segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Casarão Gums - Um pouco da História de Lontras SC

Casarão Gums - Lontras, pertencente ao neto e esposa de seu construtor, Claucir e Rose Gums, que o mantém sua arquitetura original.
Em nossas pesquisas no Alto Vale do Itajaí, passamos por um município importante para a história local e regional. Este foi desmembrado de Rio do Sul que por sua vez, foi desmembrado de Blumenau, localizado no Caminho dos Pioneiros e se chama Lontras, em função de um conhecido mamífero muito conhecido da fauna local

Localização

Quando lecionamos no curso da Arquitetura e Urbanismo da UNIDAVI, foi o sítio estudado e que recebeu proposta em um dos trabalhos de TCC, orientados por nós, onde também tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre sua história.
A região de Lontras também foi importante na construção da Serrastrasse. Nesse local Hermann Blumenau providenciou um centro de apoio à equipe que se deslocava para a frente de trabalho.
Construiu um galpão de pau-a-pique coberto de folhas de palmeiras, com uma pequena roça e pastagens, onde foi  colocado um morador que tinha como tarefa, cuidar das mulas que ficariam no pasto, dos equipamentos, do local e das canoas.

Para o local da construção do rancho-depósito e inclusive a formação da pastagem, Odebrecht escolheu uma baixada aluvial razoavelmente plana, no lado direito do rio Itajaí. Trata-se da várzea pela qual hoje passa o acesso de Lontras à BR 470, próxima da atual ponte de concreto armado. Esta foi a primeira grande derrubada de mato, a primeira construção e a primeira pastagem do Alto Vale. ODEBRECHT, 2013.

Em 1868, Blumenau providenciou a derrubada e alguns meses mais tarde foi feita a queimada, coivara, a construção do galpão e aproximadamente em agosto/setembro o plantio da pastagem. Por aproximadamente 10 anos, homens contratados por Blumenau trabalharam na construção da estrada Blumenau-CuritibanosSerrastrasse e denominada pelos pioneiros de Truppenweg (Caminho das Tropas). Lembramos que o território que seria Rio do Sul, estava nesse caminho de construção da infra estrutura e é claro que nesse tempo, famílias oriundos da Colônia Blumenau, sob orientação do fundador, se fixaram no local. Lontras se encontrava, portanto, no traçado da primeira picada aberta, que depois se transformou em estrada carroçável. criando o Caminho do Colonizadores. 
Foi o caminho natural de famílias de imigrantes, da Colônia Blumenau que se deslocavam em direção ao Alto Vale. Algumas família permaneceram no local, como os Steffens,  Hager, Danker, Wolf, Schroeder, Haare, Ewald,  Christen, entre outros. A colonização, oficialmente,  teve início por volta de 1898.
Mapa da Colônia Blumenau - ano de 1905 - Feito por José Deeke.
Estação da EFSC - Lontras SC
No início do século XX, Lontras fez parte do traçado da ferrovia EFSC, trecho terminal em Lontras, inaugurado em 1929, junto com sua estação ferroviária.
Seu patrimônio ferroviário sofreu avarias. 
Seu traçado até Rio do Sul, através de uma picada vem sendo recuperado através de iniciativas da administração pública dos dois municípios e também, através do trabalho de voluntários.
Uma curiosidade: durante a construção da EFSC e que aconteceu durante uma inspeção. Em 28 de agosto de 1888, uma comissão coordenada pelo engenheiro Vitorino de Paula Ramos inspecionou o trecho em obras, na localidade. Este ficou impressionado com a agilidade da execução do trabalho de Gottlieb Reif, uma das personalidades históricas da região - de Itajaí a Pouso Redondo. Elogiou a atuação do pioneiro que foi contratado por 18 contos de réis (equivalente ao atual valor de R$ 2.214.000,00), livre de outras despesas para o Governo. 
Em 1922, o engenheiro Breves Filho apresentou a nova proposta para o entroncamento de Subida desconsiderando o projeto original dos alemães. As obras iniciaram em 1923. O escritório de comando foi instalado em Lontras. A partir de 1929, os trabalhos da ferrovia seguiram rumo a Rio do Sul, passando por Matador, que foi inaugurada no dia 18 de dezembro de 1933, quatro anos após a inauguração do trecho Subida–Lontras. 
Em 21 de agosto de 2021, conhecemos uma trilha recuperada, o acesso ao antigo leito ferroviário existente. Antes de iniciarmos o trajeto, estivemos na estação de Matador - localizada em Rio do Sul onde há alguns anos vem sendo feito um trabalho de resgate, dentro do projeto da Tremtur e as administrações das cidades envolvidas - Lontras e Rio do Sul. Neste local conversamos com o atual Presidente da Tremtur Marciano Pereira e a voluntária Jéssica Duarte, que participaram de nosso trajeto, até as pontes 16 e 15 e responsáveis pela, juntamente com outros voluntários e as administrações públicas, pela acessibilidade resgatada através do antigo leito ferroviário, neste local que fazia parte da EFSC, até locais, até bem pouco tempo, inacessíveis.
A Ferrovia no Vale do Itajaí. A localização das estações e infraestrutura ferroviárias da EFSC. Mais ou menos o trajeto que fizemos a pé e de carro. Fonte: Fundação Indaialense de Cultura.
Mapa da EFSC de 1965 - onde estão locadas as principais estações ferroviárias - onde está destacada a estação da cidade de Rio do Sul.
Lontras - Casa do chaveiro - demolida 2019.



O município de Lontras foi criado em 19 de dezembro de 1961 pela lei Nº 791. Sua instalação aconteceu em 30 de dezembro de 1961.
Em 7 de abril de 2018, durante pesquisa no Alto Vale do Itajaí, passamos por Lontras e nos deparamos com um casarão verde, de dois pavimentos, muito bem cuidado por um jovem casal. Casarão dotado de uma tipologia diferenciada, rica em detalhes que despertou nossa atenção. Chamaremos de Casarão Gums, uma vez que foi construído por Ricardo Gums e sua esposa Linda Gums, solteira pertencia a família Strehlow de de Rio do Sul.
Paramos e conversamos com Rose Gums, esposa de Claucir Gums, neto de Ricardo e Linda. Quando os avós ainda eram vivos e moravam na casa, Claucir e Rose residiam na casa à frente, do outro lado da rua,  Rua Paulo Alves do Nascimento -  centralidade de Lontras.
Antiga residência de Claucir e Rose.
Foi inevitável não registrar, com a permissão de Rose e Claucir, o bom exemplo, que as imagens confirmam. Exemplo que destoa do que acontece em toda a região, de uma maneira geral. Quase sempre, quando a descendência herda um imóvel histórico, demole, vende o que há no seu interior junto com a história de sua família e se constrói no local, algo com gosto duvidoso, impactando de maneira direta, na paisagem da cidade. Há exceções.
Lontras possui esse exemplo, no tempo presente que poderá ser seguido, não somente por residentes da cidade, mas também de toda a região da antiga Colônia Blumenau, do Estado de Santa Catarina e do país.

Restauro feito pelo casal Rose e Claucir - neto do primeiro proprietário

Restauro 
aconteceu entre setembro de 2003 até setembro de 2004 e estará completando 20 anos em 2024.

















As imagens Comunicam...

O casarão possui planta quadrada, com a presença da mansarda, que é o sótão utilizável munido de aberturas, e o "Keller', o porão, junto aos dois pavimentos. A presença do porão permite que o primeiro pavimento esteja localizado bem acima do solo, sendo que o acesso a este é feito por uma monumental escada lateral que liga a rua a uma varanda ornada com grandes pilares redondos. A cobertura é formado por 4 águas, com estrutura de madeira coberto por telhas cerâmicas.
Detalhe na fachada frontal.
O pavimento superior - ala dos quartos e área intima - é dotado de uma sacada embutida no corpo da casa, com guarda corpo saliente  e com forma arredondada. As janelas superiores são de madeira e com duas folhas de abrir envidraçadas, também são dotadas de folhas de veneziana. 
O pavimento térreo contém janelas de madeira, duas folhas de abrir envidraçadas, com bandeira, também com duas folhas de abrir, envidraçadas. Na fachada frontal, no lado esquerdo, há um ornamento que cria o equilibro visual mediante a ausência da simetria, a partir da disposição das aberturas.
O "cercado" também é o original construído junto com a casa.






























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Interior do Casarão Gums


Janela da mansarda/sótão.























Quadro bordado com ponto gobelin.


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Um Registro para a História.

Leituras complementares - Clicar sobre o título:
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twiter)

 



Em construção...









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