Geralmente, em várias cidades do sul do país, é neste dia que, muito respeitosamente, são prestadas homenagens aos imigrantes alemães, seus descendentes e à cultura, a qual herdamos - homenagens às famílias e a seus filhos que saíram de suas cidades e casas, na Alemanha, para construir uma nova vida em um jovem país distante, para o qual também vieram imigrantes de inúmeras outras nacionalidades e em tempos distintos, dentro de sua história - a História do Brasil.
Etnias que também imigraram para cá, como: Portugueses, espanhóis, franceses, italianos, poloneses, japoneses, chineses, coreanos, australianos, africanos, americanos, canadenses, ucranianos e alemães, entre outras, e é no dia 25 de julho que é comemorada e lembrada a vinda do primeiro grupo de imigrantes alemães, de maneira organizada.
Comunidade Ilse - Indaia/Ascurra - existe ainda nos dias atuais. Mesma arquitetura deste tempo da fotografia. |
Etnias que também imigraram para cá, como: Portugueses, espanhóis, franceses, italianos, poloneses, japoneses, chineses, coreanos, australianos, africanos, americanos, canadenses, ucranianos e alemães, entre outras, e é no dia 25 de julho que é comemorada e lembrada a vinda do primeiro grupo de imigrantes alemães, de maneira organizada.
Rostos do Brasil - feito a partir de imigrantes e indígenas - não imigrantes. |
No início do Século XIX, a região sul era um problema de segurança e infra estrutura para o governo central brasileiro recém liberto de Portugal. A região fazia parte de constantes disputas de terras entre, principalmente, portugueses e espanhóis e era pouco desenvolvido e povoado, comparada às regiões sudeste e nordeste do país.
Em 1822, quando o Brasil se libertou de Portugal, o governo brasileiro investiu em propaganda para promover a imigração para o Brasil, principalmente a alemã e italiana. A Europa, neste período, estava passando por uma série de conflitos e revoluções - final do Século XVIII e início do Século XIX.
O Brasil não dispunha de um exército para manter sua segurança nacional a partir de seu continental território, principalmente na região sul, que estava sob constantes ameaças em suas fronteiras - investidas das tropas espanholas. Por questões de segurança, não podia confiar nos portugueses que vivam na região. O governo brasileiro, encontrou uma saída. Através de propaganda de convencimento na Europa, propagava as vantagens do novo país, entre estes: o direito à terra, paz e alimento em abundância. Ofereceu vantagens (Nem sempre cumpridas) às famílias interessadas a residir no sul do Brasil, como: passagens, direito à cidadania, isenção de impostos e direito a posse de uma ou duas colônias de terras (24 a 48 ha). O objetivo era que estas famílias, principalmente alemãs e italianas, ocupassem a terra e os homens servissem no exército de reserva para manter a segurança da região sul, principalmente contra os espanhóis.
Passagem de uma família que imigrou no início do Século XX - Prática que durou por décadas até às grandes guerras. |
Nesta época, início do Século XIX, a Alemanha e a Itália não existiam como países unificados e passavam por intensas transformações sociais em seus territórios com a industrialização tardia e movimentação de pessoas do campo para as cidades. Como já postamos aqui no Blog, a unificação alemã somente ocorreu em 1871. Na mesma época, ocorreu a unificação da Itália, consolidada somente em 1929, com o Tratado de Latrão, entre Mussolini e o Papa Pio XI.
Tratado de Frankfurt - 10 de maio de 1871 - Versalhes - Guilherme I (Rei Prussiano) é aclamado imperador da Monarquia Federal Germânica. |
Já existiam famílias alemãs no Brasil, soldados alemães nos quartéis do Rio de Janeiro, empresas alemãs nas regiões litorâneas do Brasil, mas foi somente no dia 25 de julho de 1824, que chegou ao país um grupo organizado e orientado pelo Estado brasileiro, de imigrantes alemães. Um grupo de 39 imigrantes alemães que chegou no Porto de Tebas na Real Feitoria da Linha Cânhamo, na atual cidade gaúcha de São Leopoldo.
Porto da cidade de São Leopoldo RS - Ano de 1900. |
Formaram muitas colônias de imigrantes alemães no sul do Brasil. Estes novos brasileiros, resolveram adotar esta data de 25 de Julho, como a data que homenageariam os imigrantes alemães, o colono, agricultor e a festa da colheita, muito comum na Alemanha e também, parte da mitologia germânica - A festa do agradecimento.
Ficou então determinado que no dia 25 de Julho seria o Dia do Colono, aludindo aqueles primeiras famílias alemãs que receberam colônias de terra e também seria a data de homenagens e agradecimento em memória dos pioneiros alemães, que enfrentaram grandes e muitos desafios e ajudaram a construir muitas das cidades do sul existente principalmente nas paisagens dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Fotografia do Pastor Anton Poeschl, 2° Pastor de Rio do Sul - 1924 - 1925 - Casa de imigrante alemão no Alto Vale do Itajaí. |
A data, também, tem muito ligação com os vários centros culturais existentes no sul do país - inclusive na cidade de Blumenau - C.C. 25 de Julho de Blumenau, todos fundados por alemães e seus descendentes, como espaço para práticas culturais e tradições do país de origem - Alemanha.
A música sempre esteve presente nas famílias de imigrantes alemães. |
Theodor Heuss. |
Após o término da II Grande Guerra, um Coro só de homens - Coro Masculino Alemão de Porto Alegre, e seus familiares organizaram uma ação de Ajuda Humanitária à Alemanha - chamada na época, de Socorro à Europa Faminta - SEF. Captaram donativos e enviaram para o país de origem de muitos que viviam no sul do Brasil e para não assim dizer, com familiares na Alemanha.
Para a surpresa do Coro que teve a iniciativa, não demorou muito e recebeu uma carta do Presidente alemão da época, Theodor Heuss, expressando o seu agradecimento e de todo o povo alemão pelo ato caridoso e solidário. Acompanharam a carta, dois candelabros elaborados por artistas alemães com a seguinte frase: Dankspende des Deutschen Volks (Agradecimento do povo alemão).
Em 1950, os coralistas formaram um novo coral que batizaram exatamente com a data 25 de Julho e ficou então batizado Coro Masculino 25 de Julho.
Em 1951, os senhores do Coro Masculino entendendo que poderiam ter outras atividades culturais além do canto, resolveram abrir o espaço e criar um espaço físico, para canto, dança, teatro entre outras atividades, fundando o C.C. 25 de Julho de Porto Alegre.
Toda esta história sensibilizou, como também, motivou outros grupos de imigrantes alemães no sul do Brasil a fundarem "seus centros culturais" com o mesmo nome e Homenagem - C.C. 25 de Julho, com o acréscimo da cidade no final.
Toda esta história sensibilizou, como também, motivou outros grupos de imigrantes alemães no sul do Brasil a fundarem "seus centros culturais" com o mesmo nome e Homenagem - C.C. 25 de Julho, com o acréscimo da cidade no final.
Também em Blumenau, no dia 1° de maio de 1954, foi fundado por um grupo de jovens alemães e filhos de alemães - o C.C. 25 de Julho de Blumenau.
Primeira sede própria do C.C. 25 de Julho de Blumenau - Bairro Victor Konder - Blumenau. |
As práticas culturais já existiam na cidade, de maneira isolada, pois este hábito foi, e é, trazido junto com a bagagem das famílias alemãs. Por exemplo o Coro Masculino Liederkranz foi fundado em 1909. Depois, foi recriado em 1962, dentro do C.C. 25 de Julho de Blumenau e permanece até os dias atuais, com mais de 60 anos de atividades permanentes e ininterruptas.
Natal de 1962 - C.C. 25 de Julho de Blumenau - Coro Masculino Liederkranz . |
O C.C. 25 de Julho de Blumenau, há muito tempo, presta homenagens à memória dos antepassados na semana que está esta data: 25 de julho, mesmo que se reúna somente algumas pessoas, o pensamento vai para estes pioneiros que plantaram cidades do sul do Brasil. No vídeo, uma destas homenagens feita no dia 25 de julho de 2011 - Blumenau.
Atualmente, estas ações culminam com muitas atividades, a partir de seus grupos culturais, durante a Semana de Imigração Alemã.
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Curiosidade
Uma narrativa de 1824 de Schlichthorst com relação aos primeiros alemães que desembarcavam no Brasil e eram obrigados diretamente a se alistarem no exército brasileiro. Schlichthorst, imigrante alemão, foi um ex-oficial do Imperial Exército Brasileiro. Desembarcou no Rio de Janeiro em 14 de abril de 1824, servindo no período de 1824 a 1826, quando retornou a sua terra natal. Em sua memória lamentou ter sido iludido por falsas promessas no Brasil. Schlichthorst era jovem e gostava de passear pelas ruas do Rio de Janeiro durante as suas folgas apreciando a natureza. A seguir, parte de sua narrativa, rico registro histórico de uma época, do quem vivenciou - Regimento de Estrangeiros nos quartéis do Rio de Janeiro, no Primeiro Reinado brasileiro.
“...Apesar de alistados em Hamburgo como colonos, no Rio de Janeiro eram imediatamente forçados a assentar praça. Só tinham liberdade para ir para onde quisessem os que haviam pago suas passagens; mas estes mesmos às vezes abandonavam suas colônias e voluntariamente se engajavam, sendo, nesse caso, reembolsados pelo Governo[pela passagem](...)Os oficiais vindos nesses navios de transporte, em parte se viam colocados na graduação que o Cavalheiro Schäffer lhes garantia em Hamburgo. Alguns, no entanto, ficaram decepcionados, [foi o caso de Schlichthorst que desejava servir na Marinha e não no Exército] o que se deve atribuir mais a desordem reinante no Ministério da Guerra do que a um engano proposital daquele Cavalheiro.(...) Sim, eu próprio que, mais tarde, pude me enfronhar no modo de vida do país e conhecer o sistema de suborno nele reinante, sabendo como sei que no Brasil tudo se arranja com dinheiro (...) bastando-lhe aparência decente e alguns milhares de táleres [dinheiro alemão] para pagamento da patente (...) Para alimento dum soldado, o Governo escritura por dia meia libra de carne e meia de pão; mas (...) recebem tão pouco [carne] que suas refeições quase se limitam a arroz e feijão. Além disso, a carne que lhes dão é da pior qualidade, isto numa terra como o Rio de Janeiro, onde a carne já é ruim. O pão é feito na maior parte de farinha de milho, apesar de pago como de puro trigo. A maioria dos soldados o vende, para beber mais cachaça. Cozinham-se alternadamente duas vezes por dia, arroz e feijão. Não se varia o alimento. Serve-se o rancho sem o menor asseio. O oficial-de-dia tem obrigação de provar a sopa, sendo realmente preciso grande força de vontade para engolir esse caldo nojento. O mais pobre escravo vive melhor, sem dúvida, do que o soldado estrangeiro no Brasil. (...) O que, no entanto, torna ainda mais intolerável a situação do soldado é a falta absoluta de qualquer comodidade nos quartéis. Em parte, não há sequer tarimbas e os homens dormem pelo chão em esteiras, com um cobertor. Atormentados por incontáveis insetos, procuram na cachaça alívio ao seu martírio e curto esquecimento de sua desgraça. (...) Não é difícil imaginar os excessos a que diariamente se entregam. A conseqüência é uma pancadaria bárbare, sendo raro o dia em que se não apliquem castigos de 50, 100 e até 200 chibatadas, nas costas nuas dos infelizes (...) Os de natureza mais forte sentem uma espécie de orgulho em dizer que suportaram durante seu tempo de serviço alguns milheiros de vergastadas. Diante de um tratamento desses, não é de admirar que as deserções sejam freqüentes. Os que procuram o interior do país são logo agarrados[como os soldados presos em Nova Friburgo], porém, os que tentam escapulir por mar, raramente são descobertos (...) Castiga-se a deserção com 200 chibatadas nas costas nuas, dadas com finas vergastas de junco. Muitos as têm aguentado até quatro vezes, sem desistir de novas tentativas.....”
Uma Reflexão nossa sobre a importância das Homenagens:
Para compreender é importante conhecer, através da História.
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