Edifício em construção formado por duas torres. A primeira está quase concluída. Ocupou o terreno do Lanche do Feio - em frente à sede da NSC Total, antiga RBS TV.
 |
Em breve, uma nova paisagem no entorno do local onde ficava o Edifício Pamplona. |
Houve algum estudo técnico, a partir da escala da cidade, para esse processo estar em andamento, a curto, médio e a longo prazos? Quais as consequências para a memória e para a história de Blumenau? Houve um estudo do conjunto paisagístico?
Decidimos registrar e publicar este material para a história. E iniciaremos a análise deste edifício de uso misto residencial/comercial com 4 pavimentos, o Edifício Pamplona. Fotografamo-lo em 2020 ciente de seu volume e aspectos arquitetônicos dentro da paisagem urbana, daquele momento.
 |
Ao lado esquerdo do Edifício Pamplona está o Edifício Charilam - resultado da fusão dos nomes da esposa e filhos de Arthur Rabe Júnior - que eram Charlotte, lona e Ivan. Sua construção teve início no final da década de 1950, o que comprova, sua parede estar desprovida de reboco, após a demolição do Pamplona, que já estava no local. |
Em um momento recente o vimos totalmente vazio. Por isso, novamente o fotografamos. Não encontramos o registro em nossos arquivos. Assim que o encontrar, publicaremos neste espaço.
 |
Wurststrasse (Estrada da Linguiça), atual Rua XV de Novembro. Em primeiro plano, à esquerda da foto, a casa comercial e residencial de Gustav Ermlich, edificada com a técnica construtiva enxaimel. |
Estava localizado, na
Rua 7 de Setembro, Nº 1359, região do entorno do
Shopping Neumarkt (área com grande potencial histórico, cultural, público comercial e imobiliário). Isso evidencia definitivamente, que esta região, parte da área central de Blumenau, com características única, terão modificadas suas paisagens natural e construída modificadas ainda na próxima década. O processo de mudança nesta região teve início há aproximadamente 10 anos.
 |
Localização. |
 |
Em cidades desenvolvidas existe a intermodalidade e espaços públicos de qualidade, priorizando a menor escala de usuário para a maior. Depois do pedestre, em importância, está o ciclista. O gabarito dos edifícios é outro quesito observado dentro do Projeto de cidade. |
A transformação da paisagem e dos espaços urbanos na centralidade de Blumenau, que possui um grande valor de mercado imobiliário, é atraente para "os negócios" desprovidos de cuidados, tal como ocorre em muitas outras
cidades brasileiras, uma característica de um país subdesenvolvido e nada tem a ver com o "progresso", argumento que muitos erroneamente utilizam para justificar estas ações e suas consequências nas paisagens das cidades. Em países realmente desenvolvidos, a realidade é outra e está relacionada com a manutenção e valorização da paisagem histórica compostas por edificações de valor histórico e, a presença de espaços públicos de qualidade dentro das muitas escalas, sempre privilegiando a escala do homem.
No caso do processo que ocorre nas cidades brasileiras, é consequência imediata das iniciativas de cada um dos proprietários, de maneira isolada, os quais, necessariamente, não são técnicos e muito menos apresentam
diretrizes lógicas que os orientem dentro do
Urbanismo, a partir da municipalidade.
 |
Em Paris, capital centenária da França, é perceptível a "textura" do tecido urbano, a partir do período histórico (cuidado), do gabarito, dos caminhos e equipamentos urbanos, do paisagismo. Desenvolvimento. Aos fundos, fragmento de tecido de cidade construído no presente, com critério e qualidade, criando espaços novos valorizados para o mercado imobiliário, também. Pois o foco é qualidade da cidade de todos. |
Nem sempre a responsabilidade do ocorrido em lugares, como este de Blumenau, está com o proprietário, mas sim, acontece pela ausência de diretrizes, normatizações adequadas, fiscalizações justas, assessoria e orientações técnicas por parte dos órgãos públicos (atualmente muitos assumem o papel de parceiros), apoio técnico e financeiro para edificações dotadas de grande valor histórico e valorização do mesmo enaltecendo o bem feito de quem contribui para a elaboração da boa paisagem urbana e caminhos de sua cidade.
 |
Fonte: WITTMAMM, 2021. |
O edifício residencial Pamplona foi demolido em 2 de fevereiro de 2025, domingo e, na segunda-feira, dia 3 de fevereiro, foi iniciada a remoção do "lixo criado" no local, algo totalmente inviável em um país realmente sustentável. Esta questão exatamente é que tornou a
técnica construtiva enxaimel, a primeira opção na construção unifamiliar residencial em algumas regiões da Alemanha atual. Não "cria" lixo.
 |
Casa com estrutura enxaimel contemporânea - a técnica mais sustentável não somente na Alemanha, mas em outros países da Europa, construída com madeira de reflorestamento e dentro da fábrica com máquinas de última geração. Não há desperdício de materiais e o mínimo de geração de lixo e demanda de energia. Casa sustentável, com objetivo em obter selos de qualidade. No caso de sua "demolição" todo o material é reaproveitado em uma nova construção. Não é um Neoenxaimel, e sim parte da evolução da técnica construtiva enxaimel no tempo presente. Fonte: Lumipolar, 2020. |
Na técnica construtiva enxaimel, além de apresentar o uso da estrutura de encaixes e sua versatilidade mediante a
disponibilidade de diversos materiais alternativos para seu fechamento, apresenta também, o aspecto ecológico e seu uso relacionado à
sustentabilidade do bem morar sem gerar lixo, pois ao "desmontá-lo", se permite o uso do material com sua reutilização. Pode-se até mesmo reconstruir a edificação em questão, em outro local, sem qualquer perda ou desperdício enérgico. Também em alguns lugares de Santa Catarina, a técnica construtiva enxaimel é considerada (a partir de narrativas convenientes) de coisa velha.
De acordo com o professor da FURB, do curso de Engenharia Florestal, e também pesquisador do uso da madeira na arquitetura, Dr. Jackson Roberto Eleotério: “[...] a madeira é o único material que pode atingir a sustentabilidade. Concreto, vidro, cerâmicas, plásticos só emitem carbono em seus processos produtivos, enquanto a madeira acumula carbono.” WITTMANN, 2019.
 |
Entulho do Edifício Pamplona fotografada por Guerreiro. O entulho tem a presença de tijolos maciços - comunicando parte da técnica construtiva adotada e que poderia ser reaproveitável. |
Observando alguns elementos arquitetônicos e materiais usados no edifício, estimamos que a época de sua construção se reporta à década de 1940 ou 1950, e com isto, afirmamos que foi um dos primeiros de uso misto: residencial e comercial, construído em Blumenau.
.jpg)
O edifício possuía o uso comercial no pavimento térreo e contava com seis apartamentos residenciais nos demais três pavimentos, sendo que a circulação se localizava no centro da planta geral de um pavimento. As escadas estavam localizadas na parte dos fundos, criando um "colchão" de ar, equilibrando a temperatura interna dos ambientes, que também recebiam influência da mata localizada aos fundos do edifício.
 |
Fotografia: Victor Guerreiro. |
ArquiteturaA arquitetura do
Edifício Pamplona, foi pioneira na cidade de
Blumenau a partir de sua
técnica construtiva, estilo e uso, mediante a adoção de linhas retas, uma das características da
arquitetura Moderna que chegou ao Brasil no final da década de 1920 pelas mãos do arquiteto ucraniano sediado neste país,
Gregori Warchavchik que projetou sua casa modernista em
1927 e a construiu em 1928, em São Paulo. Era tão "limpa" de adornos que o
Setor de Análise de projeto da Prefeitura de São Paulo o devolveu para que fosse terminado, pois deduziram que estivesse incompleto. Isso tudo após o evento da semana de
Arte Moderna em 1922, responsável pelo ideário modernista na área das artes, também em São Paulo e de lá para o Brasil. Nessa época o engenheiro blumenauense
Emil Heinrich Baumgart, já construía suas primeiras obras em concreto armado no
Rio de Janeiro.
 |
Arquitetura com informações simplificadas em sua volumetria a partir da racionalidade, funcionalidade e simplicidade das linhas, porém com aberturas de madeira, envidraçadas. |
Com isto, ousamos concluir que o
Edifício Pamplona é um dos primeiros edifícios construídos em Blumenau, com linhas retas, porém com técnica construtiva usada no século XIX, como o estuque e paredes autoportantes. A título de esclarecimento o edifício projetado pela arquiteto
Hans Broos, considerado o primeiro de Santa Catarina, construído com concreto, conhecido como
Grande Hotel, foi inaugurado somente em 1962.
A estrutura do edifício demolido é mista, observando-se as fotografias dos escombros feitas por Guerreiro. Percebe-se que no pavimento térreo onde estariam locados os espaços comerciais, há a presença de ferragem e concreto, sendo que os demais pavimentos, contam com paredes autoportantes construídas com tijolos maciços e contando com parte em madeira, que em determinados locais recebeu o estuque. Mesmo que o blumenauense
Emil Heinrich Baumgart, considerado o pai do concreto armado no Brasil, tenha feito uso do mesmo ainda na década da 1920 na capital do país, Rio de Janeiro e, em Santa Catarina, em 1926, quando usou o material estrutural na ponte que leva o seu nome, na cidade de Indaial, no edifício foi somente usado no primeiro pavimento.
A parede autoportante de tijolos maciços foi muito usual na arquitetura do início do século XX. Era comum na forma de construir do Sul da Alemanha, influência do Império Romano, e também entre os italianos que migraram para a região do Vale do Itajaí, na virada do século, porque marcou a adoção de uma nova maneira de construir que ilustrava a mudança social em Blumenau e região com a presença de novos comerciantes e da indústria regional. Esta nova elite social adotou a arquitetura internacional vigente, na época o neoclássico (de berço italiano) e o eclético. Já apontamos o tema em alguns artigos que apresentam casarões locais construídos nesse período, virada do século XIX para o século XX.
 |
Casa Salinger & Cia. e residência de Peter Christian Feddersen, Altona - atual Itoupava Seca -Ano 1890. A edificação ainda não tinha a presença do Dachgaube no telhado/sótão. |
A preocupação com o acabamento do forro, apresenta a opção do estuque fixado nos barrotes de madeira, perceptível na fotografia dos escombros.
 |
Locais da madeira da estrutura do assoalho e do estuque. Fotografia: Victor Guerreiro. |
 |
Nesta fotografia é possível observar a estrutura de concreto através da presença das vigas e ferragens e os tijolos maciços das paredes autoportantes. Fotografia: Victor Guerreiro. |
Aberturas
As aberturas lembram as da tipologia adotada na arquitetura dos pioneiros da região do Vale do Itajaí - antiga
Colônia Blumenau. Portas e janelas de madeira envidraçadas, porém, de correr com bandeiras envidraças fixas e ou, com venezianas para ventilação. Este ponto afasta muito a tipologia em questão do objetivo de quem a construiu: uma tipologia de arquitetura Moderna. Os materiais e formas das aberturas eram clássicos e se reportavam à casa pioneira da região.
 |
Janelas de madeira, envidraçadas, com bandeiras veneziana, de correr. Lembram as aberturas da casa pioneira da região. |
 |
Fotografia de 2020, quando sua volumetria nos chamou atenção e de quanto estava exposto dentro do espaço da cidade mostrando a ausência de manutenção. |
Cobertura
Na vista superior observada no mapa fornecido pelo Google Earth é possível observar 3 panos de telhados inclinados e escondidos atrás de platibandas, criando uma volumetria final de um volume simples formado por linhas retas.
Se fosse feito esse mesmo volume com tecnologia predominante na arquitetura Moderna, esta cobertura seria construída com laje de concreto impermeabilizada e talvez, dotada de revestimento cerâmico como acabamento. Sua construção era pioneira e de vanguarda, na região.
O teto dos apartamentos, de acordo com observações dos registros fotográficos de Guerreiro foi construído com estrutura de madeira, o que leva a crer sobre a possibilidade de que o piso era assoalho de madeira, com estuque na parte inferior, criando o teto em cada um dos apartamentos e também da circulação do edifício. Mais uma vez, evidenciando a idade de sua construção, de acordo as técnicas adotadas nos elementos arquitetônicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário