Igreja São Francisco da Penitência - 2019. |
Uma parte da história materializada na paisagem da cidade como um dos principais monumentos da Arquitetura Religiosa - na capital do Estado de Santa Catarina - Nossa Senhora do Desterro é a Igreja São Francisco da Penitência.
Registramos o seu interior, através de imagens, nos anos de 2011 e de 2019, após ter passado por um processo de restauro.
A igreja histórica pertence à Ordem Terceira da Penitência, como era conhecida a Ordem Terceira de São Francisco. Esta é a Confraria religiosa mais antiga na Ilha de Santa Catarina, a qual foi instalada na povoação no ano de 1745, pelo Frei Alexandre de Santa Cruz. A solicitação para a instalação foi efetuada pelos Oficiais da Câmara da Vila diretamente ao Convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro, a qual foi atendida, com a determinação de que fossem aceitos noviços e noviças.
Nesta época, as pessoas que formavam a primeira mesa da Ordem eram as pessoas mais importantes da Vila de Nossa senhora do Desterro. O Ministro era o governador da Ilha.
A Ordem não possuía igreja e rezava seus cultos em uma capela junto a matriz.
Nossa Senhora do Desterro - Século XIX |
D. José |
No ano de 1754, o imigrante português Domingos Francisco de Araújo, doou o terreno para a Ordem construir sua própria igreja. No ano de 1802, foi solicitado a permissão para a construção do templo religioso ao Rei português D. José, que o deu. A pedra fundamental foi lançada no dia 25 de maio de 1803, quando iniciou a construção de fato, do templo. A região onde foi construída a igreja era conhecido como o bairro da Figueira, que estava ligado aos bairros Tronqueira e Toca - não muito bem visto na vila.
"O bairro da Figueira não causava boa impressão aos que chegavam à Ilha, principalmente pelas ruas paralelas à praia e o lado oeste à praça havia fachadas de costas para o mar, com seus cais e aterros reforçando a disposição de locar os quintais e fundos para as marinas, onde eram reveladas as funções dos habitantes, que eram marinheiros, estivadores e mercadores ao mesmo tempo em que a parte mais nobre, voltada para a rua, tinha o caráter mais comercial e aspecto urbanizado." Letícia da Silva Gondim - link de seu trabalho no final desta postagem.
É comum o galo nos telhados das construções na Alemanha. |
A Igreja, ficou conhecida como a "Igreja do galo" - pois possui um catavento na forma de galo em cada uma de suas torres - adorno muito comum, nas construções europeias, de outros tempos, mesmo que o catavento tenha sido criado na China, cujo registro reporta a 139 AC.
O catavento quase sempre tem a forma tradicional do galo com letras indicando os pontos da bússola. Quando o vento é suficientemente forte, a cabeça do galo indicará a direção a partir da qual o vento está soprando - Próximo à Igreja de São Francisco da Penitência deve ter indicado muito o característico "Vento Sul" da Ilha de Santa Catarina.
De acordo com a pesquisadora Gondim, passou por algumas reformas, sendo que nós presenciamos a última iniciada no ano de 2012 - e faremos comentários.
2012 |
Foi providenciada esta reforma, cujo contrato de cooperação financeira foi assinado pelo governador do Estado de Santa Catarina em 2012, porque haviam inúmeras infiltrações nos telhados, nas torres e nas paredes. O Estado de Santa Catarina, em uma primeira etapa, repassou R$ 2,4 milhões para garantir a reparação emergencial, segundo publicação da mídia escrita local.
De modo geral, a igreja mantém suas características
arquitetônicas originais - com ressalvas, mesclando os estilos barroco e neoclássico - com o decorativismo do rococó.
Está localizada na Rua Deodoro, 135 - esquina com a Rua Felipe
Schmidt no centro da cidade.
A obra de restauração foi inciada no ano de 2012. Trabalharam na equipe de restauro, 26 restauradores que trabalham nos mobiliários, altares e nas 45
imagens sacras. O custo final foi de aproximadamente R$ 6,9 milhões.
Fotografamos a igreja, antes e depois, do restauro e sentimos que faltava alguma coisa. Ao observarmos as fotografias, concluímos que foi a troca das cores internas. Antes do restauro havia a composição do azul e branco - tradicional e presente nos casarios e templos religiosos do Brasil colonial. Também modificaram as cores dos altares e pedestais, com características da arte sacra do Rococó, do início do Século XX, onde há a predominância do dourado e o branco, integrados a linhas barrocas.
Os trabalhos de restauro foram findados no mês de dezembro de 2018. No dia 13 de dezembro foi apresentada à comunidade através de uma missa rezada pelo arcebispo metropolitano Dom Wilson Tadeu Jönkis.
A Igreja será reinaugurada no ano de 2019. Ela já está aberta à comunidade - com missas diárias (De segunda à sexta feiras) às 18:00h, aos sábados - às 16:00h e aos domingos - às 10:00h da manhã.
Um dos responsáveis pelo restauro da Igreja foi o Frei Gunther Max Walzer que disse em entrevista, ao jornal Notícias do Dia - 12 de dezembro de 2019 - que o investimento para a restauração da igreja foi custeado pelo Estado de Santa Catarina, através da Secretaria do Estado Esporte Cultura e Lazer.
As imagens Comunicam...
Fotografias de 2011
Fotografias de 2019
A cor é um elemento de extrema importância na composição arquitetônica. Na composição da Arquitetura histórica, mais ainda.
Quando observávamos a Igreja São Francisco da Penitência - uma das mais antigas de Nossa Senhora do Desterro - capital de Santa Catarina e do estado - sentimos que não emanava a energia de outrora.
Observamos e não conseguimos detectar no momento, o que estava destoando.
Lembramos de nossa visita de 2011 e do levantamento fotográfico. Também lembramos, que há um ano atrás, não pudemos fazê-lo, porque esta estava em processo de "restauro".
As construções açorianas coloniais tem como uma de suas características o uso da cor branca - conseguida a partir de paredes caiadas, feitas com cal obtida de mariscos, de pedra ou tubatinga.
As aberturas e detalhes eram coloridos a partir de uma mistura que resultavam nas cores anil ou índigo (No caso a igreja São Francisco da Penitência), o "sangue"- vermelho - (adquirida do urucu), a "açafroa" - amarelo - , a "braúna" - o preto, o "ipê e a cochonilha - cor de rosa.
Não existia a cor "bege" colocada na Igreja São Francisco da Penitência, no seu último "restauro".
Também percebemos a descaracterização do decorativismo - rococó, presente nos pedestais originais - em tons branco e dourado - estilo característico - originário no início do século XVIII.
A cor usada, após o restauro, foi a cor da tendência da decoração atual - no período que foi efetuado o "restauro" 2012/2017- Tons pastéis e bege.
Perdeu a essência histórica.
Para ilustrar o que falamos sobre a Igreja de São Francisco da Penitência - apresentamos alguns registros fotográficos que fizemos no complexo do Santuário do Caraça - Minas Gerais - onde a Arquitetura histórica - também de natureza religiosa e de origem portuguesa - tem as características que mencionamos.
Também o altar do templo mineiro apresenta linhas, cores e detalhes característicos do Rococó.
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Contribuição Via Rede Sociais
Dia 7 de janeiro de 2019
Carolina Bayer
"Bacana a divulgação do assunto que envolve a preservação histórica da cidade de Florianópolis.
Mas gostaria de fazer uma crítica para talvez somar na interpretação do assunto.
Nas suas considerações finais colocas que:
'A cor usada, após o restauro, foi a cor da tendência da decoração atual - no período que foi efetuado o "restauro" 2012/2017- Tons pastéis e bege.Perdeu a essência histórica.'...o restauro realizado não criou algo a partir do nada como se numa atividade artística, por que a igreja deixou de ser azul.
Precisa haver cuidado com isso. A igreja São Francisco inicialmente em sua construção sempre e sempre foi marrom. A primeira camada observada nas prospecções é de tinta a óleo marrom. Da para observar isso nos pilares que são originais e com motivos decorativos. Essa é a cor dos franciscanos, ordem antiga que essa igreja segue.
A igreja passou a ser azul somente por volta da década de 1970+- com muitos galões de tinta plástica/acrílica azul que foram comprados nas lojas de pintura arredores.
Se o restauro atual colocou a cor marrom, não foi por tendência atual, essa era a cor que estava em baixo da camada de tinta plástica azul. Muitas igrejas foram pintadas de azul por volta da década 70.
Até a presente restauração a igreja passou no século XX por 'melhorias' que não passaram de repinturas sem critérios de preservação patrimonial.
O arquivo da igreja São Francisco possui até hoje notas fiscais da compra de tintas no período de 70, 80, 90. E as prospecções que muitas o público pode observar em Nova visita, pode notar que a cor original era a marrom. A essência histórica foi preservada na remoção das tintas plásticas, purpurinas etc e deixando o que era original. Precisa ter cuidado na Nova leitura da igreja, talvez não agrade os fiéis que tem lembrança afetiva dos últimos 60 anos da igreja, mas o restauro traz o século 19."
O nosso comentário, sobre a cor original foi feito, considerando a colocação, feita não na década de 70, mas originalmente, no início do Século XIX. As colocações eram limitadas a partir de pigmentos naturais, e por isto característico na arquitetura feita neste tempo. Entre estas cores,, não existia o bege. Agradecemos muito tua explicação e retorno. Abraço grande .
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