Cemitério XXXV - Antigo Cemitério da Lagoa - bairro Quinta dos Açorianos - Barra Velha SC
Estivemos pesquisando o entorno do antigo Cemitério da Lagoa, localizado junto à ponte pênsil - no bairro Quinta dos Açorianos no município litorâneo Barra Velha, em janeiro de 2022. Ao longo da pesquisa sobre o local para escrever, longe do sítio, tomamos conhecimento da presença de um cemitério histórico, o Cemitério da Lagoa. Retornamos ao local, nesse mês de dezembro de 2023, quase dois anos após a primeira visita. Assim o fizemos porque desejávamos terminar esta pesquisa e registro e deixar o conteúdo para a história de Santa Catarina.
Em janeiro de 2022, chegamos ao histórico bairro Quinta dos Açores, localizado em um região da Lagoa de Barra Velha, que faz par com a Lagoa da cruz (ao norte) e, na primeira Ponte Pênsil, tomamos conhecimento que existia o primeiro cemitério da região e também, de Barra Velha, tido como um dos mais antigos de Santa Catarina, que foi realocado por "forças invisíveis" ligadas ao ramo imobiliário local, que desejava vender lotes a veranistas e também, este foi responsável pela construção da ponte pênsil neste local e também a outra, mais ao norte da lagoa.
Este local foi amplamente pesquisado porAngelita Borba Souza, em sua Dissertação de Mestrado, e também foi pauta de outros pesquisadores locais.
Não tínhamos ideia, durante nossa visita, das transformações recentes nesta paisagem fomentada pelo ramo imobiliário e a remoção do cemitério histórico e um dos mais antigos do Estado de Santa Catarina - cemitério de pescadores localizado à margem da lagoa, lado do continente. Retornaremos ao local para buscar mais imagens da paisagem para ilustrar parte desta história, no futuro e de repente encontrar alguns resquícios, embora saibamos ser impossível, pois é sabido que muito foi mudado na paisagem em questão.
História
Fonte: FAGUNDES.
Barra Velha surgiu como um vila pesqueira formada por descendentes de portugueses oriundos de Nossa Senhora do Desterro - via mar.
No século XVIII e XIX, a iluminação pública das cidades brasileiras eram feita à base de óleo de baleia. Haviam inúmeras armações para captura deste grande mamífero marinho e sua pesca era muito comum na região da Armação do Itapocorói. Os pescadores oportunizavam a presença do Porto de Itapocorói (atual município de Penha), da segurança, da calmaria de suas águas, para a pesca da baleia, em suas armadilhas ali montadas. Atualmente o local é conhecido, por este motivo histórico, Praia da Armação do Itapocorói.
O Imperador D. Pedro I, com visão de aumentar a produção de óleo de baleia, doou uma gleba de terra, localizada onde onde atualmente está o município de Barra Velha, ao pescador descendente de açorianos, Joaquim Alves de Brito, que a partir da captura de baleias neste local, foi responsável pelo envio de grande quantidade de óleo de baleia para o Rio de Janeiro, e também, contribuiu para o fortalecimento da nucleação urbana que deu origem ao município Barra Velha. Brito nasceu em 20 de abril de 1804 e foi batizado em 29 abril do mesmo ano em Nossa Senhora do Desterro, na localidade de Santo Antônio de Lisboa, Nossa Senhora das Necessidades, registrado no Livro de Batismos 003, 1790-1806, 222.
Joaquim Alves de Brito foi filho Felizardo Alves de Brito e de Rosa Maria de Jesus, ambos de Santo Antônio. Seus avós paternos foram o Alferes Manoel Alves de Brito e Jacinta Leonarda, ele de Portugal e ela de Santo Antônio e seus avós maternos foram Sebastião Viegas de Athayde e Maria Rosa de Jesus, naturais da Ilha Graciosa. Para registro, dados deste que poderia ser considerado o fundador de Barra Velha.
O nome Barra Velha - se deve a presença da barra do Rio Itapocú desaguar no Oceano Atlântico, próximo ao Rio Cancela, que tem sua nascente localizado na centralidade de Barra Velha. Atualmente em não boas condições ambientais.
De acordo com LOPES, 2016, os documentos antigos da cidade de Barra Velha que se referem a este lugar citam nome deBarra Velha do Itapocú. O pesquisador afirma que o Rio Itapocú desembocava na lagoa e estava ligado ao Rio Cancela que nasce na centralidade do município. Sua desembocadura era junto às pedras do costão, formando uma barra de boa profundidade. Com o passar do tempo, o forte vento,junto com a força do mar, foi assoreando a barra do rio até que se fechou. O mar continuoudepositandomais areia na frente da foz do Itapocúsem que estetivesse força bastante para remeter essa areia novamente para o mar. Assim, pouco a pouco, foi se fechando a foz do rio.
Com o rio sem poder dar vazão para aquela água que vinha do alto da serra de Corupá deonde nascia, criou as lagoas. Era muita água impedida de desaguar no mar dando origem a uma grande inundação em toda a região e toda a planície do Itapocú se tornou um alagado e área de mangue, modificando a paisagem natural e o ecossistema por um longo período. Isso sempre foi comentado pelos povos indígenas de toda a região, pois também tinha a presença da trilha intercontinental que passava por ali - conhecida por "Peabiru".
Durante seis anos, de 1816 a 1822, o renomado pesquisador August de Saint Hilaire, visitou as províncias do centro e do centro-sul do Brasil, recolhendo pelo caminho um proveitoso acervo botânico, registrando cada passo das suas andanças em um diário de viagem, publicado mais tarde na França em diversos volumes apresentando um retrato fiel e objetivo da paisagem e dos costumes do Brasil daqueles inícios do século XIX. Pesquisador da fauna e flora brasileira aventurou-se pelo Brasil e assinalou em determinado ponto do seu livro Viagem a Curitiba e Santa Catarina a passagem por Barra Velha, cuja entrada se fez por meio da Lagoa: Essa lagoa, de mais de uma légua de extensão, segue paralelamente ao oceano, do qual é separada apenas por uma língua de terra de algumas centenas de passos. Sua entrada, mais setentrional que o próprio leito do rio, é estreita e já mudou várias vezes; a parte da lagoa que fica ao norte dessa entrada tem o nome de Lagoa da Cruz e mede ao todo meio, quarto de légua; a parte meridional chama-se Lagoa da BarraVelha, porque era por ali que antigamente as águas se escoavam. (SAINTHILAIRE, 1978, p. 158). August de Saint-Hilaire (1978) relata que, durante sua passagem, os moradores dos sítios postavam-se nas portas das casas para ver o grupo passar, além de detalhar a passagem por um destacamento de milicianos da Guarda Nacional que faziam o patrulhamento na entrada da Lagoa. Outro ponto a destacar na fala de August de Saint-Hilaire (1978) é quando cita a entrada da Lagoa como um local que já mudou várias vezes de lugar. Reforçando o que já foi citado nas páginas anteriores, esta é a fala mais repetida entre os moradores para explicar o porquê do nome da cidade: uma barra que é muito velha e que já mudou de lugar várias vezes. SOUZA.
Barra que movia, de acordo com a vontade da água. Lagoa ao norte da foz é a Lagoa da Cruz e ao sul, Lagoa de Barra Velha.
A fonte para a sobrevivência desta sociedade local estava no mar, e também, na grande lagoa formada pelo bloqueio da foz do Rio Itapocu para o mar.
Pastor conduzindo seu rebanho entre as casas neolíticas dentro da vila - 5 mil AC. Fonte Livro Fachwerk - A Técnica Construtiva Enxaimel.
Mas antes da chegada dos açorianos no local, já existiam outras culturas e a presença humana no local. De acordo com o pesquisador e historiador local, José Carlos Fagundes, a história local teve início há 3 mil anos AC, quando grupos nômades - denominados "Homens de Sambaqui" se fixaram na região. Processo, este, que aconteceu em todo o mundo e ficou conhecido como a "Revolução Agrícola". A mesma, que foi importante para o surgimento do embrião da técnica construtiva enxaimel na região da atual Alemanha, há 2 mil anos antes desta data.
Por volta do século XVI, período do Descobrimento do Brasil, tribos guaranis viviam na região. Barra Velha foi uma das entradas para o interior e parte do caminho do “Peabiru” (caminho da grama amassada), o qual passava nas proximidades da foz do Rio Itapocu, também uma denominação indígena, a partir de Nossa Senhora do Desterro.
Caminho do “Peabiru”. Fonte: PINTO.
Para esclarecer sobre o "Peabiru": trata-se de uma trilha - uma rota transcontinental pré-cabralina, muito usada por indígenas brasileiros e povos andinos. Designada em seu conjunto como “caminho” ou “sistema” do Peabiru, que ligava o oceano Atlântico ao Pacífico. Sua presença no continente é incontestável e sua importância histórica é imensurável, a qual possibilitou a migração e o intercâmbio das varias culturas indígenas do continente, a descoberta de riquezas, a criação de missões religiosas, as trocas comerciais e o estabelecimento de povoados e cidades. Esse conjunto de estradas ancestrais teve contato com a foz do Itapocu.
"Ainda havia outros ramos do caminho de “Peabiru” que tem nas regiões das atuais cidades de Cananeia em Florianópolis. Ela passa pelo litoral catarinense até o Rio Itapocu, em Barra Velha, sobe por Jaraguá do Sul, Corupá, passa pelo interior do Paraná, Foz do Iguaçu, Paraguai até chegar às atuais áreas da Bolívia e Peru, antigo território do império Inca, de onde os índios traziam ouro para o Brasil. PINTO.
Barra Velha. Fonte: FAGUNDES.
Os primeiros homensbrancos a terem contato com a região foram os Vicentistas (Bandeirantes), a partir de iniciativas de mineração no Rio Itapocu - por volta do século XVIII.
Os primeiros descendentes de imigrantes açorianos chegaram ao local entre 1790 e 1830, contribuindo muito para a identidade local da nucleação urbana que se iniciava. Observar a história do descendente de açorianosJoaquim Alves de Brito, que recebeu a gleba de terra na região, do Imperador Pedro I, nascido em Desterro em 1804 (Data que se encontra dentro deste recorte de tempo histórico), mencionado anteriormente.
De acordo com FAGUNDES, em 1842 uma parcela expressiva da população já era constituída de escravos, explicando a contribuição e a presença desta cultura no local.
Com o inicio da colonização alemã e posteriormente italiana, no interior - sentido oeste (Vales do Itapocu e do Itajaí), na metade do século XIX, também fez parte da formação da povoação de Barra Velha, as etnias alemã e italiana - que tinham no local, a opçãode veraneio e com propriedades e imóveis para este fim.
Barra Velha, por durante muito tempo, foi uma vila de pescadores de descendência açoriana, que tiravam sua sobrevivência do mar e da lagoa.
Dentre as muitas histórias sobre Barra Velha, destaca-se a existência de um antigo cemitério localizado às margens da Lagoa de Barra Velha e estudado por SOUZA, por não existir mais, por conta dos negócios imobiliários no local e áreas adjacentes, apagando muito da história (centenária) local. Há registros que os primeiros sepultamentos, aconteceram em 1800, podendo terexistido sepultamentos anteriores.
Segundo minha avó, o local foi utilizado durante muitos anos e, na sua infância - início do século XX -, era o único de Barra Velha. Até aquele momento, eu não tinha a menor ideia da sua existência - foi assim que minha memória foi invadida pelas lembranças da infância e também por vários questionamentos. O antigo Cemitério da Lagoa surgiu de forma inesperada em nossas conversas, e a familiaridade com o seu substituto no centro da cidade (meu amigo de infância) fez-me cogitar a possibilidade de uma pesquisa para a produção de meu trabalho de conclusão do curso de graduação. A preocupação em registrar as memórias relacionadas ao antigo cemitério, de ouvir mais a respeito dos rituais fúnebres naquele local tão distante, de entender o porquê do seu abandono físico, dentre outras curiosidades, passaram a me incomodar. A partir daí surgiu uma possibilidade de estudo. SOUZA.
O antigo Cemitério da Lagoa
Está localizado na Lagoa de Barra Velha. A lagoa está localizada ao Sul da foz do Rio Itapocu, estende-se da área central de Barra Velha até a divisa com o Balneário Barra do Sul - somando 6 quilômetros de extensão. Termina no encontro entre o Rio Itapocu, a lagoa e o mar, no local conhecido denominado Boca da Barra.
Ponto de atendimento da imobiliária (Foto: Ana Baticini).
A Ponte Pênsil foi construída pelo Grupo Irineu Imóveis, através da Empretur Empreendimentos Turísticos e Imobiliários, exploradores da região. A ponte foi repassada à Prefeitura de Barra Velha, como compensação tributária pelo IPTU dos terrenos da empresa, em 2001. Na época, a construção foi realizada para atrair compradores para os lotes recém delineados em toda a região do histórico bairro Quinta dos Açorianos e de grande interesse para os detentores de empreendimentos imobiliários.
O loteamento está ocupando paulatinamente, além do local do antigo cemitério, áreas de mangue. onde um tempo atrás, a única ocupação era do histórico cemitério.
O ritual de sepultamento - Antigo Cemitério
O ritual de sepultamento em Barra Velha, até o início do século XX - no único cemitério existente seguiam procedimentos bem característicos da cultura das pessoas que residiam no local e até mesmo, na região, em locais limítrofes. O trajeto entre a residência daquele que partiu até o cemitério era percorrido com familiares e amigos com velas orando, cantando e chorando, onde a maior parte do percurso era feitos através de canoas da comunidade, disponibilizadas, muitas vezes pelos pescadores, à família enlutada. O percurso tinha como paisagem, a Lagoa de Barra Velha, ou até mesmo a Lagoa da Cruz, dependendo do local que vinha o cortejo. "Lagoa com sua vegetação nativa e suas águas límpidas, o cheiro da maresia e o som das ondas quebrando na praia."Souza.
A troca do local do cemitério
Como é comum dentro da cultura lusa, no Brasil, há poucos registros históricos formais no que tange a história das localidades, por diferentes motivos. Também sobre a troca do cemitério de Barra Velha não há muitos registros: Como? Por que? Quem? Quando?
Na ausência de fontes, a pesquisadora SOUZA procurou no arquivo da Igreja Católica de Araquari e de Barra Velha. Ao perceber que os documentos de Barra Velha estavam arquivados em Joinville, foi até a Cúria Diocesana de Joinville e encontrou um documento com data de 1929, assinado pelo padre e também, prefeito de Parati,Joaquim Sales. No texto, constava o pedido de licença para benzer um novo cemitério edificado na povoação de Barra Velha.
O novo cemitério, que substituiu o antigo cemitério da Lagoa de Barra Velha, é o mesmo cemitério utilizado até os dias atuais.
Curiosamente, em 2017, a mesma empresa que construiu a Ponte Pênsil, Irineu Imóveis e a Fundação do Meio Ambiente de Barra Velha, com o objetivo de resgatar a história do Cemitério da Lagoa de Barra Velha, a qual refutaram em ações anteriores, tiveram a iniciativa de revitalizar o local, firmando um termo de ajustamento de conduta que resultou na construção de uma cerca em torno do que restou do antigo cemitério, seguindo um projeto. Em 28 de julho de 2017, o prefeito Valter Zimmermann, o presidente da Fundema, Leandro Haupt, o presidente da Câmara de Vereadores, Alex Sandro dos Santos, o secretário de Obras, Valdemar Paiva e o chefe de gabinete, Dalete Vieira filho estiveram no Cemitério da Lagoa acompanhando o início dos trabalhos de recuperação do local. Neste momento, foram coletados entulhos do local e colocadas placas informativas no final das duas ruas que dão acesso ao Cemitério da Lagoa. Além dos representantes dos órgãos citados estiveram presentes neste mutirão - a pesquisadora Angelita Borba de Souza,José Carlos Fagundes e Juliano Bernardes, dois, parte das referências desta postagem.
Fonte: Bruna Souza.
Desativado em 1929, o Antigo Cemitério da Lagoa atendia moradores de Barra Velha, das praias vizinhas e a população ribeirinha da foz do Rio Itapocu. Para remontar a história do cemitério e realizar a revitalização do local, foi firmado um termo de ajustamento de conduta entre a Fundação do Meio Ambiente (Fundema), Ministério Público e a empresa Irineu Imóveis que possibilitou o cercamento do antigo cemitério de acordo com o plano de revitalização.Fundema de Barra Velha / SC
Professor Juliano vistoria e aprova cercamento do antigo Cemitério da Lagoa
A Fundação Municipal do Meio Ambiente (Fundema) e a empresa Irineu Imóveis, proprietária de áreas de terra no bairro Quinta dos Açorianos, colocaram em prática o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) acordado com o Ministério Público de Santa Catarina, cercando parte da área do antigo cemitério de Barra Velha, localizado às margens da lagoa barra-velhense, nas proximidades da ponte pênsil, extremo norte da cidade.
O professor e vereador Juliano Bernardes (PMDB) conferiu na quinta-feira, dia 14 de maio, como ficou o resultado do cercamento, reivindicação antiga de moradores, pesquisadores e historiadores de Barra Velha, e sobretudo, uma luta dos que guardam em suas lembranças histórias vivenciadas nesse antigo campo santo, visando a preservação do local.
“É um pequeno grande avanço na valorização da história da nossa gente barra-velhense”, avaliou o professor Juliano. “Os mortos que lá estão, poderão descansar de forma um pouco mais respeitosa, e quem sabe em futuro breve teremos a vegetação dessa região recuperada”, destacou o parlamentar, em sua rede social.
Na visão do parlamentar, o ideal agora seriam arqueólogos desenvolver um trabalho de escavação no cemitério. Bernardes defende ainda a criação de material informativo exclusivo sobre o antigo cemitério, visando a educação patrimonial, e também a implantação de um memorial em homenagem aos lá sepultados. “Muitas possibilidades são descortinadas nessa área. Que possamos levar os nossos alunos e visitantes para conhecer in loco as histórias do campo santo, pois Barra Velha agradece e engrandece”, frisou o vereador.
O cemitério da lagoa deixou de ser utilizado em 1929, quando o campo santo central foi inaugurado, na rua Pedro Alcântara de Freitas ao lado da Prefeitura. O local só podia ser acessado pela lagoa com o uso de pequenas embarcações, e há relatos de que moradores utilizavam duas canoas movidas a remo, dispostas lado a lado, com o caixão atravessado sobre elas. As canoas eram conduzidas ao longo da lagoa por pescadores também responsáveis pela abertura dos túmulos e enterro dos falecidos.
Mais tarde, as canoas teriam sido substituídas por uma canoa maior com capacidade de transportar o caixão. A "defunteira" como foi batizada, ficava ancorada às margens da lagoa à disposição da comunidade. Apesar de os documentos existentes registrarem os primeiros enterros no cemitério em 1800, acredita-se que este já era utilizado há mais tempo, desde quando a freguesia de Barra Velha, que fazia parte do Distrito de Parati (atual Araquari), passou por epidemia de diarreia hemorrágica espalhando medo pela região.
Como a forma de contágio não era conhecida, as comunidades realizavam o enterro de forma rápida para evitar que as pessoas respirassem o ar contaminado pela decomposição. Balneário Barra do Sul e Araquari também realizavam enterros nesse antigo espaço, hoje totalmente assoreado e coberto por vegetação.
A área do antigo cemitério da lagoa, o primeiro de Barra Velha, sobreviveu na memória dos antigos, como o pescador Silvino Floriano da Costa, da servidora pública Eliane Mello, que possui familiares sepultados lá, ou ainda o saudoso jornalista, cronista e advogado Hélio Ramos Alvim, e ainda Peter Boer e Acácio Borba Coelho.
A partir dessas memorias, vieram pesquisas desenvolvidas pelo professor e historiador José Carlos Fagundes (o Cacá Fagundes) e da professora, historiadora e mestra Angelita Borba de Souza, a respeito do antigo cemitério. O campo santo inclusive foi tema de trabalho de conclusão de curso e tese de mestrado de Angelita. Professor Juliano destaca ainda as pesquisas do professor, genealogista e historiador Telmo José Tomio, na área de genealogia das famílias lá sepultadas.
Pescador Seu Silvino lembra histórias do antigo cemitério
“Sim, eu conheci o antigo cemitério! Por muitas vezes eu cavei nele. Ele não era muito grande e as pessoas tinham muito medo daquele lugar. Muitos diziam que tinha assombração por lá. Eu nunca vi nada, mas conheci pessoas que diziam ter visto gente que já tinha morrido por lá.
Naquela época as pessoas iam pela praia, entre o mar e a lagoa, até a região do cemitério. Depois alguém fazia a travessia pela lagoa para o lado onde estava o cemitério.
Lembro que o Astrogildo Aguiar e o pai do Alfredo Borba fazia a travessia do pessoal. Você conhece a história do pau da Laurentina? Então, Laurentina era uma senhora que morava perto onde hoje é o túnel. Ela guardava um pau que era utilizado para carregar os defuntos. Então quando alguém morria, alguém já vinha buscar o pau da Laurentina, que era muito brava.
Depois de utilizar o sarrafo muito forte, o mesmo era devolvido para ela. Sobre assombração perto do cemitério antigo, uma vez um conhecido meu viu um homem sentado na canoa perto da pedra da coroa grande. O homem da canoa já tinha morrido.
Esse cemitério quando deixaram de enterrar pessoas por lá, muitos foram desenterrados e trazidos para o novo, que é perto da prefeitura. As famílias mais ricas tiraram os seus mortos de lá. Meus avós estavam lá e foram retirados. Mas muitos corpos ainda estão naquele lugar”.
(Relato do pescador Silvino Floriano da Costa ao Projeto Descortinando Histórias, do Professor e historiador Juliano Bernardes).
Câmara de Vereadores
Assessoria de Comunicação
Fomos ao local do Antigo Cemitério da Lagoa
Fotografias
Lagoa da Barra no seu extremo Sul, olhando para o Norte.
Lagoa da Barra no seu extremo Sul, olhando para a praça Sul.
Um Registro para a História.
Referências
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BATICINI, Ana. Ponte pênsil de Barra Velha será interditada novamente. 20 de maio de 2019. Cobaia. Disponível em: http://jornalcobaia.com.br/ponte-pensil-de-barra-velha-sera-interditada-novamente/ . Acesso em: 04 de janeiro de 2022 - 00:31h.
FAGUNDES, José Carlos. Caca História. Algumas imagens antigas de Barra Velha. Disponível em: http://cacahistoria.blogspot.com/2013/07/algumas-imagens-antigas-de-barra-velha.html Acesso em: 4 de janeiro de 2022 - 16:42h.
FAGUNDES, José Carlos. Caca História. Síntese da História de Barra Velha. Disponível em: http://cacahistoria.blogspot.com/2013/07/sintese-da-historia-de-barra-velha.html Acesso em: 4 de janeiro de 2022 - 16:49h..
Famílias Mafra, Genealogia. Joaquim Alves de Brito. Disponível em: http://www.mafra.com.br/genealogia/getperson.php?personID=I019914&tree=arfamis001 . Acesso em: 5 de janeiro de 2022 - 00:36h.
Fundação de Turismo, Esporte e Cultura. Prefeitura Municipal de Barra Velha SC. Dados de Barra velha - 2014. AMVALI.Disponível em: https://amvali.org.br/uploads/1512/arquivos/298650_Turismo_Barra_Velha.pdf. Acesso em: 03 de janeiro de 2022 - 23:52h.
Jornal do Comércio. Ponte Pênsil de Barra Velha é interditada pela Defesa Civil. 11 Julho 2016 13:22:04. Disponível em: https://www.adjorisc.com.br/jornais/jornaldocomercio/geral/ponte-p%C3%AAnsil-de-barra-velha-%C3%A9-interditada-pela-defesa-civil-1.1923222 . Acesso em: 4 de janeiro de 2022 - 00:45h.
LOPES, José Cantos Filho. A Barra que ficou "Velha". Escriba de Itapocu. Imagens e informações do Litoral Norte de Santa Catarina e curiosidades. 26 de junho de 2011. Disponível em: http://escribadoitapocu.blogspot.com/2011_06_01_archive.html?view=classic. Acesso em: 5 de janeiro de 2022 - 1:17h.
PINTO, Cristiano Vieira. A história do Caminho do Peabirú.Pedra do Índio Blog. 29/07/2021. Disponível em: https://pedradoindiobotucatu.com.br/2021/07/29/a-historia-do-caminho-do-peabiru/ . Acesso em: 4 de janeiro de 2022 - 19:00h.
PRADO, Windson. OCP - News. Ponte Pênsil de Barra Velha recebe reforma e é desinterditada. Disponível em: https://ocp.news/geral/ponte-pensil-de-barra-velha-recebe-reforma-e-e-desinterditada. Acesso em: 3 de janeiro - 22:45h.
SOUZA, Angelita Borba de. Um patrimônio cultural em conflito memórias, morte e transferência do Cemitério da Lagoa em Barra Velha; orientador Dr. Euler Renato Westphal– Joinville: UNIVILLE, 2016. 180 f. : il.; 30 cm. Relatório Técnico (Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade – Universidade da Região de Joinville).
SOUZA, Angelita Borba e WESTPHAL, Euler Renato. Um Patrimônio em Conflito: Os Reflexos dos Discursos de Civilidade e Lazer no antigo Cemitério da Lagoa em Barra Velha SC. Revista Internacional interdisciplinar - Interthesis, UFSC. Janeiro/Abril de 2017, Florianópolis.
SOUZA, Bruna. Antigo Cemitério da Lagoa é revitalizado por meio de parceria entre poderes público e privado. Disponível em: https://medium.com/@brunavsouza/antigo-cemit%C3%A9rio-da-lagoa-%C3%A9-revitalizado-por-meio-de-parceria-entre-poderes-p%C3%BAblico-e-privado-51d4d5c61f4b Acesso em: 5 de janeiro de 2021 - 2:56h.
WITTMANN, Angelina C. R. Fachwerk: A Técnica Construtiva Enxaimel. 1.ed. - Blumenau, SC : AmoLer, 2019. - 405 p. : il.
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