Parque Fabril da Waltec S.A. Indústria e Comércio. |
Já escrevemos muito sobre o desenvolvimento social, econômico e tecnológico da Colônia Blumenau.
Os primeiros imigrantes e colonos que chegaram com Hermann Blumenau, tinham tido contato com a Doutrina fisiocrata - de maneira indireta, pois o fundador seguia alguns preceitos do ideário do capitalismo industrial do Século XVIII, no que tange a economia. O francês François Quesnay, foi o autor da teoria que teve grande influência no trabalho de Adam Smith sobre o liberalismo. Quesnay participava de um grupo que se auto-intitulava fisiocratas. Esses defendiam a teoria de que o processo de criação da riqueza era controlado por forças naturais e recomendavam que os produtos agrícolas e bens manufaturados tivessem permissão para circular livremente, sem a intervenção do Estado. Os fisiocratas afirmavam que a agricultura praticada dentro do regime feudal ou camponesa era ultrapassada, visto que os arrendatários capitalistas conseguiam maiores índices de produção. Para os fisiocratas, subentendia-se que o capitalismo buscava aumentar o excedente. Este excedente era uma característica típica do meio agrícola, ao contrário da cidade, que não havia excedentes. Passaram então a industrializar o excedente e a Colônia Blumenau, ao lado da Colônia Dona Francisca - ao norte do estado, industrializaram o Estado de Santa Catarina.
Alto Vale do Itajaí - interior da Colônia Blumenau - Fundação Cultural de Rio do Sul. |
E não se resume somente nisso. Esta nova maneira de perceber a produção social teve grande influência no método de implantação das primeiras nucleações
urbanas no Vale do Itajaí. Os primeiros imigrantes alemães que chegaram à região tinham contato direto com a escola fisiocrática de François Quesnay
cujo “processo de industrialização" se desenvolvia aceleradamente e onde o capta
industrial os havia expropriado, ou seja, eram as pessoas recentemente
destituídas de seu meio de produção.”
Sentimo-nos inspirado a compartilhar a documentação de uma
história mais recente, mas que teve suas raízes nesse tempo do surgimento do
embrião da industrialização do estado de Santa Catarina.
As instituições de formação profissional a nível federal
quase sempre estiveram e estão localizadas na capital do Estado, no caso de Santa Catarina
- em Florianópolis.
Esse fato foi decisivo para que nossos pais e nós nos mudássemos para Florianópolis, quando residíamos no Oeste de Santa Catarina, na década de
1970. Cursamos o curso técnico profissionalizante de Eletrotécnica na Escola
Técnica Federal de Santa Catarina - localizada na Rua Mauro Ramos - N° 150 -
Centro de Florianópolis. O curso tinha uma duração de três anos e meio, sendo
que para completá-lo e ter o direito de receber o diploma de Técnico Eletrotécnico era necessária
um período de estágio dentro de uma empresa com o perfil ligada à
área técnica em questão - no caso - eletricidade.
Atividades extraclasses na frente da ETF SC - Florianópolis SC. |
Carlos Braga Muller - TV Coligadas 1972 - Blumenau. |
Florianópolis não tinha sua economia voltada para a
indústria e sim para o pescado e era uma cidade administrativa, burocrática. O
perfil de turismo veio bem mais tarde.
No último semestre do curso, fizemos algumas visitas em
polos industriais do Estado de Santa Catarina. Um desses, foi a região de
Blumenau, que conhecíamos através das imagens da TV Coligadas, assistidas no oeste do estado
quando lá residíamos com nossa família.
Em Florianópolis, não tínhamos opção de estágio. No meio do ano de 1981, mais precisamente no dia 20 de julho, iniciamos nosso
estágio na empresa familiar Waltec S.A. Indústria e Comércio.
Era uma firma familiar como muitas outras existentes na região que
outrora fora a grande Colônia Blumenau. Para comprovar isso, nesse mesmo
período - dia 30 de agosto de 1980 - o Jornal de Santa Catarina - diário que
nasceu na cidade de Blumenau, publicou as maiores 50 empresas da cidade de Blumenau no ano
de 1979. Muitas não existem mais, como a própria Waltec, mas a importância da
publicação está em perceber o perfil de empresa familiar que tinham a maioria
das "firmas" locais. A família do colono que industrializou o seu
excedente.
Observemos:
Declaração de Movimento Econômico divulgada pela Prefeitura
de Blumenau em 1979:
- 1- Indústria Têxtil Companhia Hering
- 2- Companhia Souza Cruz Indústria e Comércio
- 3- Artex S.A Fábrica de Artefatos Têxteis
- 4- Teka – Tecelagem Kuehnrich S.A
- 5- Cremer S.A Produtos Têxteis e Cirúrgicos
- 6- Companhia Jensen Agric. Ind. e Comércio
- 7- Tabacos Brasileiro Ltda
- 8- Sul Fabril S.A
- 9- Omino Hering S.A Confecções
- 10- Companhia Têxtil Karsten
- 11- Electro Aço Altona S.A (Verso)
- 12- Hermes Macedo S.A
- 13- Albany Indústria e Comércio Ltda
- 14- Mafisa – Malharia Blumenauense S.A
- 15- Maju Indústria Têxtil Ltda
- 16- Intex S.A – Comércio Internacional
- 17- Lojas Hering S.A
- 18- Comercial Rudolfo Pfuetzenreiter Ltda
- 19- Figueras S.A
- 20- Hering S.A Brinquedos e Instrumentos Musicais
- 21- Fábrica de Cadarços e Bordados Haco Ltda
- 22- Prosdócimo S.A – importação e Comércio
- 23- Rigesa Celulose Papel e Embalagens Ltda
- 24- Johnson & Johnson Indústria e Comércio
- 25- Fiovale S.A Indústria e Comércio de Fios Têxteis
- 26- Universal Veículos
- 27- Companhia Comercial Schrader
- 28- Buschie e Lepper S.A
- 29- Arno Bernardes Indústria e Comércio Ltda
- 30- Auto Mecânica Alfredo Breitkopf S.A
- 31- Gráfica 43 S.A – Indústria e comércio
- 32- Impressora Paranaense S.A
- 33- Comércio de Importação e Exportação Blumenau S.A
- 34- Casa Royal S.A – Indústria e Comércio
- 35- Grahl S.A – Equipamentos Rodoviários e Industriais
- 36- Formac (SC) S.A – Fornecedora de Máquinas
- 37- Cristais Hering S.A
- 38- Companhia Hemmer Indústria e Comércio
- 39- Walter Schmidt Comércio Indústria e Eletromecânica Ltda
- 40- W. Breitkopf Comércio e Indústria Ltda
- 41- Casa Flamingo Ltda
- 42- Philip Morris Marketing S.A
- 43- Catarinense de Refrigerantes Ltda
- 44- Casa Willy Sievert S.A Comercial
- 45- Waltec S.A – Indústria e Comércio
- 46- Supermercados Pão de Açúcar S.A
- 47- Malharia Juriti Ltda
- 48- Moellmann Comercial S.A
- 49- Nodari S.A – Comercial e Industrial
- 50- Companhia Mercantil Victor Probst
Parque Fabril da Waltec S.A. Industria e Comercio - Década de 1980. |
Com três anos de existência, a Waltec S.A. Industria e
Comércio ocupava o 45° colocação entre as 50 maiores empresas de Blumenau. A
firma foi fundada no ano de 1976, pela família Nebelung. O primeiro membro da
família Nebelung - Hermann Nebelung, veio para o Brasil na década de 1920, após o
término da 1° Primeira Guerra Mundial, na qual teve que lutar. Tomou essa
decisão, porque não queria que seu filho Rudi Nebelung tivesse também que lutar
na 2° Guerra Mundial que ele intuía acontecer e como realmente aconteceu.
Na Alemanha, Hermann Nebelung foi confeiteiro. No Brasil se instalou com a família na cidade de Jaraguá do Sul, onde também abriu uma
confeitaria.
Seu filho Rudi viajava por todas as regiões do Estado, como
funcionário da empresa que deu origem a empresa Shell.
Durante suas viagens, Rudi Nebelung conheceu a filha de
Walter Schmidt, comerciante de Blumenau, cuja residência mostramos aqui no
Blog, por ter sido completamente restaurada. Rudi Nebulung dotado de grande
experiência empresarial, casando com a única filha de Walter Schmidt, foi
trabalhar na loja do sogro - a tradicional Loja Walter Schmidt localizada no Alto
da Rua XV de Novembro.
Os negócios ampliaram muito e também a parte de
instalações industriais e projetação. A família resolveu criar o parque fabril
voltado somente para instalações industrias e projetos.
1° Loja Walter Schmidt S.A - 1910 - Foto - Web Site da Familia Rischbieter - MyHeritage. |
Residência da família Schmidt. |
A residência da Família Schmidt - 2017. |
Residência da família Schmidt - restaurada. |
Construíram o parque fabril em um lote colonial localizado em Blumenau que
pertencia aos pioneiros da família Nebelung - avós de Frederico Nebelung que também mudaram-se de Jaraguá do Sul para Blumenau. O lote
colonial tem frente para a Rua Bahia e é paralelo a Rua José Deeke, onde até
hoje está o parque fabril, atualmente não mais - patrimônio da família.
Foi adquirido por uma multinacional francesa.
Para esclarecer - Frederico Nebelung era o Diretor Técnico da Waltec S.A. Indústria e Comércio e filho de Rudi Nebelung - que era Diretor Presidente das empresas - loja Walter Schmidt e da fábrica nova.
Para esclarecer - Frederico Nebelung era o Diretor Técnico da Waltec S.A. Indústria e Comércio e filho de Rudi Nebelung - que era Diretor Presidente das empresas - loja Walter Schmidt e da fábrica nova.
Nós conhecemos a empresa em uma das muitas viagens de
estudos, que participamos como estudante, durante o curso técnico de Eletrotécnica. Quando visitamos suas
instalações e retornamos a Florianópolis, quase provocamos a 3° Guerra Mundial em nossa casa, quando
expressamos o desejo de estagiar na Waltec. Mas tudo transcorreu muito bem e contamos
com a compreensão e apoio de nossos pais que refletiram sobre a importância do estágio e permitiram que estagiássemos na Waltec S.A. Indústria e Comércio - tínhamos 18 anos.
Nossa primeira residência estava localizado na Mansarda da residência de Dona Elisa Schneider, localizada na Rua São Paulo.
Para saber mais sobre nossa primeira morada em Blumenau - Clicar em : Nossa Casa - Blumenau
Nessa máquina de escrever datilografamos o relatório anexo nessa postagem. |
Ewald Jan Scherner - nosso Gerente do Departamento de Projetos e Painéis era um Engenheiro Eletricista alemão - formado na Alemanha e sua referência técnica era muito exigente e com referencial a partir de sua formação. Era um pessoa competente e dedicada sem muita tolerância para aquilo que não era bem feito. Aprendemos muito em sua equipe, a partir de sua prática profissional.
Sentimos que o surpreendemos, quando demonstramos o nosso interesse em fazer parte do estágio no setor de montagem de painéis (fábrica), nessa época, atividade feita somente por profissionais masculinos. Permitiu-nos e nos foi muito útil acompanhar a montagem de um painel de comando que tínhamos participado de seu projeto - descrito do relatório de estágio com imagens - a seguir. Não somente acompanhamos a montagem, como também acompanhamos os testes dos mesmos, antes de ir para a expedição.
Um tempo depois a Waltec S.A. Indústria e Comércio, estava contratando mão de obra feminina para a montagem de painéis. Na época presente somente no setor de transformadores.
Dois anos após o término do estágio e o encaminhamento do relatório, recebemos o diploma de Título Profissional de Técnico em Eletrotécnica. Na época questionamos a demora e recebemos a resposta de que esse documento vinha de Brasília. A vida sem internet e computador era um pouco mais lenta. Data do Diploma - 15 de dezembro de 1983.
Complementos:
- Em 1° de outubro de 2008 a empresa familiar foi vendida para uma multinacional francesa do ramo de eletricidade. Atualmente faz parte do patrimônio de outra empresa francesa, Schneider do Brasil.
- O Relatório do estágio foi datilografado por nós, nos horários de folga, na firma.
Leitura complementar - Para ler - Clicar sobre:
Em construção.....
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