terça-feira, 4 de maio de 2021

Ultima Entrevista de Vilmar Vidor à jornalista Magali Moser - Idealizador do IPPUB, do Curso de Arquitetura e Urbanismo da FURB e pioneiro na Pesquisa da Técnica Construtiva Enxaimel em Santa Catarina

Fotografia do Professor Vilmar Vidor publicada na entrevista, feita por nós no seu aniversário de 2007 - 5 de maio. Imagem da capa da edição da revista  que publicou sua entrevista, com a imagem da casa do Engenhiro  (final da postagem) e do castelinho.

Magali Moser.
Na semana que acontece o 73° aniversário de nascimento (5 de maio de 1948) de Vilmar Vidor, apresentamos sua entrevista inédita à jornalista e pesquisadora Magali Moser, em outubro de 2015. O professor, arquiteto, professor, doutor Vilmar Vidor faleceu em 25 de novembro de 2015, um pouco mais de um mês após ter respondido às pergunta de Magali Moser. O Professor Vidor, recém chegado da França, foi acometido de um mal súbito em 15 de novembro de 2015  passou por um procedimento cardíaco. Enquanto internado, teve complicações de outra natureza, no Hospital Santa Catarina e não resistiu.
Vilmar Vidor em 1974.
Vilmar Vidor contribuiu muito com a cidade de Blumenau - através de seu trabalho e pesquisas, junto da academia e da administração pública. Recém formado (final de 1973), o arquiteto Vilmar Vidor iniciou seu trabalho na Prefeitura Municipal de Blumenau em janeiro  de 1974, no inicio do governo do ex prefeito Félix Theiss. 
A sua entrevista, inédita,  foi publicado na  Revista Blumenau em Cadernos N°1 T62, meses de Janeiro e Fevereiro.

Vilmar Vidor da Silva  - Arquiteto e Urbanista; Pós-Doutor; Professor; idealizador e 1° Presidente IPPUB - Instituto de Pesquisa e Planejamento de Blumenau; idealizador, fundador e professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da FURB; Escritor; Pesquisador; (...),  escolheu a cidade de Blumenau para emprestar sua formação e contribuir com projetos desenvolvidos na cidade, ao longo do período inserido entre as décadas de 1970 e 2015, de maneira prática, dentro dos cargos que ocupou paralelo às suas pesquisas.

Em entrevista inédita, concedida à Magali Moser semanas antes de falecer, em 2015, o professor aposentado da FURB, Vilmar Vidor da Silva, critica ações de germanização na cidade.
Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com doutorado na Université Paris I, na França, Vilmar Vidor da Silva se tornou conhecido pela participação atuante em questões decisivas da cidade. Foi Presidente do instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Blumenau (IPPUB), [1] um dos idealizadores do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Regional de Blumenau (FURB), onde atuou como professor, além de pesquisador, fotógrafo e batalhador incansável do patrimônio histórico.
Em homenagem à memória do professor Vidor, a revista Blumenau em Cadernos publica na íntegra a entrevista concedida por ele por e mail, quando morava na França, à jornalista Magali Moses em 16 de outubro de 2915, semanas antes de falecer depois de um mal súbito.
A entrevista publicada a seguir é inédita, foi realizada como parte da pesquisa de dissertação defendida em 2006 no Programa de Pós Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) intitulada Jornalismo Forjado: A participação da imprensa na imposição da identidade germânica de Blumenau, perla jornalista Magali Moser. O trabalho na íntegra está disponível no site na Biblioteca da UFSC e pode ser consultado no link (Clicar sobre): Jornalismo Forjado: A Participação da Imprensa na imposição da identidade Germânica em Blumenau

Legenda
M.M. - Magali Moser
V.V. - Vilmar Vidor.

As respostas desta entrevista foram enviadas por email por Vilmar Vidor para a jornalista Magali Moser, em 16 de outubro de 2015, às 12h58min. Registra-se que a imagem de abertura da entrevista foi extraída do Blog da arquiteta Angelina Wittmann

Observação: Nós numeramos [0] no interior do texto, marcando pontos que comentamos no final da entrevista, marcados pelos mesmos números.

M.M. Como surge seu trabalho de problematização de germanidade e o que o estimula a investigar este tema?

V.V. - Meu interesse pelo enxaimel é dos tempos do curso de Arquitetura na Faculdade da UFRGS em Porto Alegre. Tínhamos um excelente professor de História de Arquitetura e Urbanismo. Eu me formei em dezembro de 1973 e comecei a trabalhar na Prefeitura de Blumenau em fevereiro de 1974 sobre a implantação do Plano Diretor. Nessa época, início de 1974, corria na imprensa discussão acirrada sobre a construção do Mausoléu da Família Blumenau. Rolf  Herwig, meu chefe e assessor de planejamento da prefeitura, solicitou que eu realizasse um cadastro das construções em estilo típico da cidade. Emprestou-me sua máquina fotográfica para eu iniciar os trabalhos. O Prefeito anterior, Lazinho, havia feito aprovar na Câmara a lei de "incentivo às construções típicas". Na verdade, ninguém sabia direito o que se poderia considerar típico. O pai de Rolf Herwig tinha uma marcenaria e produzia portas, janelas, móveis, etc, ... e madeiramento para construções "típicas". Tinha-se como típico o sobrado suíço. Ainda encontramos alguns exemplares no Bom Retiro e no Bairro da Velha. Poucos, mas ainda existem. No ano seguinte, 1975, o prefeito  Félix Theiss, encomendou projeto para abrigo de ônibus "tipico". O vencedor do projeto  "típico enxaimel" viu, meses depois, os abrigos serem colocados, nas principais ruas do centro da cidade.
Os últimos ainda existentes, foram removidos pelo prefeito [João Paulo] Kleinubing para dar lugar aos caixotes climatizados, postos em 2011 na Beira Rio e 7 de Setembro.
Digo isto, para deixar evidente as dificuldades que se teve, e ainda as temos, para definir arquitetura com o reflexo cultural de uma sociedade. alguns consideram os caixotes climatizados uma maravilhar. Voltando ao fim da década de 1960, o então prefeito Evilásio Vieira, Lazinho, autorizou a construção de dois restaurantes em "estilo típico" para fortalecer o espírito da lei: o Moinho do Vale, já demolido, e o Frohsinn, consumido pelo fogo. O Moinho do Vale, em termos de típico, no meu entendimento, nada tinha. Constitui-se num casarão à beira do rio, sem nenhuma representação "típica", muito menos "germânica". A construção do Frohsinn foi "meia boca". Um pouco de enxaimel e um pouco de outras coisas. Todavia, o ambiente do restaurante, com joelho de porco, morcilha branca e piano ao vivo no cardápio passavam tal ideia do "germânico" para turistas, é claro. Este cenário forçado, um pouco romantizado, com músicas populares e bandinha "tipo Baviera", encontra-se em vários lugares do Brasil, no Rio Grande do Sul, no Paraná, em São Paulo, no Espírito Santo, em locais onde alemães se instalaram no século XIX, mesmo no século XX. Com a construção destes dois restaurantes no governo Lazinho e a construção do Mausoléu no governo de Félix Theiss, o governo esperava engendrar/reforçar o espírito germânico na cidade. Até então não existiam manifestações pró-preservação dos enxaiméis existentes, nem tampouco a retomada de novas construções "típicas" cidade afora. Tampouco nos outros municípios. Na verdade, com o advento do Plano Diretor em Blumenau, o espírito era de modernidade. Edifícios e mais edifícios eram bem vindos. Enquanto a construção do Mausoléu se desenvolvia abaixo de críticas (ver crítica de Luiz Antônio soares, no [Jornal de} Santa [Catarina], o edifício Brasília ganhava altura nos altos da Rua XV e o projeto do moderno edifício América entrava na prefeitura para análise. E não se falava em "típico"!! A Assessoria de Planejamento da prefeitura que começara seus trabalhos  no salão de baile do Clube de Regatas América, muda-se em 1974 para o edifício Koffke, onde hoje está a Câmara [de Vereadores]. Ninguém fala em típico. O meu trabalho de cadastramento do "típico" vai por água abaixo, ninguém dá bola, ninguém sente falta. O tal de cadastramento resumiu-se a algumas fotos. Em 1976, assume o governo, o prefeito Renato de Mello Viana. Renato Viana era conhecido como homem ligado às artes, à literatura, à cultura de forma geral. Ao assumir, ele enfatiza o tema "típico" e abre portas para projetos de construção do "estilo". Faz aprovar na Câmara lei isentando IPTU para imóveis novos no "estilo típico". E então construíram os edifícios na Rua XV, imediações do edifício da Hering, hoje todos servindo para agências de banco. Em junho de 1979, antes das construções [2]"neo-enxaiméis" da XV, eu sigo para a Europa, para o trabalho de doutorado. Até então não havia, senão poucos questionamentos sobre o tal de típico. O que eram mais notadas eram as críticas de Luiz Antônio Soares, no Santa, contra o neo-enxaimel do Mausoléu. 
Neste ínterim, eu não estava na cidade. Mas soube depois, ao voltar, que Luiz Antônio tinha recebido o Prêmio Esso por ter afrontado a prefeitura, em reportagem, contra a derrubada da [3] ponte de madeira coberta na Rua Bahia. Enquanto eu estudava a formação do capital industrial do Vale do Itajaí sob a ótica marxista, para minha tese de doutorado, a Prefeitura de Blumenau decide construir seu novo prédio, "neo-enxaimel"!!! 
Prefeitura Nova de Blumenau.


Aqui a polêmica toma força, mas eu não estava na cidade. Muitos contra e outros, a favor. quem liderava a polêmica era Luiz Antônio Soares. Ao estudar as origens dos imigrantes em Blumenau, forço-me o porque da [4]arquitetura enxaimel. 
A partir de então dediquei-me com certo afinco sobre "gênese" do enxaimel e porque a reprodução em Blumenau. Ao retornar a Blumenau, em maio de 1984, após a conclusão do doutorado e com o novo prédio "neo-enxaimel" da prefeitura concluído, eu propus ao IPS (Instituto de Pesquisas Sociais) da FURB, lugar onde trabalhei por 10 anos, uma linha permanente de pesquisa sobre "Patrimônio Histórico Arquitetônico de Blumenau com o apoio do CNPq (órgão em que eu estava filiado) e do IPHAN. tanto o CNPq, como o IPHAN aprovaram nosso projeto e injetaram algum recurso (pouco) para o início dos trabalhos. É neste ponto que a discussão do "típico" e da cultura germânica (problematização), no meu entendimento, toma força. [5]Nosso projeto consistia no cadastramento dos imóveis de interesse histórico arquitetônico no município e envolvia a comunidade universitária com questionamentos e com a participação física do cadastramento. Os alunos do curso de engenharia civil, nas disciplinas que eu trabalhava, apresentavam como trabalho, reprodução em desenho dos móveis previamente cadastrados por mim, de acordo com os termos técnicos do IPHAN/UNESCO.
Em 1985, o curso de arquitetura ainda não existia. Ele começava a ser engendrado no IPS, por mim, neste mesmo ano de 1985 e, finalmente implantado em 1992. Alguns meses após os primeiros levantamentos cadastrais, a professora doutora Amábile Dorigatti propões trabalho em nível social, sobre a conscientização "do morar" e da identidade social no contexto urbano. A adesão da Professora Amábile foi fundamental para o bom desenvolvimento do trabalho e, também, pela polemização do tema, até então sobrevoando incertezas. Numa primeira etapa do trabalho, cadastramos mil imóveis e publicamos vários textos, muitos deles no Santa. Textos sobre a origem do enxaimel e a relação com os imigrantes. Textos sobre a identidade da cidade, a germanicidade e o enxaimel. Além de outras coisas. Nunca tivemos como objetivo publicar livro sobre o cadastramento, ou sobre o Patrimônio Arquitetônico de Blumenau. Hoje, acho que deveríamos ter publicado, mas nosso objetivo, de toda a equipe, foi sempre o de discutir e conscientizar para e com a população sobre a importância de preservar as casas como cultura cristalizada, perene, nas paredes, nos telhados, nos recheios das casas habitadas por duas ou três gerações. incentivamos a criação, eu e a professora Amábile, da [6] Associação dos Proprietários de Imóveis Antigos de Blumenau que durou uns 8 anos, até ser esfacelado por intrusões políticos-partidárias. Realizamos um vídeo, patrocinado pela RBS e pela extinta Varig. O vídeo está no YouTube: Patrimônio Arquitetônico Histórico de Blumenau. 
[7] Trabalhamos com as crianças de várias escolas municipais. Um desenhista, adolescente de 14 anos, entusiasta da arquitetura enxaimel, Fabio Belli (hoje ele é sociólogo, professor em Londres) propôs a construção de uma revista infantil para colorir no tema "arquitetura enxaimel". Este trabalho com as crianças, além de muito gratificante, nos encheu de boas e grandes emoções. Foi um dos melhores trabalhos de conscientização que fizemos. Crianças, espontaneamente, apresentavam como trabalho de classe, maquetes de papel, na técnica enxaimel. Os repórteres do Santa nos visitavam com frequência para colher novidades. Para encerrar a resposta sobre sua primeira pergunta. Esta foi a minha inserção na problemática. Decorrente deste mergulho eu fui obrigado a explicar academicamente, tanto em técnica construtiva, tanto em manifestação sócio/cultural de um povo.  Realizamos vários seminários, juntamente com o IPHAN aqui em Blumenau, em Pomerode, em Florianópolis, na UFSC, para discutir a questão. Uma coisa é certa: o que fez explodir as discussões na cidade  foi a construção da nova prefeitura em falso enxaimel (*). Todavia, nestes anos de 1982 a 1984 não se tinha bem certeza do "legado" enxaimel na construção da personalidade local. (*) Explicação: neo-enxaimel é o edifício do Mausoléu. É utilizada a técnica, mas não da forma corriqueira. O desenho é melhor elaborado, mais estilizado. A sede do Banco Itaú, ao lado do teatro também serve como exemplo. Os dois edifícios de tijolos aparentes na 7, sede das agências bancárias, na esquina do terreno do Sagrado Coração, resultado meia-boca entre enxaimel e sobradão suíço. Falso enxaimel é o edifício moderno feito de concreto e tijolos cujas fachadas são enfeitadas com sarrafinhos, tal qual a nova prefeitura, o prédio da justiça do trabalho, o prédio do correio, as agências de bancos na XV. Dentre as agências, a tentativa de imitação do Bradesco é mortal, avacalhamento total. 

M.M. - Pesquisa recente do Volles, apontada como inédita, coloca Blumenau como a cidade do país com o maior número de casas enxaimel. Parece-me, no entanto, que o senhor já havia feito pesquisa semelhante no passado, certo?
A pesquisa do Volles não é inédita!!! Quem apontou como inédita não conhece o que já foi feito. O Instituto Histórico de Blumenau às vezes emite opiniões nada a ver. Assim como  funcionários novos da prefeitura e, mesmo, seus colegas jornalistas pouco feitos ao tema. O Clóvis, o Tonet, o Michel, o Mund, o Rodolfo e  vários outros acompanharam nosso trabalho nos anos 1980 e 1990. E vários colegas da FURB, muitos ainda na ativa. Jacqueline Samagaia foi estagiária durante dois anos no projeto de Patrimônio Histórico e, seu trabalho de mestrado na UFSC foi justamente sobre o Patrimônio Histórico de Blumenau. Nos tempos em que desenvolvemos o projeto no IPS/FURB, cadastramos 1400 imóveis. Não cadastramos  apenas enxaiméis, cadastramos todos os imóveis que significavam retrato da imigração. Não só alemã, mas de aporte italiano e de aporte português. A construção de cidades, ou de bairros, não se faz com um estilo, ou com uma [8] única técnica construtiva. Naturalmente a mixidade se impõe, traduzindo em concreto no espaço físico o aporte cultural de cada um. Nosso trabalho teve como objetivo principal, muito além do cadastro técnico (fichamento, desenhos, fotos, entrevistas, filmes, publicação de textos), a conscientização das pessoas sobre a importância de seu modo, sua forma de morar, seja na herança genealógica que for. Em 1993 quando assumi a direção do IPPUB, eu pedi autorização na FURB para repassar a integralidade do cadastro técnico do Patrimônio Histórico Arquitetônico para lá, para melhor gestionar o tema, e claro, intensificar a conscientização sobre a preservação. Portanto, o cadastro de enxaiméis já existia bem antes e está nos computadores da Prefeitura. Não posso dizer o mesmo sobre a [9] FURB. quando o IPS foi extinto eu já não estava mais na FURB e não sei onde forma parar nossos documentos referentes às pesquisas. Soube muito tempo depois, na voz de Sueli Petry, que muitos dos desenhos foram entregues na Fundação Cultural. ainda com relação ao levantamento de Paulo Volles, eu deixei claro junto à [10] Angelina que participou do trabalho, sobre minha contrariedade. Além deste trabalho já ter sido feito, eu acho que a prefeitura deveria apoiar financeiramente os donos  dos enxaiméis, muitos sem condições  financeiras para reformar estas casas.  Nada tenho contra Paulo Volles, tenho sim contra a política errônea da prefeitura de, ao contrário de apoiar os donos dos imóveis, gasta R$ 40 mil reais para que façam, de novo, levantamento técnico. Ou seja, a "Alemanha sem passaporte", ao contrário de valorizar os proprietários do patrimônio arquitetônico, esbanja com trabalhos burocráticos que vão para as gavetas. 
Durante o Curso que a IPPUB e a FURB organizaram do Pesquisador Manfred Gerner - edificação histórica de Vila Itoupava - Casa Franz - agosto de 1996.
Como professor, não sou contra trabalhos de pesquisa, sou contra o desvirtuamento de objetivos. Veja os estado físico em que está a primeira escola de Blumenau. Se  não atuarem urgentemente, ela vai cair. Dentro de algum tempo, ninguém lembra mais do levantamento, mas as casas estão lá, e podem cair, Ao contrário de isentar o IPTU que é uma merreca, um valor ridículo, a [11] prefeitura deveria distribuir bolsas, para os proprietários arrumarem as casas características da cidade, as que estão cadastradas. Depois que concluímos a primeira etapa do cadastramento - 1400 imóveis - cotejamos com o IPHAN e descobrimos que Blumenau era (hoje talvez não mais) a cidade que mais detinha exemplares de enxaimel. Mesmo com as nucleações do RGS, São Leopoldo, Novo Hamburgo, etc, Blumenau era a que mais tinha exemplares. Talvez o conjunto de enxaiméis do Vale do Itajaí ainda nos coloque no topo da lista. 

M.M. - De que maneira você observa a conversão da identidade germânica em produto turístico na arquitetura em  Blumenau?

V.V. - A primeira coisa , eu não vejo "identidade germânica" em Blumenau. eu vejo uma tênue "herança de imigrantes germânicos". Os alemães, polacos, austríacos, italianos, eslavos, etc., quando atravessaram o oceano, esqueceram de suas terras. Sabiam, dadas as condições do contexto sócio-econômico pra lá de conturbado que volta seria quase impossível.  O governo imperial brasileiro oferecia terras para o desenvolvimento econômico do pais, para implantar/concluir a abolição da escravatura, sedimentar a tomada de território com a papulação imigrada em definitivo. Não era nada provisório, nem aventureiro como aconteceu em algumas partes nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália (até hoje ligados institucionalmente à Inglaterra) Os imigrantes sabiam disto, vinham para se instalar em definitivo e produzir para o bem da nova nação e, claro, para o bem próprio.  Os relatórios de Hermann Blumenau deixam isto muito claro. O que, finalmente quero dizer, é que os imigrantes estavam pouco se importando com sua [12] germanicidade ou italianicidade. Queriam mais era arrumar a vida por aqui. E só na década de 1970, com as leis de incentivo ao "típico" é que se passa a discutir a tal germanicidade. O filme "Aleluia Gretchen" joga pimenta na questão. Discute-se a perda da identidade germânica por causa das proibições de Getúlio Vargas durante a guerra. [13] O meu entendimento não houve perda nenhuma. Todos os laços já tinham sido cortados e, muito esquecidos. O que faz repor o assunto em pauta - a "germanicidade" é um afluxo de mão-de-obra "brasileira" às indústrias  têxteis da cidade. Esta mistura "incomoda" o gentio local, acostumado com seu modo próprio de viver,  que era do alemão  ex patriado e já "adaptado/naturalizado", mas diferente dos "brasileiros". . Todavia a apelação turística sobre a "gemanicidade" nos últimos tempos é que soa de uma falsidade solar. Mesmo que a segunda ou terceira geração de imigrantes ainda fale dialetos trazidos da Alemanha, não significa isto, germanicidade. É bom relembrar que na época da imigração, na segunda metade do século XIX, nem Alemanha, nem Polônia, nem Itália eram reconhecidos como países. Na verdade, os imigrantes vieram de burgos, ou regiões, com dialetos diferentes. Não falavam a mesma língua, vinham da Germânia, antiga possessão romana. As relações "sociais" com a Alemanha, muito depois das relações comerciais, só se intensificaram a partir dos anos 1960/1970.
Helmut Kohl.
É a partir da década de 1970 que se inicia uma aproximação com a Alemanha moderna. A  instalação de um Consulado Honorário, a visita do Chanceler Helmuth Kohl... É bem verdade que uma [14] elite burguesa se manteve ligada por laços familiares e comerciais com a Alemanha, mesmo durante a segunda guerra, período em que Getúlio Vargas proibiu toda e qualquer aproximação. Getúlio proibiu o uso de linguagem em dialeto alemão, mandou fechar escolas, etc.
O incentivo ao falso enxaimel, o tal enxaimelóide (o edifício da prefeitura, da justiça do trabalho, do Fórum, o novo prédio do Correio - um dos piores), etc, etc, etc, é de uma barbaridade  exagerada. Por que não reproduzir o verdadeiro enxaimel? Por que os produtos artesanais dos imigrantes e seus descendentes, como linguiças, salsichas, cachaças, licores, tempero,  culinárias variadas, geleias (chimias) não servem como apelação turística? [15] De repente lembraram da cerveja artesanal, e está fazendo enorme sucesso. Mesmo o teatro alemão dos velhos tempos, o cinema de Willy Sievert, os Clubes de Caça e Tiro que caíram em desgraça por causa da onde ecológica, como se os clubes fossem os culpados pela matança de pássaros e a poluição generalizada de nossas cidades e áreas rurais. As festas de Rei, etc, etc., 
Nossa arquitetura religiosa tão bem construída, sobretudo na área rural, mas também a nossa bela Igreja Matriz, a Igreja Luterana, ... Porque estes assuntos não entram na pauta da germanidade? É isto que faria um autêntico Vale Europeu. Oficialmente, quero dizer,  investimento financeiro, existe nenhum. Joga-se tudo nas cervejas que, infelizmente são vistas mais adiante, alguns quilômetros mais longe, como festas libertinas.
Falta seriedade!!! A Vila Germânica é o exemplo debochado do falso enxaimel para "turista tirar retrato"!!! É o supra sumo da barbaridade. Por que não construíram enxaimel verdadeiro? Qual foi o problema?  Por que imitam o enxaimel com tinta desbotável de baixa qualidade, com frágeis sarrafinhos pregados ou colados nas fachadas? [16] Esta é a aberração que me revolta e depõe contra a sociedade da construção de uma sociedade séria e correta. Vejo com grande irresponsabilidade as decisões  de prefeitos e outras autoridades ao incentivo destas falsidades. Todas estas construções foram aprovadas pela Prefeitura!!! Por que não pediram que construíssem corretamente? Por que autorizaram todas estas fantasias? Não é preciso!! Não precisamos  pintar a galinha de ovos de outro. A galinha de ovos de ouro não precisa de fantasias, ela está aí, muito mal vestida, muito mal pintada, infelizmente, por falta de entendimento do que seja cultura, do que seja autêntico, do que seja verdadeiro por parte de nossas autoridades. Lamento todos os dias este desvio desnecessário  de rumo. Se o povo brasileiro, em princípio, desconhecedor do que seja enxaimel, gosta de fotografar o Castelinho da Moellmann, não significa que tenhamos de incentivar esta mentira. 
Prefeitura e Moelmann - Castelinho - Dois pseudo enxaimel.
Mas o que se tem feito é incentivar a mentira para "ganhar uns cobres" com vinda de mais turistas. Ou isto não é uma leviandade colossal?  Eu não posso entender "conversão de identidade germânica" quando o produto é carnavalesco, é enfeitado para a festa, para o trista fotografar como uma alegoria de carnaval. Eu não posso entender, como continuam cultuando esta linha errônea de cultura, ou melhor de falsa cultura. Volto a perguntar, porque não se trabalha sobre o original, sobre o autêntico, qual o mal nisto? Por que não construíram galpões enxaiméis parecidos com os de Munique na área do Oktoberfest? Galpões construídos, mantidos e preservados pelas cervejarias. Nossas autoridades querem tanto se parecer com Alemanha, mas não fazem nada do que lá existe e é bom!
Além disso a imprensa, de maneira geral não critica, acolhe as decisões como certas e benfazejas. e transmite nos bailes da Oktoberfest como se fossem bailes de carnaval, onde todos se fantasiam de alemães.


M.M. - O fato dos turistas fotografarem a Prefeitura ou o Castelinho e entenderem aquilo como autêntico lhe incomoda?

V.V. - Incomoda a mim e a muita gente!!! Porque é falso. É comum ouvir na rua, bem popularmente que a Vila Germânica é uma Disneylândia. Mas a Disneylândia é um produto original. É uma construção turística fundamentada num produtor de cinema para divertir as crianças e adultos. Não tem nada de falso, é um mundo de brinquedo para crianças. A vila Germânica não é um produto para crianças, é um espaço  para exposições, para festas, para eventos, representativa de nossa cultura. Nossa cultura falsa? Não é mesmo? Quando você esteve na Alemanha, você viu aberração assim? 
Os alemães continuam reconstruindo o país, destruído da guerra, mas fazem corretamente. Se vê picaretagens, mas são muito raras. Eles, assim como os franceses, suíços, ingleses, continuam construindo enxaimel. Não é considerado demodê, nem cafona. Por que a germanicidade de Blumenau não os imita? 
Alemanha - cidade de Iphofen.
Isto seria legítimo, ao contrário do que considero muito nada a ver, muito cafona, o tal de "Alemanha sem passaporte".  Isto é outra grossa falsidade. Assim como o slogan "Vale Europeu"!! Onde está o europeu? Onde está a onda verde Europeia, o cuidado com o ambiente, a melhoria das condições de vida da população, o quadro urbano arborizado, ruas limpas, o povo usando lixeiras, etc. O turista brasileiro de modo geral, o que fotografa o Castelinho, não foi à Alemanha, nem em qualquer lugar da Europa, mas acha lindo fotografar o Castelinho, assim como acha lindo fotografar as capivaras na Beira Rio, tudo é lindo !!!!???. Aliás o que é lindo para um povo de pouco informação? Que não conhece sua própria história? Que confunde safadeza política com compra de votos, é tudo a mesma coisa. Ou isto também é corrente na Alemanha? O fato de o turista fotografar o Castelinho e prefeitura como autênticos, incomoda-me muito menos do que o fato de personalidades/autoridades locais explorarem o falso como se fosse nossa mais autêntica cultura. É isto que incomoda.
Os alemães acham graça quando olham nossos cenários.
M.M  - Quais os interesses teriam motivado o então prefeito Renato Vianna a criar a lei de insenção fiscal para construções enxaimel? O que o senhor pensa sobre a lei?
Eu não vou elogiar Renato Vianna, mas acho que o objetivo foi incentivar o turismo pura e simplesmente de forma incorreta. Acho que o interesse econômico ficou neste estágio. Na época do Renato havia um "oba-oba" para incentivar o tal do estilo "típico".. ao contrário de Dalto dos Reis (governo seguinte ao de Renato) com idéias "divinas"aprendidas em Munique (Biergarten e Oktoberfest), Renato andava com os bolsos do paletó cheio de fotografias de Gramado e Canela. Tudo o que ele pensava era "humanizar" a cidade com arquitetura "típica". Os proprietários dos terrenos na  Quinze não pensaram duas vezes e encomendaram projeto "típicos" com os que lá estão, para se beneficiar da isenção de impostos. Volto a perguntar: os proprietários daqueles terrenos para se beneficiarem da lei  de incentivos  não construíram "típicos" verdadeiros? Por que eles não ajudaram a sedimentar a verdeira germanicidade na cidade? A Casa Flamingo  foi menos falsa ao construir um "tipão" moderno de chalé suíço. todavia, derrubaram o famoso armazém de secos e molhados naquela esquina. Que interesses houve na destruição do belo Hotel Holetz e a construção do caixote Grande Hotel? Por que derrubaram os enxaiméis que existiam na Rua XV na década de 1970 e vários outros nas redondezas? Você sabia que a lei de incentivo do governo Renato, logo após ter sido aprovada, vários enxaiméis, em datas diferentes, pegaram fogo?

M.M. - O que vê como autêntico e falso na identidade germânica construída em Blumenau?

V.V. - Todos os imóveis tombados pela Fundação Cultural do Estado, na Rua XV, são autênticos. Na época do tombamento, pedimos que tombássemos imóveis cadastrados da Rua São Paulo, que foi a continuação  da XV nos tempos de Hermann Blumenau, da Rua 7, de várias ruas da Alameda. Imóveis da vila Itoupava e muitos outros da Itoupava central. Eu lembro que o governador se borrava de medo de assinar a lei, ao imaginar perda de votos.  O ex-governador Paulo Afonso não assinou a lei. Quem finalmente  se decidiu, com ressalvas, foi Espiridião Amim. Ao pedir à Fundação Cultural e ao IPHAN para tombar os imóveis nos lugares acima citados, eles disseram: "Vamos aprovar esta primeira etapa, a Rua Xv, depois aprovamos outros trechos." Nunca aprovaram  mais nada. Deveriam ser incentivados as atividades nos Clubes de Caça e Tiro, os produtores artesanais de alimentos, de trabalhos artísticos, de canto, de dança, o que vem sendo feito no [Clube] 25 de Julho, alguma coisa no Teatro Carlos Gomes... Deve-se incentivar o autêntico local, embora não se tenha forte relação com a Alemanha. Desincentivar o que é caricato, o falso. Ouvi dizer que os vereadores querem encomendar o projeto da Nova Câmara como enxaimel. Já sinto arrepios. Escrevi muita coisa que, certamente, você vai deletar. Todavia pode ficar bem a vontade para enviar outras perguntas, esclarecer aquilo que você considera que não ficou claro, que precisa de mais luz. Grande abraço.


Nossos Comentários: 

1 - O Professor Vilmar Vidor foi o idealizador e fundador do Curso de Arquitetura e Urbanismo da FURB - Mais detalhado no link (Clicar sobre): História da Fundação do Curso Arquitetura e Urbanismo - Formatura da 1° Turma - FURB - Blumenau SC

2 -Sobre o "neo enxaimel", há muitas confusões quanto à expressão e conceito - escrevemos sobre e este artigo foi publicado no livro: "Patrimônio Arquitetônico - Debates contemporâneos" acessar clicar no link: Livro - Página 44. 
O Mausoléu, citado como "neo-enxaimel" é uma releitura de tipologias construídas com a técnica construtiva feita com  estrutura de madeira, dentro de  recortes de  tempo de períodos históricos passado. Este foi idealizado nos moldes contemporâneos e reporta a uma arquitetura de qualidade e não cênica, como ocorreu de maneira intensa na cidade de Blumenau, durante o governo de Renato Viana.

3 - A Ponte não é de madeira, mas sim de ferro e escrevemos sobre, encontrado no link (Clicar sobre):  A Ponte Lauro Müller - Segunda ponte construída sobre o Rio Itajaí Açu

4 - O Arquiteto, Professor e Doutor Vilmar Vidor, foi o pioneiro, na região e no Estado de Santa Catarina,  da pesquisa relacionada à técnica construtiva enxaimel. Seus apontamentos nesta pesquisa  são importantes para esclarecer aos "pesquisadores" sobre o "neo-enxaimel", de que a cidade de Blumenau, não adotou a prática movida somente pelo desejo de aquecer o setor turístico como lemos em trabalhos desenvolvido na USP.  A arquitetura neo-enxaimel em Santa Catarina, o quer nos motivou a escrever sobre para o livro anteriormente citado. Houve debates e havia posicionamento técnico na cidade de Blumenau, quando se iniciou a construção de cenários com ripas coladas  na parede - como ao da atual da possibilidade de proposta da construção de uma cervejaria na pequena praça Victor Konder, junto ao edifício da Prefeitura - fomentada pela prefeitura municipal - citada na resposta do Professor Vidor. Para ler sobre, acesse este link - Clicando sobre: "Falso enxaimel sobre a Praça Victor Konder - Junto a Prefeitura de Blumenau? Que também é cenário.". 
Neste tempo, dos debates, na década de 1980 e 1990, se delineavam conceitos e e termos técnicos relacionados a esta milenar técnica construtiva - o enxaimel. 

5 - Neste momento, sob a coordenação do Professor Vidor, é dado o início, como ele mesmo afirmou, de um processo, que historicamente, não é apresentado na sociedade com visibilidade e clareza, até mesmo na esfera estadual, na cidade de Blumenau. Foi neste momento e dentro deste projeto, por exemplo, que surgiu a Associação de Proprietários de Imóveis Antigos, que depois tornou-se Instituto Bertha Blumenau - contra vontade dele - e depois esta, somando com outro Instituto, tornou-se IHB - Instituto Histórico de Blumenau, cujas ações, muitas vezes passam longe de seu propósito diante de fatos, como um envolvimento maior mediante a possível construção da Loja da Havan no Centro Histórico de Blumenau - projeto em processo e também a cervejaria  - com ripas coladas na parede, também em debate para ser construída na Praça Victor Konder. Para ler sobre este processo - Clicar sobre o link: "Da Associação dos Proprietários de Imóveis Antigos - Instituto Bertha Blumenau - Instituto Histórico de Blumenau - IHB"

6 - A Associação dos Proprietários de Imóveis Antigos de Blumenau, teve seu nome modificado, por orientação do advogado Luiz Carlos Nemetz, para o nome Instituto Bertha Blumenau, que depois juntando ao grupo "Amigos da Fundação" se transformou em IHB, que abrange muitas pautas em suas frentes, e muito pouco, no que se refere ao patrimônio histórico de Blumenau e a sua real preservação. Nós participamos diretamente de todas estas etapas, sendo que fomos Vice Presidente do Instituto Bertha Blumenau, da Fundação do IHB, narrado e documento na postagem número 4 da lista - no final desta. 

7 - Neste tempo, década de 1990, foi quando tivemos contato com o  assunto do Patrimônio Histórico de Blumenau, através deste trabalho nas escolas, pois acompanhamo o assunto, em atividade de nossos filhos, na Escola Municipal Machado de Assis. Nós aprovamos o primeiro projeto de Lei Roinet em Blumenau, justamente dando um novo uso a um casarão que pertencia à escola e utilizamos o material criado e publicado pela equipe do Professor Vilmar, no jornal JSC. Olhar o link 5 na lista no final deste. Também, destacamos, que muitos destes professores, se juntaram às pessoas que trabalhavam, na Associação, depois que tornou-se Bertha Blumenau, como é o caso da Professora Sanda Müller do Sagrada Família e a Professora Aurene da E.B.M. Machado do Assis.  


8 - A técnica construtiva enxaimel passou por um processo histórico que teve início no período neolítico no território, onde atualmente está a Alemanha. Esse processo ocorreu em vários locais do planeta, também no Brasil.  No Vale do Itajaí, como o professor Vidor comentou, as cidades não eram formado somente com esta tipologia, que ao longo das décadas, também sofreu mudanças e até mesmo, "apliques", até o momento que não foi mais construída. Pesquisamos sobre este processo na região do Vale do Itajaí, cujo registro publicamos no livro "Fachwerk - A Técnica Construtiva Enxaimel". Também publicamos neste Blog, sobre a tipologia enxaimel  em outras regiões, como é o caso da Grande Florianópolis - cidade de São Bonifácio. Para ler, acessar o link (Clicar sobre): Casa Enxaimel - São Bonifácio SC

9 - Temos a cópia do levantamento efetuado pela Equipe do Professor Vilmar Vidor - na forma digital e o disponibilizaremos, em breve, no Blog - através de uma postagem.

10 - Tivemos esta conversa. Eu já tinha aceitado a participar do projeto a convite de Paulo Volles e após os trabalho, tivemos contato com esta narrativa e outras coisas mais. Para ler - clicar sobre: Levantamento das Casas Enxaimel - Projeto contemplado no 28° Edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade

11- Ao contrário do assessoramento, seja monetário ou técnico, atualmente cria veículos para "complicar" a vida do proprietário de patrimônio arquitetônico, efetuando exigências sem o apoio falado, principalmente o técnico. Nos procuraram com uma lista de exigências em documentos emitidos pela prefeitura de Blumenau sem o apontamento de um profissional apto, para executar tais exigências. Quem não consegue, entre outras coisas, permite que a edificação histórica caia, como é o caso do casarão de Itoupavazinha. Clicar sobre: O Casarão de Itoupavazinha - Localizado na Estrada da Cachaça - Schnapsstrasse - Patrimônio Histórico Arquitetônico de Blumenau

12 - Temos nossas dúvidas quanto a estas questões apontadas pelo Professor Vidor. Em dados períodos históricos, na região, o contato com a Alemanha era muito mais fluídico, do que com a própria presidência da Província. Isso é confirmado pela "Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães" - Colonisation Vereins Hamburg - 1845/1846 - com sede em Hamburg, instaurada pelo governo alemão, para checar os desconforto que os conterrâneos propagavam na Europa e maus tratos. Os embriões das primeiras cidades surgiam com a característica da cidade alemã, como também suas primeiras casas, com também igrejas e Associações. Há grande conjunto de publicações aqui neste Blog sobre, a partir de questões históricas. Muitos dos que vieram, retornaram para a Alemanha, não suportando as vicissitudes e saudades. Temos exemplo na família. Houve a apropriação do solo, de maneiras diferentes, do assentamento de famílias de imigrantes. Onde havia contato com locais já urbanizados o assentamento se deu de uma maneira, diferentes da quele onde os assentamentos eram isolados e longe de qualquer cidade pre existente. e também é bom observar o recorte de tempo histórico, no Brasil e na Alemanha. Nunca deixou de chegar imigrantes alemães na região de Blumenau, até os dias atuais.

13 - O período do Nacionalismo imposto por Getúlio Vargas, no período da Guerra fez famílias inteiras "engolirem" o único idioma que sabiam falar em suas casas - o alemão. Perderam a autoestima diante de nomes de escolas, ruas e associações trocados. Uma geração se calou e tinha vergonha e medo de falar o idioma e as práticas que seus pais praticavam. Não haviam esquecido não. Muitos enterraram seus livros e bandeiras nos fundo dos quintais para não serem queimados, pois não desejavam perder tudo. Mais detalhes no link (Clicar sobre):  Nacionalismo no Vale do Itajaí - a partir do Governo de Getúlio Vargas

14 - O contato com a Alemanha foi uma realidade em quase todas as famílias. Era, muitas vezes, mais fácil o contato com a Alemanha do que com o governo brasileiro.  A família Wittmann, família humilde, nunca rompeu seu contato com familiares na Alemanha, feito por cartas escritas em gótico suábio. Detectamos contatos de residentes no Brasil com  Alemanha em todas as classes sociais, até mesmo, depois do Volksverein. Também em nossa pesquisa sobre a técnica construtiva enxaimel, confeccionavam sua casa provisória com todos os elementos das casas da Alemanha, cuja volumetria reporta ao período neolítico, com hábitos e costumes, sociais e religiosos e estes, eram descritos e enviados aos familiares que permaneceram no Heimat.

15- Estas questões apontadas pelo Professor Vidor, que de maneira original poderiam interessar ao turista, acompanhamos acontecer no despertar cultural, após o Nacionalismo impetrado no Governo de Getúlio Vargas,  no "palco" do Oktoberfest Blumenau, observado ser importante para a cidade e aproveitado pelo idealizador do Oktoberfest - Antônio Pedro Nunes. Sua viúva, Marga Holtzmann Nunes, falou-nos, por mais de uma hora sobre, através de uma entrevista. Para acessar, Clicar sobre: Entrevista - Marga Holzmann Nunes - A História do Oktoberfest Blumenau 

16 - Muitos que desenvolvem pesquisa sobre o "neo-enxaimel", reafirmamos, de maneira generalizada, apresentam este processo em Blumenau, como algo que ocorreu de maneira homogênea, sem debates, sem críticas, sem conceitos. O professor Vilmar Vidor iniciou este trabalho na cidade de Blumenau na década de 1980, com esta mesma visão - portanto já havia uma crítica acadêmica sobre o falso enxaimel e que erroneamente chama de "neo-enxaimel". A pesquisa sobre este tema no Brasil é muito superficial. Movidos por este destempero, escrevemos um artigo que foi publicado em um e book e segue, como forma de contribuir para este debate. Acessar o link (Clicar sobre): Artigo: Neoenxaimel - Pseudoenxaimel e Enxaimel - Publicado no livro: "Patrimônio Arquitetônico: Debates Contemporâneos".

17 - Apreciamos muito, o Professor Vidor citar o C.C. 25 de Julho de Blumenau, clube que adotamos como espaço para nossas práticas, de lazer e culturais, relacionadas a identidade da cidade e onde, por décadas  é o cenário  destas de um grupo de pessoas - no primeiro momento de imigrantes alemães e filhos de  imigrantes alemães, que não haviam se desligados de sua terra natal, como mencionou o professor. Local original, onde desejamos manter a identidade da cidade que nos recebeu e respeitarmos sua identidade, como arquiteta. Nossa atividade como blogueira iniciou no C.C. 25 de Julho de Blumenau. Para ler um pouco sobre sua história - Clicar sobre: C.C. 25 de Julho de Blumenau



Capa do Blumenau em Cadernos - Casa do Engenheiro

Equipe técnica da Usina do Salto, nas suas primeiras décadas de história, residia nas proximidades da usina, em uma edificação construída com a técnica construtiva enxaimel - em um tipo geminado onde há duas células residências em uma só edificação, atualmente para outro uso que não residencial e somente um espaço. 
Em junho de 2015, estivemos no local e após aproximadamente 100 anos, verificamos que a edificação histórica se encontrava em perfeito estado de conservação e estava sendo usada para uso residencial por duas famílias distintas que ocupam as distintas células familiares por aproximadamente 50 anos. Atualmente não é mais assim. Em 28 de maio de 2018 observamos que a edificação histórica tinha uma placa de oferta o a palavra "Vende-se" na sua frente. 

Residência do Engenheiro - Fotografia Junho 2015




As imagens comunicam..."Casa do Engenheiro" e entorno











Da janela do sótão - vista para a Ponte Lauro Müller e a residência que se encontra em processo de restauro
Casa da Família Scardueli


Leituras complementares - Para ler - Clicar sobre o título escolhido:

  1. História da Fundação do Curso Arquitetura e Urbanismo - Formatura da 1° Turma - FURB - Blumenau SC
  2. Conversando..."Neo enxaimel " e o enxaimel construído nos dias atuais
  3. Falso enxaimel sobre a Praça Victor Konder - Junto a Prefeitura de Blumenau? Que também é cenário
  4. "Da Associação dos Proprietários de Imóveis Antigos - Instituto Bertha Blumenau - Instituto Histórico de Blumenau - IHB"
  5. Casarão da Escola Municipal Machado de Assis
  6. Casa Enxaimel - São Bonifácio SC
  7. Levantamento das Casas Enxaimel - Projeto contemplado no 28° Edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade
  8. O Casarão de Itoupavazinha - Localizado na Estrada da Cachaça - Schnapsstrasse - Patrimônio Histórico Arquitetônico de Blumenau
  9. Nacionalismo no Vale do Itajaí - a partir do Governo de Getúlio Vargas
  10. Entrevista - Marga Holzmann Nunes - A História do Oktoberfest Blumenau
  11. C.C. 25 de Julho de Blumenau
  12. Vilmar Vidor
  13. Grande Enchente de Blumenau de 1983 - Imagens  de Inéditas

Em construção!!





























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