Iniciamos o ano de 2024 e há exatos 40 anos acontecia a primeira edição do Festival de Verão, em Blumenau. O festival surgiu naturalmente em resposta à demanda do público que frequentava o litoral catarinense, oriundo de outras regiões do Brasil que poderiam conhecer as cidades do Vale do Itajaí e sua peculiar e distinta cultura, suas práticas e seus produtos locais e regionais.
Como conhecemos a história do Festival de Verão?
Em 29 de outubro de 2018 entrevistamos Marga Holtzmann Nunes – esposa de Antônio Pedro Nunes – Secretário de Turismo de Blumenau, o idealizador do Oktoberfest Blumenau, cuja primeira edição aconteceu em outubro de 1984, sendo que esta estava preparada desde 1983.
No meio de mais de uma hora de entrevista gravada, registramos algo muito curioso, fato que poucos conhecem e era inédito para nós.
Quem idealizou e implantou o Festival de Verão, evento que deu origem à Sommerfest Blumenau, também foi o ex-secretário de Turismo de Blumenau, Antônio Pedro Nunes e sua primeira edição – na época aconteceu no mês de janeiro de 1984, depois da grande enchente de 1983, antes de acontecer a enchente de 1984 e também, antes de acontecer a grande festa de outubro, em Blumenau.
A primeira edição do Festival de Verão aconteceu no Pavilhão da PROEB e no C.C. 25 de Julho de Blumenau. Local de exposições de produtos e parte dos ambientes destinados à gastronomia estavam na PROEB e as apresentações culturais aconteciam no C.C. 25 de Julho de Blumenau. O presidente do centro cultural, no período, era Harold Letzow, assessor do secretário de turismo Antônio Pedro Nunes na Secretaria de Turismo.
A primeira edição do Festival de Verão contou com o apoio de empresas locais e regionais e também, contou com o apoio de entidades ligadas às práticas culturais locais e regionais. As primeiras edições do Festival de Verão receberam a visita de figuras conhecidas do meio artístico nacional.
Local das duas primeiras edições do Festival de Verão – Pavilhão da PROEB, depois ficou conhecido como Pavilhão A da Oktoberfest Blumenau. |
O evento contou com a presença de artistas nacionalmente conhecidos. |
Esposa de Chico Anísio, Alcione Mazzeo e o filho do casal, Bruno Mazzeo. |
No vídeo seguinte, parte da entrevista de Marga Nunes Holzmann, em que a entrevistada apresenta a história e a origem do Oktoberfest Blumenau, bem como a confirmação de que Nunes foi o autor da primeira edição da Sommerfest – só que com o nome Festival de Verão.
Quando Marga menciona “Ele” está se referindo a Antônio Pedro Nunes.
Há registro das duas primeiras edições do Festival de Verão – anos de 1984 e 1985. De acordo com Marga, o objetivo do evento era “abrir a sala de visitas” de Blumenau àqueles visitantes que se encontravam no litoral catarinense e desejassem conhecer Blumenau, sua gente, identidade cultural, arquitetura, gastronomia, produtos regionais e cultura.
Foi constatada a presença maciça da imprensa na abertura da primeira e na segunda edições do Festival de Verão, a qual, igualmente efetuou registros para a história. Muitos destes jornalistas que estiveram trabalhando no evento, ainda estão atuando na cidade de Blumenau no tempo presente, portanto, conhecem essa história.
As primeiras edições dessa festa blumenauense de verão, inicialmente denominada Festival de Verão, e depois Sommerfest, ao contrário do que vem ocorrendo nas últimas edições, possuíam uma solenidade de abertura, com a presença de autoridades políticas e culturais e depoimentos, recepcionando os visitantes de outras regiões do estado e do país.
Essa prática valorizava o momento festivo cultural e lhe conferia, como acontece em eventos similares na Alemanha, a oficialidade e valorização da presença do visitante, principalmente aqueles de outras cidades.
A abertura era efetivada com o descerramento da fita.
Festival de Verão 1984
Descerrando a faixa da primeira edição do Festival de Verão, em janeiro de 1984 - há 40 anos. |
Uma das senhoras no evento é Marga Holtzmann Nunes, esposa do Secretário de Turismo Antônio Pedro Nunes. |
Homenageadas. |
Apresentações culturais do Festival de Verão no espaço do C.C. 25 de Julho de Blumenau. |
Também - o registro da presença de Rikobert Döring, fundador da Banda Cavalinho Branco fazendo música há 40 anos. |
Aguardando o início do evento junto ao acesso principal do Pavilhão da PROEB. |
Discurso do Secretário de Turismo Antônio Pedro Nunes durante a abertura da segunda edição Festival de Verão após a realização da primeira edição do Oktoberfest Blumenau, em outubro de 1984. |
"Esse Vovô Chopão do Festival de Verão de 1985 era interpretado pelo saudoso Carlos Jardim, o primeiro Vovô ao vivo da história..." 9 de janeiro de 2024, Publicitário Luiz Cé.
Abertura da segunda edição do Festival de Verão em Blumenau – 1985. |
Acesso ao espaço das exposições de produtos regionais. |
Praça de alimentação - Gastronomia. |
Na mesa, chope, salsichas e chucrute. |
Secretário de Turismo de Blumenau com convidados na praça de alimentação, junto com os visitantes. |
Secretário de Turismo de Blumenau com convidados na praça de alimentação, junto com os visitantes. |
Setor de exposições com produtos da região. |
Palco de apresentações culturais, incluindo teatro. |
Setor de exposições de produtos locais e regionais – local da Secretaria de Turismo de Blumenau. |
São passados 40 anos, desde que surgiu a primeira edição do Festival de Verão e 19 anos do lançamento da primeira Sommerfest, que já vinha sendo desprovida do cerimonial de abertura e se transformando em ambiente de experimentos, abrindo espaço para repertórios regionais de outros locais do Brasil, sob o argumento de que as pessoas assim o solicitavam.
Após 40 anos da edição do primeiro Festival de Verão idealizado pelo Secretário de Turismo Antônio Pedro Nunes durante a administração do ex-prefeito de Blumenau Dalto dos Reis, evento que depois passou a se chamar Sommerfest. Neste ano de 2024, também não será mais chamado assim.
Em 2024, quando são lembrados e comemorados os 200 anos da imigração alemã no Brasil, o Festival de Verão se chamará Sommer Festival.
Logo apresentada, do evento Sommer Festival. |
A organização denomina isso de “inovação”, sendo que a tradição e a cultura que dão identidade a um povo são conhecidas por sua atemporalidade.
Tomemos como exemplo a capital da Bahia, que foi a primeira capital do Brasil – Salvador. Com um perfil cultural muito bem definido a partir de seu status de primeira capital do Brasil até os dias atuais ou desde o Brasil Colônia, não permite que se toque outra melodia, a não ser aquela que anima as residências daquela cidade. Recebe turistas dos quatro quadrantes do Planeta para usufruir sua musicalidade, gastronomia e cultura.
As pessoas que chegam a Salvador podem participar da lavação das escadarias do Bonfim vestidas de branco, dançar capoeira, independentemente de qual lugar no mundo seja a sua origem. Ninguém questiona ou tenta tocar outro estilo em cima de um daqueles caminhões sonorizados. É, e pronto. Exemplo.
As pessoas que visitam Blumenau, não virão para ouvir a melodia tocada em suas próprias cidades.
Ewald Müller foi Comandante do Caça e Tiro – Schützenverein – Badenfurt e Cantou no Coro Masculino Liederkranz até falecer, com mais de 90 anos. Praticava a cultura de seus antepassados, durante toda a sua vida. |
A Sommerfest nunca recebeu a denominação oficial de “Oktoberfest de Verão”, usada erroneamente pelos visitantes e leigos, que também chamam a Oktoberfest Blumenau de carnaval, o que não é. E esse fato não revela o conceito como verídico. Afirmativa parte da argumentação para “a inovação”, usada pela organização do evento repaginado – denominado Sommer Festival.
Lembramos desse texto publicado 5 anos após a primeira edição da Oktoberfest Blumenau e já sem a presença de seu idealizador – Ano de 1989. |
Argumenta-se, no site da Prefeitura Municipal de Blumenau, que a “mudança de nome é o resultado de uma ampla reformulação do conceito do evento, para se tornar muito mais do que um aperitivo para a Oktober, mas um grande festival de música, com atrações nacionais de peso em três dias que prometem agitar Blumenau.”
Aperitivo para a Oktober? Agitar Blumenau?
Não era definitivamente esse o objetivo quando se criou e aconteceu a primeira edição do Festival de Verão, há 40 anos, quando sequer havia acontecido a primeira edição da Oktoberfest Blumenau. Mas sim, o de “abrir a casa” para o visitante veranista do litoral conhecer Blumenau, seus produtos, sua gente, sua cultura, tal como acontece na cidade de Salvador.
Em 2024, ano em que são comemorados e serão amplamente lembrados os 200 anos da imigração alemã no Brasil, cria-se o Sommer Festival de Blumenau, agendada para os dias 1º, 2 e 3 de fevereiro deste ano, com destaque para os shows de artistas de outras regiões do Brasil e DJs no pavilhão Munique, conforme a programação abaixo.
“Tradicionalmente, o litoral catarinense recebe muitos turistas nesta época do ano. Com essa reformulação, vamos entrar definitivamente na rota dos grandes eventos do verão". Mário Hildebrandt, prefeito de Blumenau.
No mesmo texto de divulgação, a organização ressalta que no Spaten Platz, Setor 4 da Vila Germânica, haverá a participação de grupos da região com apresentações de música, dança e brincadeiras. “A gastronomia típica também segue com seu lugar garantido, em um food park que será montado exclusivamente para o festival. Haverá um espaço destinado para bandas locais.”
O que deveria ser o foco e a atração da cidade de Blumenau para o visitante, lembrando que ela faz parte dessa história que envolve as comemorações dos 200 anos de imigração alemã no Brasil?
Uma propriedade de imigrante alemão semelhante a centenas que existiam em Blumenau e região, na virado do século XIX para o século XX. |
Um registro para a História.
Referências
- Parque Vila Germânica. Sommerfest agora é Sommer Festival. Postada em 08/12/2023 18:30. Disponível em: https://www.blumenau.sc.gov.br/governo/parque-vila-germanica/parque-vila-germanica/sommerfest-agora-ae-sommer-festival17 . Acesso em: 9 de janeiro de 2023 - 00h39.
- Manual do Turista. Bahia, festas e tradições. Disponível em: https://manualdoturista.com.br/bahia-festas-e-tradicoes/. Acesso: 9 de janeiro de 2024, 00:45.
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Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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