segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Wandschoner - Panos de Parede

Bordado de Johanna Wittmann em pano de linho.



Bordado de Johanna Wittmann em pano de linho
O Wandschoner - Panos de Parede - foi uma peça de decoração usada nas casas de regiões que formaram os países da Alemanha, Áustria, Hungria, Holanda, Suíça, norte da Itália, Dinamarca, Croácia entre outros, no recorte de tempo entre os anos de 1870 e 1930 - e encontrada, ainda,  até a década de 1950. Muitos da geração contemporânea de descendentes de imigrantes alemães, ainda lembram destes, nas casas de suas Omas e Opas. Primeiramente foi usado pela burguesia e elite e mais tarde, como sempre acontece, adotado pelas demais representações sociais, chegando também no campo, nas residências do campo e nas residências dos trabalhadores da indústria emergente. Lembramos que nesta época aconteceu o início do desenvolvimento das indústrias têxteis na Alemanha - as peças eram ricamente bordadas com esmero e riqueza. As famílias possuíam coleções de Wandschoner. 
Fazia parte das atividades das mulheres da região europeia citada, no final do Século XIX e início do Século XX, a prática do bordado.  Uma das peças, entre outras, como: toalhas, protetores de utensílios, cortinas, colchas, peças intimas da indumentária feminina, era o Wandschoner - protetores de parede. 

Eram bordados em diversos pontos e motivos com frases poéticas, religiosas, cômicas, tidos folclóricos, populares. Os motivos, também variavam entre cenas do cotidiano, natureza, religiosos, mitologia, etc. - como flores, pássaros, ramos, pessoas, anjos, passagens bíblicas...etc.
Bordado de Johanna Wittmann em pano de linho.

Bordado de Johanna Wittmann em pano de linho.

Acabamento e como fixar.



Bordado de Johanna Wittmann em pano de linho.
Krüger Haus - Trombudo Central.
Eram bordados, além dos Wandschoner,  protetores de Caixas de Bauer em Herrgottwinkel (Tipo de canto alemão) nas salas, também, bordados em linho para armários da sala. Os motivos com temas moralizantes, engraçados, educativos, poéticos, provérbios religiosos.
No Museu das Mulheres de Hittisau - Áustria, há um grande acervo e solicitam, se alguém tiver em casa e quiser doar para a coleção, composta por peças emprestadas, não importa o estado de conservação, pode fazê-lo.

O  Wandschoner foi trazido para o Brasil pelos imigrantes alemães. Em Santa Catarina,  o primeiro grupo de imigrantes alemães chegou no ano 1828  em Mafra (Ler pesquisa no item 1 da lista de sugestões de leituras, no final) e no Vale do Itajaí , em 1850. Portanto, nestas épocas não se usava estas peças de decoração - Panos de Parede nas casas da região, onde atualmente é Alemanha - Que só passou a existir no ano de 1871. Pode-se afirmar que - a prática de usar o Wandschoner surgiu quase junto com o estado alemão.  Os Panos de parede foram e são encontrados (Os que resistiram ao tempo e foram guardados) em várias regiões brasileiras onde moravam famílias de imigrantes alemães e seus descendestes.





Pessoas confundem a origem desta peça decorativa no Brasil, acreditando que a mesma veio com imigrantes italianos. Não confere. 
Na Alemanha, os Wandschoner eram bordados em tecidos de algodão ou linho. No Brasil, oportunizavam sacos de farinha e ou de algodão cru que servia de embalagem de algum produto farináceo. Na Alemanha eram usados na sala de estar e nos quartos, como também no Brasil. 
No Brasil, em algumas regiões, erroneamente é propagado que os Wandschoner  foram criados para minimizar a rusticidade das primeiras edificações dos colonos - imigrantes alemães, em um primeiro momento quase todos agricultores. Errado - esta afirmativa era propagada por brasileiros de outras etnias que desconheciam a herança cultural e muitas vezes usavam os Panos de parede para este fim. 
A grande maioria dos imigrantes, pelo menos aqueles que vieram para a Colônia Blumenau, vieram de centros médios grandes e trouxeram consigo uma "moda" usada na Alemanha e adequada ao local, com os materiais que tinham disponíveis no local (Quase da mesma maneira, como que construíram suas primeiras casas). Portanto, entre os imigrantes e seus descendentes, não se usava o Wandschoner para cobrir paredes rústicas de casas rudimentares das primeiras famílias que vieram para a região. Era uma prática feita por mulheres caprichosas que buscavam encantar suas residência, como já o faziam na Alemanha.



Wandschoner ou panos de paredes bordado pela imigrante austríaca - Blumenau - Friderike Döor


Gamela
Atualmente, na Alemanha e também aqui no Brasil, não se tem mais esta prática do uso dos Wandschoner nos enxovais das moças e tampouco nas paredes das casas. Tal qual não se usa mais fogão a lenha, nem equipamento de fazer banha, nem gamela e rancho. 
Talvez restou a prática de bordar toalhas, de todos os tamanhos e tipos, roupas de cama e lenços. 




Não se tem mais o uso do Wandschoner. Ficaram as peças históricas do enxoval que ainda existem, de uma prática que fez parte de hábitos de costumes de um povo, de famílias que dentro de suas famílias trouxeram para o Brasil - a partir de um recorte de tempo. Ficou a lembrança muito viva, da casa da Oma e de uma parte da História dos descendentes dos imigrantes alemães no Brasil.

Johanna Wittmann, mãe do Roberto Wittmann, ensinou sua neta - Isabel Wittmann a bordar e assim prossegue.
Bordado de Isabel Wittmann - com a idade de 12 anos
aulas com a Oma  - Johanna Wittmann





































Outras imagens do Wandschoner











Lembra os trajes dos pomeranos






Estão comercializando "Wandschoner" em locais onde a cultura não tem mais o lastro, que tinha no final do Século XIX e início do Século XX. Não houve uma continuidade e muitas vezes estão totalmente descaracterizados. Apropriam-se de uma prática, a partir do seu discurso, muitas vezes sem conhecer sua origem e comercializam-na com a bandeira "é coisa de alemão". É importante lembrar que o Wandschoner fazia parte do enxoval das moças e estas, o faziam nas noites e, nos dias frios. 
Poderiam comercializar, como algo contemporâneo, uma nova linguagem que reporta e lembra passagens históricas, mas não afirmar que é um resgate (para isto deveria estar guardado nos enxovais das moças solteiras - feitos por elas). É novo e está inserido dentro de um novo contexto social e econômico - usado para ganhar dinheiro
Wandschoner atual comercializado
Tradução: "Quem for hóspede no meu lar, deve ser agradável e bem vindo".




"Aos 16 anos bordei este panô. Foi meu pai quem me presenteou com o tecido já riscado e as linhas. A tarefa foi executada aos poucos, nos momentos de folga do trabalho na lavoura. Como não havia luz elétrica era necessário aproveitar a claridade do dia para a execução do bordado. Mesmo já tendo atingido os 82 anos de idade, ainda conservo intacta a peça que fiz com tanto carinho. Ela é parte das minhas memórias." Silvia Zuge  - em 29 de junho de 2021.

10 comentários:

  1. Maravilhosos! Lembro muito bem desses tipos de panos na casa da minha tia Regina. Ela adorava fazer esses bordados. Lembro-me bem de um que tinha estes dizeres: ' NA MINHA COZINHA NÃO FALAT GALINHA". Ficava pendurado em cima do fogão e tinha uma galinha bordada. O bordado era todo em vermelho.Pena que ninguém guardou. Minha prima Dalva também usava em sua cozinha.Parabéns por esta postagem.

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  2. Que lindo esse site! Tá de parabéns por manter vivas essas informações e muito obrigada por compartilhar!

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    1. Gratidão.
      É um grande prazer, poder compartilhar.
      Abração.

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  3. Amei ter encontrado esta página! Há tempos procurav! Lembro de ter visto muito isto na minha infância. Em 2011 consegui encontrar alguém que fizesse um pra mim. Obrigada por compartilha!

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    1. Que bom que lhe trouxe boas lembranças...Há entendimento errôneo sobre eles aqui no Brasil. Fez parte de um período artístico. Abraços.

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  4. Desculpem os erros! Escrevi depressa!

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  5. Obrigada por compartilhar... cultura é um bem precioso...

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  6. usado como decoração das família alemães.
    muito útil para cobrir as frestas nas paredes de madeira.
    serve para cobrir uma mancha na parede.
    com frases religiosas.

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