Há alguns anos conhecemos o casal Eliane Scheidt Töwe e Anderson Töwe, noivos que fizeram questão de lembrar seus antepassados e vivenciar cada momento de seu casamento, a partir da tradição de casar de seus pais, avós, avós de seus avós, descendentes de pioneiros que ajudaram a construir cidades na região. A noiva, Eliane, arquiteta que conhecemos na sala de aula de sua formação profissional. Nesse período, informalmente nos contou sobre o projeto que ela e seu noivo pretendiam executar, restaurar a casa do Opa dele. Ele, o noivo - jovem autodidata que assumiu para si, a responsabilidades e decidiu que assim seria, restauraria a casa de seu Opa. Tornou-se então "construtor de enxaimel" e restaurador de enxaimel, além de tocador de bandoneon, que já era. Conhecemos o noivo no palco de uma das tradicionais festas da região, onde naturalmente, encontramos Eliane. O tema "enxaimel" nos aproximou e as trocas foram permanentes. Nesse ano de 2023, tivemos a honra de receber o convite desses jovens especiais, para estar nesse momento precioso da história de sua família e também, na formação de material histórico das práticas da sociedade do presente, para o futuro, o de seu casamento que contou com momentos tradicionais, vividos por seus antepassados.
Um pouco de História
Família Töwe pioneira - Século XIX
O pioneiro da família Töwe, Johann Karl Heinrich Töwe era de uma família de luteranos. Seu pai era Johann Heinrich Töwe e sua mãe Dorothea Louise Karoline Fedler (Nasceu em 1822 em Gross Poplow e partiu em 19 de abril de 1876, na mesma cidade) Töwe. Johann Karl Heinrich foi confirmado em 2 de abril de 1871, na igreja luterana de Gross Poplow - estado da Prússia. A Alemanha já existia como País desde 18 de janeiro de 1871 e a cidade de Gross Poplow pertencia a Alemanha - Estado da Prússia. Portanto, o noivo, Anderson Töwe é descendente de prussianos.
Mapa da Alemanha unificada em 1871. Fazia parte de seu território, grande parte do território da Polônia atual e de onde vieram muitos imigrantes para a Colônia Blumenau, como por exemplo - os Töwe. |
Johann Karl Heinrich Töwe conheceu Caroline Wilhelmine Henriette Viebranz e o casal se casou em 16 de março de 1880 - em Polzin, estado da Prússia (azul no mapa acima), um pouco antes de embarcar para o Brasil, destino Colônia Blumenau. O que desencadeou as decisões neste período? O Casamento? A viagem?
Caroline Wilhelmine Henriette Viebranz nasceu na cidade de Dewsberg (atual região da Polônia - cidade de Dziwogóra), em 14 de fevereiro de 1856.
O casal Töwe se casou em março de 1880 e, em 30 de abril desembarcou no Rio de Janeiro - Brasil, vindo de Antuérpia no navio Leipzig, cujo destino final foi a Colônia Blumenau.
Johann Karl Heinrich e Caroline Wilhelmine Henriette devem ter passado por todo o processo conhecido por todas as famílias pioneiras que passaram pelo galpão dos imigrantes na sede da Colônia Blumenau. Após a aquisição do lote colonial, o homens ou homens se deslocavam até o local de sua aquisição, usando cursos d'água e picadas existentes, para efetuar a derrubada da mata, limpeza do terreno e preparo para os primeiros plantios, a construção da casa provisória e depois voltavam à sede da colônia para buscar as mulheres e crianças. Não há qualquer informação oficial sobre esta questão, mas pela data do nascimento do primeiro filho do casal, dois anos após o casamento se deduz que houve um tempo grande de afastamento. A primeira filha nasceu em 24 de janeiro de 1882 e se chamou Alwine Marie Anna Töwe (+1957).
Os Töwe, como era costume dos imigrantes na época, preparam o chão para receber sua casa permanente. O casal, teve mais filhos, praticamente uma média de um por ano - no tempo seguinte. Ainda residia na casa provisória, que por certo depois tornou-se o rancho da propriedade.
São os filhos:
- Marie Anna Töwe - nascida em 24 de janeiro de 1882;
- Gustav Karl Wilhelm Töwe - nascido em 17 de fevereiro de 1884, este é o antepassado de Anderson Töwe;
- Marie Luize Emilie Töwe - nascida em 08 de março de 1886;
- Hermann Otto Albert Töwe - nascido em 07 de outubro de 1887;
- August Wilhelm Karl Töwe - nascido em 06 de dezembro de 1889, avô de Marli Töwe.
Um dia após o nascimento de seu último filho e em poucos tempo para completar 10 anos de casamento, este ocorrido no seu Heimet, a jovem Caroline Wilhelmine Henriette Töwe, com 33 anos de idade, faleceu por complicações pós parto, deixando 5 crianças pequenas e seu esposo Johann Karl Heinrich.
Johann Karl Heinrich Töwe casou-se novamente com uma senhora que também, tinha filhos. Era preciso organizar sua casa e sua família. Sua segunda esposa foi Bertha Magdalena Laube, filha de Johann Gustav Robert Laube, colono em Bodebach e de Alwine (nascida Brettschneider) que nasceu em 26 de novembro de 1869. Foi casada em Bodebach, com Albert Rebrin, com qual teve os filhos Oscar e Ida. Casou-se com Töwe e em 1892, nascia Rudolf Töwe, o primeiro filho do casal, que teve mais 5 filhos, contando com o pequeno Rudolf. Neste tempo Bertha tinha 24 anos incompletos.
- Rudolf Töwe - nascido em 23 de outubro de 1892;
- Luiza Amanda Klara Töwe - nascida em 12 de outubro de 1895;
- Wilhelm Friedrich Karl Töwe - nascido em 16 de novembro de 1898;
- Karl Johann Heinrich Töwe - nascido em 26 de novembro de 1902;
- Bertha Emilie Marie Töwe - nascida em 10 de setembro de 1905.
A família Töwe permaneceu em Alto Benedito somente até 1904. Johann Karl Heinrich Töwe comprou terras em Jaraguá do Sul, que segundo Anderson, apresentava melhores características para o plantio com uma topografia mais plana. Gustav Karl Wilhelm Töwe - nascido em 17 de fevereiro de 1884, era pai do bisavô de Anderson Töwe. Ele recebeu do pai Johann Karl Heinrich, o terreno em Jaraguá do Sul, como presente de casamento e também deu terrenos como presente de casamento, aos seus filhos, como por exemplo a Alwin Töwe, bisavô de Anderson Töwe.
Gustav Karl Wilhelm Töwe e Jaraguá do Sul com sua esposa e no colo da mesma Alwin Töwe - bisavô de Anderson Töwe. |
Após o nascimento do 5° filho do casal, a família se muda para Jaraguá do Sul, onde viveu o Opa do Anderson, Bruno Töwe e sua esposa Adi C. Töwe - pais de Leomar Töwe.
Descendentes de Alwin Töwe, filho de Gustav Karl Wilhelm Töwe, sendo que o mais jovem é o noivo Anderson Töwe, à esquerda de camisa branca. Sentados estão o Opa Bruno Töwe e a Oma Adi C. Töwe. |
Os pais de Eliane, agora arquiteta, são Nelson Scheidt e Elvira Pfleger Scheidt, de famílias oriundas da Colônia Santa Isabel, região atual de Aguas Mornas e Rancho Queimado, cuja migração para a região acontecia pelo Alto Vale do Itajaí, a partir de Ituporanga e se fixou em Pomerode.
Não pretendíamos registrar os momentos, mas foi impossível não fazê-lo como momentos preciosos de uma tradição vivenciada por gerações dentro desta mesma família, com detalhes ricamente organizados pelos noivos, que emocionaram a todos. Deixaremos um pouco desses momentos para a história, materializada no tempo presente, para o futuro.
O casamento de Eliane e Anderson aconteceu na manhã do dia 16 de abril de 2023, às 9h45, na Paróquia Evangélica Cristo Bom Pastor, Rio Cerro II. O pastor oficiante foi o pastor Bernt Emmel.
Terminado a cerimônia religiosa, o casal seguiu de trole da residência Töwe até o local dos festejos do enlace, que aconteceu no Espaço Tradição do Vale do Rio da Luz, especialmente preparado para o momento, com a participação diretos dos noivos.
Os noivos chegaram ao local de trole, na companhia de um músico que tocava bandoneon e as daminhas de honra.
O local da festa recebeu as bandeiras das regiões de origem dos antepassados dos noivos - pioneiros. Uma homenagem ao Opa e a Oma, também aconteceu no momento da cerimônia, na igreja.
Como já mencionamos em outras publicações e pesquisas, a bandeira foi, e é, um símbolo muito importante para a cultura alemã - e, esteve sempre presente nas primeiras nucleações urbanas fundadas por imigrantes alemães na região do Vale do Itajaí, cuja característica da linha histórica das artes adotadas, reporta à idade média, onde os brasões e bandeiras possuíam importância, entre outras coisas, por distinguir as famílias e exércitos dentro da estrutura social dos povos que viviam naquela região - no feudalismo.
Os noivos também usaram, de maneira tradicional, as bandeiras da Pomerânia e do Império Alemão, a mesma usada em muitas casas comerciais de oficiais da Colônia Blumenau do final do século XIX e início do século XX.
Por que existiu a bandeira com as cores preto, branco e vermelha?
A união das cores da Prússia: preto e branco e das cidades estados do norte da Alemanha - branco e vermelho - como preto e branco e vermelho explicam a bandeira.
A bandeira com estas cores é exatamente a bandeira que está hasteada nas fotografias das edificações da Colônia Blumenau, no final do século XIX e início do século XX - postadas no início desta postagem. A Colônia Blumenau não possuía uma bandeira oficial, e as pessoas hasteavam a bandeira alemã com as cores preto, branco e vermelha.
A bandeira com a combinação de cores preto, branco e vermelho foi criada em 1866 e representava a bandeira da Confederação da Alemanha do Norte e do Império Alemão (Império de 1871 a 1919).
No Império, as cores preto, branco e vermelho tornaram-se cores nacionais amplamente aceitas e a partir de 1892, tornou-se a bandeira nacional oficial a Alemanha unificada.
Isso aconteceu porque quando foram criar a bandeira após a fundação da Confederação da Alemanha do Norte, em 1866, Otto von Bismarck disse:
“Pelo meu bem, o verde e o amarelo e o prazer de dançar ou a bandeira de Mecklemburgo-Strelitz. Somente o tropa da Prússia (rei Wilhelm) não quer saber de preto-vermelho-amarelo.“
Adotaram então a bandeira com as cores preto, branco e vermelho - e diziam que são as cores que representam de fato a vida, os primeiros desenhos rupestres nos períodos neolíticos e paleolíticos de seus ancestrais e também de todo o mundo, pois são feitos de giz, ocre e fuligem. As três cores juntas irradiam grande força e vitalidade.
Bandeira da Ordem Alemã. |
Alguns historiadores afirmam que os criadores da bandeira também se inspiraram na história cristã e prussiana antiga descrita em "A Ordem dos Irmãos da Casa Alemã de Santa Maria em Jerusalém",abreviada, "Ordem Alemã". Depois de Johanniter e Templários, a Ordem Alemã foi a terceira maior ordem no tempo das Cruzadas. Seguindo o exemplo dos templários, usavam o jaleco branco e a cruz vermelha substituiu a preta. As cores da Prússia também eram preto e branco.
Lembramos que a Prussia havia encampado, territorialmente, a Pomerânia e um grande número de prussianos/pomeranos imigraram para a Colônia Blumenau, antes e depois de da data de unificação alemã - 1871. Portanto aqueles que vieram depois utilizavam a bandeira preta, branca e vermelha.
Alguns historiadores ditam uma versão de que o espírito "antidemocrático" de Otto von Bismarck foi o motivo do mesmo não aceitar a bandeira com as cores preto, vermelho e dourado.
Não foi bem assim
Não foi bem assim
Durante o ano da revolução de 1848 e na guerra alemã de 1866, inimigos da Prússia lutaram sob as cores da outra bandeira e isso não foi bem aceito - tornar a bandeira de guerra dos oponentes da Prússia, a bandeira da Confederação da Alemanha do Norte.
Na Guerra Franco-Prussiana, os soldados alemães lutaram sob a nova bandeira e a içaram entre outras coisas, em 19 de janeiro de 1871 no conquistado Fort Vanves, em frente a Paris. Após a proclamação do Reich alemão, tornou-se a bandeira do Reich e permaneceu bandeirada Alemanha até 1919.
A população do império identificou-se com as cores e as cantou em numerosas canções patrióticas, uma vez que o antigo desejo de um império unificado havia finalmente se concretizado - também na Colônia Blumenau. A aquisição de colônias sempre foi simbolizada pela elevação da bandeira imperial e está documentada em inúmeras pinturas e fotos como estas da Colônia Blumenau, mesmo que aparentemente invertidas - e que nesse tempo, ainda não possuía a sua bandeira e territorialmente, abrangia os territórios do Médio Vale do Itajaí e do Alto Vale do Itajaí.
Colônia Blumenau na Virada do Século XIX para o Século XX. |
O Casamento
Cerimônia na Igreja Evangélica de confissão Luterana - Paróquia Bom Pastor Cerro II teve um pequeno atraso. Tradicionalmente contou com a presença de casais caprichosamente trajados. Eles com um pequeno ramo na lapela e elas vestidas dentro de uma variação do "rosa envelhecido" em trajes longos.
A noiva entrou na igreja sozinha, seguida por seus pais, e já aguardada por seu noivo, Anderson.
A cerimônia oficiada pelo pastor Bernt Emmel contou com a apresentação da história da família e do casal em sua trajetória de dedicação ao Opa e Oma Töwe, cuja fotografia foi depositada sobre o altar.
Após as bênçãos finais os noivos saíram da igreja após seus pais e foram homenageados pelos padrinhos, na porta igreja, com chuva de pétalas de rosas.
Durante a cerimônia religiosa houve música de violão e violino, onde a musicistas tocaram durante o culto e também, na nova entrada dos noivos na igreja para os registros com a familiares e testemunhas.
A festa, com um almoço festivo, aconteceu no Espaço Tradição do Vale do Rio da Luz, localizado 13 quilômetros afastados da igreja. No caminho está localizada a residência dos noivo, da qual tomariam uma coche e foram levados ao local onde amigos e familiares o aguardavam.
Espaço Tradição do Vale do Rio da Luz
Almoço, serrador, tiro, música, buquê da noiva, gravata do noivo, dança, e "quebra caco"....
As imagens comunicam...
No final, alguns vídeos.
Pastor aguardando. |
Um registro para a História.
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twiter)
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Agenda:
- Dia 10 de maio estaremos lançando o Livro “Fragmentos Históricos Colônia Blumenau – Arquitetura * Cidade * Sociedade * Cultura Volume 1″ no espaço Cultural da Assembleia Legislativa de Santa Catarina – ALESC, Florianópolis.
Belos registros do casamento, somente tenho uma curiosidade, porque o noivo está usando uma cruz de ferro? Algum de seus familiares ganhou no passado?
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