terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Arquitetura Religiosa - Igreja São Francisco da Penitência - Nossa Senhora do Desterro

 Igreja São Francisco da Penitência - 2019.
Uma parte da história materializada na paisagem da cidade como um dos principais monumentos da Arquitetura Religiosa - na capital do Estado de Santa Catarina - Nossa Senhora do Desterro é a Igreja São Francisco da Penitência.
Registramos o seu interior, através de  imagens, nos anos de 2011 e de 2019, após ter passado por um processo de restauro.

A igreja histórica pertence à Ordem Terceira da Penitência, como era conhecida a Ordem Terceira de São Francisco. Esta é a Confraria religiosa mais antiga na Ilha de Santa Catarina, a qual foi instalada na povoação no ano de 1745, pelo Frei Alexandre de Santa Cruz. A solicitação para a instalação foi efetuada pelos Oficiais da Câmara da Vila diretamente ao Convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro, a qual foi atendida, com a determinação de que fossem aceitos noviços e noviças.
Nesta época, as pessoas que formavam a primeira mesa da Ordem eram as pessoas mais importantes da Vila de Nossa senhora do Desterro. O Ministro era o governador da Ilha.
A Ordem não possuía igreja e rezava seus cultos em uma capela junto a matriz.
Nossa Senhora do Desterro - Século XIX

D. José
No ano de 1754, o imigrante português Domingos Francisco de Araújo, doou o terreno para a Ordem construir sua própria igreja. No ano de 1802, foi solicitado a permissão para a construção do templo religioso ao Rei português D. José, que o deu. A pedra fundamental foi lançada no dia 25 de maio de 1803, quando iniciou  a construção de fato, do templo. A região onde foi construída a igreja era conhecido como o bairro da Figueira, que estava ligado aos bairros Tronqueira e Toca - não muito bem visto na vila.
"O bairro da Figueira não causava boa impressão aos que chegavam à Ilha, principalmente pelas ruas paralelas à praia e o lado oeste à praça havia fachadas de costas para o mar, com seus cais e aterros reforçando a disposição de locar os quintais e fundos para as marinas, onde eram reveladas as funções dos habitantes, que eram marinheiros, estivadores e mercadores ao mesmo tempo em que a parte mais nobre, voltada para a rua, tinha o caráter mais comercial e aspecto urbanizado." Letícia da Silva Gondim - link de seu trabalho no final desta postagem.
É comum o galo nos telhados das construções na Alemanha.
 A igreja foi construída em etapas. No ano de 1804 foram adquiridos suas aberturas de madeira e no ano de 1819, seus sinos. A Igreja foi inaugurada mais de um século depois do início de sua construção. Foi inaugurada no ano de 1915. 
A Igreja, ficou conhecida como a "Igreja do galo" - pois possui um catavento na forma de galo em cada uma de suas torres - adorno muito comum, nas construções europeias, de outros tempos, mesmo que o catavento tenha sido criado na China, cujo registro reporta a 139 AC.
O catavento quase sempre tem a forma tradicional do galo com letras indicando os pontos da bússola. Quando o vento é suficientemente forte, a cabeça do galo indicará a direção a partir da qual o vento está soprando - Próximo à Igreja de São Francisco da Penitência deve ter indicado muito o característico "Vento Sul" da Ilha de Santa Catarina.

De acordo com a pesquisadora Gondim, passou por algumas reformas, sendo que nós presenciamos a última iniciada no ano de 2012 - e faremos comentários. 
2012



 Foi providenciada esta reforma, cujo contrato de cooperação financeira foi assinado pelo governador do Estado de Santa Catarina em 2012, porque haviam  inúmeras infiltrações nos telhados, nas torres e nas paredes.  O Estado de Santa Catarina, em uma primeira etapa, repassou R$ 2,4 milhões para garantir  a reparação emergencial, segundo publicação da mídia escrita local.
De modo geral, a igreja mantém suas características arquitetônicas originais - com ressalvas, mesclando os estilos barroco e neoclássico - com o decorativismo do rococó. 
Está localizada na Rua Deodoro, 135 -  esquina com a Rua Felipe Schmidt no centro da cidade.



obra de restauração  foi inciada no ano de 2012. Trabalharam na equipe de restauro, 26 restauradores que trabalham nos mobiliários, altares e nas 45 imagens sacras. O custo final foi de aproximadamente R$ 6,9 milhões.
Fotografamos a igreja, antes e depois, do restauro e sentimos que faltava alguma coisa. Ao observarmos as fotografias, concluímos que foi a troca das cores internas. Antes do restauro havia a composição do azul e branco - tradicional e presente nos casarios e templos religiosos do Brasil colonial. Também modificaram as cores dos altares e pedestais, com características da arte sacra do Rococó, do início do Século XX, onde há a predominância do dourado e o branco, integrados a linhas barrocas.
Os trabalhos de restauro foram findados no mês de dezembro de 2018. No dia 13 de dezembro foi apresentada à comunidade através de uma missa rezada pelo arcebispo metropolitano Dom Wilson Tadeu Jönkis.
A Igreja será reinaugurada no ano de 2019. Ela já está aberta à comunidade - com missas diárias (De segunda à sexta feiras) às 18:00h, aos sábados - às 16:00h e aos domingos - às 10:00h da manhã.
Um dos responsáveis pelo restauro da Igreja foi o Frei Gunther Max Walzer que disse em entrevista, ao jornal Notícias do Dia - 12 de dezembro de 2019 -  que o investimento para a restauração da igreja foi custeado pelo Estado de Santa Catarina, através da Secretaria do Estado Esporte Cultura e Lazer.

As imagens Comunicam...
Fotografias de 2011










Fotografias de 2019
















A cor é um elemento de extrema importância na composição arquitetônica. Na composição da Arquitetura histórica, mais ainda.
Quando observávamos a Igreja São Francisco da Penitência - uma das mais antigas de Nossa Senhora do Desterro - capital de Santa Catarina e do estado - sentimos que não emanava a energia de outrora
Observamos e não conseguimos detectar no momento, o que estava destoando.

Lembramos de nossa visita de 2011 e do levantamento fotográfico. Também lembramos, que há um ano atrás, não pudemos fazê-lo, porque esta estava em processo de "restauro".
As construções açorianas coloniais tem como uma de suas características o uso da cor branca - conseguida a partir de paredes caiadas, feitas com cal obtida de mariscos, de pedra ou tubatinga. 
As aberturas e detalhes eram coloridos a partir de uma mistura que resultavam nas cores anil ou índigo (No caso a igreja São Francisco da Penitência), o "sangue"- vermelho - (adquirida do urucu), a "açafroa" - amarelo - , a "braúna" - o preto, o "ipê e a cochonilha - cor de rosa
Não existia a cor "bege" colocada na  Igreja São Francisco da Penitência, no seu último "restauro". 
Também percebemos a descaracterização do decorativismo - rococó, presente nos pedestais originais - em tons branco e dourado - estilo característico - originário no início do século XVIII.
A cor usada, após o restauro, foi a cor da tendência da decoração atual - no período que foi efetuado o "restauro" 2012/2017- Tons pastéis e bege.
Perdeu a essência histórica.
Para ilustrar o que falamos sobre a Igreja de São Francisco da Penitência - apresentamos alguns registros fotográficos que fizemos no complexo do Santuário do Caraça - Minas Gerais - onde a Arquitetura histórica - também de natureza religiosa e de origem portuguesa - tem as características que mencionamos.
Também o altar do templo mineiro apresenta linhas, cores e detalhes característicos do Rococó.
























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Contribuição Via Rede Sociais

Dia 7 de janeiro de 2019
Carolina Bayer
"Bacana a divulgação do assunto que envolve a preservação histórica da cidade de Florianópolis.
Mas gostaria de fazer uma crítica para talvez somar na interpretação do assunto.
Nas suas considerações finais colocas que:

'A cor usada, após o restauro, foi a cor da tendência da decoração atual - no período que foi efetuado o "restauro" 2012/2017- Tons pastéis e bege.Perdeu a essência histórica.'
...o restauro realizado não criou algo a partir do nada como se numa atividade artística, por que a igreja deixou de ser azul.
Precisa haver cuidado com isso. A igreja São Francisco inicialmente em sua construção sempre e sempre foi marrom. A primeira camada observada nas prospecções é de tinta a óleo marrom. Da para observar isso nos pilares que são originais e com motivos decorativos. Essa é a cor dos franciscanos, ordem antiga que essa igreja segue.
A igreja passou a ser azul somente por volta da década de 1970+- com muitos galões de tinta plástica/acrílica azul que foram comprados nas lojas de pintura arredores.
Se o restauro atual colocou a cor marrom, não foi por tendência atual, essa era a cor que estava em baixo da camada de tinta plástica azul. Muitas igrejas foram pintadas de azul por volta da década 70.
Até a presente restauração a igreja passou no século XX por 'melhorias' que não passaram de repinturas sem critérios de preservação patrimonial.
O arquivo da igreja São Francisco possui até hoje notas fiscais da compra de tintas no período de 70, 80, 90. E as prospecções que muitas o público pode observar em Nova visita, pode notar que a cor original era a marrom. A essência histórica foi preservada na remoção das tintas plásticas, purpurinas etc e deixando o que era original. Precisa ter cuidado na Nova leitura da igreja, talvez não agrade os fiéis que tem lembrança afetiva dos últimos 60 anos da igreja, mas o restauro traz o século 19."
O nosso comentário, sobre a cor original foi feito, considerando a colocação, feita não na década de 70, mas originalmente, no início do Século XIX. As colocações eram limitadas a partir de pigmentos naturais, e por isto característico na arquitetura feita neste tempo. Entre estas cores,, não existia o bege. Agradecemos muito tua explicação e retorno. Abraço grande .



Referências (Clicar sobre o título escolhido)
  1. A “Ordem” é Restaurar: Intervenções sobre a Igreja São Francisco da Penitência (1970-2000)
  2. Uma voltinha em Nossa Senhora do Desterro...
  3. Um simbolo - A ligação entre dois extremos no Estado de Santa Catarina - a Figueira
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