A antiga Igreja Matriz de Blumenau antes da reforma, da ampliação e colocação dos novos sinos - Acervo do IBGE . |
Igreja Matriz de Blumenau projetada por Krohberger e após reformas efetuadas entre 1920 e 1928. |
Quando Pe. José Maria Jacobs chegou na comunidade, havia somente 5 famílias católicas (61 pessoas) no centro da Colônia Blumenau, número que mudou menos, de 10 anos após, com a chegada dos imigrantes austríacos e italianos.
...este morro era o responsável pela situação da igreja, muito perto da rua 15 de novembro, que passa uns sete metros mais abaixo; também já havia prejudicado o alinhamento da capela do Convento, obrigando a construção a estreitar-se para os fundos. Não seria possível demolir a igreja antiga antes que a nova já pudesse ser usada; além disso a construção nova deveria ficar um pouco mais retirada da rua. Antes de mais nada, tinha o morro de desaparecer. Desde longa data já vinha sendo cavado no referido morro, mas o trabalho era árduo, pois não havia apenas terra, mas blocos de pedra e estratificações irregulares em diversos graus de formação e dureza. O trabalho exigia o emprego constante de picareta e alavanca; só em parte e com moderação podia ser feito uso de explosivos, assim mesmo arriscando as vidraças e o telhado da capela do Convento e das demais construções. Foi o Rev. Pe. Frei Joaquim Orth que, durante sua estada aqui como guardião e vigário, resolveu retomar definitivamente o trabalho de arrasamento do morro. Comprou um caminhão próprio para transporte de terra e contratou uma turma de operários, que trabalhavam ativamente desde 1º de julho de 1949 até dezembro de 1951. Finalmente, a 16 de fevereiro de 1953 foi retirado o último caminhão de entulho...”. Frei Valdemar do Amaral - dezembro de 1956.
O ex-prefeito de Blumenau José Ferreira da Silva, nome que contribuiu muito pela organização e preservação documental histórica de Blumenau, escreveu um artigo que conta a história de uma família austríaca e o cemitério católico antigo de Blumenau. É um relato interessante e parte de uma história que praticamente é inexistente, a partir do início do século XX.
Segue o texto de Ferreira da Silva:
O velho cemitério católico de Blumenau ficava por detrás da Igreja Matriz, numa elevação de onde se avistava toda a parte leste, acompanhando a grande curva do Itajaí que forma a chamada Ponta Aguda.Para o saneamento e urbanização do local, que fica mesmo no coração da cidade, foi necessário demolir o campo santo e arrasar a colina.A velha cidade dos mortos era um lugar pitoresco, com os seus ciprestes anosos, as suas azáleas vermelhas sempre em flor, os seus milhares de lírios brancos saturando o ambiente de agradável perfume. Era um recanto de paz, de tranquilidade, com as suas cruzes e monumentos a assinalar a derradeira morada dos que a morte ia colhendo na sua faina im piedosa, inexorável.
Ali não estavam enterrados, apenas, os primeiros colonos que, como Doutor Blumenau à frente, concorreram para o engrandecimento da Colônia. Nem todas aquelas sepulturas guardavam restos de imigrantes, de seus descendentes que viveram a vida simples e pura, monótona e produtiva do camponês ativo, laborioso.Algumas escondiam segredos de vidas aventurosas; outras, romances de amor, outras, exemplos de fé, de sacrifício, de resignação.
Therese Stutzer. Eu conheci ali um túmulo que sempre me chamava a atenção. Era de tijolos e cimento e trazia uma lapide de mármore branco com esta inscrição em alemão, em letras góticas, douradas: "Aqui descansa, no Senhor, Leontina, baronesa de Wendlingen, nata Condessa Palacку".Não era para menos que despertasse a curiosidade de qualquer um, um epitáfio assim tão aristocrático na burguesa e pacata Blumenau de anos atrás.E eu nunca viria a conhecer o romance daquela, cujos restos ali descansavam, se não me tivesse vindo as mãos o livro de Teresa Stutzer "Am Rande des brazilianischen Urwaldes".
Essa escritora, que viveu alguns anos em Blumenau, conta-nos a historia emocionante da baronesa Leontina, um romance comovente, um exemplo de como a Providência tece os destinos dos homens, à revelia destes, destinos ás vezes caprichosos, que se cumprem å risca, por mais absurdos que pareçam nos seus detalhes. Um romance que começa numa modesta aldeia da Áustria e vem terminar na bucólica Blumenau, embalada ao doce murmúrio das águas calmas do majestoso Itajaí.Em meio ao calor, à fervilhante alegria de uma noite de baile na corte do grã-duque Maximiliano da Áustria, Leontina, dama de companhia da grã-duquesa Carlota, conheceu o jovem tenente de Wendlingen. Este, descendente de nobre estirpe de grandes oficiais do exército austríaco, não sendo o primogênito, teve que ingressar na carreira das armas e, em 1864, era Ajudantes-de-ordens de Maximiliano que, deveras, o estimava.
D. Carlota da Bélgica. |
Leontina e o Tenente amaram -se. E amaram-se como dois jovens belos, cheios de vida e saúde, podiam amar-se, Ambos, porém eram pobres, embora descendentes de famílias abastadas.
Ferdinand Maximilian Joseph Maria. Quis o destino que Napoleão Bonaparte voltasse as suas vistas à Corte Austríaca para ali encontrar um imperador para o México, recentemente conquistado. O grã- duque Maximiliano foi o escolhido. Este, de principio, tentou opor embargos à honrosa escolha. Sabia bem a quanto se arriscava, acedendo aos caprichos do corso. A ambição de Carlota, porém, soube demovê-lo. Chegava, enfim, à concretização de sonhos sempre acalentados, de ostentar à fronte a coroa imperial. Imperatriz do México! E Maximiliano acedeu. E, no mesmo dia em que, com pompas jamais vistas, foi ele proclamado Imperador do México, Leontina e Wendlingen, agraciados com títulos e doações, uniam para sempre os seus destinos. Casaram-se. Casaram-se e foram escolhidos para fazerem parte da comitiva que deveria acompanhar os novos soberanos ao seu posto no Novo MundoA bordo do navio que transportava a luzida corte, muita gente ia pensativa, apreensiva, cheia de maus. presságios. Assim o imperador. Mas Leontina e o jovem esposo iam alegres, felizes. O futuro não os preocupava. Debruçados à amurada do barco, de mãos dadas, encaravam o céu e o oceano; azuis e intermináveis, com a despreocupação de quem só pensa no seu amor e na sua felicidade. Wendlingen fora o primeiro e único amor de Leontina que, de um convento, viera para o serviço da grã-duquesa. Amava-o, pois, com a enternecida pureza dos anjos. E viveram felizes, muito felizes, nos primeiros tempos.Depois, veio a catástrofe. A revolta, a prisão do imperador e dos da sua corte, inclusive Leontina e Wendlingen. A fortaleza de Quaretaro, a sentença de morte, luto e lágrimas.Na sua grande dor, Leontina tudo fez para salvar o imperador e o esposo, Arrojou-se aos pés de Juarez, lavou-lhe com lágrimas as botas grosseiras, implorou, pediu desesperadamente. Juarez mandou riscar os nomes da corajosa dama e de Wendlingen da lista dos que seriam fuzilados. Mas o imperador morreu corajosamente, traspassado pelas balas do pelotão de fuzilamento.Desapareceram, porém, das lindas faces de Leontina as róseas cores que lhe davam tanta graça e tanto encanto. Nem já o filhinho, fruto de um grande e abençoado amor, conseguia fazer-lhe voltar o sorriso aos lábios emurchecidos. Wendlingen ouviu falar que no Rio de Janeiro talvez conseguisse ser admitido como oficial do exército imperial. Obtida a devida permissão, embarcou-se com a esposa e o filho para a capital brasileira. Longos dias, semanas e meses de angustiosa espera. As jóias e objetos de uso doméstico iam sendo vendidos um atrás do outro. E a saúde de Leontina, dia a dia, se tornava mais precária. Não lhe saía da mente a horrível cena a que assistira em Quaretaro. Ia definhando, como a flor arrancada à haste em que desabrochara. Wendlingen, um dia, ao beijá-la, sentiu que a febre queimava os lábios da esposa amada. Sem mais esperanças de emprego no Rio, seguiu o conselho de patrícios seus que lhe recomendavam viesse para o Sul, onde um clima mais ameno e um convívio mais íntimo com gente de origem e fala germânicas, talvez trouxessem à infeliz Leontina algum lenitivo. E, assim, a desgraçada família veio ter a Blumenau. Mas, Leontina já não era nem mesmo a sombra do que fora. Os beijos ardentes e apaixona- dos do marido tentavam reanimá-la. Mas, ela morria aos poucos. Morria delirando, falando ora em seus dias de felicidade, ora nos tempos do convento, cantando salmos entre volutas de incenso a subirem, com ela, para o altar do Senhor. Pouco depois, expirou nos braços do esposo amado.E seu corpo foi repousar à sombra dos ciprestes do velho cemitério colonial.Wendlingen embarcou o filhinho num navio, de volta à Áustria, para que seu irmão mais velho e os parentes de Leontina se encarregassem da sua educação,E ele, o infeliz Ajudante de Sua Majestade, o Imperador do México, conseguiu um lugar de professor de primeiras letras e, todas as tardes, depois de dar cumprimento às obrigações do cargo, subia vagarosamente a colina e ia sentar-se junto ao túmulo de Leontina, relembrando o seu amor, chorando a sua saudade... José Ferreira da Silva
Leontina, baronesa de Wendlingen (Baden-Württemberg), Condessa Palacку (Techoslováquia) e era conhecida como Austríaca.
Wendlingen é uma cidade da Alemanha, localizada no distrito de Esslingen, na região administrativa de Stuttgart, estado de Baden-Württemberg. A cidade foi criada através da fusão de duas comunidades em 1940.
Wendlingen. |
D. Maria Amélia de Bragança |
Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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