sexta-feira, 25 de junho de 2021

Colhedores de café - Cartas dos imigrantes alemães publicadas nos jornais da Turíngia - de Débora Bendocchi Alves

Fazenda Ibicaba, interior de São Paulo - Cordeirópolis. Observar a estrutura do galpão a esquerda. Enxaimel. Quem o construiu foram imigrantes alemães, cuja mão de obra substituiu a mão de obra escrava no plantio e na colheita do café de fazendas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Estes imigrantes também traziam consigo ferramentas e construíam maquinário, muitas vezes desconhecidos no sistema de produção anterior.
 Ao pesquisarmos parte da história da imigração alemã para as fazendas de café do Rio de Janeiro e São Paulo (século XIX), compreendemos uma lacuna da imigração alemã do estado de Santa Catarina, tanto na Grande Florianópolis e como no Vale do Itajaí. 
Também, durante esta pesquisa, encontramos o trabalho de Débora Bendocchi Alves de 2006, que contribui muito com suas informações e nos faz compreender porque Hermann Blumenau, como um agente formal com característica fiscalizatório  da  "Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães" não cumpriu plenamente seu papel e não informou às autoridades na Alemanha sobre a real situação de muitos alemães nas fazendas de café, ao contrário das autoridades suíças, que auxiliaram até mesmo, no translado de famílias alemãs originárias de Böhlen, para à região da Grande Florianópolis, como por exemplo - a família Möller.
Embora, as cartas apresentadas no jornal alemão, foram aparentemente estão adulteradas, este trabalho é fundamente, para compreendermos como funcionava o aliciamento de imigrantes para vir para o Brasil.

"Nas pesquisas que realizei no Arquivo do Estado da Turíngia, encontrei casualmente diversas cartas de emigrantes publicadas nos jornais da cidade de Rudolstadt, os mesmos de propriedade de Günther Fröbel, especializados em emigração como o Allgemeine Auswanderungs-Zeitung, o Pilot, o Fliegende Blätter für Auswanderer ou o Rudolstädter Wochenblatt. Este último, um periódico que, apesar de não tratar exclusivamente do assunto, possuía uma seção destinada à questão. Dentre estas cartas, encontrei 9 provenientes das fazendas de café fluminenses e 11 outras vindas das fazendas paulistas." Débora Bendocchi Alves

 O sistema de parceria, empregado pelos cafeicultores paulistas e fluminenses a partir de meados do século XIX, é um tema bem estudado na historiografia, e vários trabalhos significativos foram publicados tanto no Brasil quanto na Alemanha e Suíça sobre aquela primeira tentativa de introduzir mão-de-obra livre no país.3 Suíços e alemães foram trazidos pela Firma Vergueiro a partir de 1847 para trabalharem nas fazendas de café substituindo, em parte, o escravo. Débora Bendocchi Alves

 No Brasil, a revolta dos colonos suíços mobilizou tropas imperiais e diversas investigações foram feitas por parte das autoridades brasileiras e dos enviados diplomáticos suíços.10 Os pareceres dos representantes do governo suíço, Dr. Heusser e J. J. von Tschudi, foram publicados e divulgados na imprensa suíça e alemã11 e, como já mencionei, vários outros artigos contra a emigração alemã para o Brasil apareceram nos jornais da época. A Firma Vergueiro tentou defender-se das acusações, para assim salvar sua imagem e, principalmente, seus negócios, utilizando os próprios jormais alemães para inserir artigos que 'esclarecessem' o conteúdo dos contratos de parceria e a atitude da firma perante as queixas dos colonos. Esforços por parte do governo brasileiro para melhorar a imagem do país também foram feitos como, por exemplo, a publicação em 1863 do livro de Joseph Hörmeyer, explicando a política imigratória brasileira tanto para as colônias no sul do país (pequena-propriedade) quanto para as fazendas de café (sistema de parceria). Débora Bendocchi Alves

As atividades de Günther Fröbel despertaram disconfiança em seus contemporâneos pelo fato de ele ter sido proprietário de uma agência de emigração na cidade de Rudolstadt, a qual organizou entre 1846 e 1874 a viagem de 1264 emigrantes para vários países.22 Dizia-se, na época, que seus jornais estavam a serviço da sua agência e que ele defendia a emigração alemã para o Brasil, inclusive para as fazendas de café, visando atender a interesses particulares.  (...)
Durante 20 anos, Fröbel manteve uma intensa correspondência com Hermann Blumenau, um homem que quis por em prática as idéias vigentes na época e realizar uma 'colonização nacional (alemã)' no sul do Brasil.31 Blumenau teve alguns de seus mais importantes livros impressos na gráfica de Fröbel e seus jornais forneciam, com regularidade, notícias da colônia Blumenau, em Santa Catarina. (...) 
Günther Fröbel, através de suas publicações nunca deixou de apoiar a emigração de alemães para as fazendas de café, mesmo após a revolta de Ibicaba, quando a imprensa alemã e suíça passaram a fazer uma crítica acirrada ao sistema de parceria. Débora Bendocchi Alves

Para ler mais sobre este assunto, com o qual inúmeras famílias residentes, nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina tem sua história relacionada,  basta acessar o livro

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Abaixo o resumo da postagem que apresenta um pouco sobre a imigração alemã  nas fazendas de café. 
Resumo - conversando...

Na metade do século XIX,  a economia brasileira sofria um baque mediante a redução e os altos valores da mão de obra escrava, simultaneamente, a produção do café e as fazendas cafeicultura aumentavam e ocupavam o interior dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, precisando de mão de obra ágil, que não encontravam no homem nascido na região a partir do cruzamento das etnias, denominado "caboclo". Neste mesmo período, em solo europeu ocorriam transformações e impactos sociais - resíduo da industrialização tardia e a troca do manufaturado pela mecanização, originando pobreza e fome em algumas regiões desbastecidas destas atualizações tecnológicas e que eram afetadas.
No Brasil, os cafeicultores optaram pela mão de obra do imigrante europeu (também o português - desde o século XVI), pela capacidade de produção. Na Europa, aliciavam a população empobrecida e vitima do novo cenário econômico industrial, seduzindo-os com propaganda e promessas que não eram cumpridas no Brasil e estes agentes migratórios tinham como parceiros locais, dirigentes e religiosos que acreditavam, com isto, estar resolvendo seu problema sociais local. Despachavam seus "pobres" para o Brasil, apoiando a ideia de que em solo brasileiros estes poderiam se tornar proprietários e aliviar sua fome. No entanto, não sabiam as reais condições de trabalho e nem que estes ocupariam o lugar da mão de obra escrava e em muitos casos, suas instalações, muito endividados e amarrados ao seu senhor com uma grande dívida, esta não esclarecida e ocultada na hora da contratação. Todo este sistema, também contava com uma rede de jornais alemães, que propagavam "notícias" sobre o brasil e até correspondências de alemães que viviam além mar, com fatos inverídicos, caracterizando as "fakenews" naquela época. A exemplo desta situação - em 1852 as autoridades do Dorf Böhlen, sem considerar a vontade das pessoas envolvidas, enviaram 155 pessoas para as fazendas de café do Rio de Janeiro, que foram embarcados em 3 navios.
Governos europeu receberam denúncias do Brasil, do que vinham passando seus conterrâneos em solo brasileiro. Tomaram medidas enérgicas, entre elas a fundação da "Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães" - Colonisation Vereins Hamburg - com sede em Hamburg. Hermann Bruno Otto Blumenau era um dos fiscais e que foi despachado para o Brasil para checar a real situação de seus compatriotas. Este retornou para a Alemanha com a narrativa de que os imigrantes alemães estavam em situação muito boa, com isto já tinham planos para seus próprios negócios que, junto com o editor de jornal alemão Günther Fröbel, seu amigo, disparavam propagandas das maravilhas de migrar para o Brasil. Há artigos publicados na Alemanha sobre isso.  Fröbel também publicava cartas em seu jornal de "cartas" de emigrados que narravam algo muito romanceado e muito diferentes daquilo que realmente acontecia nas fazendas de café do Brasil. 

Após um período do uso do sistema de parceria, o qual tornava o imigrante cativo da fazenda onde trabalhava pela dívida que colocavam em sua conta e mediante revoltas e interferência dos lugares de origem deste, os cafeicultores acharam melhor mudar e "libertaram" esta mão de obra. Temiam ficar sem qualquer mão de obra. 
Muitos deste imigrantes alemães se mudaram para o Sul do Brasil, onde adquiriram terras e fizeram famílias. Em Blumenau ficou conhecido a comunidade que se instalou junto a empresa da Cia Jensen, em Itoupava. Dispersaram-se por várias regiões do Sul do Brasil. Há pouco tempo, pesquisando soubemos que a esposa de Gottlieb Reif era da fazenda de café do Rio de Janeiro - Independência, para onde foram famílias de Böhlen, e que esta, e outras famílias, mudaram-se para Blumenau.
Atualmente na cidade de Böhlen, pesquisadores buscam reconstruir esta história e promover o encontro dos descendentes destes imigrantes com sua história em seu Dorf.
Concluímos que foi uma realidade, não somente em Böhlen, e como ocorria no aliciamento de africanos com auxilio de seus próprios patrícios, também ocorriam na Europa, Alemanha, para sanar os problema sociais que tinham em suas cidades, "despachando" os seus pobres para cobrir a falta da mão de obra escrava, em solo brasileiro, mediante os atos abolicionistas - incentivado pelos ingleses - que ocorreu de fato, em 1888 com a Lei Áurea. Os atores que faziam parte desta estrutura eram os fazendeiros, os agenciadores que "Importavam a mão de obra" ou colonos, transportando-os em navios a partir de portos do mar do norte da Europa, como era Hermann  Blumenau e que também tinha o papel de fiscal do governo alemão para checar a situação dos emigrados, no Brasil - os imigrantes, geralmente pessoas que enfrentavam uma nova realidade social e econômica na Europa e que permaneceram às margens da nova sociedade. Este período da história agora ficou muito claro.

Rio de Janeiro - 1852.












Para isso, basta  Clicar sobre um dos títulos da lista ou, sobre as capas dos livros abaixo:

  1. Navegadores e Exploradores em Santa Catarina de 1525 a 1839 - Retratados em Selos
  2. "Morar na Colônia: A Arquitetura da Imigração em Testo Alto e Rio da Luz" e "Histórias à mesa: Memórias e Sabores do Rio da Luz e Testo Alto" - Projeto Lumiar
  3. O Livro - Fritz Müller 200 anos - Legado que Ultrapassa Fronteiras
  4. "Colônia Blumenau - no Sul do Brasil" - Tomos 1 e 2
  5. A Ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina
  6. Brasilien Und Die Deutsch-brasilianische Kolonie Blumenau - Dr. Phil Wettstein
  7. Germânia - Tácito
  8. Artigo - Hermann Bruno Otto Blumenau - Primeiro Negociante de Terras no Vale do Itajaí
  9. Livro sobre o Vale do Itajaí sob aspectos sócio-econômico - "Santa Catarina - A terra - o Homem e a Economia" - Paulo Fernando Lago
  10. Artigo: Neoenxaimel - Pseudoenxaimel e Enxaimel - Publicado no livro: "Patrimônio Arquitetônico: Debates Contemporâneos".
Outra leitura complementar - Clicar sobreImigrantes alemães nas Fazendas de Café do Rio de Janeiro - São Paulo e depois Santa Catarina - Século XIX






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