sexta-feira, 14 de agosto de 2020

São José da Terra Firme - Atual São José SC - Cidades

Igreja Matriz de São José - A Paróquia São José foi criada em 1750, quando a nucleação urbana, passou a ser considerada um Freguesia – a primeira capela foi inaugurada por volta de 1755, e por volta de 1765 iniciou a construção da Matriz - foto. A igreja recebeu um grande auxílio financeiro do Imperador Dom Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina durante a visita imperial a São José, em 1845, permitindo assim a construção da edificação que teve sua torre desabada no ano seguinte. Obras de recuperação foram feitas em 1968, 1969 e 1988. Em 2009 foi iniciada uma restauração, inaugurada em 2014. Nós casamos na igreja com Roberto Wittmann, em 7 de julho de 1984.

Arquitetura  Igreja Matriz de São José: Arquitetura da Igreja Matriz segue a arquitetura luso e mesmo esta tendo sido construída no século XVIII, tem aspectos de construções feitas no Brasil no século XVI, dos primeiros templos que  seguiam os parâmetros da arquitetura chã, uma interpretação maneirista e tipicamente portuguesa do modelo renascentista, inspirado no templo grego clássico. Esta estética austera caracteriza-se pelas fachadas compostas por figuras geométricas básicas, frontões triangulares, janelas que tendem ao formato quadrado e paredes marcadas pelo contraste entre a pedra e as superfícies brancas, com volumes pouco projetados. São volumes pesados a partir de paredes robustas construídas em pedra  - autoportante. A Matriz de São José possui somente a torre (campanário) do lado esquerdo, mas percebemos evidencias na sua fachada frontal de que haveria possibilidades da presença de uma torre também do lado direito da edificação, não construída. Outra curiosidade é a cúpula desta torre que lembra muito as abóbodas em volume de cebola utilizadas no sul da Alemanha, ilustrando também a interferência cultural dos imigrantes alemães que chegaram à região, pois a mesma foi construída posteriormente a sua chegada.

 

Geralmente estas igrejas apresentavam a fachada com decoração escassa e circunscrita, em geral, aos portais, ainda que os interiores dos exemplares mais majestosos possam ser ricos em altares entalhados, com estatuária que pode incluir anjos, atlantes e cariátides e profusa ornamentação fito e zoomórfica, além de pinturas e azulejos. Outra característica desta linguagem arquitetônica lusa no Brasil, é a presença da praça na frente do templo, reportando à presença do ágora da Grécia clássica, lugar de encontros e prosa. Esta praça da Igreja Matriz de São José é chamada de Praça Hercílio Luz, o nome da República no Estado de Santa Catarina e oposição aos simpatizantes de D. Pedro II, Imperador que sofreu o golpe militar e auxiliou na construção da igreja.

Foi somente uma pequena introdução a partir da fotografia de capa desta postagem, de uns dos pontos focais históricos da cidade de São José, o qual tem mais de 250 anos de existência - a Igreja Matriz - capa desta postagem.

São José da Terra Firme - São José SC

Um pouco sobre a história do 4° município mais antigo de Santa Catarina e aquele que não recebeu o primeiro grupo organizado de imigrantes alemães do estado, como algumas fontes, inclusive o IBGE, afirmam - pois a localidade de São Pedro de Alcântara, territorialmente, pertencia a São José - e recebeu o segundo grupo organizados de imigrantes alemães, tal como Mafra pertencia a Rio Negro e recebeu o primeiro grupo organizado de imigrantes alemães do Estado de Santa Catarina.

Para ler sobre o primeiro grupo de imigrante alemães no estado de Santa Catarina - Clicar sobreMafra SC - Primeiro núcleo de colonização alemã de Santa Catarina - fevereiro de 1829

São José da Terra Firme, nome da cidade de São José SC, nas suas primeiras décadas de história, por ser uma povoação ligada à Nossa Senhora do Desterro, com acessos recíprocos feitos através de embarcações, por mar e sua nucleação estava localizado no continente, justificando o - "terra firme". Os caminhos de acessos aos principais locais na região da atual grande Florianópolis, eram outros. 

Com isto, é compreensível a afirmação sobre sua localização - no litoral catarinense, parte da Grande Florianópolis e da região Metropolitana de Florianópolis, e que sempre teve estreitos laços históricos com Nossa Senhora do Desterro, tal como  Altona - atual Itoupava Seca, teve com o Stadtplatz de Blumenau, com a diferença de que, São José tornou-se um município e Altona, um bairro de Blumenau.

Fonte: IBGE

Palhoça e São Pedro de Alcântara já pertenciam ao seu território. Mesmo que seu centro histórico sofreu pouca descaracterização, o acesso para o mar sofreu grande impacto, quando foi permitido construção de um edifício público no eixo da Igreja Matriz, bloqueando o contato visual entre a igreja/praça e o mar - obstruindo, de certa maneira este acesso.
A expansão urbana tirou o contato do antigo centro com o mar - como existia no início da história.
O município de São José faz limites, ao norte - com Biguaçu, cuja divisa é marcada pelo Rio Carolina ou Serraria na parte mais litorânea. A fronteira continua pelo interior no maciço do Morro Biguaçu. Há também uma pequena fronteira com Antônio Carlos, ao noroeste. Ao oeste, tem como município limítrofe - o município de São Pedro de Alcântara. Há uma pequena fronteira com Santo Amaro da Imperatriz - ao sudoeste, e ao sul, com Palhoça, onde parte dela se dá através do Rio Maruim. Ao leste, São José faz limite com a antiga Nossa Senhora do Desterro. Na atualidade, a conurbação torna as fronteiras entre Florianópolis, São José, Biguaçu e Palhoça quase imperceptíveis em alguns pontos.
Conurbação é o resultado de um processo quando duas ou mais cidades se “encontram” e formam um mesmo espaço geográfico. Isso ocorre quando o crescimento dessas cidades é elevado e as suas respectivas malhas urbanas integram-se, tornando-se um único meio urbano, eliminando áreas rurais entre as cidades envolvidas.

O município de São José possui 28 bairros em três distritos: Campinas, Barreiros e o distrito-sede, São José. 

Seu litoral possui as baías norte e sul, que sofreram uma série de intervenções através do aterro da Beira-Mar de São José, em uma tentativa de restabelecer a ligação física através do modal de transportes adotado no tempo presente e que, já existia de maneira efetiva, com Florianópolis, via modal de transporte marítimo, materializando uma ligação mais direta - o que ainda não ocorreu. O mar e o transporte através deste é totalmente inexistente, que no início desta história, foi naturalmente uma prática comum.

O município possui o relevo pouco acidentado contando com a presença de  alguns pontos mais altos como o Morro da Coruja localizado na Praia Comprida, o Morro do Avaí, localizado no Bairro São Luiz, o Morro Forquilhas localizado em Forquilhas e o Morro da Pedra Branca localizado entre a Colônia Santana e o Sertão do Maruim. O município conta com pequenos ribeirões e rios como: o Rio Forquilhas, Rio Maruim, Rio Büchler,  Rio Araujo, Rio Três Henriques e Rio Carolina. Todos em estado ruim  quanto o aspecto poluição - com alto grau de poluição.

Um pouco da História de São José da Terra Firme

Atual São José

De acordo com alguns registros, São José é a 4° cidade mais antiga do Estado de Santa Catarina, que inicialmente era nomeada como São José da Terra Firme, por estar no continente - caracterizando um prolongamento da cidade de Nossa Senhora do Desterro, cujos acessos simultâneos entre as duas nucleações, davam-se pelo mar - modal de transporte marítimo. Há opiniões divergentes sobre este ranking. Lages também foi fundada no mesmo período, via decreto e de maneira isolada. Assunto para outros estudos e pesquisas. 

Antes da chegada dos primeiros imigrantes no seu território, como aconteceu em outras regiões do estado de Santa Catarina, em tempos diferentes, a região possuía uma população nativa. Viviam no local, tribos Carijós, como eram denominados os tupi-guaranis por aqueles imigrantes que chegaram a partir do século XVI. Existem pesquisas arqueológicas junto à foz do Rio Maruim que comprovam a presença destes povos no local. Eram amistosos e foram escravizados pelos imigrantes que ocuparam a Ilha de Santa Catarina - Nossa Senhora do Desterro, no  século XVII. Foram exterminados.

Índios Carijós de Santa Catarina retratados em uma gravura de Ulrich Schmidl - 1559. Observando melhor, encontramos semelhança com as figuras bíblicas de Adão e Eva no paraíso - sob, talvez, uma observação a partir dos dogmas da religião e do pecado, através de um etnocentrismo velado, não aceitando as práticas das tribos nativas.

Em 1750 chegaram um grupo de  182 casais açorianos  - que em 26 de outubro de 1750, fundaram a nucleação embrião de São José da Terra Firme - o que para alguns historiadores, se tornaria a 4° povoação a surgir no estado de Santa Catarina. A afirmativa não é uma unanimidade e talvez, foi desconsiderada assim, em alguns compêndios de história, por sua proximidade com a capital da província, sendo tratado como uma unidade através da ligação marítima. Para estes,  a nucleação de Lages é considerada a 4° mais antiga nucleação, fundada no interior do estado através de decreto - na rota das tropas entre São Paulo e Rio Grande, em 1766.

Várias questões sociais, econômicas e de segurança no Sul do Brasil, como  também no arquipélago dos Açores - Portugal, desencadearam o processo de imigração de famílias,  residentes naquelas ilhas, para esta parte da costa catarinense. O primeiro Presidente da Província de Santa Catarina, o Brigadeiro José da Silva Paes, solicitou e incentivou a vinda de açorianos para as únicas povoações existentes: Nossa Senhora do Desterro, São Francisco de do Sul e Santo Antônio dos Anjos da Laguna, tão logo ocupou seu cargo de liderança na província, em 1739. Nesse período a região sofria sérias ameaças de invasões espanholas e possuíam somente estas três povoações. Os primeiros grupos de imigrantes de açorianos chegaram em 1748. 

Vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa 

No final de 1750 (exatos 100 anos antes da fundação da Colônia Blumenau), a população da nucleação de São José da Terra Firme somava 338 pessoas. Em 1755 a localidade tinha uma pequena capela com a presença de um vigário, o Padre José Antônio da Silveira e então, a nucleação estava apta para assumir o status de Freguesia. Seu território ocupava a área existente entre Lages e Estreito - área continental de Nossa Senhora do Desterro. Em 1787, o Vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa determinou que o governador da província, José Pereira Pinto, convocasse o alferes Antônio José da Costa, para fazer o reconhecimento da terra para a construção de um caminho ligando a Serra Catarinense e o litoral, tal como, também fez Hermann Blumenau, menos de 100 anos depois, convocando engenheiros agrimensores, entre eles - Emil Odebrecht, que junto de sua equipe, abriu o primeiro caminho entre o Vale do Itajaí e a Serra catarinense iniciado em 1867, quando este retornou da Guerra do Paraguai.

Pousada de tropas, no caminho a Lages.

Também em São José da Terra Firme, o caminho aberto até a Serra Catarinense fez com que o local tornasse um interposto comercial importante, contando que Lages estava no caminho dos tropeiros que faziam a comunicação entre São Pedro do Rio Grande do  Sul (Rio Grande do Sul atual) e São Paulo, contando, também com o intercâmbio e o transporte marítimo interligando o local até Nossa Senhora do Desterro.

Em 1797 a população de São José era de 2079 pessoas, contando pessoas livres e escravizadas. Entre estas, estavam os índios que povoavam e região antes da chegada destes imigrantes.

Obra do francês Jean-Baptiste Debret - em torno de 1830 situação semelhante - Região de Curitiba.
O século XIX foi bem movimentado, não somente em São José da Terra Firme, mas também, na Europa e no Brasil. Estas movimentações sociais, políticas e econômicas fizeram aumentar o fluxo migratório de famílias europeias para o local. A abertura dos portos, resultado das Guerras Napoleônicas e do fim do Pacto Colonial, aumentou o número de visitantes estrangeiros à região, como por exemplo, a expedição de Jean- Baptiste Debret, que fez e deixou inúmeros registros das muitas culturas e etnias que viviam na região de São José, como também, em outras regiões do Brasil.

Quando o Brasil tornou-se independente de Portugal, o governo brasileiro não se sentia muito seguro e à vontade para receber imigrantes portugueses como acontecia até então. A região precisava continuar recebendo a imigração por questões de segurança, pois os espanhóis ainda representavam ameaça ao país e, para seu desenvolvimento. O incentivo da imigração européia para a região nada tem a ver com a lenda ideológica do "embranquecimento da raça", na região. Nesse período, o maior número de representantes de etnias africanas estavam presentes nas duas primeiras capitais do país onde estava concentrada a elite. Nestas duas primeiras capitais - Rio de Janeiro e Salvador, em alguns períodos históricos, a população escrava superou a população formada por descendentes de portugueses e portugueses, os quais, por heranças dos gregos, percebiam o trabalho manual inferior para uma homem "letrado", o que não acontecia com representantes da imigração alemã e, de outras, que povoaram o Sul do Brasil.

O governo brasileiro então, incentivou a vinda de imigrantes alemães, geralmente entre eles haviam soldados formados que haviam lutado nas Guerras Napoleônicas - úteis para a segurança nacional contra os espanhóis e outros. Em fevereiro de 1829, chegou o primeiro grupo de imigrantes alemães às margens do Rio Negro, ocupando as duas margens. - nessa época território paranaense - Santa Catarina tinha outra configuração territorial. Estes pioneiros fundaram a Colônia de Rio Negro, ocupando as duas margens do rio, que mais tarde tornaram duas povoações - sendo uma delas a atual cidade catarinense de Mafra - primeira cidade do estado a receber imigrantes alemães de maneira organizada. A segunda, foi São José da Terra Firme, uma vez que o território de São Pedro de Alcântara era parte de seu território, tal como Mafra pertencia a Rio Negro

Esse grupo de imigrantes chegou à capital da Província de Santa Catarina - Nossa Senhora do Desterro, quando autoridades locais não estavam preparadas. Permaneceram em quarentena no interior da Ilha de Santa Catarina, quando, em 1° de março de 1829, foram  relocados para São José da Terra Firme (pelo mar) - região onde atualmente está a sede do atual município de São Pedro de Alcântara  - cuja instalação do município ocorreu pela Lei nº 9.943 sancionada em 20 de outubro de 1995. Em 1829, a população de São José da Terra Firme chegou a 523 pessoas.

Em 1° de março de 1833, São José da Terra Firme deixou de ser Freguesia e passou a ser uma Vila, formada por duas Freguesias, São José e Enseada do Brito, parte do território do município de Palhoça. O limite norte, com Biguaçu - a época, São Miguel - no Rio Carolina, permanece o mesmo até hoje. Em 1844, São Pedro de Alcântara também se torna uma Freguesia (20 anos após a chegada do grupo de imigrantes alemães) e muitos das famílias alemãs saíram de lá e ocuparam outros áreas de São José. O motivo? A terra não era boa para a agricultura. Muitos ocuparam a região da Praia Comprida, desenvolvendo o comércio local. 

Entre 1835 e 1845, o exército imperial tentava neutralizar um foco rebelde que ficou conhecido como Guerra dos Farrapos - revolução  regional, de caráter republicano, contra o governo imperial do Brasil, na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Homens do governo imperial tentavam impedir os avanços dos gaúchos no território catarinense, estando presentes em São José da Terra Firme e Nossa Senhora do Desterro. O presidente eleito da efêmera República Juliana, o tenente-coronel Joaquim Xavier Neves, que era considerado amigo de David Canabarro, morava na cidade, mas não pode chegar a Laguna, já que São José da Terra Firme estava sob o controle do Império. A guerra chegou perto, mas não chegou a ameaçar a vila, após a vitória imperial sobre os farroupilhas - no Morro dos Cavalos, perto do Rio Maciambu. Local histórico, sem qualquer narrativa no momento presente e lembrança do que foi dentro deste período histórico do estado.

A Revolução Farroupilha teve início em 20 de setembro de 1835 e foi uma revolta não só separatista mas também republicana desencadeada contra o governo imperial do Brasil. À época, o estado chamava-se Província de São Pedro do Rio Grande do  Sul. A Guerra dos Farrapos, como ficou conhecida, durou dez anos e teve início com a declaração de independência da província. 
A princípio, estranhamos muito, que todas as imagens, aparentemente ilustram a revolta com a presença da bandeira alemã entre a tropa, lembrando que o primeiro grupo de alemães chegaram ao Rio Grande do Sul em 1824. Mas observando bem, a cor que aparentemente é preta, na verdade, é verde - as cores da bandeira da província.

Em 1845, São José da Terra Firme recebeu a visita do Imperador Dom Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina. Na época,  Joaquim Xavier Neves e uma equipe construiu pontes até as águas termais de Caldas do Cubatão, que passou a se chamar Caldas da Imperatriz após a visita, e teve sua casa, o Solar dos Neves, convertido em Paço Imperial. O casal imperial fez doações em dinheiro para construir  a Igreja Matriz.

D. Pedro II.

Em 4 de maio de 1856, São José foi declarada cidade, 6 anos após a fundação da Colônia Blumenau, no Vale do Itajaí. Feliciano Nunes Pires foi nomeado Presidente da Província. Outras freguesias foram criadas e passaram a ser divisões de São José, mesmo antes dela se tornar cidade, como por exemplo: Garopaba, em 1846, Santo Amaro do Cubatão, em 1854 e Palhoça, antes uma terra comunal de Desterro, passa então compor junto ao território de São José oficialmente, em 1852. Palhoça se torna Freguesia em 1882. Em 1886, Águas Mornas se torna Freguesia também. 

Freguesia

O que caracteriza uma Freguesia em nucleações fundadas por imigrantes portugueses, é a presença de uma igreja/capela, onde as pessoas constroem suas casas em seu entorno. Quando estes têm condições de manter um pároco (cura) a capela recebe a denominação de capela curada, equivalente a paróquia.  A tributação (dízimo) exigida aos fiéis, impõe que a paróquia faça  a delimitação de seu território. Seu raio de influência podia alcançar até centenas de quilômetros de distância, tornando-se uma Freguesia. Somente para compreender. 

O povoado crescendo e obtendo a autonomia político-administrativa, recebendo câmara, cadeia e em algumas situações, o pelourinho  - era elevado à categoria de Vila, o que seria o atual Município. Muitas vezes para se fundar uma nucleação urbana se construía uma igreja com a o aval da Cura, sabendo que entorno desta, famílias iriam construir casas e logo se teria uma Freguesia. Muitas vezes, nestas igrejas litorâneas, alguém pedia autorização à Cura, localizada no Rio de Janeiro, para construir uma igreja, já sabendo que neste local, desenvolveria-se uma cidade. Um exemplo, é a cidade de Itajaí, fundada em março de 1824.

Gravura da Freguesia do Santíssimo Sacramento do Itajaí
Século XIX.

Prosseguindo...

No século XIX, São José se desenvolveu muito. Recebeu o grupo de imigrantes alemães e a partir  de seu grande  território, exportava café, tapioca, açúcar, lenha, farinha de mandioca, cachaça e algodão, além de produtos de linho e da pesca. Possuía um comércio efervescente e em desenvolvimento a partir do entreposto comercial que se tornara, com as duas rotas de tropas de gado que desciam da Serra Catarinense para a capital - a primeira, que seguia por Angelina, margeando o Rio Maruim, e a segunda, por Rancho Queimado, chegando ao litoral por Santo Amaro da Imperatriz - ficando nas terras de São José. A cidade tornou-se um eixo comercial e cultural em Santa Catarina, confirmado pela construção do primeiro teatro do estado de Santa Catarina, em 1854 -  o Teatro Adolpho Mello.

Fotografia do teatro feita em 2006 - encontrava-se interditado.


Em
1866, São José possuía uma população de 20.602 pessoas.

Como  represália política a São José, Palhoça foi emancipada de São José em 1894. Como aconteceu no Vale do Itajaí, no período do Nacionalismo, em um ato de represália politica por parte do governador de Santa Catarina, que pretendeu mostrar sua "força" a São José, pelo apoio destinado por lideranças desta comunidade aos monarquistas. Estes não aceitavam o golpe militar ocorrido no Brasil em 1889, conhecido como Proclamação da República, o qual destituiu a monarquia na calada da noite por alguns parcos militares, fake news a traição. Em 1893, um grupo da região destinava apoio a um grupo maior que pretendia  auxiliar no retorno da monarquia. Muitos foram assassinados na região, por continuarem fiéis ao Imperador D. Pedro II, inclusive, houve um local de extermínio de lideranças locais na Ilha de Anhatomirim. Na Região do Vale do Itajaí, igualmente, muitos não aceitavam o golpe militar. Lembramos que foi após este golpe que trocaram o nome da capital da Província de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis, em homenagem a um dos algozes deste povo e traidor do Império - Floriano Peixoto. 

Observar o tamanho do território de Palhoça desmembrado de São José - mais da metade do antigo território de São José SC.
Palhoça SC - 1928.

A partir deste desmembramento de Palhoça, São José ficou com menos da metade de seu território original. Nesse mesmo ano, surgiu a Freguesia de Angelina, resultante da divisão da Freguesia de São Pedro de Alcântara.

Em 1913, é ativada a segunda usina hidrelétrica de Santa Catarina, a Usina Hidrelétrica de Maruim, na Colônia Santana, construída por imigrantes alemães. A primeira Usina Elétrica de Santa Catarina foi construída na Colônia Blumenau, também por imigrantes alemães e está em funcionamento até os dias atuais.  A usina de São José  começou a ser construída em 1901 e abasteceu São José e Florianópolis com eletricidade por quatro décadas. Em 1941, foi instalado o Hospital psiquiátrico na Colônia Santana.

A partir da década de 1930, São José sofre uma decadência ocasionada por várias questões, entre elas: a expansão econômica do Vale do Itajaí que supera em volume e importância as regiões de Florianópolis e São José; a presença do rodoviarismo, que já tinha sido iniciada com a construção da Ponte Hercílio Luz, modificando a logística da produção comercial e de vias, mudança do modal marítimo para o rodoviário, fazendo com que posições geográficas portuárias perdessem importância e de interposto comercial para a Ilha de Santa Catarina - Florianópolis e finalmente, em 1944, com mais uma perda territorial, onde foi desmembrado parte de seu território continental para Florianópolis - o então Distrito João Pessoa. Com esta ação (suspeita), São José perdeu um dos seus principais portos e uma parte da sua relevância. Para compensar um pouco esta situação, o estado relocou parte de Rancho Queimado, até então parte da Palhoça, novamente ao território de São José. Bem estranho estas movimentações. E desde então, como também ocorreu no Vale do Itajaí, com foco no modal ferroviário, toda a prioridade foi voltada para o modal rodoviário, deixando de existir o transporte marítimo entre Florianópolis e São José, o que muito auxiliaria na minimização dos conflitos de acesso à Ilha de Santa Catarina, centro do governo do estado no momento presente (e que já foi na ilha de Anhatomirim e acessível somente pelo mar) - feito por rodovias e que recebe o fluxo, também de rodovias inter estaduais BR's 101 e 282, oriundos de outros estados e também, de vários municípios do interior do Estado, que se dirigem à capital de Santa Catarina. 

O modal marítimo era o modal de transporte predominante na região no berço da história local. O que comprova o local da sede do governo do estado nos primeiros séculos de história localizado na Ilha de Anhatomirim e o abastecimento de água dos navios no aqueduto de São Miguel - atualmente totalmente desconectado com  a presença da malha rodoviária - modal predominante na região e no país, desprovido  de conexões com outros modais de transportes - como corre nos principais centros do mundo.

Esta decadência econômica de São José, a partir da década de 1930, faz com que a cidade buscasse o centro de gravidade econômico maior dentro de seu território - atraído pela centralidade Florianópolis  e suas áreas mais dinâmicas passam a acontecer nas proximidades da divisa com Florianópolis, colocando-se como cidade dormitório da capital do estado. 

A partir do processo migratório ocorrido sentido campo para a cidade, aconteceram migrações de cidades de outros estados e mesmo, do interior do estado, a partir da década de 1950, fazendo com que a população de São José aumentasse. Como consequência, foi criado o distrito de Barreiros em 1959 e a construção de conjuntos habitacionais e loteamentos públicos e privados - nas proximidades da divisa com Florianópolis - deslocando o centro gravitacional de São José para estes locais - esvaziando o primeiro centro. 

Após a construção da BR-101 e o desenvolvimento urbano de Florianópolis munido da presença da Universidade Federal de Santa Catarina e da Eletrosul, ocorre um déficit habitacional. São José sofre reveses territoriais com a emancipação de Angelina e de Rancho Queimado ocorridas em 1961 e 1962, respectivamente. Muitas mudanças sociais ocorridas em muito pouco tempo, desencadearam mudanças profundas na estrutura urbana do município, com maior influencia, como no Vale do Itajaí, da troca dos modais de transportes e as mudanças territoriais. O resultado foi um município com regiões desconectadas entre si, sem a referencia da centralidade antiga, cortado por rodovias descomprometida com sua evolução histórica de sua malha urbana. 


Além de Barreiros, também a região de pastagens e fazendas há anos conhecida por Campinas recebeu loteamentos com perfil público, como também surgiram outros loteamentos públicos, como o Conjunto Habitacionais Bela Vista construídos às margens da rodovia  BR-101 ainda na década de 1960, sendo o local transformado em bairro em 1973, nominado até o momento atual de bairro  Bela Vista e ao Norte, onde já haviam sido construídos loteamentos menores, o loteamento público do Conjunto Habitacional Forquilhinhas concluído em 1977, que também originou o bairro de Forquilhinha.

Uma iniciativa privada quanto a produção para suprir o déficit habitacional foi a construção de um loteamento - em 1977 - no bairro  Campinas, no entorno do então Aero-clube de Santa Catarina e sobre o mangue, conhecido como o loteamento  Kobrasol. Nossa família residia nas proximidades e acompanhamos as movimentações de sua implantação, desenvolvimento, ocupação e mudança do uso, de residencial para uso misto/comercial, ao longo de seu período histórico. Também ficou conhecido como bairro Kobrasol (Empreendimento das empresas locais: Koerich, Brasilpinho e Cassol), e posteriormente, surgiu também, o Kobrasol II, sendo que o trajeto da rodovia BR101 ficou localizado entre os dois.

Aero-clube de Santa Catarina - localizado nas proximidades de Campinas - rodeado de mangue.

aeroclube mudou sua localização para a área do Sertão do Maruim, onde está localizado até o momento presente. Na década de 1980 surgem outros loteamentos no entorno dos primeiros, formando bairros como Ipiranga, Serraria e Flor de Nápoles. Para suas instalações, são utilizadas grandes extensões de propriedades agrícolas, como aquele pertencente a Max Habitzel. Algumas extensões também foram usadas para a criação do  Distrito Industrial de São José, entre 1973 e 1974.

Dos 31 mil habitantes da década de 1960, a população da cidade passa  para 87 mil na década de 1980. Também para as proximidades dos bairros Kobrasol e após a construção do primeiro Shopping de Santa Catarina na redondeza, foi transferido alguns edifícios administrativos importantes do municípios para esta região, deslocando o eixo da centralidade da cidade, tornando-se o primeiro centro - o centro histórico. Não é muito claro quais grupos da sociedade promoveram estas movimentações e com que objetivo e interesses- e principalmente, a quem de fato interessaria este deslocamento e mudança da centralidade de São Jose. 

Ainda na década de 1980 nas imediações do novo centro administrativo de São José e nas proximidades do Shopping - foi construído outro loteamento privado de alto padrão denominado Bosque das Mansões, um certo exagero para descrever o local a partir do nome, pois é um loteamento projetado, com uma regulamentação interna, a qual os "condôminos" devem respeitar, quanto a afastamentos, ocupação do solo, materiais, áreas, contando com a presença de edificações simples. O local confere segurança e privacidade, mesmo que o recorte urbano seja território público que foi segregado através de muros e portões, como as cidadelas medievais. Todo o procedimento aplicado no interior deste espaço público fechado, deveria ser aplicado em toda a cidade, cujos espaços, no momento presente, não apresentam muita segurança à população. Consequência da espacialização resultante das movimentações sócio-politicas  ocorridas em São Josédesprovidas de um Plano local e Regional, de organização e ocupação do solo, dentro de seus principais recortes de tempo histórico.

Interior do Bosque das Mansões - atualmente somente Bosque - Espaço público privatizado com a presença da segregação espacial dentro do território do município.

São José, mesmo sendo um município de porte médio, está inserido, através da conurbação da região metropolitana de Florianópolis e recebe toda a influência e consequências de uma cidade de porte maior, munido de inúmeros conflitos os quais surgiram pelo rápido adensamento, este ocorrido, igualmente, sem planejamento. Seu território é picotado por rodovias intermunicipais que promovem o segregamento espacial, fazendo surgir pequenas centralidades locais, dentro de núcleos urbanos independentes e isolados, e não mais dependendo muito de Florianópolis, que foi quem desencadeou todo este processo urbano em menos de 100 anos.  As posições geográficas de Barreiros, do distrito de Campinas e de Forquilhinha foram munidas de centralidades locais, com variedade de serviços e comércio. Também a presença do Distrito Industrial, do Centro de Abastecimento de Alimentos (CEASA), implantados ainda na década de 1970, mais  o Hospital Regional de São José Doutor Homero de Miranda Gomes na Praia Comprida e o  Shopping Itaguaçu, instalados e construído na década de 1980, denotam o retorno do desenvolvimento econômico, no entanto sem o devido planejamento urbano - o que trouxe inúmeros conflitos de espaço e de ausência de identidade urbana e encanto nestes novo ambientes, diferentemente do centro histórico que mantém uma certa identidade e resquícios e onde fomos fotografar para estar nesta postagem.

Para concluir esta história apresentada de maneira resumida, em 1995, São Pedro de Alcântara se emancipa de São José - que pode-se dizer, nas chegada do grupo de imigrantes alemães era São José. A década de 1990 foi marcada por grandes transformações urbanas no município. Grande empreendimentos fundiários, com muito capital envolvido e deslocamento de sedes administrativas, valorização de  terras e disputa de territórios com o município vizinho - Palhoça, quando o Morro da Pedra Branca passa ser oficialmente parte de São José. Na década de 1990, também foi efetuado a ampliação da expansão viária em toda esta região - a nova área central de São José, próxima a divisa da capital do Estado de Santa Catarina -  Florianópolis.

O bom nisso tudo, é que o centro histórico permaneceu sem sofrer muitas descaracterizações como acontece em cidades bem mais jovens como é o caso da cidade de Rio do Sul  que possui uma população menor que 80 mil habitantes e idade de emancipação inferior a 100 anos, no entanto, já não possui muitos de seus principais elementos históricos em sua paisagem e outros estão em estado de degradação, na forma de um conjunto em um espaço, demarcando este centro histórico, que oficialmente, sequer existe. Rio do Sul, formalmente, não possui centro histórico e no local, onde este deveria ser considerado espacialmente, o plano diretor permite a verticalização de, até 12 pavimentos.

Este contexto é totalmente diferente no momento presente e sem as edificações.

Em alguns documentos narrativos e de pesquisas apontam que a cidade de São José possui problemas de infra estrutura e de aspectos urbanos, embora seus índices econômico estejam razoáveis, o que é perfeitamente compreensível, através da ocupação territorial indiscriminada, confusões de hierarquia viárias, sendo que algumas segregaram malhas urbanas dotadas inclusive de muretas como barreiras e impedimentos de  acesso. As partes mais urbanizadas sofrem com violência urbana, onde partes da cidade são segregadas de outra parte a partir de muros e vigilância. Há  aspectos relacionados à drenagem, com áreas expostas à alagamentos, mobilidade, com congestionamentos e sistema de transporte deficiente - sendo que não existe mais o modal marítimo, com toda a extensão litorânea que liga a Florianópolis e responsável pelo surgimento da primeira nucleação urbana histórica de São José surgir.

Para ilustrar esta pesquisa, fotografamos o centro histórico de São José da Terra Firme, onde está localizado o primeiro teatro construído no estado de Santa Catarina.

Teatro Adolpho Mello - construído em 1854.

As imagens comunicam...

Igreja matriz São José - 1765. No local desta, anteriormente teve uma capela de taipe e outra de madeira.

Praça da Igreja Matriz São José - Praça Hercílio Luz.


Frontão da Igreja Matriz - Detalhe decorativo de São José em azulejos pintados.

Bloqueio visual com mar.

Praia e mar aos fundos das casas - nas proximidades da Igreja Matriz, outrora com a vista do mar.


Esgoto na praia.

Praia nas proximidades da Igreja Matriz - preterida na paisagem.






Mar das embarcações de outrora - atualmente  preterido na paisagem.






Monumento da chegada dos açorianos na metade do século XVIII. Ao fundo o Museu de São josé.

Torre da Igreja Matriz - lembra as torres em forma de cebola do Sul da Alemanha.

Via na lateral esquerda da Praça da Igreja Matriz São José.

Contraste do Centro Históricos - a partir da Arquitetura.




Contraste do Centro Históricos - a partir da Arquitetura.


Detalhes.

Eclético.











Museu de São José SC.








Praça Hercílio Luz.









Residência com características da casa do descendente do imigrante português, no entanto, com o símbolo do brasão alemão em alto relevo aplicado em uma de suas fachadas - a formação do perfil identitário da cidade de São José a partir de sua história. 



Teatro Adolpho Mello - construído em 1854.

Teatro Adolpho Mello - construído em 1854.




Igreja de Nosso Senhor do Bonfim.

Igreja de Nosso Senhor do Bonfim.

Além mar - Ilha de Santa Catarina - Nossa Senhora do Desterro - mar desprovido de embarcações.



Característica tipologia de madeira construída por migrantes oriundos da Serra catarinense.

























Tipologia com mansardas - detalhes da casa do imigrante alemão.


















Aos fundos - Florianópolis SC.



Ilha de Santa Catarina - além mar. Mar sem embarcações.



Resquícios de outros tempos.




Esgoto e fauna local - praia.



Edifícios entre o mar e o Centro Histórico.




Sinal de jardim de propriedade de imigrante alemão.










Biblioteca Pública Municipal Albertina Ramos de Araújo.



Leituras Complementares - Clicar sobre o título escolhido:


Em Construção...









2 comentários:

  1. Gostaria de saber mais sobre o pelourinho, foi muito pouco falado tem alguma fonte

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    1. Não tenho fonte. Se descobrires, coloque aqui, por favor.
      Abraços.

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