi oficiada pelo padre Roque da congregação Franciscana, oriundo da paróquia de Bom Retiro, atual Luzerna. 
Em 1924, o visitante gaúcho João Volpato presenteou a comunidade com a imagem de São Paulo, que desde então, passou a ser o santo padroeiro da comunidade. Mais tarde foi construída a atual igreja, inaugurada em 3 de dezembro de 1961, fazendo parte da Paróquia de Iomerê.
A arquitetura de Igreja São Paulo segue a tipologia da arquitetura religiosa do pioneiro alemão, ilustrando o intercâmbio das duas culturas em solo brasileiro. Apresenta as linhas do neogótico que junto do gótico, é o estilo nacional na Alemanha. Onde há a comunidade alemã em solo brasileiro, existe uma igreja com estas características arquitetônicas, perceptível ao olhar do leigo se a comparar com a igreja Matriz de Iomerê, que é clássica. 
Seguindo estas características, a igreja é dotada de uma nave, cobertura com dois panos de telhados com a presença de uma torre frontal onde também está o campanário. Na base da torre está o alpendre que protege a porta principal.

Museu

Foto Site da Prefeitura de Iomerê.

O museu possui setecentas e cinquenta peças, relacionadas principalmente à região do Alto Vale do Rio do Peixe, como por exemplo: o cocho contando o início da história da comunidade, a réplica dos engenhos movidos a tração animal, fotos dos pioneiros e de seus descendentes, quadros históricos, objetos vindos da Itália, ferramentas, pedras indígenas, louças, entre outros. Seu acervo também contém peças como: soque de erva-mate, implementos agrícolas, arados, carroça, trilhadeira. O museu complementa atividades escolares e a aplicabilidade do programa de ensino de determinadas turmas. Quando estivemos na cidade não encontramos alertas sobre sua existência, pois teríamos grande alegria em registrar seu ambiente. 

Gruta dos Quatro Pedidos

Projeto idealizado pela comunidade de Bom Sucesso, instalada dentro do Parque Santa Paulina. O projeto foi executado na forma de mutirão contando com apoio de professores, alunos, pais de alunos e da Prefeitura Municipal de Iomerê. 

Juvenato Santa Marcelina
 Iomerê têm relações de amizade com  a cidade
 italiana de Lamon. A bandeira das duas cidades
.
Em 1938, com o Centenário da Congregação foi providenciado uma nova casa Marcelina, no Sul do Brasil. Iomerê, localizado no Sul de Santa Catarina foi escolhido para receber este espaço. 
O trabalho das Irmãs Marcelinas na comunidade é voltado à educação através de sua coordenação à frente da Escola Estadual Frei Evaristo e da Escola Particular São Camilo, no Hospital São Camilo, executando trabalhos na cozinha, enfermaria, farmácia e também em grupos religiosos, como Apostolado da Oração, os Cruzadinhos, coordenação de missas,  catequese. Além disso, ministravam aulas de bordado e depois de datilografia. Muita coisa.
O Juvenato Santa Marcelina é um marco na história de Iomerê. É tão importante que a figura da arquitetura de sua sede está na bandeira de Iomerê. Mesmo que atualmente não há mais as juvenistas, o colégio ainda possui seu legado e tem o apoio incondicional da comunidade como marco histórico e ponto focal na paisagem.

Praça Prefeito Waldemar Kleinubing

É a praça principal, localizada na frente da Igreja São Luiz Gonzaga.


O terreno para a construção da praça foi doado pela Companhia Colonizadora Selbach Kröeff, que inicialmente ficou como um espaço  aberto, onde, em anexo, foi construída a primeiramente a capela que  depois foi substituída pela nova igreja, atualmente conhecida como Igreja São Luiz Gonzaga.
 Antes de ser especializada pela praça, era usado literalmente para lazer e interatividade, sendo portanto sempre um espaço público, lembrando os ágoras gregos. No local, a comunidade - jogava futebol, vôlei, treinava cavalos, acontecia festas, local de circos, entre outros usos. A escola se apropriava do espaço para suas atividades esportivas e cívicas, durante os eventos de 7 de Setembro e gincanas. Tambérm era local do jogo bocha. Na frente do local da praça, um tempo atrás estava o bar de João Penso Sobrinho, conhecido como o "Barulho"
Bar de João Penso Sobrinho.
Este local faz parte da memória coletiva de Iomerê, pois era um ponto de encontro da comunidade. Tão pouco tempo de história e não existe mais, nem como espaço. O que Iomerê está guardando de história para as futuras gerações? Para comemorar 100 anos de história é preciso salvaguardar 10, 20, 30 e mais anos.
Em 20 de agosto de 1965, nevou em lomerê. Foi construído  um boneco de neve entre a praça e a escola.
Boneco de neve construído junto à praça em 1965.
Local onde foi feito o boneco de neve - entre a praça e a escola.

Nesse local, também, aconteciam as
festas da comunidade, geralmente animadas por canções tiradas do violão, gaita e violino sob a luz de uma grande fogueira, onde os mais corajosos passavam por uma esteira de brasas com pés descalçados. Também passaram a contracenar "casamentos caipiras", de maneira teatral para levar alegria a quem assistisse e principalmente, para quem participava, lazer através da cultura. Nestes eventos acontecia muita dança- destacando a dança de quadrilha.
Na administração do ex-prefeito Prefeito de Videira, César Augusto Filho, a praça recebeu intervenção urbana através de uma revitalização, atendendo solicitação do Intendente de Iomerê Avelino Panazzollo (nascido em Bento Gonçalves em 1912). Nesta revitalização espacial foi construído o muro no entorno do terreno da praçaEm 1956 a praça foi nomeada de "Praça Pública da Vila do Distrito de lomerê"
Na administração do ex-prefeito de Videira Waldemar Kleinübing no final da década de 1960(de família que migrou de Monte Negro - RGS), a praça recebeu um caminhos um monumento em homenagem ao colono. Em 1970, por indicação do ex-vereador de Iomerê Dorício Faccin, o nome da praça foi mudado para "Praça da Unidade" e  em 1971, por indicação do mesmo vereador dentro de uma ação política, a praça recebeu o nome do ex-prefeito de Videira - "Praça Prefeito Waldemar Kleinübing", lembrando que seu filho Vilson Kleinubing, também nascido em Montenegro RGS, estava na política, no cenário de Santa Catarina. Deveria ser respeitada a vontade daqueles que estavam lá quando a praça foi idealizada e seu nome deveria continuar sendo "Praça Pública de lomerê".
Praça Praça Prefeito Waldemar kleinubing, Igreja São Luiz Gonzaga, Prefeitura Municipal


As imagens comunicam









































Uma das poucas tipologias históricas que encontramos da primeira metade do século XX.













Arquitetura do pioneiro alemão, bem como da igreja. Esta comunidade de Iomerê foi colonizada por descendentes de imigrantes alemães.









Até a próxima cidade da rota de pesquisa.
Está sob revisão.
Um Registro para a História.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twiter)

Agenda:
Dia 10 de maio estaremos lançando o Livro “Fragmentos Históricos Colônia Blumenau – Arquitetura * Cidade * Sociedade * Cultura Volume 1" no espaço Cultural da Assembleia Legislativa de Santa Catarina - ALESC, Florianópolis.


















2 comentários:

  1. Fiquei impressionado e muito contente com o conteúdo deste verdadeiro documento de Iomerê, cidade onde nasci. Sou Neto do Sr. Joao Penso Sobrinho (Mais conhecido como Véio Barulho) e em algumas fotos localizei meu Pai Onorino e meu Tio Alécio, além dos meus avos maternos e meus Tios da família Colle. No texto você comenta sobre o Bar do Sr, Joao Penso Sobrinho, este bar aparece na foto que esta marcada como 'ESTA CASA NAO DEVERIA TER SIDO DEMOLIDA"

    Existe uma foto onde aparece meu Tio Alecio que tem as anotações dos nomes trocadas e a Primina que consta como mae do Alecio é na verdade esposa dele. Minha Nonna chamava-se TEODORA BORSOI PENSO

    Tenho fotos de Iomere antiga que poderiam entrar nesse documento.

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    1. Que bom que o material publicado o fez contente. São pedacinhos de história de nosso Estado.

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