quinta-feira, 14 de abril de 2016

Ficha de leitura - Braverman - Trabalho e Capital Monopolista: A degradação do Trabalho no Século XX.



Braverman, a partir da crítica ao processo de trabalho do capitalismo monopolista, tem espaço certo na bibliografia de qualquer estudo sob a ótica sociológica do trabalho, a partir dos estudos das relações deste. Em seu livro - Trabalho e Capital Monopolista -  Braverman dá espeço e complementa teorias de Marx sobre o impacto do crescimento industrial capitalista sobre o processo laboral, destacando especificamente, o crescimento de grandes corporações e indústrias oligopolistas. Marx chamou atenção para o surgimento de máquinas e a crescente automação, segundo ele, causa do afastamento dos trabalhadores do processo de trabalho, uma vez que para o sistema de trabalho não podia parar, como também, as máquinas, os mesmos passaram a operar estas. Isto foi apontado como um reforço para os detentores do capital (no recorte de tempo específico - virada do século XIX para o XX), uma vez que controlavam o conhecimento e as habilidades necessárias para operar a fábrica, executar as máquinas e empregar a força de trabalho. Esta questão foi destacada por Braverman, quando afirmou que a força de trabalho foi definida por sua posição enfraquecida em relação ao capital. O Trabalho foi transformado de, uma habilidade e experiência necessárias em, uma atividade sem sentido e impotente, com foco exclusivamente na máquina – desprovida de lastro. (Lembramos Tempos Modernos de Charles Chaplin).
Braverman resumiu os princípios da gestão científica desenvolvida por Frederick Taylor como:
1.      Dissociação do processo de trabalho das competências dos trabalhadores;
2.      Separação entre concepção e execução;
3.      O uso do poder de monopólio (Poder somente a um pequeno grupo) sobre o conhecimento para o controle de cada passo do processo de trabalho e seu modo de execução.
O taylorismo foi muito criticado e era visto como uma proposta fria e calculista, que percebia os seres humanos somente como  peças do processo produtivo.
Frederick Taylor
Fonte: www.historiadaadministracao.com.br
Mediante a mudança das atividades dos trabalhadores dentro do novo processo (industrializado), Braverman mostra também, as mudanças nas relações sociais de produção das quais passou o trabalhador para chegar ao capitalismo industrial, onde se originam as novas relações sociais que estruturam os princípios da gestão científica que vão dar fundamento à gerência científica de Frederick Taylor. Para isto, Braverman além de trazer à tona o pensamento de Karl Marx, também aponta as idéias dos pensadores Adam Smith e Charles Babbage uma vez, que dão origem a gerência científica de Taylor.
Taylor baseou seus estudos em tempo de administração do sistema da linha de produção. Em vez de usar métodos de trabalho tradicionais, analisou e tomou o tempo para os movimentos dos metalúrgicos que realizaram uma série de obras.




Biografia

Harry Braverman nasceu no dia 9 de dezembro de 1920 na cidade de Nova York – Estados Unidos e partiu no dia 2 de agosto de 1976. O escritor nasceu em uma família operária, como também foi operário de várias indústrias de metal antes de se torna editor.
Ganhou notoriedade com a publicação da obra analisada nesta postagem – Trabalho e Capital Monopolista: A degradação do Trabalho no Século XX.
Antes disto, Braverman foi um dos milhares de trabalhadores industriais que se radicalizaram pelos acontecimentos da Grande Depressão nos Estados Unidos. 
Fila de de emprego - A Grande Depressão foi a maior crise do capitalismo. Período de recessão econômica do século passado, que teve início nos EUA, assinalada pelo colapso bolsista da “terça-feira negra” (29 de Outubro de 1929) e durou até à Segunda Guerra Mundial, causando taxas de desemprego muito elevadas, quedas acentuadas do PIB, gerando até deflação.

Braverman foi um ativista da Liga dos Jovens socialistas – YPSL – onde os seus membros foram chamados e ficaram conhecidos por Ypsels. Os YPSL discordaram das posições dos grupos comunistas estabelecidos e se posicionaram firmemente quanto à necessidade do internacionalisação do socialista, fornecendo apoio a revoltas de trabalhadores e a formação do CIO (Congresso das Organizações Industriais) e se opondo a política stanilista e suas distorções.
Fonte: www.gettyimages.pt
O escritor não temia posições impopulares. Procurou repetidas vezes aprofundar a política socialista, dispensando formulações simplistas, embora observando e tomando como estrutura, de Marx. Dizia:
“Marxismo não é dogma pronto feito máquina caça niqueis, mas uma ampla teoria do desenvolvimento social, que exige a aplicação e reinterpretação em cada período."
Depois do serviço militar – serviu na indústria de construção naval durante a 2° Guerra Mundial, engajou na luta revolucionária, fazendo parte do primeiro partido Trotskista americano- Partido socialista dos Trabalhadores (SWP). Os membros deste partido político tinham base no marxismo ortodoxo e bolchevique – leninista, e tinha como objetivo fundar um partido de vanguarda da classe trabalhadora, o internacionalismo proletário. Criticavam veemente o stanilismo a partir do momento que defendem o socialismo dentro de um país somente. Criticavam a burocracia que se desenvolveu na URSS de Stalin.
Seu engajamento político coincidiu com o período da repressão política contra os socialistas e comunistas – Red Scare. Mesmo antes de acabar a 2° Guerra Mundial, 18 partidários da SWP foram presos e mortos. Nesta época era crime publicar e estudar o ideário de Marx, Engels, Lênin e Trotsky. Braverman foi demitido de seu trabalho e nunca se buscou saber se foi fruto das buscas do FBI ou houve outro motivo. Prosseguiu seu trabalho político adotando um pseudônimo – Harry Frankel.
Após a 2° Guerra Mundial - na década de 1950 - Braverman foi um dos líderes da chamada "tendência cochranista", uma corrente liderada por Bert Cochran (que usou o pseudônimo de "ER Frank") dentro do SWP.  Foi expulso do SWP no ano de 1953. Após, ajudou a fundar a União Socialista. 
Braverman tornou-se editor do The Socialist americano. Foi, neste momento, como editor, que Braverman começou a pensar mais concretamente sobre o trabalho, o processo de trabalho, máquinas e consciência de classe – principais questões que darão base à sua obra:  Trabalho e Capital Monopolista, um pouco mais de uma década depois.

Durante o início da década de 1960, Braverman trabalhou como editor para a Grove Press. Em 1967, tornou-se diretor da Monthly Review Press.

Algumas citações da obra:


BRAVERMAN, Harry. Trabalho Capital Monopolista – A Degradação  do Trabalho no Século XX. Tradução de Nathanael C. Caixeiro. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1977.

"...Essa experiência como trabalhadores manual pode levar alguns a concluir, após a leitura deste livro, que fui influenciado por um apego sentimental às condições antigas dos, hoje, arcaicos modos de trabalho. Tomei consciência dessa possibilidade, mas tentei fazer com que minhas conclusões não decorram desse romantismo e, no todo, não creio que esta crítica possa ter fundamento. É certo que eu gostava, e ainda gosto, de trabalhar com artífice, mas à medida que eu crescia durante os anos de rápida transformação dos ofícios mecânicos, sempre estive cônscio da inexorável marcha da transformação, com base na ciência e tecnologia. Além do mais, em minhas reflexões sobre esse assunto e nas muitas conversas de que eu tomava parte entre colegas de ofício, quando debatíamos sobre o “antigo” e o “novo”, fui sempre um modernizador. Acreditava naquela época, como ainda hoje acredito, que a transformação do processo do trabalho, desde a sua base na tradição até a sua base na ciência, é não só inevitável como necessária para o progresso da humanidade e para a emancipação dela quanto a fome e outras necessidades. Mais importante ainda, por todos aqueles anos eu era militante no movimento socialista e havia assimilado o modo de ver marista, que é hostil não à ciência e à tecnologia como tais, mas apenas ao modo pelo qual são utilizados como armas de domínio na criação, perpetuação e aprofundamento de um fosso entre as classes na sociedade." 

"A resposta talvez comece com a extraordinária perfeição e antevisão com que Marx executou sua tarefa. Ele expôs os processos de trabalhos e seu desenvolvimento no sistema fabril ao modo mais completo e sistemático como em nenhum outro estudo jamais feito. Este compreendeu tão bem as tendências do modo de produção capitalista de produção e tão acuradamente generalizou a partir dos escassos exemplos de seu tempo que, nas décadas imediatamente após haver completado sua obra, a análise de Marx parecia adequada a cada problema especial do processo do trabalho e notavelmente válida quanto ao movimento geral da produção." 

"A classe trabalhadora durante sindicalizada, intimidada pelo grau de complexidade da produção capitalista, enfraquecida no seu ímpeto revolucionário original pelos ganhos proporcionados pelo rápido incremento de produtividade, perdeu cada vez mais ânimo e ambição de arrancar o controle das mãos capitalistas e tendeu mais a barganhar por participação do trabalho no produto. " 
"A solução de Marx ao problema de transição liga-se à concepção do desenvolvimento destas forças produtivas dentro de um sistema de relações sociais, até que elas ultrapassem. Entram em conflito com ele e rompem seus limites. " 
"Assim, se a máquina a vapor “ nos dá” o capitalismo industrial, o capitalismo industrial “ nos dá” por sua vez, a energia elétrica, a força do motor de explosão e a energia atômica." 
"Só quem for o senhor do trabalho de outros confundirá força de trabalho com qualquer outro meio de executar uma tarefa, por que para ele, vapor, cavalo, água ou músculo humano que movem seu moinho são vistos como equivalentes , como “fatores de produção” 
"O objeto de nossa análise, não é trabalho “em geral” , mas o trabalho nas formas que ele assume sob as relações capitalistas de produção."
"O capitalismo industrial começa quando um significado número de trabalhadores é empregado por um único capitalista." 
" Em sua constituição psíquica Taylor era um exemplo exagerado de personalidade obsessivamente compulsiva: Desde a mocidade ele contava seus passos, media o tempo de suas várias atividades e analisava seus movimentos à procura de “eficiência”. Mesmo depois de ficar importante e famoso tinha algo de engraçado no aspecto, e quando aparecia na oficina, despertava sorrisos. O retrato de sua personalidade, que surge de um estudo recentemente feito por Sudhir Kakar, justifica chamá-lo, no mínimo, de maníaco neurótico. Esses traços ajustam-se a ele perfeitamente por seu papel como profeta da moderna gerência capitalista, visto que o que é neurótico no individuo, no capitalismo é a normal e socialmente desejável para o funcionamento da sociedade."
"Podemos chamar entre princípio de dissociação do processo de trabalho das especialidades dos trabalhadores. O processo do trabalho deve ser independente do ofício, da tradição e do conhecimento dos trabalhadores. Daí por diante deve depender não absolutamente das capacidades dos trabalhadores, mas inteiramente das políticas gerenciais.
"Todo possível trabalho cerebral deve ser banido da oficina e centrado no departamento de planejamento ou projeto...visto que esta é a chave da administração científica, como Taylor bem compreendeu, foi particularmente enfático nesta questão e torna-se importante examinar o princípio exaustivamente." 
"A primeira implicação deste princípio é que a “ciência do trabalho” de Taylor nunca deve ser desenvolvida pelo trabalhador, mas sempre pela gerência. 
"O trabalhado como produtor é ignorado, a gerência torna-se produtor, e seus planos e instrução ensejam o produto. Esta mesma ficha de instrução inspira a Alfred Marshall, contudo a exótica opinião de que dela os trabalhadores aprendiam como a produção é executada tal ficha “ sempre caia nas mãos de um homem que pensa, pode sugerir-lhe algo dos propósitos e métodos daqueles que a faziam. " 
" O primeiro é o ponto de vista do engenheiro, que enxerga a tecnologia, sobretudo em suas ligações internas e tende a definir a máquina em relação a si mesma, como um fato técnico. O outro é o enfoque social, que vê a tecnologia em suas conexões com a humanidade e define a máquina em relação com o trabalho humano, e como um artefato social." 
"A maquinaria tem também nos sistema capitalista a função de destruir a massa de trabalhadores de seu controle sobre o próprio trabalho. È irônico que esse efeito venha a existir tirando vantagem do grande avanço humano representado pelo desenvolvimento técnico e científico que aumenta o controle humano sobre o processo de trabalho. É ainda mais irônico que isso pareça perfeitamente “natural” ao ver daqueles que sujeitos a dois séculos desse fetichismo do capital, realmente vejam a máquina como uma força estranha que subjuga a humanidade. "
"Uma vez incorporado o trabalho nos instrumentos de produção e à medida que entre esse processo posterior de trabalho para ali desempenhar seu papel, pode ser chamado de acordo com Marx, trabalho morto, para distinguir do trabalho vivo que toma parte diretamente da produção." 
"É sem dúvida este “senhor”, por trás da máquina, que domina, drena a força de trabalho vira. Não é a força produtiva de maquinaria que enfraquece a espécie humana, mas a maneira pela qual ela é empregada nas relações sociais capitalistas. Torna-se elegante, porém, atribuir à maquinaria os poderes sobre a humanidade que surgem de fato das relações sociais."
"Os marxistas empregam diversos nomes para este estágio do capitalismo desde o seu aparecimento: capitalismo financeiro, imperialismo, neocapitalismo, capitalismo recente. Mas desde que se admitiu em geral que , como Lênin declarou em um de seus estudos pioneiros do assunto “os quintessência econômica do imperialismo é o capitalismo monopolista.”  
"A massa de emprego não pode ser separada de sua correlata massa de desemprego. Nas condições do capitalismo, o desemprego não é uma aberração, mas uma parte necessária do mecanismo de trabalho do modo capitalista de produção. É continuamente produzido e absorvido pela energia do próprio processo de acumulação. E o desemprego é apenas a parte contada oficialmente do excedente relativo da população trabalhadora necessária para acumulação do capital e que por sua vez é produzido por ele. Essa população excedente relativa, o exército de reservar industrial, assume formas variadas ma sociedade moderna inclusive os desempregos; os temporariamente desempregados em tempo parcial ; a massa das mulheres que, como donas de casa ou domésticas constituem uma reserva para as “ocupações femininas”; exércitos de imigrantes , tanto agrícolas como fabris; a população negra com suas taxas extraordinariamente elevadas de desemprego; as reservas extrangeiras de trabalho. "
Trabalho e Capital Monopolista: A degradação do Trabalho no Século XX.

Ficha de Leitura - parte da bibliografia - Pós Geografia - Doutorado - UFSC






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