Angelina Wittmann - Arte-Cultura-História e Antropologia : Igreja Preta - Igreja Evangélica Ribeirão do Tigre Arquitetura Religiosa

Os templos, ao longo da história, estão intimamente ligada às práticas da sociedade que os constroem, o que justifica a prática de observarmos muitos destes, no território catarinense e também, em outras regiões pesquisadas por nós e pesquisa compartilhada no Blog - alguns link's no final desta postagem.

Nas andanças pelo Alto Vale do Itajaí, território da antiga Colônia Blumenau, nos foi mostrado a "Igreja Preta" - uma pequena igreja de madeira, com características estéticas do neogótico, construída por descendentes de imigrantes alemães da região. Segue o padrão de muitas igrejas, as quais já visitamos e registramos, como por exemplo: o destaque na centralidade da nucleação urbana e sua proximidade com a escola, quase sempre na parte mais elevada do território, o que não ocorreu com esta em especial.

Esta arquitetura histórica religiosa da região está localizada no caminho principal - estrada - da Comunidade Ribeirão do Tigre, no município de Agrolândia SC.

Sua planta baixa possui a forma retangular, com a presença de uma torre/campanário somente, centralizada na fachada frontal, com um alpendre sobre a porta principal, também em madeira, como também as aberturas e estrutura do telhado que originalmente, foi coberto com telhas planas, ou germânicas, de cerâmica. Observamos que o alpendre foi construído posteriormente e originalmente coberto com telhas francesas - diferente daquelas usada na igreja. Poderia-se afirmar que teve uma reforma antes da última ocorrida em 2014, quando se construiu o alpendre e se trocou as telhas do corpo principal - trocando as telhas planas cerâmicas por telhas francesas cerâmicas - contraste grande. As telhas planas cerâmicas permaneceram somente no telhado da torre.

Atualmente, desde de 2014, toda a igreja é coberta com telhas tipo Shingle - conhecida telha de asfalto, que possui o mesmo aspecto visual da telha plana original cerâmica, no entanto, fabricado com outro material que não o barro, e também, não é tão sustentável quanto as telhas cerâmicas.

Fotos da Igreja, antes da reforma

Mais original, sob a ótica do acabamento e do entorno - com gramado, no local das britas.

Alpendre com telhas francesas - destoa, como também, o corpo principal que também teve suas telhas trocadas para francesas - nesta época. Colocado posteriormente. corpo da igreja com o revestimento original e que protegia, de fato, a madeira e também, lhe forneceu o apelido - "Igreja Preta". O gramado complementa a paisagem bucólica, ao contrário das britas colocadas atualmente. Foto do Site da Prefeitura de Agrolândia.

Detalhe do revestimento carbolineum, que protegia, de fato, a madeira e também, lhe forneceu o apelido - "Igreja Preta".Alpendre - construído posteriormente, foi coberto com telhas francesas cerâmicas e também o corpo da igreja - em uma possível reforma, antes desta de 2014. Originalmente o copo da igreja era coberto com telhas planas ou germânicas cerâmicas - como ainda é presente na torre. Foto do Site da Prefeitura de Agrolândia - antes de 2014.

Foto do Site da Prefeitura de Agrolândia - antes de 2014.

Foto do Site da Prefeitura de Agrolândia - antes de 2014.
História

O terreno para a construção da igreja da Igreja Evangélica Ribeirão do Tigre foi doado por Weidlich Siegel no início da década de 1930. De acordo com informações da AMAVI em seu fichário do Projeto Resgate do Patrimônio Histórico do Alto Vale - Formulário 3, a "Igreja Preta" foi construída em 1961 e um de seus carpinteiros viveu até meados de 2015 - Heinrich Krieser.

O material predominante para a construção da igreja, foi doado pelas serrarias locais Siegel e Grimm - esta última de propriedade do pioneiro Otto Grimm. Suas paredes são duplas de madeira garantindo o conforto térmico acústico, com aberturas, também em madeira, munidas de bandeira sobre porta e janelas, com a forma de arco ogival, característica de igrejas góticos e neogóticos, muito usados na Alemanha, porém, esta de Agrolândia, desprovida de vitrais. As janelas e portas são providas de duas folhas de abrir.

Sua cor e principal característica que a fez conhecida como igreja preta é resultado de seu acabamento externo feito com carbolineum - que segundo uma entrevista Do Vale Agrícola - (Link no final) não é mais fabricada - material tem a cor predominante preta e protege a madeira contra umidade, apodrecimento precoce, traças, cupins, borboletas do canino, rachaduras e desgaste natural do tempo. A praticidade da comunidade criou uma das principais características da igreja.

Em 2014 foi feito uma grande reforma e "melhorias" na igreja, onde foram trocadas as telhas de cerâmica plana ou germânica (mais sustentável), pela telha de tipo Shingle, de um subproduto de petróleo, "limpado' o jardim com a colocação de brita em todo o seu entorno e uma escada de material destoante na porta dos fundos. Também a madeira do fechamento (paredes externas) recebeu então uma pintura de um tinta automotiva preta, que de certa maneira a descaracterizou e também pode contribuir para problemas futuros. Em nossa pesquisa sobre enxaimel, na Alemanha, onde estivemos com o arquiteto alemão de München, Holger Göttler, responsável pelo patrimônio histórico arquitetônico da cidade medieval de (para ler sobre - clicar sobre o nome da cidade), Dinkelsbühl, descobrimos de que não se deve pintar a madeira com este tipo de tinta. Este é um dos motivos que a estrutura de madeira nesta cidade, receba reboco, para sua proteção à umidade e às pragas, uma vez que a pintura não é recomendada, pois apodrece o material, por não permitir a "respiração".

O arquiteto Holger Göttler falando sobre o material que reveste a estrutura de madeira e seus danos.

Também lembramos que o revestimento de tinta, não protegerá a madeira das paredes da igreja contra o ataque de cupins e outras pragas, o que promovia o Carbolineum - uma das funções de seu uso pelos pioneiros. O que levou a comunidade trocar o material de revestimento? Refletiram sobre estas questões práticas?

A brita no local da grama e o contraste de edificações "sobre" a arquitetura histórica.Onde se poderia ter o contato visual, se não estivessem ali, com o lago localizado aos fundos. Imagens do drone de Tiago Metzner

Lago localizado aos fundos elinda paisagem aos fundos. Imagens do drone de Tiago Metzner

Além das interferências, durante reformas, em sua arquitetura, a igreja histórica, também recebeu acréscimos de construções novas no seu entorno, que não estavam lá e contrasta muito com o conjunto rural. Percebemos que há muitos espaço vagos onde se poderia fazer esta novas construções que "abraçaram" a pequena igreja.

Curiosamente fomos buscar se há outra igreja similar a esta do Alto Vale do Itajaí. Até então, esta é a única com estas características, existente no Brasil. Há uma igreja semelhante, localizada de maneira isolada, na Islândia - conhecida Igreja preta de Budir.